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Longhi (sobrenome)

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Um dos mais antigos brasões associados aos Longhi, dos condes Ugoni-Longhi.

Longhi é sobrenome italiano de antiga origem, grafado inicialmente como Longo, do qual Longhi é plural. Tornou-se família de grande poder na Idade Média e na Idade Moderna, possuindo dezenas de títulos de nobreza e vastos latifúndios na região centro-norte da Itália. O nome aparece em muitas variantes dialetais, como Longis, Longoni, Longa, Longhù, Longi, Longu e outras, além da versão latina Longus (plural Longi). Nem todos os ramos aparecem como nobres em datas mais recentes, embora, ao que a bibliografia sugere, podem derivar de um mesmo tronco. Porém, como o nome em italiano significa "longo", "alto" ou "comprido", sendo palavra de uso comum, alguns ramos podem ter tido origens independentes, de extração popular. Os mais antigos registros confirmados, contudo, os mostram invariavelmente como nobres.

Origens

Por muito tempo se acreditou que os Longhi tinham sua raiz nos Sempronii Longi da Roma Antiga, ramo plebeu radicado aparentemente em Nápoles da gens Sempronia, citada como tendo já naquela época grande antiguidade, dando senadores e cônsules e o célebre ramo dos Gracco. Dedicaram templos e instalaram colônias. O ramo Atratini era patrício. Dois Sempronii Longi foram cônsules, a mais alta magistratura no período da República romana, citados por Tito Lívio, Tácito e Políbio.[1][2][3][4]

Carlo Longo de Bellis e outros pesquisadores modernos, e mesmo alguns mais antigos, como é natural, expressaram dúvidas sobre a ligação dos Longhi com a ilustre gens Sempronia, dizendo tratar-se de tradição oral, com séculos sem registros documentais, mas outros autores, como Gaetano Parascandolo e Carlo de Lellis, consideram a origem difícil de provar, mas plausível.[2][5][3][6][7]

Outros autores os fazem nativos de Veneza, alegadamente surgindo no ocaso do Império Romano, quando Luca Longo, magister equitum, cargo romano de mestre da cavalaria e lugar-tenente de um ditador, que assumia o governo na vacância do cargo ou na ausência do titular, no ano de 560 começou a ligar as ilhas de Veneza com pontes e construiu edifícios e templos, dando origem a uma linhagem patrícia, mas seus rastros se perdem em seguida.[8] Esta origem é algo incerta, e outro registro em Veneza só aparece em 1053, narrando que Ursa, viúva de Petrus Longi, doava um vinhedo aos dominicanos de Chioggia, uma das ilhas.[9] Aparentemente eram sócios ou arrendatários num grande vinhedo dos poderosos Contarini. Um século depois Jacopo é almirante em Veneza, e Benedictus, Dominicus e Ioannes aparecem assinando documentos de Estado junto com outros patrícios e o doge.[10]

Expansão

Castelo de Redondesco, dos condes de mesmo nome.
A torre sobrevivente do Castelo de Remedello.

Enquanto isso outros apareciam na região de Brescia-Mantova, a cerca de 100 km a oeste de Veneza. Este influente e poderoso ramo, que veio a ser conhecido como Ugoni-Longhi, ou Ugonidas, provavelmente deriva de Olderico, marquês germânico e conde palatino, e Leigarda, rica herdeira na Itália, que viveram no início do século X. Depois a família caiu em desgraça e foi privada dos títulos de marqueses e condes palatinos, permanecendo apenas condes.[11][12][13] Aliaram-se então aos condes de Piacenza e Verona, aos condes palatinos de Lomello e aos marqueses Obertenghi, e produziram os condes de Parma. Narisio, Vizzolo e Azzo de Longhis são atestados em 1167 como condes de Montichiari, Asola e Mosio.[14][15][13][12] O ramo incorporou vários outros títulos de conde (Sabbionetta, Desenzano, Marcaria, Bizzolano, Redondesco, Casaloldo, San Martino Gusnago, Asola-Ceresino e Belforte), entre vários outros feudos, que formaram em seu apogeu um vasto latifúndio. Fundaram mosteiros, possuíam vários castelos que ainda existem.[12][14][16][11][17] Alcançaram Genova no fim do século XII, quando Filippo Longo, cônsul, deu origem ao ramo Gialongo, com várias personalidades, conselheiros, embaixadores e oficiais.[18] O ramo radicado em Bergamo adotou o nome Alessandri, dando uma série de nomes notáveis e influentes.[19] Foram uma das origens da ilustríssima família Giustiniani.[20] Em 1268 Gerardo foi supremo comandante do exército de Rimini.[21]

