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O Mundo Agora

Existe um “Centrão” na Europa, mas diferente do brasileiro

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Existe um “Centrão” na Europa? Existe, embora com um sentido diferente do brasileiro. No nosso país a palavra designa um grupo enorme de parlamentares no Congresso Nacional que, entra governo, sai governo, fisiologicamente negociam apoios, favores, verbas e orçamentos em proveito próprio. Mas na Europa a situação é diferente.

"Centrão" na Europa não significa negociar apoios, favores, verbas e orçamentos em proveito próprio.
"Centrão" na Europa não significa negociar apoios, favores, verbas e orçamentos em proveito próprio. © STRINGER / REUTERS
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Flávio Aguiar, analista político, de Berlin

O que existe na Europa é um agrupamento de partidos e blocos designados na mídia como centro-direita, centro e centro-esquerda, que, de eleição em eleição, domina o cenário político em diferentes combinações e coalizões.

Fazem parte do “Centrão Europeu” partidos considerados conservadores, como o Renaissance de Emmanuel Macron na França ou a União Democrata Cristã na Alemanha, liberais, como o FDP (de Freie Demokratische Partei) na Alemanha, os partidos social-democratas ou até alguns socialistas. Eles governam de acordo com uma cartilha liberal na economia, cultuam uma austeridade fiscal ao lado de programas sociais mais ou menos moderados, manifestam preocupações ambientais, ao lado de um protecionismo agrário em alguns casos, guardam uma fidelidade à OTAN e, mais recentemente, manifestam uma vigorosa hostilidade à Rússia, apoiando vigorosamente o governo de Kiev na guerra contra Moscou.

Este bloco central da política europeia sofreu alguns abalos, sobretudo na França e na Alemanha. Do lado francês, o partido do presidente Emmanuel Macron amargou uma derrota contundente para a extrema-direita de Marine Le Pen na eleição para o Parlamento Europeu em junho passado, coisa que fez o chefe do executivo dissolver a Assembleia Nacional, convocando novas eleições. Neste pleito, seu partido demonstrou uma certa recuperação, mas ficou em segundo lugar diante da Nova Frente Popular dos partidos de esquerda, que desta vez atraíram o Partido Socialista. Do lado alemão sucedeu algo semelhante, com o Partido Social Democrata do chanceler Olaf Scholz sendo superado pelo Alternative für Deutschland (AfD), de extrema-direita, embora o partido mais votado, na realidade, tenha sido a tradicional e conservadora União Democrata Cristã. Grande parte da mídia apontou o crescimento da extrema-direita como o fato mais marcante daquelas eleições.

Ao mesmo tempo o costume da rotatividade na presidência no Conselho Europeu, órgão que reúne os chefes de estado da União Europeia, fez que ela coubesse agora ao chefe do governo húngaro Viktor Orbán, de extrema-direita. O primeiro-ministro provocou alguns abalos sísmicos na União, fazendo visitas inesperadas a Vladimir Putin (embora precedida por uma ida a Kiev), à China e a Donald Trump nos Estados Unidos. Aquelas balizas consensuais dos blocos dominantes no continente pareciam correr o risco de desmoronar.

Mas a reação do que chamamos metaforicamente de “Centrão europeu” não tardou, capitaneada por partidos da direita ou centro-direita convencional. Na semana passada ela propiciou duas vitórias importantes para este grande bloco que, apesar dos pesares, continua hegemônico na União Europeia.

A primeira vitória veio com a eleição de Yaël Braun-Pivet para a presidência da Assembleia Nacional francesa. Do mesmo partido do presidente Emmanuel Macron, com 220 votos ela derrotou o comunista André Chassaigne, da Nova Frente Popular, e Sébastien Chenu, do Reunião Nacional de Marine Le Pen, que tiveram, respectivamente, 207 e 141 votos. O partido de Macron conseguiu fazer uma aliança com os conservadores do partido Os Republicanos, preocupados estes em impedir a ascensão das esquerdas ao governo.

A segunda vitória veio com a reeleição, no Parlamento Europeu, de Ursula von der Leyen, da União Democrata Cristã alemã, para a presidência da Comissão Europeia, órgão executivo da União. Inicialmente a política alemã ensaiou uma aproximação com a primeira-ministra italiana, Georgia Meloni, de um dos blocos de extrema-direita no Parlamento Europeu. A iniciativa pegou mal. O chanceler alemão, Olaf Scholz, ameaçou retirar seu apoio a ela, caso a aproximação com Meloni prosseguisse. Ursula von der Leyen recuou, e passou a procurar os outros blocos, considerados “democráticos”, incluindo os Verdes, ao lado dos socialistas e social-democratas e os liberais.

Ela conseguiu um apoio maciço, se reelegendo com 401 votos favoráveis, bem mais do que os 383 votos que obteve quando de sua primeira eleição, em 2019. Desta vez houve 284 votos contrários a ela, além de 22 votos nulos ou em branco. Mas ela garantiu, portanto, mais cinco anos como presidenta da Comissão Europeia.

Entretanto deve-se assinalar que o cenário político da União Europeia está passando por rearranjos significativos. Viktor Orbán está rearticulando a extrema-direita no Parlamento Europeu, demonstrando a pretensão de se tornar uma liderança europeia e mundial.

Na França, depois da derrota na disputa pela presidência da Assembleia Nacional, o bloco de esquerda, a Nova Frente Popular, reagiu e na eleição subsequente, para a Mesa Diretora, conseguiu 12 dos 21 postos em disputa. Ou seja, tanto von der Leyen quanto Emmanuel Macron terão de agir com muita cautela e habilidade para continuar seus mandatos com sucesso.

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