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Esquistossomose

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Esquistossomose
Esquistossomose
Menino de 11 anos com fluido abdominal e hipertensão portal devido a esquisstossomose (Agusan del Sur, Filipinas)
Especialidade infecciologia
Complicações dano ao fígado, insuficiência renal, infertilidade, câncer de bexiga[1]
Causas Schistosoma de caramujos de água doce[1]
Prevenção Acesso a água limpa[1]
Medicação Praziquantel[1]
Classificação e recursos externos
CID-10 B65
CID-9 120
CID-11 1194562592
DiseasesDB 11875
MedlinePlus 001321
eMedicine 228392
MeSH D012552
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A esquistossomose, também conhecida como barriga d'água, febre do caramujo ou bilharzíaze,[2][3] é uma doença causada pelos platelmintos do gênero Schistosoma. O trato urinário e/ou intestinos podem ser infectados.

A doença é transmitida por contato com água doce contaminada com parasitas, que são liberados a partir de caracóis infectados de água doce. A doença é especialmente comum entre as crianças em países em desenvolvimento como elas são mais propensas a brincar na água contaminada. Outros grupos de alto risco incluem: agricultores, pescadores, e pessoas que utilizam a água suja para uso diário.[1] Ela pertence ao grupo de infecções helmínticas[4] e o diagnóstico é através da identificação de ovos do parasita, na urina ou fezes da pessoa. Também pode ser confirmada pela identificação de anticorpos contra a doença no sangue.[1]

Métodos de prevenção da doença incluem a melhoria do acesso a água potável e a redução do número de caracóis. Em áreas onde a doença é comum, o medicamento praziquantel pode ser dado uma vez por ano, para todo o grupo. Isto é feito para diminuir o número de pessoas infectadas e, consequentemente, a propagação da doença. O praziquantel também é o tratamento recomendado pela Organização Mundial de Saúde (OMS) para aqueles que estão infectados.[1]

A esquistossomose afetou cerca de 252 milhões de pessoas em todo o mundo em 2015. Estima-se que 4.400 a 200.000 pessoas morrem a cada ano.[5] A doença é mais comum na África, bem como a Ásia e a América do Sul.[1] Em torno de 700 milhões de pessoas, em mais de 70 países, vivem em áreas onde a doença é comum.[6] Em países tropicais, a esquistossomose é segunda apenas para a malária entre doenças parasitárias com o maior impacto económico.[7] Está listada como uma doença tropical negligenciada.[8]

Causas

As cercárias vivem em rios e lagos com caramujos e são a forma infectante do Schistosoma.

Existem seis espécies de Schistosoma que podem causar a esquistossomose ao homem: S. hematobium, S. intercalatum, S. japonicum, S. malayensis, S. mansoni e S. mekongi. Destas, apenas S. mansoni é encontrada no continente americano.

Esses vermes se reproduzem dentro de caramujo, seu hospedeiro intermediário, e suas metacercárias penetram ativamente na pele e mucosas das pessoas que nadam ou ficam períodos dentro de rios e lagos com caramujos contaminados. Ou ainda podem ser deglutidos em alimentos contaminados com as cercárias, porém se elas atingirem o estômago são destruídas pelo suco gástrico (altamente ácido), entretanto na maioria dos casos relacionados a ingestão das cercárias, as larvas penetram nas mucosas antes de chegar ao estômago e dessa forma dão continuidade ao ciclo.

Progressão e sintomas

Formas adultas do Schistosoma mansoni. À esquerda par de macho e fêmea; ao meio fêmea; à direita macho

A fase de penetração corporal é o nome dado a sintomas que podem ocorrer quando da penetração da cercária na pele, mas frequentemente é assintomática, exceto em indivíduos já infectados antes. Nestes casos é comum surgir eritema (vermelhidão), reação de sensibilidade com urticária (dermatite cercariana) e prurido e pele avermelhada ou pápulas na pele no local penetrado, que duram alguns dias.

