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Antisséptico

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.

Anti-séptico (AO 1990: antissético ou antisséptico) se refere a tudo o que for utilizado no sentido de degradar ou inibir a proliferação de microrganismos presentes na superfície da pele e mucosas. São substâncias usadas para desinfectar ferimentos, evitando ou reduzindo o risco de infecção por acção de bactérias ou germes.

Generalidade

Objetivo

Os objetivos gerais dos programas de controle de infecção são:

  1. reduzir os números de microrganismos patogênicos para níveis em que os mecanismos de defesa normais dos pacientes podem impedir a infecção;
  2. quebrar o ciclo de infecção e eliminar a contaminação cruzada;
  3. tratar todos os pacientes e instrumentos como passíveis de transmitir doença infecciosa, e
  4. proteger pacientes e profissionais de saúde da infecção e suas consequências.

Estes objetivos serão alcançados com o uso correto de técnicas de barreira (luvas, máscaras, roupão proteção ocular, tampas de borracha) combinados com protocolos de esterilização/desinfecção/anti-sepsia apropriados.

Antisséptico ideal

Um antisséptico ideal deve ser capaz de destruir a forma vegetativa de todos os microrganismos patogênicos, requerer tempo limitado de exposição e ser eficaz em temperatura ambiente, não-corrosivo, atóxico para seres humanos e de baixo custo. Devido às semelhanças na composição química e metabolismo entre os seres humanos e microrganismos, é pouco provável alcançar este ideal. Entretanto, a toxidade seletiva (a toxidade seletiva para alguns microrganismos mas não para as células humanas) é de suma importância para os antissépticos. O grau de seletividade para os agentes anti-sépticos pode variar, dependendo dos tecidos com os quais entram em contato. Um antisséptico destinado para a lavagem das mãos pode ser menos seletivo do que um antisséptico utilizado como colutório oral, visto que o epitélio altamente queratinizado da pele proporciona maior grau de proteção contra antisséptico do que o epitélio oral.

Em todo o campo de assistência à saúde, as preocupações quanto à transmissão de microrganismos infecciosos levaram a um aumento no uso do de antissépticos e desinfetantes. Esta tendência é particularmente observada. Os vários antissépticos e desinfetantes podem ser classificados de acordo com o seu mecanismo de ação:

  1. agentes que desnaturam as proteínas;
  2. agentes que causam a ruptura osmótico da célula; e
  3. agentes que interferem em processos metabólicos específicos.

os agentes que causam a desnaturação das proteínas ou ruptura osmótica tendem a matar os microrganismos. A interferência em processos metabólicos específicos geralmente afeta o crescimento e a reprodução celular sem matar a célula.

Classes ou agentes

O quadro relaciona as várias classes de substâncias químicas utilizadas como desinfetantes/antisépticos, com sua eficácia contra diversos microrganismos representativos. Os aldeídos e certas substâncias à base de halogênio e oxidantes possuem a maior faixa de eficácia e também tendem a ser mais tóxicos para os tecidos humanos. Em consequência, seu uso limita-se principalmente à desinfecção. As outras classes químicas consistem em agentes antimicrobianos menos eficazes, mas também menos prejudiciais aos tecidos humanos, sendo, portanto, utilizadas tanto como desinfetantes quanto como an-sépticos.

Atividade antimicrobiana de diferentes classes de desinfectantes e anti-sépticos
Vírus
Classe ou agente Bactérias Gram-positivas Bactérias Gram-negativas Esporos bacterianos Bacilos da tuberculose HBV HIV Fungos
Halogênicos + + ± ± + + +
Aldeídos + + + + + + +
Fenois + + - + - + +
Álcoois + + - + ± + ±
Clorexidina + + - - - + ±
Agentes ativos na superfície
  Aniônicos + - - - -   -
  Catiônicos + ± - - -   +
Agentes oxidantes + + + + + + +
Metais pesados + ± - - ±   +

Ácidos

Alcoóis

Ver artigo principal: Álcool

Os alcoóis, em particular o etanol e isopropanol, foram utilizados durante muitos anos como agentes antimicrobianos e como transportadores para outros antimicrobianos insolúveis em água, como o iodo e fenóis. Devido a seu baixo custo, evaporação rápida e ausência de resíduo, mostram-se úteis para a desinfecção de objetos inanimados.

