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Brasil-Mundo

Em Los Angeles, Rafinha Bastos quer dominar a arte da comédia em inglês

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O desafio é entrar no palco como um desconhecido e conquistar a plateia que não sabe nada da sua carreira. Depois de 15 anos trabalhando no Brasil, onde é famoso por suas piadas, ácidas e muitas vezes polêmicas, Rafinha Bastos se mudou para Los Angeles para tentar fazer piada na meca do entretenimento.

O humorista Rafinha Bastos se mudou para Los Angeles com o objetivo de dominar a arte da comédia, em inglês
O humorista Rafinha Bastos se mudou para Los Angeles com o objetivo de dominar a arte da comédia, em inglês Arquivo Pessoal
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Cleide Klock, correspondente da RFI em Los Angeles

"O cara que quer jogar basquete, quer jogar na NBA. O que quer jogar futebol, quer jogar na Espanha, disputar com os melhores e vencer no mercado que o torne mundial. Se as coisas derem certo para mim nos Estados Unidos, eu viro o mundo, (tudo) daqui sai para o mundo. Eu tenho muito orgulho de tudo o que eu construí no Brasil, vou continuar investindo lá, é o meu lugar. Mas a oportunidade de vir para cá é a oportunidade de me lançar para o mundo inteiro, e estou me dando essa chance, aos 41 anos", diz Rafinha Bastos.

Desde 2011, o humorista já visita os palcos de Hollywood com uma certa frequência, mas foi em maio deste ano que decidiu se mudar para tentar a carreira em inglês. Antes disso, ele viveu nos Estados Unidos em 2004, quando jogava basquete na universidade de Nebraska. Ele aprendeu inglês naquela época, já as piadas vem sendo aperfeiçoadas no dia a dia.

"O bom é estar aqui. Ligar a televisão já é material suficiente para você aprender, ou uma mesa de bar com os amigos americanos, conversar, falar sobre o meu trabalho ou simplesmente deixar com que eles falem e entender um pouco a maneira que veem o mundo. Isso me ajuda muito, sem dúvida, na hora de subir no palco. Estar aqui te deixa com esse frescor da realidade americana", diz o humorista.

Rafinha Bastos avalia as diferenças no tom da piada: "Tem muita coisa que funciona em qualquer lugar, quando os temas são: relacionamento, casamento, divórcio, paternidade, são coisas que todos nós vivemos no mundo inteiro. Tem certas referências que a gente usa no Brasil ou certos temas, que as pessoas aqui naturalmente não entenderiam. Eu tenho um sotaque muito forte e, no palco, isso é bom. No Brasil eu pego pesado, tenho uma acidez, que aqui o sotaque, esse jeito de falar, os mal-entendidos da língua, acabam tornando algo muito mais suave".

Rafinha também faz piada sobre o Brasil - em uma de suas apresentações brinca que depila a virilha, já que o Brasil é conhecido pelo chamado Brazilian wax nos Estados Unidos. Mas, é apenas para quebrar o gelo já que não quer ser conhecido apenas por fazer piadas do lugar que vem.

"A evolução é realmente você não ficar preso ao fato de ser de algum lugar. Obviamente é muito legal que alguém ria de mim e do lugar de onde eu venho, mas isso tem um limite. Não posso fazer um show só com base nisso, que acaba sendo uma bengala e um pouco pobre como humor", considera.

Fábrica de Risos

O comediante tem se apresentado principalmente no Laugh Factory, uma tradicional rede de casas de espetáculos que opera shows de stand-up comedy em cinco cidades americanas há quase quarenta anos. Pelos palcos do Laugh Factory já passaram artistas como Jerry Seinfeld, Chris Rock, Ellen DeGeneres, Eddie Murphy, Jay Leno, David Letterman, além de outras centenas. Nessa última semana, o humorista fez três shows, um deles, "Rafinha and Friends" foi especial, com a participação dos convidados brasileiros Fábio Rabin, Whindersson Nunes além de artistas da casa, a também a brasileira Jade Catta-Preta, e os veteranos Kevin Nealon e Bobbly Lee.

"Logo que eu entrei no bar já fui "aprovado", como eles dizem, então faço parte do elenco que é chamado semanalmente para fazer shows. Tem outros bares onde estou conquistando espaço ainda. Então, é um processo que leva um certo tempo mas que está dando muito certo."

O limite da piada

Rafinha é conhecido - amado e odiado - pela mesma característica. Sem papas na língua, é do tipo que perde o público (e muitos milhares de reais) mas não a piada, leva processo mas não se censura, ou quase, atualmente. Ao contrário de que possam falar, ele diz que a vinda pra cá não foi um 'auto-exílio'.

"Aqui o povo também está um pouco conservador, os comediantes também estão tomando certos cuidados, porque o público está muito armado com os movimentos feministas, que até acho interessante. O povo aqui é até mais sensível do que no Brasil, então nesse sentido seria um movimento equivocado vir pra cá. Aqui é até mais provável que você tenha problema, talvez não com processo judicial. Os riscos que eu corro lá no Brasil, eu corro aqui, então não posso mudar a minha maneira de trabalhar porque eu não saberia fazer de outra forma".

Rafinha Bastos acabou de lançar, na semana passada, o "Ultimato" - um show de stand-up comedy na Netflix. Paralelamente, em Hollywood, ''tenta a vida', fazendo testes para filmes, escrevendo roteiros, mas o sonho maior, revelou à RFI: fazer para a gigante do streaming um original em inglês para se lançar ao mundo como um comediante também da língua de Shakespeare.

"Todo o resto eu não controlo, o fato de me escolherem, o fato de gostarem do meu roteiro. Agora, se eu subo ao palco, eu estou fazendo algo inteligente e as pessoas estão rindo de mim, esse é o meu showcase, e é o  suficiente para mostrar: 'Olha, eu tenho um caminho para seguir e o público está comigo'. Eu tenho certeza que eu vou conseguir. Vai demorar, não vai ser tão rápido e tão fácil quanto foi para Anitta, mas mas vai dar certo", conclui.

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