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Carijós: diferenças entre revisões

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[[Juan de Ayolas]], na conquista do [[Paraguai]], encontrou-se com os carijós à margem de um rio que deságua vinte quilômetros acima da foz do ramo principal do [[rio Pilcomayo]], onde os ameríndios em questão possuíam uma aldeia cercada por uma [[paliçada]] dupla e guarnecida de "bocas de lobo" (escavações com [[estrepe]]s no fundo). Os espanhóis, acossados pela fome, marcharam resolutamente para a vitória. Os índios, ao ouvirem os primeiros estampidos das armas de fogo, fugiram em corrida, caindo muitos nas próprias esparrelas que haviam armado aos invasores. Depois de ocupar a aldeia, Ayolas deu-lhe o nome de [[Assunção]], em homenagem à [[Assunção de Maria|assunção de Nossa Senhora]].
[[Juan de Ayolas]], na conquista do [[Paraguai]], encontrou-se com os carijós à margem de um rio que deságua vinte quilômetros acima da foz do ramo principal do [[rio Pilcomayo]], onde os ameríndios em questão possuíam uma aldeia cercada por uma [[paliçada]] dupla e guarnecida de "bocas de lobo" (escavações com [[estrepe]]s no fundo). Os espanhóis, acossados pela fome, marcharam resolutamente para a vitória. Os índios, ao ouvirem os primeiros estampidos das armas de fogo, fugiram em corrida, caindo muitos nas próprias esparrelas que haviam armado aos invasores. Depois de ocupar a aldeia, Ayolas deu-lhe o nome de [[Assunção]], em homenagem à [[Assunção de Maria|assunção de Nossa Senhora]].

'''Os Carijós de Minas Gerais'''

O termo “carijós” apareceu de diferentes formas em registros históricos relativos à Minas Gerais. O termo foi utilizado para nomear os indígenas que viviam ao longo do [[rio Paraopeba]], em períodos anteriores à colonização. Nas regiões auríferas, como Ouro Preto e Mariana, referia-se aos nativos cativos. Foi identificado ainda o uso do termo carijós, para fazer referência aos mestiços de ameríndios, negros e brancos.

A região de Minas Gerais foi palco de intensa ocupação indígena, especialmente a região banhada pelo rio Paraopeba, que era usado pelos nativos como rota entre as aldeias e os acampamentos desde o período pré-colonial. Posteriormente, essa rota foi utilizada pelas [[Entradas e bandeiras|Entradas e Bandeiras]], na busca por metais preciosos, escravizados e indígenas, e para a exploração aurífera (Porto, 2012). Com relação à presença dos carijós nas terras mineiras, pesquisas recentes (Porto, 2012) revelam que eles estavam presentes desde 1050 a 1570.

Nos anos 1707-1709, os indígenas carijós, em fidelidade aos seus senhores, lutaram na [[Guerra dos Emboabas]]. Na década seguinte, os poucos registros conservados e contidos nos inventários [[Post mortem|''post-mortem'']]'','' revelam que havia um percentual considerável de [[Povos ameríndios|ameríndios]] escravizados nas lavras. Os senhores ricos de Mariana, mesmo dispondo de recursos financeiros para recorrer ao mercado internacional de cativos, possuíam alguns escravizados nativos, oriundos do primeiro período de povoamento (Venâncio, 1997).

'''A Escravidão dos Indígenas das Gerais Colonial'''

Nas Gerais Colonial, a escravidão indígena foi implementada pelos [[bandeirantes]]. De acordo com as pesquisas do historiador Renato Pinto Venâncio (1997), Mariana foi um dos principais centros escravistas da região. Em 1710, os cativos carijós abrangiam cerca de 16 a 23% da força cativa da Vila do Carmo (atual região de [[Mariana]]).

No ano de 1718, havia 34.475 escravizados na região. Desses, 10.937 eram cativos dedicados à faina aurífera. À época a produção marianense girava em torno de meia tonelada anual de ouro (Venâncio, 1997).

