Chefe do Grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin estava em avião que caiu, dizem autoridades russas

Yevgeny Prigozhin

Crédito, Getty

Legenda da foto, Prigozhin foi um principais personagens da invasão russa à Ucrânia

Autoridades russas confirmaram que o líder do grupo de mercenários Wagner, Yevgeny Prigozhin, estava a bordo de avião que caiu na Rússia.

A Agência Federal de Transporte Aéreo da Rússia incluiu o nome de Prigozhin em uma lista daqueles “declarados como viajando a bordo do avião acidentado”.

O nome de Prigozhin está listado ao lado de outros seis passageiros e três tripulantes. Outro passageiro que estava na aeronave era o comandante e cofundador do grupo Wagner Dmitry Utkin.

Além de Prigozhin e Utkin, os outros passageiros eram, segundo a agência de aviação russa: Sergei Propustin, Yevgeny Makaryan, Alexander Totmin, Valery Chekalov e Nikolai Matuseyev.

Além dos sete passageiros, estavam a bordo também três tripulantes: o capitão Alexei Levshin, o copiloto Rustam Karimov e a comissária de bordo Kristina Raspopova.

Os dez ocupantes morreram quando a aeronave caiu perto da cidade de Tver. Todos os corpos foram recuperados, segundo a agência russa.

Não está claro o que ocorreu com o avião, se foi abatido ou se houve uma explosão a bordo, por exemplo. Uma investigação criminal foi aberta para analisar a queda do avião, que é de fabricação da brasileira Embraer.

O ministério acrescentou que o avião caiu perto do assentamento de Kuzhenkino, na região de Tver, a 350 km de Moscou.

Anteriormente, um canal do Telegram ligado ao Wagner, Gray Zone, informou que o jato foi abatido pelas defesas aéreas na região de Tver, ao norte de Moscou.

Imagens autenticadas pelo serviço de checagem BBC Verify mostram o momento em que um avião pega fogo após cair do céu em Kuzhenkino, na Rússia.

Avião caindo

Crédito, Captura de tela de vídeo amador

Legenda da foto, Vídeo amador mostra um avião caindo do céu em Kuzhenkino...
Fumaça

Crédito, Captura de tela de vídeo amador

Legenda da foto, ...e explodindo após atingir o chão
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Especulações nos canais do Telegram indicaram que o avião acidentado era um jato Embraer Legacy com número de série RA-02795.

Os dados de rastreamento no FlightRadar24 – um popular site de rastreamento de voos – não mostram de onde ele partiu.

Hoje cedo ele apareceu perto de Moscou, onde subiu a uma altitude de quase 29.000 pés (8.800 m) antes que os dados mostrassem que ele caiu repentinamente.

O avião está registrado na Autolex Transport, que o governo dos EUA considera vinculada a Yevgeny Prigozhin.

Os registros de voo do avião agora estão parcialmente inacessíveis através do FlightRadar24.

Mas a aeronave fez várias viagens de e para Moscou e São Petersburgo nos últimos meses, e foi retratado pelos meios de comunicação locais na Belarus, onde se pensa agora que o grupo Wagner está sediado.

Ontem, Prigozhin havia divulgado seu primeiro discurso em vídeo desde seu motim fracassado na Rússia.

O vídeo indicava que ele estava na África e foi postado em canais do Telegram ligados ao grupo.

As imagens mostram Prigozhin em traje de combate, dizendo que o grupo está tornando a África "mais livre".

A BBC não conseguiu confirmar onde o vídeo foi gravado.

Acredita-se que o grupo Wagner tenha milhares de combatentes no continente africano, onde tem interesses comerciais lucrativos.

Prigozhin foi um principais personagens da invasão russa à Ucrânia ao comandar, à frente do exército privado de mercenários, uma rebelião de curta duração contra o governo russo no início de junho.

Durante meses, o nome de Prigozhin foi associado ao papel cada vez mais central que seu grupo mercenário está desempenhando na guerra na Ucrânia.

