A degustação de café em cápsula na qual avaliamos as melhores e piores marcas do mercado envolveu muitas caretas, aromas duvidosos, bastante água e, claro, muito bom humor –pois só assim para relevar algumas amostras difíceis de esquecer.
Começamos muito bem. O primeiro café servido acabou sendo um dos preferidos por todos os degustadores. Parecia que teríamos uma mesa de prova promissora.
Até que o nível caiu bastante na segunda xícara. O café com amargor excessivo e certa adstringência logo nos trouxe de volta à realidade desigual do mercado de café em cápsula.
"Talvez com leite dê pra beber", disse Tiago de Mello, um dos jurados. Virou um bordão. A cada café ruim que chegava à mesa, Tiago emendava: "com leite, dá pra beber". Ou, quando o café era bom, dizia "esse dá pra beber puro".
Após algumas amostras duvidosas, pensamos: pior que isso não fica. "Sempre dá para piorar", alertava Tiago, sem filtro.
Estava certo. Logo chegou um café, digamos, inesquecível. Antes mesmo de beber, ao primeiro aroma, a reação dos degustadores variava entre caretas e expressões de surpresa –e medo pelo que viria na boca.
Não decepcionou. As caretas de desgosto se intensificaram quando efetivamente ingerimos o tal café.
"Esse nem leite salva", disse Tiago, para riso –e concordância– de todos.
Os jurados tinham níveis bem diferentes de repertório e conhecimento técnico sobre café. Mas, curiosamente, na maioria dos cafés não houve tanta discrepância entre as avaliações.
Não houve, por exemplo, um café que uns adoraram e outros odiaram. Quando o café era muito ruim, todos percebiam a baixa qualidade. Claro, os avaliadores mais técnicos conseguiam descrever com termos precisos os defeitos ou as notas sensoriais específicas de cada amostra.
Outra curiosidade é que nós não cuspimos os cafés após experimentá-los –como é praxe nos protocolos de degustação. Não ingeríamos as xícaras inteiras, claro; apenas o suficiente para avaliarmos a amostra. Ainda assim, após dez provas, consumimos uma dose significativa de cafeína.
Entre uma xícara e outra sempre tomávamos água. Em alguns casos, quando o café era muito ruim, era preciso um pouco mais de água. Mas tem café que não há água que apague. Você logo fica ansioso pela próxima xícara. Só assim para o paladar superar aquele gosto desagradável.
Ao fim, depois de dez amostras, litros de água e incontáveis caretas, foi a hora de conhecermos as marcas dos cafés que havíamos degustado às cegas.
Alguns causaram grande surpresa. "Esse café com cheiro de fumaça é dessa marca tão famosa?". Ou: "olha, até que essa marca não estava tão ruim".
Acabamos a degustação por volta das 15h, devidamente cafeinados e prontos para enfrentar uma tarde de trabalho acelerado –na qual redigi este texto em poucos minutos. Mas chega. É preciso desacelerar. Café, agora, só amanhã.
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