As empresas do setor de serviços médicos reforçaram, em 2022, rotas de inovação, pesquisa e desenvolvimento que buscam melhorar a eficiência da operação, no caso dos hospitais, e dar maior assertividade ao diagnóstico de doenças por parte dos laboratórios. Além do Hospital Albert Einstein, líder do setor, que figura também entre os dez grupos mais inovadores do país, as outras companhias que se destacam nas cinco primeiras posições do ranking são: o hospital Sírio-Libanês, a rede de saúde Dasa e os laboratórios de diagnóstico Fleury e Hermes Pardini. Os dois últimos tiveram neste ano a fusão de suas operações aprovada.
“A inovação já fazia parte dos principais grupos de saúde do país, mas a adoção de novas ferramentas de inteligência artificial e de analytics acelerou os processos, assim como colaborou na busca por eficiência operacional em um setor sob forte pressão de custos”, afirma Bruno Porto, sócio da consultoria e auditoria PwC Brasil, que elaborou o ranking em parceria com o Valor. “Hospitais querem melhorar o atendimento para otimizar a ocupação dos leitos hospitalares, enquanto a medicina diagnóstica corre atrás de testes mais eficazes e baratos para ajudar também na prevenção de doenças”, complementa.
Na visão do executivo da PwC, a pandemia obrigou empresas tradicionais a olhar para as healthtechs, startups da área de saúde, que já se destacavam, mas vinham com dificuldade em dar escala às soluções. “Elas resolvem dores urgentes do setor, muitas vezes, com soluções de baixo custo baseadas em muitos dados. Quando o sistema passa a focar em processos, diagnósticos e tratamentos mais eficazes, a tendência é controlar melhor os custos”, diz Porto, citando um estudo da PwC que aponta que até 2030 o setor vai dobrar os investimentos em prevenção para 20% da receita.
Na Dasa, segunda colocada, a estratégia de aproximação com startups teve papel importante em 2022. “Somos uma empresa de saúde e tecnologia que conecta players em torno do propósito de transformar a medicina”, diz Danilo Zimmermann, diretor-geral de tecnologia e transformação digital da Dasa, ao destacar o lançamento da área de engajamento com startups e o primeiro programa de aceleração de startups da empresa, o Dasa pulsa.
A Dasa tem o maior data lake da área de saúde da América Latina, com 7,7 bilhões de resultados de exames e mais de 1,9 Pb (Petabyte) de dados processados por mês. Só no ano passado, foram aplicados R$ 579 milhões em tecnologia, pesquisas, sistemas e TI, 45% acima do investido em 2021.
Segundo o diretor-geral da empresa, o conceito de saúde 5.0 passa pela incorporação de tecnologias que contribuem para toda a cadeia de cuidado – desde prevenção e diagnóstico até o tratamento. As iniciativas abarcam os laboratórios de inteligência artificial, como os pertencentes ao DasAInova, até o Biodesign Lab, uma parceria com a PUC-Rio, que desenvolve projetos de bioimpressão, metaverso e impressão 3D.
Um grande avanço foi o desenvolvimento de algoritmos capazes de detectar 43 doenças que precisam de acompanhamento, como estenose da artéria coronária e tumores de várias partes do corpo. “Esse processamento analisa automaticamente, em média, oito mil relatórios e laudos de exames por dia, identificando pacientes que precisam de atenção especial”, ressalta Zimmermann. A maior proximidade com as startups, menciona o executivo, gerou casos importantes que entregaram ganhos de eficiência à operação. “Com a Upflux, otimizamos o tempo de entrega dos diagnósticos para diversos clientes, utilizando process mining, uma tecnologia cujo objetivo é identificar, monitorar e otimizar processos com uso muito prático de inteligência artificial”, acrescenta.
A busca por mais eficiência nos processos também marcou as iniciativas do Hospital Sírio-Libanês, terceiro no ranking. A telemedicina, que ganhou volume durante a pandemia, seguiu avançando. “Temos uma equipe especializada para traduzir a tecnologia para o time de saúde e muitas iniciativas voltadas para a experiência do usuário”, relata Diego Aristides, chief technology officer do Sírio-Libanês. A equipe de design olha para a posição da câmera no atendimento, a customização do mouse ou como usar protocolos por voz. “O ano de 2022 foi vida real, após a pandemia, com a telemedicina avançando com equipes mais bem treinadas e tecnologias que melhoram a percepção do usuário”, comenta Ailton Brandão, diretor de inovação do Hospital Sírio-Libanês.
A grande conquista da área de P&D e inovação foi a criação da Alma Sírio-Libanês – braço de inovação aberta do hospital. “Com um olhar para a inovação aberta, com times multifuncionais trabalhando em conjunto, vamos olhar para fora, buscar parcerias e acelerar processos”, comenta Brandão. A Alma já tem 120 startups de inovação em processo de análise. Duas já foram incubadas – a Sofia e a WeDoc – e há outras em fase final de negociação.
