Twitter Files Brazil
Este artigo ou parte de seu texto pode não ser de natureza enciclopédica. (Abril de 2024) |
Descrição | Documentos internos do Twitter revelados pelo Elon Musk |
Data | 4 de abril de 2024 – em andamento |
Publicadores | Michael Shellenberger, David Ágape e Eli Vieira. |
Objetivos |
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Resultado (atualizado em 7 de abril de 2024) |
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Documentos | Twitter Files Brazil |
Os Twitter Files Brazil (em português: Documentos Twitter Brasil) são uma coleção de documentos internos da plataforma X (antigo Twitter) que foram divulgados em abril de 2024, revelando as interações da plataforma com autoridades e figuras proeminentes brasileiras. De acordo com seus publicadores, esses documentos dariam indícios de tentativas do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), de parlamentares, do Ministério Público e do ministro Alexandre de Moraes de obter acesso a dados de usuários, visando a coleta em massa de informações através da análise de hashtags específicas. Segundo os consultores jurídicos da empresa, tais ações poderiam representar uma violação do Marco Civil brasileiro e dos direitos constitucionais dos cidadãos.[4][5]
Os documentos foram divulgados pelo jornalista americano Michael Shellenberger, em parceria com dois brasileiros alinhados ao bolsonarismo, David Ágape e Eli Vieira, depois de terem sido disponibilizados pelo empresário Elon Musk, que adquiriu e renomeou a rede social como X.[6] Apesar de não ter sido comprovada a veracidade dos conteúdos dos emails,[4] o episódio suscitou debates sobre privacidade, liberdade de expressão e a responsabilidade das plataformas de mídia social no contexto político e jurídico do Brasil.[7][8]
O episódio recebeu esse nome por vir em sequência ao Twitter Files, que foi uma série de vazamentos de documentos internos do Twitter entre dezembro de 2022 e março de 2023.[4][9]
História
[editar | editar código-fonte]Em dezembro de 2022, Elon Musk, que dois meses antes havia comprado o Twitter, entregou a jornalistas documentos internos que detalhavam a forma com que a mídia social havia auxiliado a campanha de Joe Biden em 2020, atendendo de forma diferenciada pedidos de remoção de conteúdo feitos pela campanha democrata em comparação com a de seu adversário, Donald Trump. Poucos dias depois, Musk diz que o mesmo poderia ter ocorrido no Brasil. Quase um ano e meio depois, o dono do agora chamado X entregou ao jornalista americano Michael Shellenberger inúmeros e-mails internos da companhia enviados entre 2020 e 2022 – Shellenberger publicou o material em colaboração com a Gazeta do Povo.[7][8]
No entanto, contrariamente ao caso americano, no Brasil os agentes do escândalo foram autoridades do Tribunal Superior Eleitoral. Segundo fora divulgado, o TSE chegou a exigir dados de usuários que haviam usado certas hashtags que sequer configuravam qualquer tipo de crime ou infração, como as que pediam pelo voto impresso. A empresa, Twitter, nas mais diversas ocasiões, julgou que as exigências eram uma invasão de privacidade, negando colaborar.[7][9][8]
Comentário do Elon Musk
[editar | editar código-fonte]O empresário e agora dono do Twitter, Elon Musk, após a deflagração dos Twitter Files Brazil, comenta, no dia 06 de abril de 2024, em uma publicação do perfil do juiz do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes, no X (antigo Twitter). Seu comentário dizia: "Why are you demanding so much censorship in Brazil?" (em português: "Por que vocês exigem tanta censura no Brasil?"), reforçando o que fora divulgado pelos files, e a percepção de que, para "defender a democracia", a corte teria ultrapassado o limite do razoável e da democracia liberal.[10][11]
Desdobramentos
[editar | editar código-fonte]Na noite do dia 06 de abril de 2024, a X Corp, através de sua conta Global Government Affairs, na rede social X (antigo twitter), declarou:
"A X Corp. foi forçada por decisões judiciais a bloquear determinadas contas populares no Brasil. Informamos a essas contas que tomamos tais medidas. Não sabemos os motivos pelos quais essas ordens de bloqueio foram emitidas. Não sabemos quais postagens supostamente violaram a lei. Estamos proibidos de informar qual tribunal ou juiz emitiu a ordem, ou em qual contexto. Estamos proibidos de informar quais contas foram afetadas. Somos ameaçados com multas diárias se não cumprirmos a ordem. Não acreditamos que tais ordens estejam de acordo com o Marco Civil da Internet ou com a Constituição Federal do Brasil e contestaremos legalmente as ordens no que for possível. O povo brasileiro, independentemente de suas crenças políticas, têm direito à liberdade de expressão, ao devido processo legal e à transparência por parte de suas próprias autoridades."
