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Mosteiro de Thiksey

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Mosteiro de Thiksey
Mosteiro de Thiksey
Nomes alternativos Mosteiro de Thikse • Mosteiro de Thiksay • Mosteiro de Tikse
Tipo gompa
Estilo dominante tibetano
Construção meados do século XV
Aberto ao público Sim
Religião budismo tibetano (seita Gelug)
Geografia
País Índia
Cidade Thiksey
Território da União Ladaque
Distrito
Coordenadas 34° 03′ 21″ N, 77° 40′ 00″ L
Mosteiro de Thiksey está localizado em: Ladaque
Mosteiro de Thiksey
Localização do Mosteiro de Thiksey no Ladaque
Mapa
Localização em mapa dinâmico

O Mosteiro de Thiksey, também chamado ou grafado Mosteiro de Thiksay, de Tiksay, de Thikse ou de Tikse, é um mosteiro budista tibetano (gompa) da seita Gelug ("Chapéus Amarelos") do Ladaque, noroeste da Índia. Situa-se cerca de 19 km a sudeste de ,[1] a capital regional, junto à parte norte da aldeia de Thiksey. É conhecido pela sua semelhança com o Palácio de Potala de Lassa, a capital do Tibete, e é a maior gompa do Ladaque central. Tem um conjunto separado de edifícios que albergam monjas (bicunins; bhikṣuṇī) que em anos recentes tem vindo a ser ampliado e reorganizado.[2][3]

O mosteiro encontra-se numa escarpa a 3 600 metros de altitude, no vale do Indo. É um complexo com 12 andares e alberga muitos objetos de arte budista, como estupas, estátuas, thangkas, pinturas murais e espadas. Uma das principais atrações é o Templo Maitreia, construído para comemorar a visita do 14.º Dalai Lama em 1970, que contém uma estátua do Buda Maitreia com 15 metros de altura, a maior dessas estátuas no Ladaque, que ocupa dois andares do edifício.[4][5]

No início do século XV, Je Tsongkhapa, o fundador da escola Gelug — frequentemente chamada "Chapéus Amarelos" — enviou seis dos seus discípulos para regiões remotas do Tibete para difundir os ensinamentos da nova escola. O mestre deu a um desses discípulos, Jangsem Sherab Zangpo (em tibetano: Wylie: shes rab bzang po), uma pequena estátua de Amitayus (a forma sambhogakaya de Amitaba), contendo pó de ossos e uma gota do sangue de Tsongkhapa. Tsongkhapa ordenou-lhe que se encontrasse com o rei do Ladaque e lhe entregasse uma mensagem pedindo ajuda para a propagação do budismo.[6][7]

O rei, que na altura se encontrava no vale de Nubra, perto de Shey, gostou imenso da oferta da estátua e após o encontro ordenou ao seu ministro que ajudasse Jangsem Sherab Zangpo a fundar um mosteiro da ordem Gelug no Ladaque. Em resultado disso, em 1433 Zangpo fundou uma pequena aldeia-mosteiro chamada Lhakhang Serpo ("Templo Amarelo") em Stagmo, a norte do Indo. Não obstante os seus esforços, foram poucos os lamas que aderiram à ordem Gelug, apesar de alguns dos seus discípulos se terem tornado figuras eminentes nos anos seguintes.[6][7][8]

O mosteiro com o vale em primeiro plano

Em meados do século XV, Palden Zangpo, discípulo de Jangsem Sherab Zangpo, continuou o trabalho monástico iniciado pelo seu mestre e decidiu construir um mosteiro maior. Segundo a lenda, a escolha do local foi ditada por um evento pouco usual. Segundo a lenda, Tsongkhapa tinha profetizado que a sua doutrina iria prosperar na margem direita do rio Indo e a profecia concretizou-se quando o mosteiro de Thiksey foi fundado. A este mosteiro seguiram-se outros, como o de Spituk e o de Likir, também situados na margem direita do Indo.[3]

