Fentanil e fakes: o plano sinistro do 'nerd' condenado à prisão perpétua por assassinar vizinhos
- Author, Lewis Adams
- Role, Da BBC News
O britânico Luke D'Wit foi voluntário em um restaurante popular na cidade inglesa de West Mersea, trabalhou no carnaval local e parecia sempre disposto a ajudar quem precisasse. Mas, na realidade, o homem graduado em Ciência da Computação era um assassino frio e calculista, descrito por um policial experiente como "um dos homens mais perigosos" com quem já havia lidado.
Na sexta-feira (22/3), um tribunal britânico condenou D'Wit à prisão perpétua pelo elaborado assassinato de seus vizinhos.
Mas como ele foi desmascarado?
Luke D'Wit não mediu esforços para ganhar a confiança do casal Stephen e Carol Baxter.
Ele usou personalidades falsas para induzi-los a tomar medicamentos.
Ele visitava a casa do casal com muita frequência. A filha de Stephen e Carol dizia que ele era um "nerd estranho".
Mas tudo fazia parte de seu plano para envenenar o casal com fentanil, antes de reescrever seus testamentos para se tornar beneficiário.
Era pouco antes das 20h de 7 de abril de 2023, quando D'Wit trancou duas vezes a porta da frente da casa do casal Baxter em West Mersea e começou a curta caminhada para casa.
O jovem de 34 anos planejava passar a noite assistindo à série policial britânica Beyond Paradise na casa que dividia com sua mãe.
O que a mãe dele não sabia era que na noite anterior o filho dela havia envenenado o casal Baxter ao administrar doses letais de fentanil na medicação deles.
O senhor de 61 anos e a senhora de 64 morriam lentamente nas suas poltronas. No dia seguinte, eles seriam encontrados mortos pela filha, Ellie.
Ao mesmo tempo, no dia seguinte à administração das doses fatais, D'Wit calmamente levou a mãe para tomar café da manhã e tomar um sorvete.
D'Wit foi condenado pelo assassinato do casal e aguarda sentença.
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D'Wit era considerado um homem simpático, que dedicava seu tempo para ajudar os outros.
Designer freelance de sites, ele se aproximou dos Baxters depois de criar um site para a loja de tapetes de banho, Cazsplash.
Heidi Cornish, que conheceu D'Wit em uma reunião da associação carnavalesca de Mersea, disse no julgamento do assassinato que ele "adora se envolver onde as pessoas precisam de ajuda".
"Ele tem um bom senso do que é certo e errado", acrescentou ela.
Para todos, foi natural que D'Wit, que fazia companhia para Carol Baxter nas caminhadas e a ajudava a tomar os remédios, corresse para a casa da família quando eles foram encontrados mortos.
"Preciso ver como eles estão", disse ele a um policial no local. "Eu sempre visito eles."
Kate Dawson, uma amiga próxima dos Baxter, diz que a presença dele — mesmo depois da morte deles — não era incomum.
"Ele nunca foi mal-educado, apenas muito estranho — uma pessoa esquisita. Ele não falava muito, mas estava sempre lá, sempre", diz ela.
"Ele ficava sentado tomando uma xícara de chá com eles, e estava sempre lá."
No julgamento, em Chelmsford Crown Court, foi revelado que as visitas frequentes de D'Wit ao longo dos anos estavam longe de ser amigáveis. Ele tinha intenções maldosas e uma trama de manipulação calculada estava em curso.
Depois que os corpos foram descobertos, ele partiu para a próxima etapa – plantar na casa dos Baxters um testamento falso que ele havia criado, dando-lhe o controle dos negócios dos casal.
"Olhando agora, há muitas coisas estranhas", diz Dawson. "Mas na época eu nem tinha percebido."
Drogas e veneno
Durante o julgamento, o tribunal ouviu que D'Wit conheceu os Baxters por volta de 2012 ou 2013 e se envolveu mais em suas vidas ao longo dos anos.
Carol Baxter sofria de tireoidite de Hashimoto (doença autoimune na qual o sistema imunológico ataca as células da tireoide) e seu estado mental estava piorando.
Segundo a filha Ellie, a doença estava fazendo com que sua mãe "fizesse coisas bobas".
Assim, quando um médico dos Estados Unidos lhe ofereceu serviços e acesso a uma ampla rede de colegas com a doença, pareceu ser o conforto que Carol Baxter precisava.
O único problema era que nem a Dra. Andrea Bowden nem os outros pacientes eram reais. Eles foram criados por D'Wit para manipular Carol e induzi-la a se distanciar de sua família.
Segundo o julgamento, D'Wit ajudaria Carol Baxter fazendo sucos de frutas que ele afirmava serem ricos em benefícios à saúde.
Mas aqueles sucos eram, na verdade, coquetéis de drogas e venenos que a deixavam muito mais doente do que já estava.
Durante um exame hospitalar devido a uma dor de estômago, foi encontrada uma tachinha de metal dentro de uma cápsula de remédio. Esses mesmo objetos seriam encontrados mais tarde na casa de D'Wit.
Na noite de 7 de abril, D'Wit administrou doses fatais de fentanil aos Baxter no que eles pensaram ser seu medicamento.
'Nosso querido amigo Luke'
Um dia após os Baxters terem sido encontrados mortos, um novo testamento foi redigido no nome deles. Ele detalhava como seu "querido amigo Luke D'Wit" se tornaria diretor e pessoa com controle significativo da empresa Cazsplash caso morressem.
Seria uma prova fundamental para desmascará-lo.
Quando a polícia visitou a casa de D'Wit em julho de 2023, encontrou 80 dispositivos eletrônicos. Muitos foram usados para se comunicar com os Baxters enquanto se passava por personalidades falsas.
Um deles tinha até imagens do casal morto em suas poltronas, tiradas por uma câmera escondida pela qual ele os viu morrer.
E uma sacola encontrada em seu quarto continha fentanil, cápsulas de medicamentos e tachas de metal.
Mas por que um assassino manteria suas armas expostas? O detetive Rob Kirby, chefe do departamento de crimes graves da Polícia de Essex, acredita que ele estava planejando atacar novamente.
"Ele é, sem dúvida, um dos homens mais perigosos que já conheci na minha carreira policial", diz. "Ele enganou a todos. Ele fez amizade com as pessoas, parecia uma pessoa muito receptiva e prestativa, mas no fundo ele era um assassino frio e calculista que passou anos planejando a morte de Carol e Stephen Baxter.
"Não tenho dúvida alguma de que, se ele não tivesse sido capturado, teria cometido mais assassinatos."
D'Wit foi preso em um escritório que alugava no campus da Universidade de Essex, na Inglaterra.
Durante o julgamento, ele prestou depoimento em uma cadeira de rodas, o que a promotora Tracy Ayling KC disse ser desnecessário e simplesmente uma tentativa de atrair a simpatia do júri.
"O que permitiu D'Wit ser desmascarado foi a arrogância que existia dentro dele", acrescenta Kirby. "Ele não encobriu seus rastros adequadamente e se iludiu ao pensar que poderia usar fentanil para matar duas pessoas, e isso não seria considerado suspeito. Infelizmente para D'Wit, o rastro de fentanil levou direto até ele."