O mar faz de Santa Catarina o maior produtor de ostras e de mexilhões do país e promove um dos marcos culturais mais fortes desta parte do litoral brasileiro: a pesca artesanal da tainha, cuja temporada, de maio a julho, chega a suspender a prática de surfe em algumas praias do Estado. A safra do peixe tem forte importância para a economia local e abastece restaurantes e peixarias, além de servir como fonte de renda para milhares de famílias. O cultivo dos moluscos, em parte nas mãos de pequenos produtores, e a pesca da tainha que chega às águas catarinenses com as correntes frias do meio do ano, porém, enfrentam desafios neste ano.
Em plena safra, com lanços (arremessos de redes para a captura de peixes) batendo recordes, o Ministério da Pesca e Aquicultura decretou o fim da temporada da tainha para a modalidade de emalhe anilhado - em que a rede é fechada em torno do cardume, impedindo a fuga - a partir de 22 de junho após a cota atual de 460 toneladas ter sido atingida. A cota anterior, de 830 toneladas, foi reduzida para evitar a sobrepesca. A Secretaria de Aquicultura e Pesca de Santa Catarina estima um prejuízo de R$ 15 milhões com a redução da cota e a suspensão antecipada para a modalidade e apelou ao Tribunal Regional da 4ª Região para reverter a medida.
A redução nesta safra pode estar relacionada à presença de uma espécie invasora ” - André Boratto
A pesca industrial, cuja cota em 2022 era de 600 toneladas, já havia sido suspensa e estava probida neste ano. Outras modalidades artesanais, como arrasto de praia, emalhe de superfície (liso) e tarrafa, seguem permitidas.
O cultivo de ostras e mexilhões, por sua vez, vem caindo. Florianópolis é considerada a capital nacional da ostra, responsável por 80% da produção nacional, e tem uma rota gastronômica no bairro do Ribeirão da Ilha destinada ao molusco. Embora a produção de ostra nativa tenha crescido 2,8% no ano passado, para 38 toneladas, a alta não foi suficiente para compensar a queda de 3,8% da variedade Pacífico, para 2.047 toneladas. Santa Catarina responde por cerca de 95% da produção brasileira de ostras e mexilhões.
“A redução nesta safra pode estar relacionada à presença de uma espécie invasora de mexilhão, que passou a ocorrer em nossas zonas de produção”, afirma André Luis Boratto, gerente do Centro de Desenvolvimento em Aquicultura e Pesca. Ele frisa, porém, que ainda não houve um estudo específico relacionando a redução da produção à presença da espécie invasora. A expectativa, segundo ele, é que a queda se acentue ao longo do ano principalmente na produção de mexilhões, em função da queda na salinidade do mar provocada pelo excesso de chuvas em regiões produtoras próximas à costa, como em Palhoça.
A indústria pesqueira no Estado, no entanto, vai além do cultivo de moluscos e da atividade artesanal, e grandes companhias veem os resultados melhorarem neste ano. A Gomes da Costa, de Itajaí, produz diariamente mais de 2 milhões de latas de atum, sardinha e outros produtos. Parte da produção é exportada para países como Argentina, Uruguai e Paraguai. De acordo com Lucas Nouer, diretor de marketing da companhia, o consumo de atum teve um crescimento expressivo em 2022 - e em 2023, os resultados já superaram os do mesmo período do ano passado.
A FAO, agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para alimentação e agricultura, atribui a alta no consumo de atum em lata na pandemia a seu custo mais acessível e estável. “Temos também um olhar cuidadoso para o segmento de sardinhas, pescado muito popular no país, que teve uma melhora na disponibilidade, comparado aos últimos anos”, afirma Nouer.
Outra empresa na região é a Coqueiro, que pertence à Camil Alimentos. A produção da empresa - atum, sardinha e patê de atum - de Navegantes teve alta de 3,8% em 2022, para 34 mil toneladas de pescados.
No interior destacam-se a produção de tilápia - o Estado é o quarto maior produtor do peixe, que é o mais consumido pelos brasileiros - e de trutas (segundo maior). Santa Catarina produziu quase 50 mil toneladas de pescado em 2021, dado mais recente do Observatório Agro Catarinense, ano em que o setor teve alta de 3,3% sobre o período anterior.
Uma nova cadeia produtiva também se instala no litoral catarinense, a partir do cultivo de algas. A produção, que começou em 2020, é direcionada principalmente à fabricação de biofertilizantes para a agricultura e para a extração de carragena, um espessante utilizado nas indústrias química e alimentícia.