Elon Musk, 10 minutos depois, comentou em seu respost à declaração: "Why are you doing this @alexandre?" (em português: "Por que você está fazendo isso, Alexandre?"). Nota-se que o uso do "@" significa que o perfil a ele seguinte, o de Alexandre de Moraes, fora marcado à postagem.
Em seguida, Musk publicou em seu perfil, informando que as restrições impostas aos perfis solicitadas pelos órgãos judiciais foram removidas[12], dizendo que alguns dos funcionários da rede social foram ameaçados de prisão. Musk completa a publicação dizendo que "princípios são mais importantes do que lucro", e que essa decisão de contestar as ordens judiciais provavelmente resultará na perda de receitas da filial brasileira, levando ao eventual fechamento dos escritórios brasileiros.
Jorge Messias, advogado-geral da União, publicou em seu perfil da rede social uma resposta à fala de Musk, solicitando urgentemente a regulamentação das redes sociais[12]:
"É urgente regulamentar as redes sociais. Não podemos conviver em uma sociedade em que bilionários com domicílio no exterior tenham controle de redes sociais e se coloquem em condições de violar o Estado de Direito, descumprindo ordens judiciais e ameaçando nossas autoridades. A paz social é inegociável".
Por volta do meio-dia do dia 07, Musk publica em seu perfil do X, dizendo: "Em breve, o 𝕏 publicará tudo o que é exigido por @Alexandre e como essas solicitações violam a legislação brasileira. Este juiz traiu descarada e repetidamente a constituição e o povo do Brasil. Ele deveria renunciar ou sofrer impeachment. Que vergonha, @Alexandre, que vergonha."
Figuras de proeminência internacional também comentaram a respeito, como Gleen Greenwald e Robert F. Kennedy Jr. Gleen, especialista em direito constitucional e jornalista mundialmente conhecido, comenta, em seu perfil do X, concordando com as ações de Musk e condenando os atos repressivos de Moraes. Não é a primeira vez que condenara Alexandre. Um mês antes havia o chamado de ""profundamente autoritário e louco pela censura".[13] Robert F. Kennedy Jr, por sua vez, filho de Robert. F. Kennedy e candidato independente às eleições presidenciais americanas de 2024, em seu repost a um vídeo de Michael Shellenberger, disse: "Nunca na minha vida a liberdade de expressão esteve tão ameaçada como hoje. Obrigado @elonmusk". No vídeo, Michael exprime suas ideias, dizendo que que o Brasil estava à beira de duma ditadura comandada pelo juiz Alexandre de Moraes, e que o trilhar do país rumo ao totalitarismo tinha Lula como partícipe. Diz ainda que o que Moraes e Lula estavam fazendo era uma violação à Constituição Brasileira e à Declaração dos Direitos Humanos das Nações Unidas. O vídeo fora também republicado pelo Elon Musk[14]
Segundo apurado pelo jornal O Globo, alguns dos perfis que foram suspensos a pedido do ministro Alexandre de Moraes como parte do inquérito que apura fake news e ataques antidemocráticos ao país, são[15]: o blogueiro Allan dos Santos, que possui um mandado de prisão expedido por Moraes e atualmente reside nos EUA para fugir da prisão; o ex-deputado cassado Daniel Silveira, que convocou a implementação de um novo AI-5; o ex-deputado Roberto Jefferson, atualmente preso por atirar em agentes da Polícia Federal que foram cumprir um mandado de prisão contra o deputado. Até o momento, estes perfis permanecem suspensos na plataforma X.
