Saltar para o conteúdo

Kulturkampf: diferenças entre revisões

Origem: Wikipédia, a enciclopédia livre.
Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
Etiquetas: Inserção de predefinição obsoleta Editor Visual
Linha 37: Linha 37:


=== Antecedentes ===
=== Antecedentes ===
[[Ficheiro:094 leuchtkugeln nr 12.jpg|thumb|300px|Caricatura anticatólica em Munique ''Leuchtkugeln'', 1848. Um aviso para não se alegrar ainda. O clérigo católico como uma raposa e passageiro cego na carroça do progresso, para depois reverter o curso da história.]]
[[Imagem:PortretOttovonBismarck.jpg|150px|esquerda|thumbnail|[[Bismarck]], 1877, idealizador da ''Kulturkampf'']]
Em meados do século XIX, as políticas liberais também passaram a dominar a Alemanha, e a separação entre Igreja e Estado tornou-se uma questão importante.<ref>Pflanze, Otto, in: Bismarck and the Development of Germany, Volume II, Princeton University Press, {{ISBN|0-691-05587-4}}, p 199-200</ref><ref>Iván T. Berend in: An Economic History of 19th-century Europe, Cambridge University Press, {{ISBN|978-1-107-03070-1}}, p 93</ref>


O Kulturkampf na Alemanha é geralmente moldado nos anos de 1871 e 1878 com a Igreja Católica anunciando oficialmente o seu fim em 1880, mas a luta na Alemanha foi um assunto em curso sem começo definido e os anos 1871 a 1878 apenas marcam seu ponto culminante na Prússia e Alemanha. Na esteira de outros países europeus, a maioria dos estados alemães havia dado os primeiros passos para a secularização bem antes da unificação. Predominantemente católica, Baden estava na vanguarda que limitava o poder da Igreja Católica (1852 - 1854 Disputa da Igreja de Baden) e (1864 - 1876 Kulturkampf Baden, veja [[:de:Badischer Kulturkampf]]).<ref name="Healy 2003, p. 57">Healy, Roisin in: The Jesuit Spectre in Imperial Germany, Brill Academic Publishers, Boston, 2003, {{ISBN|0391041940}}, p. 57</ref><ref>de Gruyter, Walter in: Theologische Realenzykolpädie, Vol. 1, Berlin-New York, 1993, p. 101, {{ISBN|3-11 013898-0}}</ref> Outros exemplos são a Prússia (1830, 1850, 1859 e 1969), Württemberg (1859/1862), Bavaria (1867, veja [[:de:Bayerischer Kulturkampf]]), Hesse-Nassau ou Hesse-Darmstadt.

Na Kölner Wirren de 1837 ([[Confusão de Colônia]]; [[:de:Kölner Wirren|artigo em alemão]]) das questões legais e políticas relativas aos filhos de casamentos mistos protestantes-católicos,<ref>Rowe, Michael in: From Reich to State. The Rhineland in the Revolutionary Age, Cambridge University Press, 2003, {{ISBN|0-521-82443-5}}, p. 248-249</ref> o acordo final da Prússia foi considerado uma derrota para o Estado, uma vez que havia cedido às demandas da Igreja Católica.<ref>Ruppert, Stefan in: Kirchenkampf und Kulturkampf: Historische Legitimation, politische Mitwirkung und wissenschaftliche Begleitung durch die Schule Emil Ludwig Richter, Mohr Siebeck, Tübingen, 2002, {{ISBN|978-3-16-147868-0}}, p.13</ref> Em 1850, a Prússia novamente teve uma disputa com a igreja sobre casamento civil e escolas primárias<ref>Robbins, Keith in: The Dynamics of Political Reform in Northern Europe 1780-1920, Political and Legal Perspectives, Leuven University Press, {{ISBN|9789058678256}}, p.150-175</ref> e em 1852, emitiu decretos contra os [[jesuítas]]. Como em muitos países europeus, os jesuítas estavam sendo proibidos ou fortemente restringidos em muitos dos estados alemães e. g. na Saxônia (1831) e mesmo em locais católicos como a Baviera (1851), Baden (1860) ou Württemberg (1862).<ref>Healy, Roisin in: The Jesuit Spectre in Imperial Germany, Brill Academic Publishers, Boston, 2003, {{ISBN|0391041940}}, p. 52</ref>

Para não ficar de fora, as áreas alemãs a oeste do Reno já haviam passado por um processo de separação entre a Igreja e o Estado, em consonância com uma secularização radical após a anexação pela França revolucionária e napoleônica em 1794. Após seu retorno à Alemanha em 1814, muitas, se não a maioria das mudanças foram mantidas no lugar.<ref>Rowe, Michael in: From Reich to State. The Rhineland in the Revolutionary Age, Cambridge University Press, 2003, {{ISBN|0-521-82443-5}}, p. 259-264</ref>

Nos anos [[Vormärz]], as publicações católicas geralmente retratavam as revoluções como negativas e perigosas para a ordem existente, bem como para os interesses da Igreja Católica. A maioria deles considerava o catolicismo necessário viável para a própria saúde da sociedade e do Estado e para ser a única proteção verdadeira e efetiva contra o flagelo da revolução.<ref>Schneider, Bernhard in: Katholiken auf die Barrikaden? Europäische Revolutionen und deutsche katholische Presse 1815-1848, Reihe B: Forschungen, Vol. 84., Ferdinand Schöningh, Paderborn, 1998, {{ISBN|978-3-506-79989-0}}</ref> As mal sucedidas revoluções alemãs de 1848 a 1849, às quais a Igreja Católica se opusera, não produziram reformas democráticas e fracassaram as tentativas de desvincular radicalmente as relações entre a Igreja e o Estado. No parlamento revolucionário, muitos representantes proeminentes do catolicismo político ficaram do lado da extrema-direita. Nos anos que se seguiram à revolução, o catolicismo tornou-se cada vez mais politizado devido às políticas antimodernistas e antiliberais maciças do Vaticano.