Em Veneza a linhagem alegadamente fundada por Luca em 560 em algum momento efetivamente passou a fazer parte do governo, mas foram excluídos do patriciado em 1297, sendo reintegrados em 1380 em reconhecimento de sua contribuição na guerra contra Genova, e reconfirmados no século XIX.[22][23][24][25] Em Veneza é notada também Laura, "dama virtuosa" e esposa do poderoso nobre bergamasco Gian Girolamo Albani, grande oficial em Veneza e cardeal depois de enviuvar. Ela descendia de Abbondio Longhi, senhor da Rocca de Urgnano e secretário de Bartolomeo Colleoni, célebre condottiero.[26] Messer Francesco foi indicado podestà de Padova em nome de Veneza no século XVI.[9] O ramo Longo foi admitido na Ordem de Malta em 1587 e deu dois beatos, Fillipo e Bartolo.[2][3][18]

Nos séculos XV-XVII aparentemente a família toda já tinha pelo menos o estatuto de nobile, se espalhando por quase toda a Itália, reconhecidos como nobres também em Nápoles, Palermo, Vicenza, Seggio, Parma, Salerno, Brescia, Rimini, Messina, Faenza, Trieste, Todi, Ravello, Como, Taormina, Milão, Genova, Mantova, Lecco, Cremona, Casale, Siena, Benevento, Turim, Trento e Nola, entre outros locais, e recebendo muitos feudos, brasões e títulos, entre eles os de cavaleiros hereditários, senhores e marqueses de Monforte, co-senhores de Ceresole, castelãos (barões) de Castronuovo, Fiumetorto e Racalxacca, condes de Urgnano, de Lomello e da Torre Longhi, marqueses de San Giuliano, de Casentino e de Vinchiaturo, barões e marqueses de San Lorenzo del Vallo, além de produzirem bispos, arcebispos, legados e governadores pontifícios e outros prelados, embaixadores, oficiais e síndacos comunais,[3][27][28][18][29][2][30][31][32][33][34][35][36][37][38][39][40]

Mantiveram relações de parentesco com inúmeras outras insignes famílias da nobreza italiana, como os Bellarmino, Malatesta, Caetani, Vitelleschi, Tebaldeschi, Bosone, Forteguerra e Brancaccio.[28][14] A família deu artistas, literatos, políticos e outros especialistas de renome, e quatro Longhi se destacaram como arquitetos na Renascença: Alessio,[41] Martino Longhi, o Velho, Onorio e Martino Longhi, o Jovem.[42] O distinguido pintor veneziano Pietro Longhi não é da família, tendo apenas adotado o sobrenome.

História recente

Muitos emigraram para a América durante o século XIX, fugindo da grande crise pela qual o país passava, entre guerras, fome e devastações. No Brasil Giovanni Battista foi um dos fundadores de Caxias do Sul, eleito capocomune da comunidade de São Romédio, o berço da cidade, e depois se tornando grande comerciante, agricultor e industrial, homenageado com a inscrição do seu nome em monumento aos fundadores e atribuindo-o a uma rua. A capela que ele e seus companheiros pioneiros fundaram hoje é patrimônio histórico e artístico do estado.[43][44][45][46] Sua esposa Catharina, também uma líder comunitária, especialmente dedicada ao trabalho assistencialista e à religião, depois de morta batizou uma rua e ganhou fama de santa, quando seu corpo foi achado incorrupto 43 anos depois do sepultamento, dando origem a um pequeno culto limitado à comunidade.[47][48][49]

No século XX houve muitos outros Longhi em evidência, como Aleandro, senador;[50] os marqueses Longhi de Paolis de Fumone, que ainda vivem num dos mais importantes castelos medievais da Itália, parcialmente musealizado;[51][52] Roberto, influente historiador e crítico de arte, grande oficial da Ordem do Mérito da República Italiana e hoje nome de importante fundação cultural,[53][54] e o ramo De' Longhi, dono do grupo homônimo, magnatas industriais com 1,6 bilhão de euros em faturamento em 2013.[55]