Inclusão de Elon Musk no Inquérito das Fake News
[editar | editar código-fonte]Na noite do dia 07 de abril, Alexandre de Moraes inclui Elon Musk entre investigados do Inquérito das Fake News. A decisão também faz com que haja a instauração de um inquérito para investigar a possível atuação de Musk nos crimes de obstrução de justiça. Embora qualquer decisão da justiça brasileira não possa afetá-lo, por residir nos Estados Unidos, o escritório do X no Brasil, assim com a empresa, podem sofrer os efeitos da investigação e inquérito.[16][17] Na peça, o ministro se refere algumas vezes ao Musk como CEO do X. No entanto, desde 12 de maio de 2023, a CEO é a Linda Yaccarino. A posição ocupada pelo Musk é a de Chairman (Presidente do conselho de administração) e CTO (diretor-chefe de tecnologia).[18][19]
Permissão dos perfis suspensos
[editar | editar código-fonte]Em 19 de abril de 2024, a Polícia Federal do Brasil afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que a plataforma X no mesmo país tem mantido bloqueios de contas determinados pela Justiça brasileira, mas permitido que investigados continuem usando sua plataforma para transmissões ao vivo e permitido que usuários brasileiros interajam com os perfis suspensos. A empresa negou retirada de bloqueios, mas investigadores identificaram que usuários brasileiros ainda conseguem seguir contas suspensas e acompanhar transmissões ao vivo.[20]
Referências
[editar | editar código-fonte]- ↑ «Moraes "deveria renunciar ou sofrer impeachment", diz Musk». Poder360. Consultado em 7 de abril de 2024
- ↑ «Eduardo Bolsonaro quer discutir "Twitter files" na Câmara». Poder360. Consultado em 7 de abril de 2024
- ↑ «Moraes manda incluir Elon Musk no inquérito das 'Fake News'». Estado de Minas. Consultado em 7 de abril de 2024
- ↑ a b c Ethel Rudnitzki (8 de abril de 2024). «O que são os Twitter Files, vazados pelo próprio Musk, e como eles chegaram ao Brasil». Aos Fatos. Consultado em 10 de abril de 2024
- ↑ Malcher, Ândrea (9 de abril de 2024). «Comissão do Senado quer Elon Musk em audiência sobre Twitter Files Brasil». Política. Consultado em 10 de abril de 2024
- ↑ Guilherme Caetano (9 de abril de 2024). «Rede internacional de extrema direita usou 'Twitter files' para propagar versão bolsonarista de 'ditadura' no Brasil». O Globo. Consultado em 10 de abril de 2024
- ↑ a b c Povo, Gazeta do. «Editorial: "Twitter Files Brazil" reafirmam excessos do TSE e outras cortes». Gazeta do Povo. Consultado em 6 de abril de 2024
- ↑ a b c Gordon, Flávio. «Flávio Gordon: Twitter Files Brazil: ou como "derrotamos o bolsonarismo"». Gazeta do Povo. Consultado em 6 de abril de 2024
- ↑ a b Jonathan Turley, opinion contributor (3 de dezembro de 2022). «Censorship by surrogate: Why Musk's document dump could be a game changer». The Hill (em inglês). Consultado em 6 de abril de 2024
- ↑ «Elon Musk responde post de Moraes e pergunta a ministro por que 'tanta censura'». Folha de S.Paulo. 6 de abril de 2024. Consultado em 6 de abril de 2024
- ↑ «Elon Musk questiona Alexandre de Moraes: "Por que você está exigindo tanta censura no Brasil?"». Valor Econômico. 6 de abril de 2024. Consultado em 6 de abril de 2024
- ↑ a b «Musk responde a Moraes e anuncia liberação de contas no X bloqueadas por decisões judiciais». CNN Brasil. 6 de abril de 2024. Consultado em 7 de abril de 2024
- ↑ Cidadania, Vida e. «Glenn Greenwald descreve Moraes como "profundamente autoritário e louco pela censura"». Gazeta do Povo. Consultado em 7 de abril de 2024
- ↑ «Jornalista do Twitter Files alerta para risco de ditadura no Brasil». pleno.news. Consultado em 7 de abril de 2024
- ↑ «Elon Musk afirma que vai desrespeitar decisões de Moraes e o ataca por bloqueio na rede X». O Globo. 7 de abril de 2024. Consultado em 7 de abril de 2024
- ↑ InfoMoney, Equipe (8 de abril de 2024). «Moraes inclui Musk entre investigados de inquérito das fake news». InfoMoney. Consultado em 8 de abril de 2024
- ↑ «Moraes determina abertura de investigação contra Musk após ameaças de dono do Twitter». O Globo. 7 de abril de 2024. Consultado em 8 de abril de 2024
- ↑ «Linda Yaccarino começa a trabalhar oficialmente como nova CEO do Twitter | Metrópoles». www.metropoles.com. 6 de junho de 2023. Consultado em 8 de abril de 2024
- ↑ «Elon Musk names Linda Yaccarino new Twitter boss» (em inglês). 12 de maio de 2023. Consultado em 8 de abril de 2024
- ↑ Márcio Falcão (19 de abril de 2024). «Polícia Federal diz ao STF que X bloqueia postagens, mas autoriza transmissões por bloqueados». G1. Consultado em 20 de abril de 2024