Na fase inicial ou aguda, geralmente aparece após três a nove semanas após a penetração das cercárias quando há disseminação das larvas pelo sangue, e principalmente o início da postura de ovos o paciente apresenta a síndrome de Katayama caracteriza por:[1]

Complicações

Os sintomas crônicos são quase todos devidos à produção de ovos imunogênicos. Estes são destrutivos por si mesmos, com o seus espinhos e enzimas, mas é a inflamação com que o sistema imunitário lhes reage que causa os maiores danos. As formas adultas não são atacadas porque usam moléculas self do próprio hóspede para se camuflar. Os sintomas desta fase crônica podem ser a hepatopatias/enteropatias com hepatomegalia, ascite, diarreia no caso da esquistossomose mansônica, única que existe no Brasil. As formas mais graves com hepatomegalia e hipertensão portal são as principais causas de morte por esquistossomose no Brasil. A esquistossomose hematóbia, que existe em países africanos pode levar a patologias urinárias como disúria/hematúria, nefropatias, câncer da bexiga.


Outras formas de esquistossomose graves são as formas ectópicas cujas mais importantes são neurológicas que pode ser medular, conhecida como mielopatia esquistossomótica ou esquistossomose medular[9], ou cerebral, quando atingem o cérebro, existem também casos de esquistossomose ectópica na pele, pulmão, tuba uterina e outras vísceras.

O ciclo da esquistossomose

Machos e Fêmeas adultos instalam-se nos vasos sanguíneos do intestino, do fígado e do baço do ser humano, onde se reproduzem.

Diagnóstico

Nas análises sanguíneas há eosinofilia (aumento dos eosinófilos, células do sistema imunitário antiparasitas). Estes quadros só ocorrem secundariamente à hipersensibilidade ao parasita, sendo uma doença mais comum em pacientes moradores de áreas não endêmicas que se expõem a coleções hídricas contaminadas. Estes quadros duram em geral alguns dias, mas podem durar até meses e em casos raros podem ser fatais. Estes pacientes apresentam grandes granulomas periovulares necrótico-exsudativos dispersos pelos intestinos, fígado e outros órgãos. Estes sintomas podem ceder espontaneamente ou podem nem sequer surgir, mas a doença crônica silenciosa.

Os ovos podem ser encontrados no exame parasitológico de fezes, mas nas infecções recentes o exame apresenta baixa sensibilidade. Para aumentar a sensibilidade podem ser usados de coproscopia qualitativa, como Hoffman ou quantitativo, como Kato-Katz. A eficácia com três amostras chega apenas a 75%.

O hemograma demonstra leucopenia, anemia e plaquetopenia. Ocorrem alterações das provas de função hepática, com aumento de TGO, TGP e fosfatase alcalina. Embora crie a hipertensão portal, classicamente a esquistossomose preserva a função hepática. Assim, os critérios de Child-Pught, úteis no cirrótico, nem sempre funcionam no esquistossomótico que não tem associado hepatite viral ou alcoólica.

A ultra-sonografia em mãos experientes pode fazer o diagnóstico, sendo patognomônico a fibrose e espessamento periportal, hipertrofia do lobo hepático esquerdo e aumento do calibre da mesentérica superior.[10]

A biopsia retal é uma técnica também utilizável, tendo uma sensibilidade de 80%.

Prevenção

Saneamento básico com esgotos e água tratada. Controle dos caramujos que são hospedeiros intermediários da doença. Proteção dos pés e pernas com botas de borracha com solado antiderrapante. Informar a população das medidas profiláticas da doença. Evitar entrar em contato com água que contenha cercárias. A Educação em saúde é fundamental para o controle da doença. No entanto deve ser pensada em conjunto com a população local para que tenha um impacto sustentável ao longo do tempo.

Em junho de 2012, a Fundação Oswaldo Cruz anunciou a criação de uma vacina contra a esquistossomose,[11] utilizando a proteína SM14, que se encontra em fase final de testes.[12]

Tratamento

O tratamento é feito com um antiparasitário de baixa toxicidade (principalmente praziquantel ou oxamniquina), que deve ser prescrito para todos os pacientes cujo exame de fezes ou de mucosa retal apresente ovos viáveis do parasita.