Na [[Guerra Austro-Prussiana]] de 1866 e na [[Guerra Franco-Prussiana]] de 1870, a Igreja Católica tomou o partido da Prússia e foi um forte oponente da unificação alemã sob a Prússia (assim como da unificação da Itália).

Os dogmas e doutrinas católicos anunciados em 1854, 1864 e 1870 foram percebidos na Alemanha como ataques diretos ao Estado-nação moderno.<ref>Robbins, Keith in: ''The Dynamics of Political Reform in Northern Europe 1780-1920, Political and Legal Perspectives,'' Leuven University Press, {{ISBN|9789058678256}}, p.158-161</ref> Assim, Bismarck, os [[Partido Liberal Nacional (Alemanha)|liberais]] e os [[Partido Conservador Livre|conservadores]], representando os protestantes ortodoxos, descobriram que o apoio do Partido do Centro ao papa era altamente provocativo. Muitos católicos compartilharam esses sentimentos, especialmente contra a infalibilidade declarada do papa e a maioria dos bispos católicos alemães considerou a definição do dogma como "'não propícia' à luz da situação na Alemanha". Segundo o chefe de governo da Baviera, [[Chlodwig, Príncipe de Hohenlohe-Schillingsfürst|Hohenlohe]], o dogma da infalibilidade comprometeu a lealdade do católico ao estado.<ref>Healy, Roisin in: ''The Jesuit Spectre in Imperial Germany,'' Brill Academic Publishers, Boston, 2003, {{ISBN|0391041940}}, p. 56</ref> Enquanto a maioria dos católicos se reconciliava com a doutrina, alguns fundaram a pequena e [[Velha Igreja Católica]].

As maiorias liberais da Dieta Imperial e do parlamento prussiano, assim como os liberais em geral, consideravam a Igreja como atrasada, um foco de reacionários, inimigos do progresso e elencaram a vida monástica como a epítome de um medievalismo católico atrasado. Eles ficaram alarmados com o aumento dramático no número de mosteiros, conventos e grupos religiosos clericais em uma época de revitalização religiosa generalizada. A Diocese da Colônia, por exemplo, viu um aumento de dez vezes de monges e freiras entre 1850 e 1872. As autoridades prussianas estavam particularmente desconfiadas da disseminação da vida monástica entre as minorias polonesa e francesa.<ref>Gross, ''The War Against Catholicism'', pp. 128-131, Univ. of Michigan Press 2004</ref> A Igreja, por sua vez, via os [[Nacionais-Liberais]] como seu pior inimigo, acusando-os de liderar a guerra contra o cristianismo e a Igreja Católica.<ref>Winkler, Heinrich in: Der lange Weg nach Westen: Deutsche Geschichte vom Ende des Alten ..., Vol 1, Beck Verlag, Munich, 2002, p. 218, {{ISBN|3406460011}}</ref>

At unification in 1871, the new German Empire included 25.5 million Protestants (62% of the population) and 15 million Catholics (36.5% of the population). Although a minority in the empire, Catholics were the majority in the states of [[Bavaria]], [[Baden]], and [[Alsace-Lorraine]] as well as in the four Prussian Provinces of [[West Prussia]], [[Province of Posen|Posen]], [[Rhine Province|Rhineland]], [[Westphalia]] and in the Prussian [[Regierungsbezirk|region]] of [[Upper Silesia]]. Since the [[Thirty Years' War]] the population was generally segregated along religious lines and rural areas or towns were overwhelmingly if not entirely of the same religion. Education was also separate and usually in the hands of the churches. There was little mutual tolerance, interaction or intermarriage. Protestants in general were deeply distrustful of the Catholic Church.
[[Ficheiro:Bundesarchiv_Bild_183-R29818,_Otto_von_Bismarck.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Bismarck c. 1875]]
A unificação foi alcançada através de muitos obstáculos com fortes oponentes. Essas foram as potências europeias da França e da Áustria, ambas nações católicas, e a própria Igreja Católica, as quais Bismarck percebeu como "Coalizão da Vingança Católica". Para Bismarck, o império era muito frágil e sua consolidação era uma questão importante. O biógrafo Otto Pflanze enfatiza: "A crença de Bismarck na existência de uma conspiração católica generalizada que representava uma ameaça tanto para suas políticas alemãs quanto para as europeias".<ref>{{cite book|author=Otto Pflanze|title=Bismarck and the Development of Germany, Volume II: The Period of Consolidation, 1871-1880|url=https://books.google.com/books?id=kT0ABAAAQBAJ&pg=PA189|year=1990|publisher=Princeton UP|page=189}}</ref>

Em um império protestante, a Igreja Católica perderia sua boa reputação, que gozou durante séculos no Sacro Império Romano dominado pelos católicos e que teria continuado a desfrutar de um império alemão unido sob os auspícios austríacos. Assim, em 1870, às vésperas da unificação, o Partido do Centro foi explicitamente fundado para defender a posição da igreja no novo império.