Ainda segundo a lenda, Sherab Zangpo e Palden Zangpo estavam a realizar alguns rituais sagrados no Templo Amarelo, que incluíam a colocação das oferendas de tormas[a] num rochedo, que depois eram atiradas para o vale abaixo. Quando estavam prestes a atirar as oferendas apareceram dois corvos repentinamente não se sabe de onde e levaram o prato cerimonial com as tormas. Os corvos puseram depois as tormas num local no outro lado do monte. Quando Palden Zangpo e os seus discípulos foram à procura das tormas, chegaram a Thiksey, onde encontraram as oferendas numa pedra perfeitamente ordenadas e em estado impecável. Palden interpretou este achado como uma ordem divina para ali construir o mosteiro.[9]

Vista do vale desde o mosteiro

O novo mosteiro foi erigido a alguns quilómetros de Stagmo, num monte sagrado acima da aldeia de Tiksey. Acredita-se que o mosteiro tenha sido construído no local de um antigo estabelecimento Kadampa ou como uma casa secundária da pequena capela de Stagmo, situada cerca de 7 km a norte.[8][9] Sabe-se que Rinchen Zangpo, um importante lotsawa[b] do século X–XI, fundou um templo chamado Lakhang Nyerma em Thiksey dedicado ao protetor Dorje Chenmo, do qual só restam algumas ruínas.

O mosteiro de Thiksey tornou-se o segundo mais importante do Ladaque, a seguir ao de de Hemis, e dele estão dependentes outros dez mosteiros na região, como o de Diskit, de Spituk, de Likir e de Stok. O mosteiro possui ou administra 537 ha de terras e 25 aldeias.[carece de fontes?]

Cerca de 1770, o lama do mosteiro de Hanle declarou que o seu filho mais velho devia herdar o trono do Ladaque enquanto que os outros príncipes deviam tornar-se lamas em Thiksey.[10]

História recente

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O restauro dos velhos mosteiros do Ladaque, incluindo o de Thiksey, tem vindo a ser realizado pelo Serviço Arqueológico da Índia, a pedido das administração dos mosteiros. No entanto, as obras têm provocado alguma polémica. Há quem alegue que a substituição do barro e pedra tradicional por granito nos pátios macha o brilho do local. Da mesma forma, o restauro da ala direita restaurada, que envolveu a construção de uma nova cozinha, o refeitório dos monges em substituição do antigo pátio central tradicional, quebra a harmonia com o antigo edifício. Devido às polémicas tem-se procurado encontrar um equilíbrio entre as construções antigas e as novas, que supostamente devem seguir o mesmo estilo.[11]

Vista exterior do mosteiro

O mosteiro é a maior estrutura religiosa do Ladaque Central. Ocupando uma encosta íngreme, os edifícios estão organizados em ordem ascendente de importância e estão bem espaçados, desde o sopé do monte, onde se encontram as unidades residenciais, até ao cimo, onde se encontram os mosteiros propriamente ditos e o potang (residência oficial) do lama principal.[12] A arquitetura apresenta grandes semelhanças com o Palácio de Potala de Lassa, no Tibete, a antiga residência oficial dos Dalai Lamas.[13] Devido a esse facto, o mosteiro é conhecido como "Mini Potala".[3] Como os mosteiros de Likir e de de Rangdum, o mosteiro de Thiksey foi construído como uma fortaleza, seguindo o modelo do Tibete Central.[14]

A estrada que liga o mosteiro ao fundo do vale passa pelo lado oriental do edifício principal. Na entrada desse lado do andar inferior há uma estátua de uma divindade protetora tibetana O complexo tem 12 andares, está pintado de vermelho, ocre e branco e nele vivem 60 lamas e tem um anexo feminino.[14] No andar mais alto do complexo há uma estupa (chorten).[9] Dali desfruta-se de excelentes vistas panorâmicas sobre a planície de inundação do vale do Indo, tanto para ocidente como para oriente. A leste avista-se o Mosteiro de Matho, a sul, do outro lado do rio avista-se o Palácio de Stok, a oeste o Palácio e mosteiro de Shey.