Os indígenas cativos percorriam trilhas íngremes que ligavam as lavras aos núcleos urbanos, levando mercadorias indispensáveis para o garimpo. Também estavam ativos em atividades de caça, pesca e coleta, por conta da irregularidade das linhas de abastecimento. Sobre as mulheres indígenas, elas se dedicavam ao artesanato doméstico e à agricultura de subsistência. Tratando da venda e compra de cativos nativos, documentos apontam que na Vila do Carmo, entre os anos de 1715 a 1716, o valor dos carijós adaptados variava de 60$000 a 120$000. Portanto, estes indígenas representavam uma parcela considerável do patrimônio senhorial (Venâncio, 1997).

O fim da escravidão nativa nas Gerais Colonial, segundo Venâncio (1997), ocorreu devido à junção de vários fatores, como o envelhecimento dos escravizados. Os bandeirantes estavam focados em atividades mais rentáveis, como a exploração do ouro, houve diminuição da caça aos indígenas. Além disso, os carijós eram menos resistentes às doenças, tanto que, a partir de 1718, em virtude das patologias trazidas pelos europeus e africanos, a população nativa foi reduzida drasticamente. Além da má condição de trabalho, havia ainda a baixa taxa de natalidade, a libertação do cativo nativo por meio das [[Alforria|cartas de alforria]], a migração forçada e ou [[degredo]], o remanejo dos indígenas para a construção de estradas e a abertura de caminhos, e as fugas individuais ou coletivas para os [[Quilombo|quilombos]], em busca de escapar das péssimas condições de vida da mineração (Venâncio, 1997).

Esta população fugitiva, ou não, acabou por englobar a massa de pobres das vilas mineiras, em que muitos viviam do contrabando, roubo e garimpo ilegal. A documentação oficial reforça estes dados, pois, a partir de 1730 os nativos desapareceram das listagens de escravizados, passando a figurar junto aos contraventores das Gerais. Assim, com o tempo, os carijós cativos que sobreviveram se tornaram livres, formando o contingente da população pobre e fora da lei. Entretanto, posteriormente, o escravismo indígena reapareceria de forma sutil nas áreas periféricas à mineração, direcionado à agricultura (Venâncio, 1997).


== Etimologia ==
== Etimologia ==

Revisão das 22h06min de 24 de setembro de 2023

Carijós
População total

100 000 (no século 16)

Regiões com população significativa
litoral do Brasil entre Cananeia e a Lagoa dos Patos (no século 16)
Línguas
língua guarani antiga
Religiões

Os carijós[1] eram indígenas guaranis que, no Brasil, ocupavam o território compreendido entre Cananeia, no estado de São Paulo, até a Lagoa dos Patos, no estado do Rio Grande do Sul, incluindo assim todo o litoral do Paraná e de Santa Catarina, por volta do século XVI. Vistos pelos primeiros povoadores portugueses como "o melhor gentio da costa", foram receptivos à catequese cristã. Em 1554, participaram de um grande ataque indígena a vila de São Paulo dos Campos de Piratininga, matando alguns homens brancos, escravas e muitos animais do tipo gado.[2] Eram cerca de 100 000.[3]

História

Os litorais gaúcho e catarinense, ao tempo da descoberta europeia (século XVI), eram habitados pelos carijós, os quais se estendiam pelo interior, às margens da imensa Lagoa dos Patos. Os carijós eram considerados, pelos colonizadores portugueses, índios dóceis, trabalhadores e bem-intencionados. Eram aparentados aos índios guaranis, os quais efetuaram uma marcha migratória do Paraguai para o sul do litoral brasileiro, onde vieram a constituir as aldeias.

 Nota: Para a unidade de conservação, veja Estação Ecológica de Carijós.

Tendo naufragado nas proximidades da Ilha de Santa Catarina um navio português, seus tripulantes atingiram a terra, então campeada pelos índios guaranis. Entre os náufragos, estavam o português Henrique Montes, o castelhano Melchior Ramirez e o negro Francisco Pacheco, além de outros. Como sucedeu a Caramuru e a João Ramalho, estes uniram-se às índias, adotando um novo regime de vida.