Bismarck estava muito preocupado com o fato de muitos dos principais membros e apoiadores desse novo partido não estarem de acordo com o novo império: a Casa de Hanover, a minoria étnica dos poloneses, os estados do sul da Alemanha. Em 1871, os estados predominantemente católicos do sul da Alemanha apenas se juntaram relutantemente ao império, aumentando a parcela geral da população católica para 36,5%. Entre esta parte católica estava a maior minoria étnica da Alemanha, bem mais de 2 milhões de poloneses no leste da Prússia, que sob a Prússia e a Alemanha sofreram discriminação e opressão<ref>''Wielka historia Polski'' t. 4 Polska w czasach walk o niepodległość (1815-1864). Od niewoli do niepodległości (1864–1918) Marian Zagórniak, Józef Buszko 2003 page 186</ref>. Bismarck considerava o novo Partido do Centro não apenas como uma mistura ilegal de política e religião e "braço longo" da Igreja, mas também como uma força unificadora para alemães e poloneses católicos e, portanto, uma ameaça à consolidação do império. Ele temia que o Partido do Centro frustrasse suas agendas políticas mais amplas e acusou os padres católicos de promover o nacionalismo polonês, como havia sido feito abertamente nas províncias de Posen e da Alta Silésia.<ref name="Robbins 1920, p. 1782">Robbins, Keith in: The Dynamics of Political Reform in Northern Europe 1780-1920, Political and Legal Perspectives, Leuven University Press, {{ISBN|9789058678256}}, p. 178</ref><ref>Pflanze, Otto, in: Bismarck and the Development of Germany, Volume II, Princeton University Press, {{ISBN|0-691-05587-4}}, p 199</ref><ref>Arlinghouse, Francis in: The Kulturkampf and European Diplomacy 1871-1875 in The Catholic Historical Review 28/3, 1942, p. 342</ref> <ref>Ross, Ronald in: "Kulturkampf. Restrictions and Controls on the Practice of Religion in Bismarck’s Germany", Freedom and Religion in the 19th. Century, edited by Richard Helmstadter, Stanford University Press, 1997, {{ISBN|9780804730877}}, p. 173</ref> <ref>The War between Prussia and Rome in: Quarterly Review, John Murray, London, 1874, Vol. 136, p. 314</ref>
[[Ficheiro:Die_Gartenlaube_(1872)_b_141.jpg|miniaturadaimagem|188x188px|Ministro da Educação da Prússia, [[Adalbert Falk]], 1872]]
Os liberais consideravam a Igreja Católica como uma força poderosa de reação e antimodernidade, especialmente depois da proclamação da infalibilidade papal em 1870 e do controle mais rígido do Vaticano sobre os bispos locais.<ref>Lamberti, (2001)</ref> A vitalidade renovada do catolicismo na Alemanha, com suas reuniões de massa, também atraiu protestantes - até mesmo o herdeiro do trono prussiano, com a aprovação do rei, compareceu a um deles.<ref name="books.google">Gross, Michael B., [https://books.google.com/books?id=fnCzk2fI9Z4C&dq The war against Catholicism: liberalism and the anti-Catholic imagination in nineteenth-century Germany], p. 75, University of Michigan Press, 2004</ref> Antiliberalismo, o anticlericalismo e o anticatolicismo tornaram-se poderosas forças intelectuais da época, e o antagonismo entre liberais e protestantes de um lado e a Igreja Católica, de outro, foi combatido através da prática de lançamento de lama na imprensa. Uma onda de panfletos anticatólicos, anticlericais e antimonásticos na imprensa liberal<ref name="books.google" /> foi respondida pela pregação e propaganda antiliberal em jornais católicos e vice-versa.

For these reasons, the government sought to wean the Catholic masses away from the hierarchy and the Centre Party and the liberal’s demands to curb the power of the churches meshed well with Bismarck’s main political objective to crush the Centre Party. According to historian Anthony J. Steinhoff, "Bismarck’s plan to disarm political Catholicism delighted liberal politicians, who provided the parliamentary backing for the crusade. Yet, the phrase the left-liberal Rudolf Virchow coined for this struggle, the Kulturkampf, suggests that the liberals wanted to do more than prevent Catholicism from becoming a political force. They wanted victory over Catholicism itself, the long-delayed conclusion of the Reformation".<ref name="Anthony J. Steinhoff 2008 p 294">Anthony J. Steinhoff, "Christianity and the creation of Germany," in Sheridan Gilley and Brian Stanley, eds. ''Cambridge History of Christianity: Volume 8: 1814-1914'' (2008) p 294</ref>

Pelo menos desde 1847 e em consonância com os liberais, Bismarck também tinha sido da opinião professada, que Estado e igreja deveriam ser completamente separados e "a esfera do Estado tinha que ser feita de forma segura contra as incursões pela igreja",<ref>Pflanze, Otto, in: Bismarck and the Development of Germany, Volume II, Princeton University Press, {{ISBN|0-691-05587-4}}, p 201</ref> embora suas ideias não fossem tão abrangentes quanto nos Estados Unidos ou na Grã-Bretanha. Ele tinha em mente a posição tradicional da igreja protestante na Prússia e provocou considerável resistência de protestantes conservadores. Isso ficou claro em um debate acalorado com o ministro da cultura prussiana von Mühler em 1871, quando Bismarck disse: "Desde que você parou meus planos na igreja protestante, eu tenho que ir através de Roma".<ref>Rumschöttel, Prof. Dr. Hermann in: Bismarcks Kulturkampf. Motive und Gegner, Presentation at Sommerakademie St. Bonifaz 2013 –Kulturkampf in Bayern- http://sankt-bonifaz.de/fileadmin/images-bonifaz/redakteur/colloquium/docs/neu-Rumsch%C3%B6ttel_Bismarck-2013.pdf</ref> Em agosto de 1871, em Bad Ems, Bismarck revelou sua intenção de lutar contra o Partido do Centro, separar Estado e Igreja, transferir a inspeção escolar para leigos, abolir a instrução religiosa das escolas e transferir os assuntos religiosos para o ministro da justiça.<ref>Pflanze, Otto, in: Bismarck and the Development of Germany, Volume II, Princeton University Press, {{ISBN|0-691-05587-4}}, p 200-201</ref>

