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Tamandaré (encouraçado)

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Tamandaré
Tamandaré (encouraçado)
Lançamento do Tamandaré em 1865
 Brasil
Operador Armada Imperial Brasileira
Custo £40,506
Homônimo Joaquim Marques Lisboa
Construção 1865
Estaleiro Arsenal de Marinha da Corte, Rio de Janeiro
Batimento de quilha 31 de maio de 1865[nota 1]
Lançamento 21 de junho de 1865[nota 2]
Comissionamento 16 de setembro de 1865
Descomissionamento 18 de abril de 1879
Características gerais
Tipo de navio Encouraçado
Navio de bateria central
Deslocamento 754 toneladas (normal)
845 toneladas (carga profunda)
Comprimento 51,36 m
Boca 9,19 m
Calado 2,44 m
Propulsão Uma hélice com duas pás
Um motor a vapor
Duas caldeiras
- 278 cv (204 kW)
Velocidade 8 nós
Armamento 1 canhão Whitworth de 70 libras
3 canhões de 68 libras
2 canhões de 12 libras
Blindagem Cinturão: 51–102 mm
Casemata: 102 mm
Convés: 12,7 mm
Tripulação 120 homens

O Tamandaré foi uma canhoneira blindada construída para a Armada Imperial Brasileira durante a Guerra do Paraguai em meados da década de 1860. Ela atacou as fortificações paraguaias bloqueando o acesso aos rios Paraná e Paraguai e também bombardeou posições paraguaias em apoio ao Exército Brasileiro. O navio participou na Passagem de Humaitá em fevereiro de 1868 e ficou bastante danificado no decorrer da operação. Depois de o Tamandaré ser reparado, forneceu apoio de fogo para o exército durante o resto da guerra, além de bombardear uma vez a capital do Paraguai, Assunção. Depois da guerra, o navio foi destinado à Flotilha do Mato Grosso. Tamandaré foi descomissionado em 1879 e demolido posteriormente.

Design e descrição

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O Tamandaré, primeira embarcação brasileira a ostentar este nome em homenagem a Joaquim Marques Lisboa, Almirante e Marquês de Tamandaré, Patrono da Marinha do Brasil,[3] foi projectado para atender à necessidade da Marinha do Brasil de possuir um navio blindado pequeno, simples e de calado raso, capaz de suportar fogo pesado. Ela foi uma das três canhoneiras blindadas criadas para suprir esta necessidade, juntamente com os encouraçados Barroso e Rio de Janeiro, construídos com o mesmo plano geral, embora cada navio variasse significativamente em tamanho e armamento. O navio é mais bem caracterizado como um projecto de bateria central porque a casamata não se estendia pelo comprimento do navio. Foi equipado com um rostro de bronze de 1,4 metros de comprimento. O casco foi revestido com metal Muntz para reduzir a bioincrustação. Para viagens marítimas, a borda livre do navio podia ser aumentada para 1,7 metros pelo uso de baluartes removíveis com 1,1 metros de altura. Nas operações ribeirinhas, os baluartes e os mastros do navio eram geralmente removidos.[4]

O navio media 51,36 metros de comprimento, com uma boca de 9,19 metros e teve um calado médio de 2,44 metros. Tamandaré deslocava normalmente 754 toneladas e 845 toneladas em carga profunda. A sua tripulação era composta por 120 oficiais e homens.[4]

Tamandaré tinha uma única máquina a vapor John Penn & Sons de 2 cilindros que foi retirada da canhoneira de madeira Tietê, de construção britânica, que não se mostrou confiável em serviço. O motor, que movia uma única hélice de duas pás, era movido por duas caldeiras tubulares que produziam um total 204 kW que deu ao navio uma velocidade máxima de 8 nós. O funil do navio foi montado directamente em frente à sua casamata. Tamandaré era capaz de carregar carvão suficiente para seis dias.[4]

O encouraçado tinha montado um canhão de antecarga Whitworth de 70 libras, três canhões que disparam projecteis de 68 libras e dois canhões smoothbore de 12 libras na sua casamata.[4] Para minimizar a possibilidade de projécteis entrarem na casamata pelas portas dos canhões, elas eram as menores possíveis, permitindo apenas um arco de fogo de 24 ° para cada arma. A casamata rectangular de 9 metros tinha duas portas para canhões em cada lado, bem como na frente e atrás.[5]

A Whitworth de 70 libras pesava 3892 kg e disparava um projéctil de 140 mm que pesava 36,7 kg. O projéctil sólido da arma de 68 libras era de 201 mm e pesava um valor nominal de 30,8 kg enquanto a própria arma pesava 4826 kg. A arma tinha um alcance de 2900 metros a uma elevação de 12 graus. O tipo exacto de arma de 12 libras não é conhecido. Todas as armas podiam disparar munições sólidas e projécteis explosivos.[6][7]

O casco do Tamandaré foi feito de três camadas de madeira, cada uma com 203 mm de espessura.[4] O navio tinha um cinturão de linha de água de ferro forjado, com uma altura de 1,52 metros; tinha uma espessura máxima de 102 mm cobrindo as máquinas e os depósitos, e 51 mm em outras zonas. O convés curvo, assim como o tecto da casamata, era blindado com 12,7 mm de ferro forjado. A casamata foi protegida por 102 milímetros de armadura em todos os quatro lados, apoiados por 609 mm de madeira coberta com um 102 mm de madeira de peroba-comum.[5]

Uma frota brasileira é atacada por uma chata paraguaia, matando 34 pessoas a bordo do Tamandaré (Le Monde illustré, nº 477, 1866)
Half-length photographic portrait of a dark-haired man with sideburns who wears a double-breasted naval frock coat
Tenente Mariz e Barros, capitão do Tamandaré