Juan de Ayolas, na conquista do Paraguai, encontrou-se com os carijós à margem de um rio que deságua vinte quilômetros acima da foz do ramo principal do rio Pilcomayo, onde os ameríndios em questão possuíam uma aldeia cercada por uma paliçada dupla e guarnecida de "bocas de lobo" (escavações com estrepes no fundo). Os espanhóis, acossados pela fome, marcharam resolutamente para a vitória. Os índios, ao ouvirem os primeiros estampidos das armas de fogo, fugiram em corrida, caindo muitos nas próprias esparrelas que haviam armado aos invasores. Depois de ocupar a aldeia, Ayolas deu-lhe o nome de Assunção, em homenagem à assunção de Nossa Senhora.

Os Carijós de Minas Gerais

O termo “carijós” apareceu de diferentes formas em registros históricos relativos à Minas Gerais. O termo foi utilizado para nomear os indígenas que viviam ao longo do rio Paraopeba, em períodos anteriores à colonização. Nas regiões auríferas, como Ouro Preto e Mariana, referia-se aos nativos cativos. Foi identificado ainda o uso do termo carijós, para fazer referência aos mestiços de ameríndios, negros e brancos.

A região de Minas Gerais foi palco de intensa ocupação indígena, especialmente a região banhada pelo rio Paraopeba, que era usado pelos nativos como rota entre as aldeias e os acampamentos desde o período pré-colonial. Posteriormente, essa rota foi utilizada pelas Entradas e Bandeiras, na busca por metais preciosos, escravizados e indígenas, e para a exploração aurífera (Porto, 2012). Com relação à presença dos carijós nas terras mineiras, pesquisas recentes (Porto, 2012) revelam que eles estavam presentes desde 1050 a 1570.

Nos anos 1707-1709, os indígenas carijós, em fidelidade aos seus senhores, lutaram na Guerra dos Emboabas. Na década seguinte, os poucos registros conservados e contidos nos inventários post-mortem, revelam que havia um percentual considerável de ameríndios escravizados nas lavras. Os senhores ricos de Mariana, mesmo dispondo de recursos financeiros para recorrer ao mercado internacional de cativos, possuíam alguns escravizados nativos, oriundos do primeiro período de povoamento (Venâncio, 1997).

A Escravidão dos Indígenas das Gerais Colonial

Nas Gerais Colonial, a escravidão indígena foi implementada pelos bandeirantes. De acordo com as pesquisas do historiador Renato Pinto Venâncio (1997), Mariana foi um dos principais centros escravistas da região. Em 1710, os cativos carijós abrangiam cerca de 16 a 23% da força cativa da Vila do Carmo (atual região de Mariana).

No ano de 1718, havia 34.475 escravizados na região. Desses, 10.937 eram cativos dedicados à faina aurífera. À época a produção marianense girava em torno de meia tonelada anual de ouro (Venâncio, 1997).

Os indígenas cativos percorriam trilhas íngremes que ligavam as lavras aos núcleos urbanos, levando mercadorias indispensáveis para o garimpo. Também estavam ativos em atividades de caça, pesca e coleta, por conta da irregularidade das linhas de abastecimento. Sobre as mulheres indígenas, elas se dedicavam ao artesanato doméstico e à agricultura de subsistência. Tratando da venda e compra de cativos nativos, documentos apontam que na Vila do Carmo, entre os anos de 1715 a 1716, o valor dos carijós adaptados variava de 60$000 a 120$000. Portanto, estes indígenas representavam uma parcela considerável do patrimônio senhorial (Venâncio, 1997).

O fim da escravidão nativa nas Gerais Colonial, segundo Venâncio (1997), ocorreu devido à junção de vários fatores, como o envelhecimento dos escravizados. Os bandeirantes estavam focados em atividades mais rentáveis, como a exploração do ouro, houve diminuição da caça aos indígenas. Além disso, os carijós eram menos resistentes às doenças, tanto que, a partir de 1718, em virtude das patologias trazidas pelos europeus e africanos, a população nativa foi reduzida drasticamente. Além da má condição de trabalho, havia ainda a baixa taxa de natalidade, a libertação do cativo nativo por meio das cartas de alforria, a migração forçada e ou degredo, o remanejo dos indígenas para a construção de estradas e a abertura de caminhos, e as fugas individuais ou coletivas para os quilombos, em busca de escapar das péssimas condições de vida da mineração (Venâncio, 1997).