Em 22 de janeiro de 1872, o liberal [[Adalbert Falk]] substituiu o conservador Heinrich von Mühler como ministro prussiano da religião, educação e saúde. Na mente de Bismarck, Falk estava "restabelecendo os direitos do Estado em relação à igreja". No entanto, ao contrário de Bismarck, cuja principal motivação para o Kulturkampf era a luta pelo poder político com o Partido do Centro, Falk, um advogado, era um forte defensor da autoridade do Estado, tendo em mente os aspectos legais das relações entre Estado e Igreja. Falk tornou-se a força motriz por trás das leis do Kulturkampf. Embora Bismarck apoiasse publicamente Falk, ele duvidava do sucesso de suas leis e estava insatisfeito com sua falta de tato e sensibilidade política. As diferenças em suas atitudes em relação à Kulturkampf acabaram por colocar os dois políticos em conflito um com o outro.<ref>{{cite web|url=http://www.deutsche-biographie.de/sfz15511.html|title=Falk, Adalbert - Deutsche Biographie|first=Deutsche|last=Biographie|publisher=|accessdate=21 de Dezembro de 2016|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref><ref>{{cite web|url=http://www.britannica.com/biography/Adalbert-Falk|title=Adalbert Falk - Prussian official|publisher=|accessdate=21 de Dezembro de 2016|data=|acessodata=|publicado=|ultimo=|primeiro=}}</ref>

Com este pano de fundo e a determinação da igreja e do Estado, o Kulturkampf na Alemanha adquiriu uma borda adicional à medida que se reunia em intensidade e amargura.

=== Cronograma e leis promulgadas durante o Kulturkampf ===
Entendeu por bem eliminar inteiramente qualquer capacidade de influência da [[Igreja Católica]] na vida pública da [[Alemanha]]. Promulgou entre [[1872]] e [[1875]] uma série de leis e decretos neste sentido. Tratou de obter a expulsão do país da [[Companhia de Jesus]], colocou todos os [[seminário]]s católicos sob o controle do Estado e promulgou as "''[[Leis de Maio]]''" que autorizavam o governo a regular a nomeação de [[bispos]] e [[padres]]. Restringiu o exercício dos cargos eclesiásticos exclusivamente aos cidadãos alemães que, antes de assumí-los, eram obrigados a se submeter a "exames oficiais". Durante a ''Kulturkampf'' foram presos seis dos dez bispos católicos da [[Prússia]] e centenas de padres e religiosos tiveram de abandonar o país.
Entendeu por bem eliminar inteiramente qualquer capacidade de influência da [[Igreja Católica]] na vida pública da [[Alemanha]]. Promulgou entre [[1872]] e [[1875]] uma série de leis e decretos neste sentido. Tratou de obter a expulsão do país da [[Companhia de Jesus]], colocou todos os [[seminário]]s católicos sob o controle do Estado e promulgou as "''[[Leis de Maio]]''" que autorizavam o governo a regular a nomeação de [[bispos]] e [[padres]]. Restringiu o exercício dos cargos eclesiásticos exclusivamente aos cidadãos alemães que, antes de assumí-los, eram obrigados a se submeter a "exames oficiais". Durante a ''Kulturkampf'' foram presos seis dos dez bispos católicos da [[Prússia]] e centenas de padres e religiosos tiveram de abandonar o país.
[[Imagem:Wilhelm Emmanuel von Ketteler 1865.jpg|150px|thumbnail|direita|[[von Ketteler]], 1865, adversário de Bismarck e da Kulturkampf]]
[[Imagem:Wilhelm Emmanuel von Ketteler 1865.jpg|150px|thumbnail|direita|[[von Ketteler]], 1865, adversário de Bismarck e da Kulturkampf]]

Revisão das 21h04min de 10 de maio de 2018

Kulturkampf (alemão: [kʊlˈtuːɐ̯kampf] (escutar), "luta pela cultura") é um termo alemão que se refere as lutas de poder entre Estados-nação democráticos constitucionais emergentes e a Igreja Católica Romana sobre o lugar e o papel da religião na política moderna, geralmente em conexão com campanhas de secularização. No ancien régime (antigo regime), os Estados eram confessionais, a religião governava a vida privada e pública, e a Igreja Católica estava intimamente associada a governos reacionários e conservadorismo ideológico.[1] Assim, "a luta contra o ancien régime, seus remanescentes ou sua restauração era necessariamente uma luta contra a igreja" e tais conflitos eram um tema central da história da Europa Ocidental desde meados do século XIX até 1914.[2][3][4]

No sentido histórico, Kulturkampf refere-se a tais lutas de poder e campanhas legislativas em vários países, por exemplo. na Suíça (veja de:Kulturkampf in der Schweiz), que assumiu um papel de liderança na década de 1840 (veja Guerra de Sonderbund), na Alemanha, começando por volta de 1860 e, especialmente, sua culminação entre 1871 e 1876, na França, Bélgica, Holanda, Grã-Bretanha,[5] Espanha,[6] Itália, Áustria-Hungria (veja de:Maigesetze (Österreich-Ungarn)), Hungria (1890-1895)[7] bem como nos Estados Unidos e na América Latina, e.g. (por exemplo) México[8] ou Brasil.[9]

Com este significado, o termo Kulturkampf entrou em muitas línguas, por exemplo: francês: le Kulturkampf, espanhol: el Kulturkampf, italiano: il Kulturkampf.[10] Apareceu pela primeira vez c. 1840 em uma resenha anônima de uma publicação do liberal suíço-alemão Ludwig Snell sobre "A Importância da Luta da Suíça Católica Liberal com a Cúria Romana". Mas só ganhou mais amplitude depois que o membro liberal do parlamento da Prússia, Rudolph Virchow, usou-o em 1873.[11][12]

Na discussão sociopolítica contemporânea, o termo Kulturkampf (ver também guerra cultural) é frequentemente usado para descrever qualquer conflito entre autoridades seculares e religiosas ou valores profundamente opostos, crenças entre facções consideráveis dentro de uma nação, comunidade ou outro grupo.[13]