O batimento de quilha do Tamandaré deu-se no Arsenal de Marinha da Corte no Rio de Janeiro, no dia 31 de maio de 1865, durante a Guerra do Paraguai, que viu a Argentina e o Brasil aliarem-se contra o Paraguai. O navio foi lançado no dia 21 de junho de 1865, concluído no dia 16 de setembro e custou £ 40.506. O navio chegou a Corrientes a 16 de março de 1866; no dia seguinte partiu para a confluência dos rios Paraná e Paraguai para iniciar as operações contra os paraguaios. No dia 26 de março, ele bombardeou as defesas de Itapirú e afundou um barco paraguaio (chata). Durante o bombardeamento do dia seguinte, um projéctil entrou numa das suas portas de canhão, apesar da cortina de correntes que a protegia; neste evento faleceram 14 homens, incluindo o seu capitão, Tenente Mariz e Barros, e outros 20 ficaram feridos. O navio bombardeou o Forte do Curuzu, a jusante do Curupaiti, no dia 1 de setembro, na companhia dos encouraçados Rio de Janeiro, Brasil, Lima Barros, Barroso e do monitor Bahia. Entre 24 e 29 de dezembro os encouraçados Barroso, Tamandaré, Brasil, e 11 canhoneiras bombardearam novamente o Forte Curuzu.[1]

Engraved images of two ironclad ships, both with low-profile hulls and decks very near their waterlines, armored central superstructures with cannon ports and single large smokestacks
Encouraçados Tamandaré (esquerda) e Brasil (direita) fortemente danificados após o ataque ao Forte Curuzu, a jusante de Curupaity

No dia 8 de janeiro de 1867, Tamandaré, Bahia e Colombo bombardearam fortificações paraguaias em Curupaiti.[1] Os brasileiros romperam as defesas do rio em Curupaiti durante o dia de 15 de agosto de 1867 com Barroso, Tamanadaré e outros oito encouraçados. Os navios foram atingidos 256 vezes, mas não foram seriamente danificados, e sofreram apenas 10 baixas e 22 feridos. Os motores do Tamandaré quebraram enquanto ele estava na frente dos canhões e ele teve que ser rebocado para um local seguro pelo encouraçado Silvado.[8] Eles foram rapidamente reparados e Tamandaré bombardeou baterias de artilharia paraguaia em Timbó que comandavam o rio Paraguai ao norte de Humaitá no dia seguinte.[1] Os paraguaios repetiram a operação novamente em 9 de setembro, com praticamente o mesmo resultado. Em 26 de setembro, os paraguaios moveram um canhão de grande calibre abaixo de Humaitá e bombardearam a esquadra brasileira, mas o canhão foi silenciado por tiros do Tamandaré e do Bahia.[8]

Em 19 de fevereiro de 1868, seis encouraçados brasileiros, incluindo Tamandaré, passaram por Humaitá à noite. Três monitores de rio da classe Pará, Rio Grande, Alagoas e Pará, foram amarrados aos encouraçados maiores caso algum motor ficasse inoperacional pelos canhões paraguaios. O encouraçado Barroso liderou juntamente com Rio Grande, seguido por Bahia com Alagoas e Tamandaré com Pará. Tanto Tamandaré, que havia sofrido cerca de 120 tiros, quanto o Pará tiveram que ser encalhados após passar pela fortaleza para evitar que afundassem. Tamandaré esteve em reparos em São José do Cerrito até meados de março. Em 25 de novembro, o navio bombardeou a capital paraguaia de Assunção. No dia 23 de março de 1869, Tamandaré e Alagoas destruíram as baterias de artilharia de Timbó. Após a guerra, o navio foi destinado à Flotilha do Mato Grosso, com sede em Ladário. Tamandaré foi desativado a 18 de abril de 1879 e posteriormente demolido.[1]

Notas

  1. Segundo gratz, foi a 31 de maio de 1965.[1] Contudo, outra fonte diz 31 de janeiro de 1865.[2]
  2. Segundo gratz, foi a 21 de junho de 1865.[1] Contudo, outras fontes dizem 23 de junho de 1865 e 26 de junho de 1865.[2]

Referências

  1. a b c d e f Gratz, p. 149
  2. a b «NGB - Encouraçado de Bateria Central Tamandaré». www.naval.com.br. Consultado em 18 de dezembro de 2020 
  3. Mendonça et al. 1959, p. 245.
  4. a b c d e Gratz, p. 144
  5. a b Gratz, p. 147
  6. Holley, p. 34
  7. Lambert, pp. 85–7
  8. a b Meister, p. 13
  • Davis, William H. (1977). «Question 1/77». Warship International. XIV: 161–172. ISSN 0043-0374 
  • Gratz, George A. (1999). «The Brazilian Imperial Navy Ironclads, 1865–1874». In: Preston, Antony. Warship 1999–2000. Londres: Conway Maritime Press. ISBN 0-85177-724-4 
  • Holley, Alexander Lyman (1865). A Treatise on Ordnance and Armor. Nova York: D. Van Nostrand 
  • Lambert, Andrew (1987). Warrior: Restoring the World's First Ironclad. Londres: Conway. ISBN 0-85177-411-3 
  • Meister, Jurg (1977). «The River Operations of the Triple Alliance Against Paraguay, Part III». Akron, Ohio: F.P.D.S. F.P.D.S. Newsletter. V (2): 10–14. OCLC 41554533 
  • Mendonça, Mário F.; Vasconcelos, Alberto (1959). Repositório de Nomes dos Navios da Esquadra Brasileira. Rio de Janeiro: SGDM. 271 páginas. OCLC 254052902 

Ligações externas

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