Há alguns dias, a atriz Fernanda Paes Leme contou que perdeu um bebê após um aborto espontâneo, ocorrido no final de 2021. Durante sua fala no programa Mil e Uma Tretas, a atriz foi às lágrimas ao se lembrar do "luto invisível" e a forma como as pessoas tentavam amenizar sua dor.
A jornalista e locutora paranaense Cássia Gomes, 38, conhece bem esse sofrimento. Há três anos perdeu Antônio, aos nove meses de gestação. Descobriu durante um exame de ultrassom, quando não ouviu o coração do filho bater.
Instantes depois ouviu de alguém próximo que diversas mulheres passavam por aquilo no mundo e que ela logo superaria. "Eu só queria poder chorar", lembra.
A pressão social para superar o luto e a dor não verbalizada trouxeram alguns problemas: pressão alta, internação, crises de ansiedade e apatia. Ela soube bem depois que se tratava de estresse pós-traumático.
"Queria estancar minha dor a ponto de não senti-la. Quis conter tudo, e aí eu explodi", conta. "Como achava que conseguiria sozinha, sem medicação, fiquei em looping, indo para o hospital toda semana com crise de ansiedade. Tomava medicação paliativa, ficava alguns dias bem e depois voltava a ficar mal. Cheguei a ficar internada em uma UTI para problemas cardiológicos", conta. A dor que trazia no coração não aparecia nos exames.
O "chacoalhão" veio de um médico do plantão que sempre a encontrava no pronto-socorro. "Você não tem nada físico, você perdeu um filho e precisa tratar seu emocional", disse. "Quando ele falou isso, acho que eu entrei no eixo", diz. Abandonou o preconceito contra o tratamento psiquiátrico e também começou a se exercitar.
A escrita fez parte do processo e seus textos podem ser lidos em Flores que nascem por entre as rachaduras (Ed. InVerso). O livro traz um pouco de suas lágrimas, mas também fala sobre como ela trocou o gosto amargo pela ressignificação dos acontecimentos, incluindo a reconexão com seu lar, marido e filho, à época com 4 anos. Ela narra como foi visitada pelo medo e como ele se transformou em coragem.
Abrigar a breve vida de Antonio foi um presente, destaca Cássia. Para ela, uma das maiores lições foi reconhecer e respeitar sua dor. "Esse livro nada mais é que um diálogo comigo. O início da cura aconteceu quando me coloquei no colo, fui generosa comigo e passei a celebrar conquistas".
Martin é uma delas. Seu terceiro filho chegou há 5 meses. "Fiquei insegura com a ideia de outra gravidez, mas uma confiança nos confirmou que há um tempo certo para tudo debaixo do céu", conclui a autora.
"Flores que nascem por entre as rachaduras"
Autora: Cássia Gomes
Editora: InVerso , 70 páginas.
Preço médio: R$ 48
Neste sábado (15) é o dia internacional da conscientização e sensibilização pelas perdas gestacionais. O assunto ainda é tabu para muitas pessoas e não é raro pais enlutados ouvirem frases como "ainda bem que foi no começo", "Deus quis assim", ou "logo, logo, vocês terão outro".
Em vez de ajudar, esses chavões jogam mais álcool numa ferida ainda aberta.
Seja um perda gestacional, quando o bebê ainda está na barriga, ou neonatal, após o nascimento, uma coisa é comum entre todas as perdas: a intensidade dor.
O podcast 40 Semanas abordou o luto materno em um episódio. Pais e mães contam suas experiências e dizem como gostariam de ser vistos pela sociedade.
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