Antecedentes

Sob a influência de novas filosofias e ideologias ascendentes como o iluminismo, realismo, positivismo, materialismo, nacionalismo, secularismo e liberalismo, o papel da religião na sociedade e a relação entre sociedade e igreja sofreram profundas mudanças nos séculos XVIII e XIX. Muitos países se esforçaram para tirar a igreja de poderes mundanos, reduzir os deveres da igreja aos assuntos espirituais, secularizando a esfera pública e separando a igreja do Estado e afirmando a supremacia do Estado, especialmente na educação.[14] Róisín Healy argumenta que, em toda a Europa, a Kulturkampf operava principalmente em nível estadual e era encontrada "especialmente nas fortalezas do liberalismo, do anticlericalismo e do anticatolicismo".[15]

Papa Pio IX (ca. 1878)

A Igreja Católica resistiu a esse desenvolvimento que retratou como um ataque à religião e procurou manter e até fortalecer seu forte papel no Estado e na sociedade.[16] Com a crescente influência do iluminismo e depois de ter perdido muito de sua riqueza, poder e influência na mediação e secularização do início do século 19, a igreja estava em declínio.[17][18] O papado neste momento estava em um ponto fraco de sua história, tendo acabado de perder todos os seus territórios para a Itália, com o papa como "prisioneiro" no Vaticano.[19] A igreja esforçou-se para reverter sua influência decrescente e para manter a influência em assuntos como e. g. casamento, família e educação e iniciou um renascimento católico fundando associações, documentos, escolas, estabelecimentos sociais ou novas ordens e encorajando práticas religiosas como peregrinações, assembleias de massas, a devoção da Virgem Maria ou o sagrado coração de Jesus e a veneração de relíquias;[20] o papa se tornou um objeto de devoção.[21] Além da extraordinária proliferação de ordens religiosas, o século 19 também testemunhou o surgimento de inúmeras associações e organizações católicas, especialmente na Alemanha e na França.[22] A propaganda católica, incluindo a interpretação dos acontecimentos diários, foi espalhada por jornais católicos locais e nacionais, proeminentes em todas as nações da Europa Ocidental, bem como através de missões organizadas e grupos dedicados à literatura piedosa.[23]

No século 19, a Igreja Católica promulgou uma série de dogmas e encíclicas contenciosos: Em

Sob a liderança de seu sucessor, Papa Pio IX, em

With its "Syllabus of Errors" of 1864, the Catholic Church launched an assault on the new ideologies condemning 80 philosophical and political statements, mainly the foundations of the modern nation state, as false. It outright rejected such concepts as freedom of religion, free thought, separation of church and state, civil marriage, sovereignty of the people, democracy, liberalism and socialism, reason as the sole base of human action and in general condemned the idea of conciliation with progress. The announcements included an index of forbidden books.[24]

Uma mudança profunda foi a gradual reorganização da Igreja Católica e seu uso expansivo da mídia. Os papas trabalharam para aumentar o controle da Igreja. Fortemente criticado pelos governos europeus, era centralizado e simplificado com uma hierarquia rígida, os bispos buscavam a direção do Vaticano e as necessidades e pontos de vista da igreja internacional receberam prioridade sobre os locais os mesmos. Os oponentes da nova organização hierárquica da igreja pejorativamente chamavam-a de ultramontanismo.[25][26]

A visão de oposição da igreja ao iluminismo, às reformas liberais e às revoluções dos séculos XVIII/XIX, esses dogmas e a insistência expressa da Igreja na primazia papal enfureceram os liberais por toda a Europa, mesmo entre alguns católicos, acrescentando combustível para debates acalorados.[27][28]

Os dogmas representavam uma ameaça ao Estado secularizado, pois reafirmavam que a lealdade fundamental dos católicos não era ao Estado-nação, mas ao Evangelho e à Igreja, e que o ensinamento do papa era absolutamente autoritário e obrigatório para todos os fiéis. Políticos seculares chegaram a questionar se "o catolicismo e a lealdade ao Estado liberal moderno não eram mutuamente exclusivos". O primeiro-ministro britânico Gladstone escreveu em 1874 que o ensino sobre a infalibilidade papal comprometia a fidelidade dos fiéis católicos ingleses. Para o liberalismo europeu, os dogmas eram uma declaração de guerra contra o Estado moderno, a ciência e a liberdade espiritual.[29][30]

O papa esteve lidando com a discordância dos dogmas, e. g. por excomunhão de críticos ou exigindo a sua remoção de escolas e universidades, foi considerado como "epítome do autoritarismo papal".[31] Em resposta direta aos anúncios do Vaticano, a Áustria aprovou as chamadas Leis de Maio para a Cisleitânia em 1868, restringindo a Concordata de 1855, e então cancelou a concordata em 1870. Saxônia e a Bavária retiveram a aprovação para publicar a infalibilidade papal; Hesse e Baden até negaram qualquer validade legal. A França recusou-se a publicar as doutrinas por completo; Espanha proibiu a publicação do Syllabus de Erros em 1864.[32]

Kulturkampf na Alemanha

Antecedentes

Caricatura anticatólica em Munique Leuchtkugeln, 1848. Um aviso para não se alegrar ainda. O clérigo católico como uma raposa e passageiro cego na carroça do progresso, para depois reverter o curso da história.

Em meados do século XIX, as políticas liberais também passaram a dominar a Alemanha, e a separação entre Igreja e Estado tornou-se uma questão importante.[33][34]

O Kulturkampf na Alemanha é geralmente moldado nos anos de 1871 e 1878 com a Igreja Católica anunciando oficialmente o seu fim em 1880, mas a luta na Alemanha foi um assunto em curso sem começo definido e os anos 1871 a 1878 apenas marcam seu ponto culminante na Prússia e Alemanha. Na esteira de outros países europeus, a maioria dos estados alemães havia dado os primeiros passos para a secularização bem antes da unificação. Predominantemente católica, Baden estava na vanguarda que limitava o poder da Igreja Católica (1852 - 1854 Disputa da Igreja de Baden) e (1864 - 1876 Kulturkampf Baden, veja de:Badischer Kulturkampf).[35][36] Outros exemplos são a Prússia (1830, 1850, 1859 e 1969), Württemberg (1859/1862), Bavaria (1867, veja de:Bayerischer Kulturkampf), Hesse-Nassau ou Hesse-Darmstadt.