Ele recrutou milhares de criminosos nas prisões da Rússia - não importando quão graves tenham sido os crimes dos condenados, desde que eles concordassem em lutar na Ucrânia.

Antes de a Rússia iniciar o que se tornou o pior conflito armado na Europa desde a Segunda Guerra Mundial, Prigozhin foi acusado de interferir nas eleições americanas e de expandir a influência russa na África.

Após uma dura troca de acusações, o grupo Wagner e o governo russo romperam relações.

Na manhã do dia do golpe fracassado, em 24 de junho, o presidente russo, Vladimir Putin, acusou Prigozhin de "traição" e de lhe dar "uma facada nas costas".

Depois de um acordo para encerrar o impasse, as acusações contra ele foram retiradas e houve uma oferta para que ele se mudasse para Belarus.

Quem é Prigozhin

Homem atrás de porta com símbolo do Grupo Wagner

Crédito, Reuters

Legenda da foto, O grupo mercenário foi identificado pela primeira vez em 2014

Yevgeny Prigozhin nasceu em São Petersburgo, que também é a cidade natal de Vladimir Putin.

Ele foi condenado na Justiça pela primeira vez em 1979, com apenas 18 anos, e teve uma pena de dois anos e meio por roubo, que cumpriu em liberdade. Dois anos depois, ele foi condenado a 13 anos de prisão por roubo e furto, nove dos quais cumpriu atrás das grades.

Após ser solto, Prigozhin montou uma rede de barracas que vendiam cachorro-quente em São Petersburgo. Ele se deu bem nos negócios e em poucos anos — ao longo da década de 1990, período de transição das leis na Rússia — Prigozhin conseguiu abrir restaurantes caros na cidade.

Foi lá que ele começou a ter contato com as pessoas mais poderosas de São Petersburgo e, depois, da Rússia.

Um de seus restaurantes, o New Island, era um barco que navegava pelo rio Neva. Vladimir Putin gostava tanto do restaurante que, depois de se tornar presidente, começou a levar seus convidados estrangeiros para comer lá.

Foi provavelmente assim que os dois se conheceram.

"Vladimir Putin percebeu que eu não tinha nenhum problema em servir pessoalmente a governantes", disse Prigozhin em uma entrevista.

"Nós nos conhecemos quando ele veio com o primeiro-ministro japonês, Yoshiro Mori."

Mori visitou São Petersburgo em abril de 2000, no início do governo de Putin.

Em 2003, Putin já confiava em Prigozhin o suficiente para comemorar seu aniversário no New Island.

Anos depois, a empresa de catering (serviço de alimentação em eventos) de Prigozhin, a Concord, foi contratada para fornecer comida ao Kremlin, o que rendeu ao líder o apelido de "chef de Putin".

As empresas ligadas a Prigozhin também ganharam contratos para fornecer comida a escolas militares e empresas estatais.

'Marcado para morrer'

Análise de Frank Gardner

Correspondente de segurança da BBC News

"Marcado para morrer". Foi como vários observadores russos descreveram o chefe do grupo Wagner, Yevgeny Prigozhin, desde que ele liderou um motim contra Moscou no final de junho.

A reação inicial de Putin foi contundente, chamando-o de traidor e o acusando de ter dado uma facada nas suas costas.

Um acordo permitiu que Prigozhin permanecesse foragido e posteriormente ressurgisse em Belarus, em São Petersburgo e, nesta semana, em algum lugar de África.

Mas isso não significava que ele estivesse seguro.

"Vingança", comentou o diretor da CIA (Agência Central de Inteligência dos EUA), William Burns, "é um prato que Putin prefere comer frio".

O presidente americano, Joe Biden, disse que “não ficou surpreso” com a notícia do acidente na Rússia.

Questionado por repórteres se achava que Putin era o responsável, ele disse: “Não acontece muita coisa na Rússia que Putin não esteja por trás”.

Nada disso, claro, é prova de que Prigozhin e a sua comitiva foram deliberadamente visados.

Mas dadas as circunstâncias, qualquer alegação de que sua morte, se confirmada, foi um acidente, causará muitas suspeitas.