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Cangaceiro

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O Dicionário Houaiss define cangaceiro como "malfeitor fortemente armado que andava em bando pelos sertões do Nordeste, notadamente ao longo das três primeiras décadas do século XX". Foram repelidos numa revolta chamada de Cangaço, no início do século XX.

História do cangaceiro no Brasil

Entre meados do séuculo XIX e início do século XX, o Nordeste do Brasil viveu momentos difíceis, atemorizado por grupo de homens que espalhava o terror por onde andava: os cangaceiros, bandidos que abraçaram a vida nômade e irregular de malfeitores por motivos diversos. Alguns deles foram impelidos pelo despotismo de homens poderosos. Um famoso cangaceiro foi "Lampião". Os cangaceiros conseguiram dominar o sertão durante muito tempo, porque eram protegidos de "coronéis", que se utilizavam dos cangaceiros para cobrança de dívidas, entre outros serviços "sujos".

JANUÁRIO GARCIA LEAL, O SETE ORELHAS, UM CANGACEIRO DO SUDESTE

Gustavo Barroso, membro da Academia Brasileira de Letras e Diretor do Museu Histórico Nacional, iniciando um artigo publicado em agosto de 1949 na revista O Cruzeiro, escreveu: Januário Garcia, alcunhado o Sete Orelhas, foi um dos mais terríveis facínoras do nosso interior. Pior que Lucas da Feira, Cunduru, Antônio Silvino, Lampeão et magna concomitante caterva. Mas um detalhe merece destaque nessa afirmação: Januário Garcia Leal sempre viveu na Região Sudeste do Brasil, mais especificamente em Minas Gerais. Com efeito, o temido Januário Garcia Leal, cognominado “Sete Orelhas”, nasceu em Jacuí, sul de Minas Gerais, por volta de 1761, sendo filho de Pedro Garcia Leal (açoriano, filho de João Garcia Pinheiro e Maria Leal) e de Josefa Cordeiro Borba (nascida na Freguesia de Cotia-SP, filha de Inácio Diniz Caldeira e Escolástica Cordeiro Borba). São irmãos de Januário: José Garcia Leal (n. 1755); Joaquim Garcia Leal (n. 1758), João Garcia Leal (n. 1759) Manuel Garcia Leal, (n. 1763), Antônio Garcia Leal (n. 1764); Ana Garcia Leal, (n. 1766); Maria Garcia Leal, (n. 1767) e Salvador Garcia Leal (n. 1768) Januário foi casado com Dona Mariana Lourença de Oliveira (filha de João Lourenço de Oliveira, natural de São João del-Rei, e de Rita Rosa de Jesus, da Freguesia de Nossa Senhora da Piedade da Borda do Campo), com quem teve descendência. Em 21 de janeiro de 1802 Januário recebeu carta patente assinada pelo Capitão General da Capitania de Minas Gerais, Bernardo José de Lorena, nomeando-o como Capitão de Ordenanças do Distrito de São José e Nossa Senhora das Dores. Até esta época Januário era um pacato fazendeiro, que vivia na propriedade denominada Ventania, situada no Sul de Minas Gerais, juntamente com sua família e escravos. Mas um acontecimento trágico mudou definitivamente a vida de Januário: a morte covarde de seu irmão João Garcia Leal, que foi surpreendido na localidade de São Bento Abade por sete homens e atado nu em uma árvore, onde foi assassinado a sangue frio, tendo os homicidas retirado lentamente toda a pele de seu corpo. A burocrática justiça colonial mostrou-se absolutamente indiferente ao episódio, deixando impunes os sete irmãos que haviam perpetrado a revoltante barbárie. Ante o indiferentismo dos ineficientes órgãos de repressão à criminalidade, Januário associou-se a seu irmão caçula Salvador Garcia Leal e ao tio Mateus Luiz Garcia e os três capitães de milícias assumiram pessoalmente a tarefa de localizar e sentenciar os autores do horrendo crime, dando início a uma perseguição atroz, relembrando obscuros tempos da história da humanidade, quando a justiça ainda era feita pelas próprias mãos. A lei escolhida por Januário, chefe do bando de justiceiros privados, foi a de Talião – morte aos matadores – com o requinte estarrecedor de se decepar uma orelha de cada criminoso, juntando-as em um macabro cordão que era publicamente exibido como troféu pelos implacáveis vingadores. Somente depois de decepada a última orelha dos criminosos é que Januário deu-se por satisfeito. Até então grande parte da então Capitania de Minas Gerais ficou sujeita à autoridade dos vingadores, que chegaram a desafiar magistrados e milicianos, sendo necessária a dura intervenção de Dom João VI, então Príncipe Regente de Portugal, para tentar debelar a ação dos capitães revoltados, que foram duramente perseguidos. Teria sido a história de Januário Garcia Leal mais impressionante do que a do cangaceiro Lampião, como afirmado por Gustavo Barroso ? Não podemos nos esquecer que o “Rei do Cangaço” atuou no Nordeste Brasileiro por mais de duas décadas e ele se valia dos meios de comunicação, da fotografia e de tudo que diz respeito ao visual para a construção de seu próprio mito. Ao contrário, Januário e seu bando sacudiram a Capitania de Minas Gerais, se sobrepondo às autoridades policiais e judiciárias, conquistando fama e respeito com seus impressionantes feitos, sem que precisassem contar com qualquer instrumento de “marketing” e a ação dos vingadores em Minas Gerais, segundo um documento da época, já colocava em risco a soberania do Estado português. A biografia de Januário Garcia Leal, o “Sete Orelhas”, é objeto do livro “Jurisdição dos Capitães – A História de Januário Garcia Leal e Seu Bando” (Editora Del Rey, Belo Horizonte, 2001).

Referência

  • Livros

O Cabeleira, de Franklin Távora

Lampião, de Raquel de Queirós

Jurisdição dos Capitães – A História de Januário Garcia Leal e Seu Bando - Editora Del Rey, Belo Horizonte, 2001, Marcos Paulo de Souza Miranda.

  • Filmes

O Cangaceiro, de Lima Barreto, em 1953 (Remake em 1997)

Ver também

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