Na Kölner Wirren de 1837 (Confusão de Colônia; artigo em alemão) das questões legais e políticas relativas aos filhos de casamentos mistos protestantes-católicos,[37] o acordo final da Prússia foi considerado uma derrota para o Estado, uma vez que havia cedido às demandas da Igreja Católica.[38] Em 1850, a Prússia novamente teve uma disputa com a igreja sobre casamento civil e escolas primárias[39] e em 1852, emitiu decretos contra os jesuítas. Como em muitos países europeus, os jesuítas estavam sendo proibidos ou fortemente restringidos em muitos dos estados alemães e. g. na Saxônia (1831) e mesmo em locais católicos como a Baviera (1851), Baden (1860) ou Württemberg (1862).[40]

Para não ficar de fora, as áreas alemãs a oeste do Reno já haviam passado por um processo de separação entre a Igreja e o Estado, em consonância com uma secularização radical após a anexação pela França revolucionária e napoleônica em 1794. Após seu retorno à Alemanha em 1814, muitas, se não a maioria das mudanças foram mantidas no lugar.[41]

Nos anos Vormärz, as publicações católicas geralmente retratavam as revoluções como negativas e perigosas para a ordem existente, bem como para os interesses da Igreja Católica. A maioria deles considerava o catolicismo necessário viável para a própria saúde da sociedade e do Estado e para ser a única proteção verdadeira e efetiva contra o flagelo da revolução.[42] As mal sucedidas revoluções alemãs de 1848 a 1849, às quais a Igreja Católica se opusera, não produziram reformas democráticas e fracassaram as tentativas de desvincular radicalmente as relações entre a Igreja e o Estado. No parlamento revolucionário, muitos representantes proeminentes do catolicismo político ficaram do lado da extrema-direita. Nos anos que se seguiram à revolução, o catolicismo tornou-se cada vez mais politizado devido às políticas antimodernistas e antiliberais maciças do Vaticano.

Na Guerra Austro-Prussiana de 1866 e na Guerra Franco-Prussiana de 1870, a Igreja Católica tomou o partido da Prússia e foi um forte oponente da unificação alemã sob a Prússia (assim como da unificação da Itália).

Os dogmas e doutrinas católicos anunciados em 1854, 1864 e 1870 foram percebidos na Alemanha como ataques diretos ao Estado-nação moderno.[43] Assim, Bismarck, os liberais e os conservadores, representando os protestantes ortodoxos, descobriram que o apoio do Partido do Centro ao papa era altamente provocativo. Muitos católicos compartilharam esses sentimentos, especialmente contra a infalibilidade declarada do papa e a maioria dos bispos católicos alemães considerou a definição do dogma como "'não propícia' à luz da situação na Alemanha". Segundo o chefe de governo da Baviera, Hohenlohe, o dogma da infalibilidade comprometeu a lealdade do católico ao estado.[44] Enquanto a maioria dos católicos se reconciliava com a doutrina, alguns fundaram a pequena e Velha Igreja Católica.

As maiorias liberais da Dieta Imperial e do parlamento prussiano, assim como os liberais em geral, consideravam a Igreja como atrasada, um foco de reacionários, inimigos do progresso e elencaram a vida monástica como a epítome de um medievalismo católico atrasado. Eles ficaram alarmados com o aumento dramático no número de mosteiros, conventos e grupos religiosos clericais em uma época de revitalização religiosa generalizada. A Diocese da Colônia, por exemplo, viu um aumento de dez vezes de monges e freiras entre 1850 e 1872. As autoridades prussianas estavam particularmente desconfiadas da disseminação da vida monástica entre as minorias polonesa e francesa.[45] A Igreja, por sua vez, via os Nacionais-Liberais como seu pior inimigo, acusando-os de liderar a guerra contra o cristianismo e a Igreja Católica.[46]

At unification in 1871, the new German Empire included 25.5 million Protestants (62% of the population) and 15 million Catholics (36.5% of the population). Although a minority in the empire, Catholics were the majority in the states of Bavaria, Baden, and Alsace-Lorraine as well as in the four Prussian Provinces of West Prussia, Posen, Rhineland, Westphalia and in the Prussian region of Upper Silesia. Since the Thirty Years' War the population was generally segregated along religious lines and rural areas or towns were overwhelmingly if not entirely of the same religion. Education was also separate and usually in the hands of the churches. There was little mutual tolerance, interaction or intermarriage. Protestants in general were deeply distrustful of the Catholic Church.

Bismarck c. 1875

A unificação foi alcançada através de muitos obstáculos com fortes oponentes. Essas foram as potências europeias da França e da Áustria, ambas nações católicas, e a própria Igreja Católica, as quais Bismarck percebeu como "Coalizão da Vingança Católica". Para Bismarck, o império era muito frágil e sua consolidação era uma questão importante. O biógrafo Otto Pflanze enfatiza: "A crença de Bismarck na existência de uma conspiração católica generalizada que representava uma ameaça tanto para suas políticas alemãs quanto para as europeias".[47]

Em um império protestante, a Igreja Católica perderia sua boa reputação, que gozou durante séculos no Sacro Império Romano dominado pelos católicos e que teria continuado a desfrutar de um império alemão unido sob os auspícios austríacos. Assim, em 1870, às vésperas da unificação, o Partido do Centro foi explicitamente fundado para defender a posição da igreja no novo império.