Aldeídos

Ver artigo principal: Aldeído

O glutaraldeído (1,5 pentanodial) foi inicialmente proposto como agente antimicrobiano no início da década de 60 então, tem sido amplamente utilizado na Odontologia e Medicina como desinfetante de imersão.

Clorexidina

Ver artigo principal: Clorexidina

A clorexidina foi aprovada para o uso em escovas cirúrgicas em meados de 70, e como colutório a 0,12%, no final da década de 80. Para lavagem cirúrgica, as soluções de clorexidina a 4% são de ação rápida como os iodóforos e possuem a substantividade do hexaclorefeno. A clorexidina é altamente eficaz contra os microrganismos Gram-positivos, enquanto exibe menor eficácia contra os microrganismos Gram-negativos e mostra-se ineficaz contra os bacilos da tuberculose, esporos e numerosos vírus.

Na Europa, foram utilizados soluções de clorexidina a 0,2% como colutórios orais desde a década de 80. A efecácia da clorexidina nos colutórios resulta principalmente de sua subtantividade. A natureza catiônica da clorexidina permite a sua ligação a tecidos duros e moles na cavidade bucal; a seguir, é liberada com o decorrer do tempo, produzindo um efeito bacteriostático contínuo. Foi demostrada a efecácia dessas soluções, quando utilizadas duas vezes ao dia, na redução da formação da placa e gengivite. Os principais efeitos colaterais consistem na pigmentação dos dentes, aumento da formação decálculos e alteração do paladar. Dois colutórios de clorexidina a 0,12% foram aprovados pela FDA (Food and Drug Administration), sendo tão eficazes clinicamente quanto a solução mais fortea 0,2%, porém com uma redução significativa na incidência de efeitos colaterais.

Fenóis e substâncias relacionadas

Sir Joseph Lister introduziu o fenol como desinfetante cirúrgico em meados da década de 1800, porém sua natureza irritante e tóxica levou à sua substituição por varias substâncias fenólicas substituídas. Estas substituição acentuaram o efeito antimicrobiano do fenol, sem aumentar significativamente a sua toxidade nos seres humanos.

glutaraldeído

Definição

O glutaraldeído é um dialdeído saturado - 1,5 pentanedial. Em solução aquosa apresenta pH ácido e não é esporicida. As formulações que são utilizadas possuem outros componentes para que a solução passe a ter esta ação. As formulações encontradas são:

solução ativada: é adicionada uma substância ativadora, o bicarbonato de sódio, que torna a solução alcalina (pH 7,5 a 8,5), tendo então atividade esporicida.

solução potencializada: utiliza uma mistura isomérica de álcoois lineares, possui um pH de 3,4 a 3,5. Essa mistura à temperatura ambiente possui função esporicida baixa e se aquecida a 60oC torna-se esporicida em exposição por 6 horas.

Mecanismo de ação

O glutaraldeído tem potente ação biocida, é bactericida, virucida, fungicida e esporicida. Sua atividade é devida a alquilação de grupos sulfidrila, hidroxila, carboxila e amino dos microrganismos alterando seu DNA, RNA e síntese de proteínas. A atividade esporicida se deve ao fato do glutaraldeído reagir com a superfície do esporo, provocando o endurecimento das camadas externas e morte do esporo.

Indicações

Pode ser utilizado para a esterilização de artigos termo-sensíveis que não possam sofrer esterilização pelos processos físicos como: enxertos de acrílico, cateteres, drenos e tubos de poliestireno.

