Saúde Mental

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Saúde Mental - Sílvia Haidar
Sílvia Haidar

Literatura é uma manifestação terapêutica, diz escritora

Beatriz Abreu escreveu o livro 'Cansei de ser delegacia' na pandemia

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Ilustração mostra livros encostados na prateleira de uma estante
Rodrigo Pimenta
São Paulo

Falar sobre os sentimentos faz parte do processo terapêutico. Escrever também é uma atividade curativa na medida em que ajuda a organizar as ideias e entender as próprias emoções.

Foi assim que Beatriz Abreu, professora de língua portuguesa na rede Sesi-SP e mestranda em Artes da Cena pela Escola Superior de Artes Célia Helena, escreveu o livro "Cansei de ser delegacia" durante o isolamento social provocado pela pandemia da Covid-19.

A obra apresenta contos psicológicos em que ficam evidentes sentimentos como solidão, vazio existencial e tristeza, além de poemas fluidos.

Embora os textos não sejam autobiográficos, refletem vivências da autora, que conectou temas como bullying, abandono, busca por liberdade, luto e suicídio.

Ao construir os personagens, Beatriz atentou-se às figuras masculinas, emocionalmente fragilizadas nos textos, refletindo uma cultura fortemente enraizada de que homens não precisam cuidar da saúde mental.

Já os versos apresentam sentimentos e sintomas universais ao apresentarem definições poéticas para ansiedade e insônia, por exemplo.

Leia abaixo um texto sobre as relações entre literatura e saúde mental que a autora escreveu com exclusividade para o blog.

Beatriz Abreu, professora de língua portuguesa e autora de 'Cansei de ser delegacia'
Beatriz Abreu, professora de língua portuguesa e autora de 'Cansei de ser delegacia' - Arquivo Pessoal

Por Beatriz Abreu

Catarse, epifania e verossimilhança são características da arte da palavra. Nesse sentido, é possível afirmar que a literatura é uma manifestação terapêutica.

Afinal, o autor acessa seus registros psíquicos e sociais para escrever —ele sempre fala de si, mesmo quando diz sobre o outro. Sua visão de mundo vaza pelas páginas da obra.

Já o leitor, bebe dessa fonte emocional e, ao sentir identificação com um enredo ou personagem, descobre-se como sujeito compreendido.

Sigmund Freud postulava que a verbalização faz parte do processo de cura em análises psicanalíticas. Assim, ao colocar histórias e sentimentos em palavras, a literatura potencializa a libertação de emoções, memórias e sentimentos reprimidos.

Não é à toa que muitos consideram a escrita em diário um exercício benéfico para a saúde mental. Contudo, é importante destacar: atividade terapêutica não é sinônimo de terapia.

O uso popular da expressão "terapêutico" denota "aquilo que traz calma" ou "que diminui o estresse".

De fato, ler e escrever podem ser atividades relaxantes. Porém, quando, no final do século 18, o Romantismo propôs que o homem escrevesse acerca dos seus sentimentos em relação ao mundo, a literatura tornou-se mais egoica e subjetiva, apresentando núcleos depressivos em diversos textos, como os de Goethe (autor do célebre —e polêmico— livro "Os sofrimentos do jovem Werther") e da geração byroniana.

Tal transformação repercute na literatura contemporânea, que possui liberdade para ser densa e expor críticas sociais. Trata-se de uma arte terapêutica no sentido de que é capaz de trazer muitas águas emocionais à tona.

O processo criativo, não raro, envolve mergulhar profundamente nessas águas —que, em alguns casos, mostram-se turvas. Ou seja, a literatura é capaz de nos colocar em contato com diversos sentimentos, nem todos leves. Apenas a terapia pode auxiliar o indivíduo a nadar, sem que se afogue.

Cansei de ser delegacia

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