Bismarck estava muito preocupado com o fato de muitos dos principais membros e apoiadores desse novo partido não estarem de acordo com o novo império: a Casa de Hanover, a minoria étnica dos poloneses, os estados do sul da Alemanha. Em 1871, os estados predominantemente católicos do sul da Alemanha apenas se juntaram relutantemente ao império, aumentando a parcela geral da população católica para 36,5%. Entre esta parte católica estava a maior minoria étnica da Alemanha, bem mais de 2 milhões de poloneses no leste da Prússia, que sob a Prússia e a Alemanha sofreram discriminação e opressão[48]. Bismarck considerava o novo Partido do Centro não apenas como uma mistura ilegal de política e religião e "braço longo" da Igreja, mas também como uma força unificadora para alemães e poloneses católicos e, portanto, uma ameaça à consolidação do império. Ele temia que o Partido do Centro frustrasse suas agendas políticas mais amplas e acusou os padres católicos de promover o nacionalismo polonês, como havia sido feito abertamente nas províncias de Posen e da Alta Silésia.[49][50][51] [52] [53]

Ministro da Educação da Prússia, Adalbert Falk, 1872

Os liberais consideravam a Igreja Católica como uma força poderosa de reação e antimodernidade, especialmente depois da proclamação da infalibilidade papal em 1870 e do controle mais rígido do Vaticano sobre os bispos locais.[54] A vitalidade renovada do catolicismo na Alemanha, com suas reuniões de massa, também atraiu protestantes - até mesmo o herdeiro do trono prussiano, com a aprovação do rei, compareceu a um deles.[55] Antiliberalismo, o anticlericalismo e o anticatolicismo tornaram-se poderosas forças intelectuais da época, e o antagonismo entre liberais e protestantes de um lado e a Igreja Católica, de outro, foi combatido através da prática de lançamento de lama na imprensa. Uma onda de panfletos anticatólicos, anticlericais e antimonásticos na imprensa liberal[55] foi respondida pela pregação e propaganda antiliberal em jornais católicos e vice-versa.

For these reasons, the government sought to wean the Catholic masses away from the hierarchy and the Centre Party and the liberal’s demands to curb the power of the churches meshed well with Bismarck’s main political objective to crush the Centre Party. According to historian Anthony J. Steinhoff, "Bismarck’s plan to disarm political Catholicism delighted liberal politicians, who provided the parliamentary backing for the crusade. Yet, the phrase the left-liberal Rudolf Virchow coined for this struggle, the Kulturkampf, suggests that the liberals wanted to do more than prevent Catholicism from becoming a political force. They wanted victory over Catholicism itself, the long-delayed conclusion of the Reformation".[56]

Pelo menos desde 1847 e em consonância com os liberais, Bismarck também tinha sido da opinião professada, que Estado e igreja deveriam ser completamente separados e "a esfera do Estado tinha que ser feita de forma segura contra as incursões pela igreja",[57] embora suas ideias não fossem tão abrangentes quanto nos Estados Unidos ou na Grã-Bretanha. Ele tinha em mente a posição tradicional da igreja protestante na Prússia e provocou considerável resistência de protestantes conservadores. Isso ficou claro em um debate acalorado com o ministro da cultura prussiana von Mühler em 1871, quando Bismarck disse: "Desde que você parou meus planos na igreja protestante, eu tenho que ir através de Roma".[58] Em agosto de 1871, em Bad Ems, Bismarck revelou sua intenção de lutar contra o Partido do Centro, separar Estado e Igreja, transferir a inspeção escolar para leigos, abolir a instrução religiosa das escolas e transferir os assuntos religiosos para o ministro da justiça.[59]

Em 22 de janeiro de 1872, o liberal Adalbert Falk substituiu o conservador Heinrich von Mühler como ministro prussiano da religião, educação e saúde. Na mente de Bismarck, Falk estava "restabelecendo os direitos do Estado em relação à igreja". No entanto, ao contrário de Bismarck, cuja principal motivação para o Kulturkampf era a luta pelo poder político com o Partido do Centro, Falk, um advogado, era um forte defensor da autoridade do Estado, tendo em mente os aspectos legais das relações entre Estado e Igreja. Falk tornou-se a força motriz por trás das leis do Kulturkampf. Embora Bismarck apoiasse publicamente Falk, ele duvidava do sucesso de suas leis e estava insatisfeito com sua falta de tato e sensibilidade política. As diferenças em suas atitudes em relação à Kulturkampf acabaram por colocar os dois políticos em conflito um com o outro.[60][61]

Com este pano de fundo e a determinação da igreja e do Estado, o Kulturkampf na Alemanha adquiriu uma borda adicional à medida que se reunia em intensidade e amargura.

Cronograma e leis promulgadas durante o Kulturkampf

Entendeu por bem eliminar inteiramente qualquer capacidade de influência da Igreja Católica na vida pública da Alemanha. Promulgou entre 1872 e 1875 uma série de leis e decretos neste sentido. Tratou de obter a expulsão do país da Companhia de Jesus, colocou todos os seminários católicos sob o controle do Estado e promulgou as "Leis de Maio" que autorizavam o governo a regular a nomeação de bispos e padres. Restringiu o exercício dos cargos eclesiásticos exclusivamente aos cidadãos alemães que, antes de assumí-los, eram obrigados a se submeter a "exames oficiais". Durante a Kulturkampf foram presos seis dos dez bispos católicos da Prússia e centenas de padres e religiosos tiveram de abandonar o país.

von Ketteler, 1865, adversário de Bismarck e da Kulturkampf

Não obstante isto, a campanha resultou em fracasso. Pois o Partido do Centro (Deutsche Zentrumspartei), de orientação claramente católica, tomou posição firme e decidida em favor dos clérigos perseguidos e, seguindo a orientação social da Igreja que já se vislumbrava nas encíclicas Quanta cura e Qui pluribus, adotou um programa econômico tão avançado para a época que fez com que se tornasse em pouco tempo a maior força político-partidária da Alemanha. Um dos líderes deste partido foi o barão, bispo e político von Ketteler, conhecido como o "Bispo dos Trabalhadores" (Arbeiterbischof) um dos precursores da Doutrina Social da Igreja, que se notabilizou pela sua atuação em favor dos trabalhadores e pelas minorias discriminadas.