O glutaraldeído tem sido muito utilizado para desinfecção de alguns equipamentos como endoscópios, conexões de respiradores, equipamentos de terapia respiratória, dialisadores, tubos de espirometria e outros; para este fim o tempo de exposição é de 30 minutos. Ele não é utilizado como desinfetante de superfície por seu custo ser elevado e por ser muito tóxico.

Cuidados no uso

O material a ser esterilizado deve ser muito bem lavado e seco, se estiver infectado realizar desinfecção prévia. Feito isso o material pode então ser colocado na solução de glutaraldeído tomando os seguintes cuidados:

imergir totalmente o material na solução, evitar a formação de bolhas, o recipiente no qual os materiais serão imersos deve estar esterilizado e deve ser preferencialmente de vidro ou plástico;

tampar o recipiente, e marcar o início da esterilização;

manusear os materiais com uso de luvas ou pinças e máscara, se possível;

enxaguar por três vezes os materiais após a esterilização, utilizando água ou soro fisiológico estéreis, tomando cuidado para se evitar contaminação dos materiais;

o material deve ser utilizado imediatamente.

O tempo de esterilização é preconizado pelo fabricante e varia de 8 a 10 horas.

Vantagens

A utilização do glutaraldeído apresenta as seguintes vantagens:

pode ser utilizado na descontaminação de artigos infectados antes da esterilização, pois age na presença de matéria orgânica;

não altera materiais como plástico e borracha, nem dissolve o cimento de lentes de instrumentos ópticos e não interfere na condutividade elétrica de equipamentos de anestesia gasosa, pois possui em sua formulação antioxidantes;

não é contaminado por microrganismos;

não descolora os materiais;

à temperatura ambiente mantém sua estabilidade;

por ser menos volátil que o formaldeído, libera menos vapores irritantes e odor forte;

não é irritante para pele e mucosas, mas pode provocar dermatite de contato.

Toxicidade

O limite máximo de glutaraldeído no ar é de 0,2 ppm, podendo então causar irritação nos olhos, garganta e nariz.

Uma ventilação adequada, fechamento hermético dos recipientes onde se realizam as esterilizações podem minizar esses efeitos. Após a esterilização o enxague cuidadoso é muito importante para se evitar reações nos pacientes decorrentes de resíduos de glutaraldeído.

Halogênios e substância liberadoras de halogênios

Os halogênios e as substância liberadas de halogênios constituem alguns dos mais eficazes agentes microbianos utilizados para a desinfecção e anti-sepsia. Seu principal modo de ação parece depender da reação covalente do halogênio com sistemas enzimáticos-chaves.

Na forma líquida, apresenta-se em soluções de 37% a 40%.

Metais pesados

Ver artigo principal: Metal pesado

Os metais pesados, em particular os mercuriais e compostos de prata possuem uma longa história como agentes antimicrobianos. Os mercuriais orgânicos ainda são utilizados em alguns países como fumigantes, mas foram substituídos por substâncias mais eficazes e menos tóxicas na Medicina e na Odontologia.

Mercuriais orgânicos

Locais de ação de alguns dos produtos químicos bactericidas

Estrutura da célula bacteriana. A-Pili. B-Ribossomas; C-Cápsula; D-Parede celular (hipoclorito, iodóforos); E-Flagelo; F-Citoplasma; G-Vacúolo; H-Plasmídeo; I- DNA enrolado no nucleóide (Glutaraldeído, Clorexidina); J-Membrana plasmática (hipoclorito, iodóforos)

Areas

Usos na Odontologia

A importância do papel desempenhado pelos anti-sépticos e desinfetantes na prática da Odontologia moderna nunca foi tão grande. A batalha para abolir a infecção e evitar a disseminação de microrganismos devser perseguida por todos os meios disponíveis.

Ver também

  • Farmacologia e Terapêutica para Dentistas; Jonh A. Yagiela, Enid A. Neilde, Frank J. Dowd; quarta edição; Guanabara Koogan; 1998.
  • Biossegurança e controle de infecção cruzada, em consultórios odontológicos; Santos, livraria editora; Jayro Guimarães Jr; 2001