Esta população fugitiva, ou não, acabou por englobar a massa de pobres das vilas mineiras, em que muitos viviam do contrabando, roubo e garimpo ilegal. A documentação oficial reforça estes dados, pois, a partir de 1730 os nativos desapareceram das listagens de escravizados, passando a figurar junto aos contraventores das Gerais. Assim, com o tempo, os carijós cativos que sobreviveram se tornaram livres, formando o contingente da população pobre e fora da lei. Entretanto, posteriormente, o escravismo indígena reapareceria de forma sutil nas áreas periféricas à mineração, direcionado à agricultura (Venâncio, 1997).

Etimologia

"Carijó" é oriundo do termo tupi karai-yo, que significa "descendentes dos anciões",[4] ou então é oriundo do tupi antigo kariîó.[5]

Costumes

Os carijós construíam suas casas cobrindo-as com cascas de árvores e fabricavam redes e agasalhos com o algodão que cultivavam, forrando-os com peles e ataviando-os com plumas e penas. Acostumaram-se a ajudar todos os navios que lhe solicitassem auxílio, até que um dia, traídos na sua boa fé, acabaram considerando os brancos inimigos. Mantinham grande quantidade de aves em suas aldeias: por este motivo, eram chamados pelos europeus de "índios Patos".[4]

Na arte de cura, os carijós estavam bem adiante dos demais nativos. O remédio principal era uma ventosa aplicada pelos lábios do pajé. Na bruxaria, também eram bem desenvolvidos. Para enfeitiçar um semelhante, costumavam amarrar um sapo em uma árvore. À medida que o animal fenecia, a pessoa enfeitiçada deveria também fenecer até morrer. Se desejavam cegar alguém, enterravam-lhe, debaixo da rede, um ovo. Descoberta a mandinga, os objetos que haviam servido para a mesma deviam ser arremessados ao rio.[carece de fontes?]

Grande era o número dos que tinham parentesco com um ser superior que chamavam de caraibebe, que os jesuítas traduziram por "anjos". Gozavam de vida avantajada esses que, manhosamente, se inculcavam ministros dos "anjos". Recebiam os melhores frutos da terra e as mais cobiçadas caças que fossem abatidas pelas cercanias. Quando um guerreiro partia para a guerra, era honrado com um sopro do caraibebe para que não morresse em combate. Entretanto, se algum caía morto em luta, havia a desculpa de que o infeliz, por seus pecados, não se tornara digno da bênção do pajé. Deste modo, esses pajés se tornaram infalíveis, com prestígio inabalável entre os seus seguidores.[carece de fontes?]

Influência

A palavra "carijó" é usada, hoje em dia, para se referir a galinhas malhadas nas cores preta e branca. É usada como nome de clubes, rádios, ruas e reservas ambientais espalhados pelo Brasil. É nome de bairro nas cidades de Conselheiro Lafaiete e Cataguases, ambas em Minas Gerais e, Indaial , em Santa Catarina, todas no Brasil. Dela, teria se originado a palavra carioca (gentílico do Rio de Janeiro, no Brasil), a partir da junção da palavra tupi kariîó (que significa carijó) com a palavra tupi oka (que significa casa), significando, portanto, "casa de carijós".[6]

Referências

  1. FERREIRA, A. B. H. Novo dicionário da língua portuguesa. Segunda edição. Rio de Janeiro. Nova Fronteira. 1986. p. 353.
  2. BASTOS BARRETO, Benedito Carneiro (1939). No Tempo dos Bandeirantes. São Paulo: [s.n.] p. 17 
  3. BUENO, E. Brasil: uma história. Segunda edição revista. São Paulo. Ática. 2003. p. 18-19.
  4. a b BUENO, E. Capitães do Brasil: a saga dos primeiros colonizadores. Rio de Janeiro. Objetiva. 1999. p. 58.
  5. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 222.
  6. NAVARRO, E. A. Dicionário de tupi antigo: a língua indígena clássica do Brasil. São Paulo. Global. 2013. p. 555.

Ligações externas