Templo de Maitreia

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Estátua de Maitreia no seu templo de Thiksey

Uma das principais atrações do mosteiro é o templo de Maitreia (Buda futuro), construído para comemorar uma visita do 14.º Dalai Lama realizada em 1970 e no qual se encontra uma estátua do Buda Maitreia com 15 metros de altura, ocupando dois andares. Trata-se da maior estátua de Maitreia do Ladaque[5] e a maior estátua do mosteiro. A figura é representada sentada na posição de lótus, e não na posição usual, que é de pé ou sentado num trono alto. Demorou quatro anos a construir, por artistas locais usando barro, cobre e pintura dourada, sob a direção do mestre Nawang Tsering do Instituto de Estudos Budistas de Lé.[15]

Sala da assembleia

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Numa das paredes da sala da assembleia ou sala principal de oração há pinturas murais com o calendário tibetano e com a bhavacakra (a Roda da Vida, representação da samsara). Esta roda tem imagens simbólicas duma serpente, duma ave e dum porco, que significam, respetivamente, ignorância, ligação emocional e aversão. Estas representações pretendem lebrar que esses laços terrenos precisam de ser ultrapassados para alcançar a iluminação em vida e evitar o ciclo de morte e renascimento.[16]

A sala de oração principal tem uma imagem de Avalokiteshvara com 11 cabeças, acompanhado por Padmasambhava. No centro da sala há dois assentos, um destinado ao Dalai Lama, e outro, à sua direita, destinado ao lama chefe do mosteiro; à esquerda há uma imagem doutra divindade. Nas paredes há imagens das divindades Maacala e Ducar (Sitatapatra). Na sala são guardados muitos livros manuscritos com ilustrações pintadas e atrás dela há um pequeno santuário interior do Buda, cuja imagem é flanqueada por bodisatvasManjusri à direita e Maitreia à esquerda.[5]

Templo de Tara

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Este templo é dedicado à deusa Tara, onde há 21 imagens da deusa colocadas em armários de madeira envidraçados. Entre o pátio principal e a escadaria há uma série de pequenos santuários dedicados a várias divindades protetoras, incluindo Cham-spring, a divindade protetora de Thiksey.[5][15][16] O Chi-khang[necessário esclarecer] tem uma imagem de Buda com dois dos seus discípulos e a divindade Yamantaka. O mural do pátio tem imagens de Tsongkhapa, Buda, Padmasambhava, Palden Lhamo e Maacala.[5]

Templo de Lamokhang e alojamentos

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No andar superior do mosteiro, cujo acesso está vedado a mulheres, encontra-se o templo de Lamokhang, que funciona como repositório de numerosos volumes de manuscritos, incluindo o Kangyur e o Stangyur.[5][15] Na entrada há grandes estupas e muros de Pedras mani.[9] Por cima do templo há uma sala usada exclusivamente como sala de aula para os jovens das aldeias vizinhas; alguns destes rapazes são escolhidos como lamas.[16]

No piso superior encontra-se igualmente a residência oficial do lama incarnado que lidera o mosteiro.[15] Ali se encontram também grande pilar com inscrições dos ensinamentos de Buda e uma série de casebres caiados de branco onde vivem os lamas.[17]

Mosteiro feminino

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O mosteiro feminino ou escola para a comunidade de monjas situa-se no recinto do mosteiro. No Ladaque, os mosteiros femininos tinham um estatuto bastante inferior do que os mosteiros masculinas e as monjas budistas viviam em muito más condições. Na década de 1990, essa situação foi divulgada e Thiksey recebeu atenção e suporte internacional para o estado das coisas. Em 1995 foi realizada em Lé a Conferência Sakyadhita de Mulheres Budistas, o que levou ao estabelecimento da Associação de Monjas do Ladaque (em inglês: Ladakh Nuns Association) no ano seguinte, o que foi um passo importante para que as monjas deixassem de ter o papel funcional de "servidão para um de verdadeira prática espiritual". Thiksey Rinpoche, o lama chefe, do mosteiro de Thiksey também deu um contributo importante na melhoria das condições das monjas. O mosteiro doou terreno para um novo mosteiro feminino em Nyerma, perto de Thiksey, no mesmo sítio onde foi fundado o primeiro estabelecimento monástico Gelug do Ladaque por Rinchen Zangpo no século X. Esse mosteiro encontra-se atualmente sob a alçada do mosteiro de Thiksey.[18]