Referências

  1. Peck, Harry Thurston. Harpers Dictionary of Classical Antiquities. Harper and Brothers, 1898
  2. a b c d Bellis, Carlo Longo de. Famiglia Longo. Libro d'Oro Napolitano / Elenco Regionale Napolitano / Sedili di Napoli
  3. a b c d Lellis, Carlo de. Discorsi delle famiglie nobili del Regno di Napoli, Parte II. Pacci, 1663
  4. Ceriolli, Alessandro. Pietra de' Giorgi nell'Oltrepò pavese e dintorni: Studio di storia locale con copia di documenti inediti. Figli Provvidenza, 1906
  5. Preto, Paolo."Falsari di epigrafi nell’Italia meridionale". In: Giuffrida, Antonino; D’Avenia, Fabrizio & Palermo, Daniele (eds.). Studi storici dedicati a Orazio Cancila. Associazione Mediterranea, 2011, pp.1415-1460
  6. Parascandolo, Gaetano. Monografia del comune di Vico-Equense ... con un'appendice. Priggiobba, 1858
  7. Maffucci, Giuseppe. "Antiche e nobili famiglie". Vico Equense Storia, 03/02/2013
  8. Dizionario Storico-Portatile di Tutte le Venete Patrizie Famiglie: Cosi di quelle, che rimaser' al serrar del Maggior Consiglio, come di tutte le altere, che a questo furono aggregate. Bettinelli, 1780
  9. a b Cicogna, Emmanuele Antonio. Delle inscrizioni Veneziane, Volume 4. Orlandelli, 1834
  10. Sanudo, Marin [Monticolo, Giovanni, (ed.)]. "Le Vite dei Dogi". In: Carducci, G. & Muratori, L. A. (eds.). 'Rerum italicarum scriptores; raccolta degli storici italiani dal cinquecento al millecinquecento. Lapi, 1900
  11. a b Bonaglia, A. Storia di Montichiari. Il medioevo (476-1250). Zanetti, 1991
  12. a b c Odorici, F. Storie bresciane. Gilberti, 1855-1858
  13. a b Baronio, Angelo. "Ecclesia ad confines posita: per la storia dell’organizazzione della Chiesa bresciana nel medioevo: Montichiari". In: Archetti, Gabriele & Donni, Giovanni. (eds.). Brixia Sacra: la memoria della fede, Tomo I. Associazione per La Storia della Chiesa Bresciana, 2009, pp. 103-178
  14. a b c Conti, A. "Gli ascendenti dei Casaloldo. I conti di Sabbioneta e gli ultimi conti di Parma tra il Garda e il Po (secc. XI-XIII)". In: Vignoli, M. Casaloldo e la battaglia del 10 maggio 1509. Mantova, 2009
  15. Marchetti-Longhi, G. Il cardinale Guglielmo de Longis de Adraria di Bergamo: la sua famiglia e la sua discendenza. Staderini, 1961
  16. Comune di Casaloldo. Casaloldo nel tempo. Mantova, 2002
  17. Fe d’Ostiani, L. F. "I conti rurali bresciani del medio evo". In: Archivio strorico lombardo. Milano, 1899
  18. a b c Crollalanza, Gofredo di. Dizionario stórico-blasónico delle famiglie nobili e notabili italiane estinte e fiorenti. Pisa, 1886
  19. Romani, Giovanni Pietro Crescenzi. Corona Della Nobiltà D'Italia O vero Compendio Dell' Istorie Delle Famiglie Illustri: Nella quale con varie osservazioni specolative, e politiche sono intrecciate le Glorie di piú die quattro mila Casati Nobilissimi d'Europa, Volume 1. Tebaldini, 1639
  20. Lercari, Andrea. La vicenda storica dell’albergo Giustiniani: dalla fazione popolare al patriziato della Repubblica di Genova. Storia dei Giustiniani di Genova
  21. Schröder, Francesco. Repertorio genealogico delle famiglie confermate nobili e dei titolati nobili esistenti nelle provincie Venete, vols. I-II. Alvisopoli, 1830-31
  22. Lumaga, op. cit.
  23. L’Archivio di Stato di Venezia [Mosto, Andrea da]. L’Archivio di Stato di Venezia: Indice Generale, Storico, Descritivo. Volume V della Biblioteca degli Annales Institutorum. Biblioteca d’Arte Editrice, 1940
