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“Não aguentava mais perder para a Espanha”, diz goleira do handebol após vitória na estreia em Paris

“A gente está se sentindo em casa com tantos brasileiros aqui”, reagiu Mariane Fernandes, atleta do handebol feminino originária de uma favela carioca, em entrevista à RFI, logo após a estreia com vitória do Brasil nos Jogos Olímpicos de Paris sobre as arquirrivais espanholas. A Seleção brasileira estreou na competição na tarde desta quinta-feira (25), na Arena 6 de Porte de Versalhes, decorada com muitas bandeiras verde e amarelo.

A equipe brasileira de handebal enfrentou a Espanha nesta quinta-feira (25)
A equipe brasileira de handebal enfrentou a Espanha nesta quinta-feira (25) © Maria Paula Carvalho-RFI
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Maria Paula Carvalho, da RFI em Paris

As espanholas abriram o placar, mas com a torcida quase inteira a favor, o Brasil não teve dificuldade de virar e avançar na contagem de pontos, logo nos primeiros minutos. As brasileiras mantiveram a vantagem durante todo o jogo e quebraram um jejum de uma década sem vencer as espanholas em jogos oficiais.

“Fazia tempo, não sei dizer quantos jogos a gente acabou atrás do placar e acho que este era o grande objetivo, acabar com essa mania de perder da Espanha”, comemorou Gabriela Bitolo, emocionada. “A gente tinha muita vontade de começar com o pé direito e quando saiu o sorteio contra a Espanha, não havia melhor oportunidade de acabar com isso e deu certo. Estamos muito felizes”, acrescentou.

O time brasileiro que estreou era formado por Jéssica Quintino, Giulia Guarieiro, Marcela Arounian, Jhennifer Lopes, Patricia Matieli, além da goleira Gabi Moreschi, que defendeu bolas difíceis e foi muito aplaudida.

“Não aguentava mais perder para a Espanha. A gente combinou de estudar o jogo delas e dar o nosso máximo e isso foi uma demonstração de que podemos muito”, reforça Moreschi, que teve um papel fundamental na vitória. Com 1,90 de altura, ela buscou bloquear o gol, de 2m por 3m. Gabriela teve 45% de aproveitamento, defendendo 14 de 31 arremessos espanhóis. "Hoje deu tudo certo, a minha defesa foi incrível, as meninas me ajudaram bastante e estou muito feliz com essa vitória para o Brasil”, disse a paranaense de 30 anos, que contou com a família na arquibancada. “Eu tentei dar atenção para todos e devolver essa energia, mas ver meu irmão e minha mãe ali, que sabem de tudo o que eu passei para estar aqui, não foi fácil. Saí de casa cedo. Eu tentava olhar no olho deles porque isso me dava forças”, afirmou em entrevista à RFI Brasil.   

A goleira da equipe brasileira de handebol, Gabi Moreschi, comemora a primeira vitória da equipe nos Jogos Olímpicos.
A goleira da equipe brasileira de handebol, Gabi Moreschi, comemora a primeira vitória da equipe nos Jogos Olímpicos. © Maria Paula Carvalho - RFI

"País de raça e determinação"

Em um esporte de contato, muito físico e exigente para as atletas, ser ofensivo faz parte da estratégia. E o Brasil aproveitou bem as oportunidade de gol, além de marcar as adversárias com determinação.

Aos 10 minutos, as brasileiras já tinham aberto 7 a 2. E o time respondeu com garra aos apelos da torcida barulhenta por mais gols. A Espanha não acertou a finalização em momentos importantes e teve dificuldade frente à marcação das brasileiras.

Jennifer foi substituída por Adriana Cardoso, pouco antes do fim do primeiro tempo, que acabou com placar de 15 a10 para o Brasil.

A Seleção continuou dominando a partida no segundo tempo, abrindo dez pontos de vantagem. O time seguiu demonstrando bom entrosamento com a entrada de Kelly Rosa, Mariane Fernandes e Gabriela Bitolo.