Em 2005, o mosteiro feminino tinha 26 monjas, com idades entre os 43 e os 87 anos. As monjas tomaram a iniciativa de afirmar marcar a sua posição na sociedade, mudando o seu nome tradicional de ani (que significa literalmente "tia", conotado negativamente como "criada") para cho-mos, que pode traduzir-se como "praticante religiosa". Além disso, adotaram como o seu hino o testamento de Mahapajapati Gotami, tia de Buda, que foi a primeira monja budista. Seguindo os conselhos do Dalai Lama, o Thiksey Rinpoche e o geshe Tsultrim Tharchin tornaram-se apoiantes ativos da causa das monjas em Thiksey. A Fundação Holandesa para as Monjas do Ladaque (Dutch Foundation for Ladakhi Nuns; DFLN), uma organização de caridade também opera em Nyerma, fornecendo apoio monetário e serviços individuais às religosas.[19]

O festival anual do mosteiro é conhecido como o ritual do Gustor. É realizado entre o 17.º e 19.º dia do nono mês do calendário tibetano (outubro ou novembro). O ritual inclui danças sagradas, algumas com máscaras (cham).[15][17][20]

Outros eventos importantes são as feiras que ocorrem na base do mosteiro, ás quais acorrem pessoas vindas de todo o Ladaque para negociar e trocar bens e socializar. Durante os festivais menores são feitas mandalas de areia.[17]

Todos os dias, durante a oração da manhã, às sete horas, os monges entoam cânticos sincronizados das sutras budistas, um evento a que os visitantes podem assistir e é muito concorrido.[3][17]

  1. As tormas são pequenas figuras feitas de massa e manteiga usadas nos rituais tântricos ou como oferendas no budismo tibetano. Podem ser coloridas com diversas cores, geralmente de vermelho ou branco para o corpo principal.
  2. Lotsawa é uma palavra tibetana usada como título dos tradutores tibetanos que trabalharam na tradução para tibetano dos textos budistas a partir principalmente do sânscrito, mas também do chinês e de outras línguas asiáticas.

Referências

  1. Singh 2006, p. 91.
  2. Willis 2004
  3. a b c d «Thicksey Monastery» (em inglês). thiksey-monastery.org [ligação inativa] [ligação inativa]
  4. Bandhu 1997, p. 112.
  5. a b c d e f 2006, p. 106.
  6. a b Malik 1984, p. 87.
  7. a b Jina 2006, pp. 319-320.
  8. a b Rizvi 1996, pp. 231-232.
  9. a b c d Jina 2006, p. 320.
  10. Kaul & Kaul 1992, pp. 58, 61.
  11. 2008, pp. 28–29
  12. Windisch-Graetz 1982
  13. Kaur 2006, p. 94.
  14. a b Handa 1987, p. 149.
  15. a b c d e «Thiksey Monastery, J&K» (em inglês). www.buddhist-tourism.com. Consultado em 9 de agosto de 2016 
  16. a b c «Thiksey Gompa Tour» (em inglês). www.atriptoindia.com. Consultado em 9 de agosto de 2016. Arquivado do original em 18 de fevereiro de 2012 
  17. a b c d Singh et al. 2009, pp. 326–327.
  18. Willis, Jan (verão de 2004). «The Cho-mos of Ladakh: From Servants to Practitioners» (em inglês). Buddhadharma: The Practitioner’s Quarterly. Cópia arquivada em 27 de maio de 2010 
  19. «Newsletter Spring 2005» (em inglês). adakhnuns.com. Arquivado do original em 1 de fevereiro de 2009 
  20. «Thiksey Gompa» (em inglês). www.buddhist-temples.com. Consultado em 9 de agosto de 2016 
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