  24. Chojnacki, Stanley. "La formazione dello stato patrizio - Diritto, finanze, economia: la formazione dela nobiltà doppo la Serrata". In: Storia di Venezia. Treccani, 1997
  25. Radossi, G. "Monumenta Heraldica Iustinopolitana". In: Centro di Ricerche Storiche di Rovigno. Collana degli Atti, 2003
  26. Comune di Cologno al Serio. Cologno sotto la Reppublica di Venezia.
  27. Rietstap, Johan Baptiste. Armorial Général. GAG, 1886-1890
  28. a b Comune di Fumone. La Storia.
  29. Manno, Antonio [& Angelo Scordo (ed.)]. Le armi gentilizie piemontesi da Il Patriziato Subalpino. Vivant, 2000
  30. Benaglio, Giuseppe & Scozia, Giovanni Sitoni di. Elenchus familiarum in Mediolani dominio feudis, jurisdictionibus, titulisque insignium - Vicecomitum Burgi Ratti marchionum, Castri Spinae, Brignani, et Pagatiani feudatariorum, genealogica monumenta, 1714
  31. Miranda, Francesco. "I cognomi come brand: Mancuso, Attardi, Longo, Sollima". Sicilia Informazione, 23/02/2014
  32. Rizzoli, op. cit.
  33. Comune di Calamandrana. Blasonario Subalpino.
  34. Tettoni, L. & Saladini, F. Teatro araldico ovvero raccolta generale delle armi ed insegne gentilizie delle piu illustri e nobili casate che esisterono un tempo e che tutora fioriscono in tutta l'italia. Wilmant & figli, 1841
  35. Bascapé, Giacomo C. & Piazzo, Marcello del. Insegne e simboli. Araldica pubblica e privata, medievale e moderna. Ministero Beni Culturali, 1970
  36. Lumaga, Giuseppe. Teatro della nobilta dell'Europa, ovvero notizia delle famiglie nobili, che in Europa vivono. Paci, 1725
  37. Pagiaro, Sergio. Urgnano: arte e spiritualità. Comune e Biblioteca Civica di Urgnano, 1984
  38. Leondi, Sergio. Il Codice araldico di Marco Cremosano: Trascrizione dei nomi delle famiglie nobili milanesi e italiane. Associazione Culturale Azivido, 2004
  39. Lercari, Andrea (ed.). Indice delle famiglie presenti nello stemmario di Giovanni Andrea Musso - Appendice. Comune di Genova, 2005
  40. Fossati, Donato. Benacum. Storia di Toscolano. Ateneo di Salò / Comune di Toscolano Maderno, 2001
  41. Comune di Trento. Palazzo Tabarelli.
  42. "Longhi, the Younger". Encyclopaedia Britannica online
  43. "Comunidade caxiense celebra 135 anos". Correio Riograndense, 2006
  44. Cenni, Franco. Italianos no Brasil: "andiamo in 'Merica". EdUSP, 2003
  45. Prefeitura Municipal de Caxias do Sul. Lei nº 1674 de 6 de maio de 1968
  46. "Na capela de São Romédio, marco da colonização, Caxias comemora os 132 anos da imigração". Oriundi, 08/06/2007
  47. Tessari, João Antônio. Memórias. E.A., 1994
  48. "Falecimento". O Momento, 27/07/1933
  49. Prefeitura Municipal de Caxias do Sul. Lei 2852, de 27 de dezembro de 1983
  50. "Si rassegni, l’ex senatore Aleandro Longhi: non lo vuole più nessuno". Cittadiariano, 01/10/2013
  51. Sistema Informativo Unificato per le Soprintendenze Archivistiche. Longhi.
  52. Biolcati, Cristina. "Castello di Fumone in Lazio: tra antiche leggende e storie di fantasmi". Oubliette Magazine, 12/09/2013
  53. Facchinetti, S. "Longhi, Roberto". Dizionario Biografico degli Italiani. Roma, 2005, pp. 669-676
  54. Fondazione di Studi di Storia dell'Arte Roberto Longhi.
  55. Fiore, Luca. "De'Longhi: +6,7% per i ricavi 2013, +9,8% del mercato europeo". Finanza.com, 31/01/2014

Ver também