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"Juventude negra no Brasil vive um verdadeiro holocausto", diz Dom Zanoni Castro na França

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Dom Zanoni Castro, arcebispo de Feira de Santana, na Bahia, é um dos convidados de um evento religioso em Limonest, na região de Lyon, para falar sobre a experiência à frente da pastoral Afro-Brasileira. O encontro é promovido por uma associação de padres diocesanos criada pelo beato Antoine para promover a espiritualidade e reforçar a fraternidade dos padres junto aos mais pobres.

Dom Zanoni Castro Arcebispo Feira de Santana
Dom Zanoni Castro Arcebispo Feira de Santana © RFI
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Bispo referencial da pastoral Afro-Brasileira, Dom Zanoni também é membro da Comissão episcopal para ecumenismo e diálogo inter-religioso e responsável pela Pastoral Afro da América Latina e Caribe e, nessa condição, traz uma mensagem sobre a situação das comunidades negras onde tem atuado. “No Brasil, a maioria absoluta dos habitantes são afrodescendentes, 50%. Em minha região é bem maior. Em alguns municípios na Bahia, chega a 92% de afrodescendentes. Para evangelizar, dar uma notícia boa, é preciso ter a realidade concreta, a origem, a cultura, a riqueza, a beleza dessa tradição do povo que vem da África”, afirma.

Para o religioso, a missão católica de evangelização não pode esquecer os 300 anos de escravidão no Brasil, “um crime de lesa humanidade”. “Como falar de Deus? Como anunciar Jesus? O Evangelho? Tem que ser algo bem próprio. A pastoral, no sentido de evangelização, nessa perspectiva, deve ter presente a realidade, a cultura do povo”, afirma.

A pastoral Afro-Brasileira tem origem nos anos 1970, uma experiência considerada recente pelo arcebispo, que justifica a decisão da Igreja Católica local de fazer um trabalho visando uma comunidade marcada por um passado escravagista e de marginalização. “Na história da Igreja tem uma perspectiva de perceber a realidade, o sofrimento, a dor dos escravos, a dor das pessoas. Nossa missão da pastoral é no sentido de cuidado, de zelo, apostólico, de preocupação”, diz.

Dom Zanoni denuncia a situação da população negra brasileira que, segundo ele, vive uma situação de exploração, pobreza e de muita discriminação. “A maioria dos pobres são negros. Se vamos às delegacias, aos presídios, a maioria dos encarcerados são afrodescendentes. Em nossas periferias, a violência que cresce assustadoramente, é de afrodescendente", lamenta.

Diante de um contexto social tão preocupante, o religioso faz um alerta contundente: "A nossa juventude negra está sendo dizimada. Poderíamos dizer, um verdadeiro holocausto da Juventude negra a cada momento, a todo instante” relata.

Então, a preocupação da Igreja não é só falar de Deus, das coisas do céu. Mas da vida concreta dessas pessoas e têm a ver com ação evangelizadora que nos inspira”, argumenta. O arcebispo baiano afirma ainda que o Papa Francisco não apenas apoia como incentiva as ações das pastorais afrodescendentes no Brasil e na América Latina. “Ele tem possibilitado o diálogo com a cultura, com os movimentos sociais. O papa, falando num encontro com os movimentos sociais, disse: ‘esta causa que vocês lutam não é apenas uma questão política socialista, é Evangelho’”, finaliza.

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