A startup Sofia – ao converter voz para texto – está resolvendo um problema antigo dos hospitais, que é a busca por um modelo que acelere o input de dados nos prontuários eletrônicos. A Sofia é carregada de inteligência artificial e entende o jargão médico. “O tempo de input de dados, com a Sofia, caiu 60%”, conta Brandão. A ferramenta está em uso em algumas áreas do Sírio, mas deve ser adotada em outros setores e também oferecida ao mercado.
“É uma mudança de paradigma. A Alma vem para pensar a saúde do futuro, que será aumentada com inteligência artificial, cognitiva e generativa. Vamos preparar o ecossistema Alma para servir ao Sírio e ao mercado. Sabemos que o hospital do futuro será além dos muros, com o acompanhamento do paciente antes de chegar à unidade até sua recuperação após deixar o local, com o menor tempo de permanência na unidade”, afirma o executivo.
Na quarta e na quinta posições do ranking, duas empresas de medicina diagnóstica que neste ano tiveram aprovação do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) para unir as operações: os grupos Fleury e Hermes Pardini.
No Fleury, a implantação de produtos, serviços e metodologias segue em ritmo acelerado. Em 2022, foram 603 iniciativas adotadas, 40% a mais do que em 2021. “A inovação tem um papel decisivo para acharmos soluções que garantam acesso e melhorem o atendimento”, diz Edgar Gil Rizzatti, diretor-executivo médico, técnico, de negócios B2B e novos elos do grupo Fleury.
A busca por processos mais eficazes na operação, acrescenta o diretor, dá resultado, citando o programa de excelência em relacionamento com a cadeia de fornecimento (PERC). “Em 2022, no ciclo do PERC, 44 empresas sugeriram 200 melhorias em processos, com redução de custo da ordem de R$ 8,4 milhões”, afirma. Projetos de pesquisa desenvolvidos com universidades e centros de pesquisa parceiros chegaram a 19. “Com o Albert Einstein temos no contexto de genômica o Genesis, projeto que estamos avançando e neste ano deve se tornar operacional”, informa Rizzatti.
Os avanços nas análises de dados também estão gerando projetos com resultados relevantes, um deles voltado à investigação do câncer de mama. A análise de dados permitiu ao Fleury identificar 10,4 mil mulheres, entre 40 e 75 anos, com exames de mama feitos há mais de 24 meses e a probabilidade, pelo indicador de risco, de terem a doença. Destas, 1,08 mil tinham dado o consentimento para serem contatadas, o que foi feito e com boa aderência. “Um câncer de mama inicial é 47% menos oneroso do que um em fase avançada. Somos remunerados pelos casos de mulheres que conseguimos engajar na investigação”, explica o executivo. O grupo Fleury investiu mais de R$ 90 milhões em pesquisa e desenvolvimento e em projetos digitais.
No Hermes Pardini, os avanços foram na direção de maior acesso à medicina diagnóstica. “As ferramentas de analytics e de inteligência artificial são o nosso dia a dia. Trabalhamos todas estas informações para otimizar os testes que já existem e também identificar as tendências”, comenta Alessandro Ferreira, diretor-executivo comercial e marketing do grupo Fleury e ex-vice-presidente comercial e de marketing do Pardini. A terceira linha de atuação da área é verificar gaps assistenciais junto à medicina diagnóstica e criar novos testes.
Um dos projetos foi desenvolvido com a startup Speedbird Aero e utiliza drones para retirada de material biológico. “O Brasil tem duas rotas regulares operando amostras biológicas para fins de diagnóstico, uma em Salvador, pelo mar, e a outra em Belo Horizonte. Vamos colocar mais duas em breve”, diz o executivo, destacando que o projeto economiza horas no transporte.
O Hermes Pardini também desenvolve pesquisas em doenças complexas, reduzindo custos e agilizando diagnósticos. O produto Meta Test reúne em um procedimento metodologias com abordagens múltiplas de dezenas de doenças. “Fizemos uma amarração com bioinformática e em questões de dias analisamos 600, 700 tipos de doenças diferentes em uma única amostra de sangue ou urina. Em sete ou oito dias, conseguimos dar o diagnóstico, poupando o paciente de inúmeros outros exames feitos ao longo do tempo, nem sempre com resultado satisfatório”, explica.
A expectativa para as áreas de inovação e pesquisa e desenvolvimento do Pardini e do Fleury, agora com a fusão, é muito positiva, conforme avalia Ferreira, destacando a complementaridade dos projetos. “Vamos trazer coisas disruptivas para a medicina diagnóstica. Os problemas de saúde são significativos e não se corrige isto com soluções lineares, só com soluções exponenciais, como genômica, inteligência artificial, mudança disruptiva de modelos logísticos. Com a união dos dois, a intenção é trazer soluções de grande magnitude para a saúde”, afirma Ferreira.
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