O praziquantel é uma droga de administração oral em dose única cujos principais efeitos colaterais são diarreia e dor abdominal. Ele atua alterando a capacidade do parasita de contrair sua musculatura, fazendo com que se solte e seja eliminado. No Brasil, é o medicamento preferencial no tratamento de todas as formas clínicas da esquistossomose.[13]

A oxamniquina é também de administração oral em dose única. Ela atua sobre o Schistosoma mansoni com eficácia um pouco inferior à do praziquantel, mas não atua sobre outras espécies do verme.[14]

História

A esquistossomose, com o desenvolvimento da agricultura, passou de doença rara a problema sério. Muitas múmias egípcias apresentam as lesões inconfundíveis da esquistossomose por S. haematobium. A infecção pelos parasitas dava-se nos trabalhos de irrigação da agricultura. As cheias do Nilo sempre foram a fonte da prosperidade do Egito, mas também traziam os caracóis portadores dos schistosomas. O hábito dos agricultores de fazer as plantações e trabalhos de irrigação com os pés descalços metidos na água parada, favorecia a disseminação da doença crônica causada por estes parasitas.

A doença foi descrita cientificamente pela primeira vez em 1851 pelo médico alemão Theodor Maximilian Bilharz, que lhe dá o nome alternativo de bilharzíase.

Referências

  1. a b c d e f g h i «Schistosomiasis Fact sheet N°115». World Health Organization. 3 de fevereiro de 2014. Consultado em 15 de março de 2014. Cópia arquivada em 12 de março de 2014 
  2. [http://www.cpqrr.fiocruz.br/simposio/ X Simpósio Internacional
  3. Colley, Daniel G.; Bustinduy, Amaya L.; Secor, W. Evan; King, Charles H. «Human schistosomiasis». The Lancet. 383 (9936): 2253–2264. PMC 4672382Acessível livremente. PMID 24698483. doi:10.1016/s0140-6736(13)61949-2. Cópia arquivada em 29 de agosto de 2014 
  4. «Chapter 3 Infectious Diseases Related To Travel». cdc.gov. 1 de agosto de 2013. Consultado em 30 de novembro de 2014. Cópia arquivada em 2 de abril de 2015 
  5. Thétiot-Laurent, S. A.; Boissier, J.; Robert, A.; Meunier, B. (27 de junho de 2013). «Schistosomiasis Chemotherapy». Angewandte Chemie International Edition in English. 52 (31): 7936–56. PMID 23813602. doi:10.1002/anie.201208390 
  6. «Schistosomiasis A major public health problem». World Health Organization. Consultado em 15 de março de 2014. Cópia arquivada em 5 de abril de 2014 
  7. The Carter Center. «Schistosomiasis Control Program». Consultado em 17 de julho de 2008. Cópia arquivada em 20 de julho de 2008 
  8. «Neglected Tropical Diseases». cdc.gov. 6 de junho de 2011. Consultado em 28 de novembro de 2014. Cópia arquivada em 4 de dezembro de 2014 
  9. FREITAS, André Ricardo Ribas; OLIVEIRA, Augusto César Penalva and SILVA, Luiz Jacintho. Schistosomal myeloradiculopathy in a low-prevalence area: 27 cases (14 autochthonous) in Campinas, São Paulo, Brazil. Mem. Inst. Oswaldo Cruz [online]. 2010, vol.105, n.4, pp. 398-408. ISSN 0074-0276. doi: 10.1590/S0074-02762010000400009. Disponível em: <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0074-02762010000400009&lng=en&nrm=iso&tlng=en> ou <http://www.scielo.br/pdf/mioc/v105n4/09.pdf>
  10. Esquistossomose (Barriga-d'água): causa, sintomas, tratamento e prevenção. - Brasil Escola
  11. Cientistas brasileiros criam vacina contra doença parasitária grave
  12. «Brasil está perto de lançar vacina pioneira contra esquistossomose». DW. 24 de março de 2014. Consultado em 7 de maio de 2014  Parâmetro desconhecido |��ltimo= ignorado (ajuda); |nome1= sem |sobrenome1= em Authors list (ajuda)
  13. Brasil. Ministério da Saúde. Secretaria de Atenção à Saúde. Departamento de Atenção Básica. Vigilância em Saúde: Dengue, Esquistossomose, Hanseníase, Malária, Tracoma e Tuberculose / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção a Saúde, Departamento de Atenção Básica . - 2. ed. rev. - Brasília : Ministério da Saúde, 2008
  14. Ferrari et al. Efficacy of oxamniquine and praziquantel in the treatment of Schistosoma mansoni infection: a controlled trial. Bulletin of the World Health Organization, 2003

Ligações externas