“Uma equipe é isso, a gente tem que confiar em todo mundo, não importa se é antiga ou nova no time, o importante é estarmos unidas”, explicou Tamires Araújo. “O handebol é muito bonito, é contagiante, um esporte que interage com os fãs”, disse. “Foi uma sensação de êxtase. A gente estava em quadra com total alegria e podendo passar o que o Brasil é: um país de muita raça e determinação”, comemora.

Pelas regras, para poder marcar gol, as jogadoras devem arremessar fora da zona da goleira, um semicírculo de 6 metros de raio, o que faz do handebol um esporte e um espetáculo, já que as jogadoras saltam no ar, dando a impressão de voar. A resistência e a força também são qualidades essenciais para uma jogadora de handebol, mas este esporte tático exige trabalho em equipe e versatilidade. 

Várias das atletas selecionadas para Paris participaram da conquista do ouro nos Jogos Pan-Americanos de Santiago, em 2023. 

O melhor desempenho do Brasil em Olimpíadas no handebol feminino foi chegar às quartas de final em 2012 e 2016. Após dois tempos de 30 minutos, o jogo de estreia terminou de forma emocionante, com o Brasil marcando dois gols no último minuto, fechando com placar final de 29 a 18.

“Isso é um pouco de brilho para a gente. A gente teve tempo para estudá-las e mostramos isso dentro de quadra. Fico feliz de ganhar das espanholas na estreia mas tem muito pela frente ainda e a competição é longa”, observa com prudência Bruna de Paula.

Grupo da morte

Em Paris, as brasileiras encaram adversárias difíceis logo na fase de grupos. Além da Espanha, as brasileiras têm pela frente a Hungria, equipe que conquistou três medalhas em Jogos Olímpicos; a França, dona da casa e atual campeã olímpica; a Holanda, vencedora do Mundial em 2021; e a Angola, tetracampeã africana. Só os quatro melhores times do grupo avançam à próxima fase. 

“Está lindo, tem um monte de brasileiros aqui, não podia ser mais especial: estreia com vitória e cheio de brasileiros. Foi lindo”, disse Mariane Fernandes. “Isso dá uma motivação a mais para a gente seguir trabalhando, ainda tem muito pela frente, comemorar agora e depois ‘virar a chave’ para a Hungria”, acrescenta.  

Mariane Fernandes comemora a vitória do Brasil sobre a Espanha no handebol feminino. Em Paris, em 25 de julho de 2024.
Mariane Fernandes comemora a vitória do Brasil sobre a Espanha no handebol feminino. Em Paris, em 25 de julho de 2024. © Gaspar Nóbrega / COB

Sobre o handebol 

O handebol tem suas raízes no final do século XIX, nos países escandinavos e na Alemanha, onde era jogado, à época, na grama. Em 1910, G. Wallström introduziu o esporte na Suécia. Duas versões do esporte coexistiram até 1966, quando a indoor passou a ser preferida à grama. 

A versão atual do handebol é jogada em um campo coberto de 40m x 20m, onde competem duas equipes de sete jogadores, que devem driblar a bola com a mão e não permanecer com ela mais do que três segundos.  

São dois tempos de 30 minutos, vencendo a equipe que marcar mais gols. Os torneios olímpicos femininos e masculinos são compostos por doze equipes. 

Handebol nas Olimpíadas 

O handebol entrou para os Jogos Olímpicos em Berlim, em 1936, na sua versão de grama, e depois foi praticado como esporte de demonstração nos Jogos de 1952, em Helsinque. A modalidade só foi reaparecer no programa olímpico vinte anos mais tarde, nos Jogos de Munique, em 1972, desta vez no formato indoor. 

A prova feminina entrou no programa olímpico quatro anos depois, em Montreal.  

O ranking olímpico do handebol é amplamente dominado pela Europa. Todos os títulos olímpicos foram conquistados por uma nação europeia, com exceção das duas vitórias da Coreia do Sul em Seul, em 1988, e em Barcelona, em 1992, no torneio feminino. 

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