Em 1874 o Centro católico obteve perto da quarta parte das cadeiras no Parlamento (Reichstag) e celebrou uma aliança com os "Social-Democratas" de oposição ao governo, se os dois partidos continuassem a crescer no mesmo ritmo em que vinham crescendo em pouco tempo se tornariam a maioria. Por esta época o socialismo se desenvolvia na Alemanha o que também era motivo de grande preocupação para Bismarck.

Temendo um avanço maior do socialismo, este quadro político levou Bismarck a arrefecer a sua perseguição aos católicos e, aos poucos, entre 1878 e 1886 foi, paulatinamente, sendo revogada toda a legislação discriminadora e a Kulturkampf, assim, acabou por cair no esquecimento.

Kulturkampf na Áustria

O Kulturkampf na Áustria tem raízes que remontam ao século XVIII. O imperador José II lançou uma política religiosa mais tarde chamada "Josefinismo", defendendo a supremacia do Estado em assuntos religiosos. Isso resultou em amplo controle estatal sobre a Igreja Católica na Áustria, incluindo e. g. a reorganização das dioceses, regulamentando o número de missas, a transferência de muitas escolas para as mãos do governo, seminários controlados pelo Estado, limitando o número de clérigos e dissolvendo numerosos mosteiros. Protestos do Papa Pio VI e até mesmo sua visita a Viena em 1782 foram em vão. Na concordata de 1855, a culminação da influência católica na Áustria, muitos dos direitos anteriores da Igreja Católica tirados sob José II foram restaurados (casamento, controle parcial da censura, ensino fundamental e médio, controle total do clero e do fundo religioso).

Em 1886 e 1869, após sancionar a constituição de dezembro, o novo gabinete nomeado pelo imperador Francisco José desfez partes da concordata com várias reformas liberais promulgadas nas chamadas Leis de Maio. Contra os fortes protestos da Igreja Católica, as leis de 25 de maio de 1868 e 14 de maio de 1869 restauraram o casamento civil, aprovaram o ensino primário e secundário nas mãos do governo, instalaram escolas interconfessionais e regulamentaram as relações interconfessionais (e. g. casamentos mistos, fé das crianças incluindo opção de livre escolha).[62][63]

Em um consistório secreto, o Papa Pio IX condenou a constituição de 1867 e as leis de maio como "leges abominabiles" (leis repugnantes). Em uma carta pastoral de 7 de setembro de 1868, o bispo Franz-Josef Rudigier pediu resistência a essas leis de maio. A carta foi confiscada e ele teve de comparecer perante o tribunal em 5 de junho de 1869, o que, pela primeira vez, levou a manifestações públicas da população católica. Em 12 de julho de 1869, o bispo foi condenado a uma pena de prisão de duas semanas, mas perdoado pelo imperador.

As leis de maio provocaram um sério conflito entre o Estado e igreja. A Áustria revogou a concordata de 1855 em 1870 após a promulgação da infalibilidade papal e a aboliu no ano de 1874. Em maio de 1874, o Ato Religioso foi oficialmente reconhecido.[64]

Ver também

Bibliografia

BURNS, Edward McNall. História da Civilização Ocidental. Tradução de Lourival Gomes Machado, Lourdes Santos Machado e Leonel Vallandro - Porto Alegre: Editora Globo, 1972 (2a. edição).

Historiografia

  • Anderson, Margaret Lavinia. "Confessions of a Fellow Traveler," Catholic Historical Review (2013) 99#4 pp 623–648.(em inglês)
  • Heilbronner, Oded. "From Ghetto to Ghetto: The Place of German Catholic Society in Recent Historiography" Journal of Modern History (2000) 72#2 pp. 453–495. in JSTOR(em inglês)

Referências

  1. Grew, Raymond in: "Liberty and the Catholic Church in 19th. century Europe", Freedom and Religion in the 19th. Century, edited by Richard Helmstadter, Stanford University Press, 1997, ISBN 9780804730877, p. 201
  2. Iván T. Berend in: An Economic History of 19th-century Europe, Cambridge University Press, ISBN 978-1-107-03070-1, p. 93-94
  3. Olsen, Glenn in: The Turn to Transcendence. The Role of Religion in the 21st. Century, The Catholic University of America Press, 2010, ISBN 9780813217406, p. 81
  4. Bedouelle, Guy in: An Illustrated History of the Church: The Great Challenges, Archdiocese of Chicago Liturgy Training Publications, p. 195, ISBN 9781568545165
  5. Josef L. Altholz, "The Vatican Decrees Controversy, 1874-1875." Catholic Historical Review (1972): 593-605. in JSTOR
  6. Enrique Sanabria (2009). Republicanism and Anticlerical Nationalism in Spain. [S.l.]: Palgrave Macmillan. p. 1 
  7. Ramet, Sabrina in: Obstat, Nihil. Religion, Politics, and Social Change in East-Central Europe and Russia, Duke University Press, 1998, ISBN 978-0-8223-2070-8, p 107
  8. Borst, William in: "The Mexican Kulturkampf. The Christeros and the Crusade for the greater Glory of God", Mindszenty Report 54#8 August 2012:
  9. Martin, Percy in: Causes of the Collapse of the Brazilian Empire, The Hispanic American Historical Review, Duke University Press, 1921, Vol. 4, No. 1, pp. 4-48
  10. Dittrich, Lisa in: Antiklerikalismuns in Europa: Öffentlichkeit und Säkularisierung in Frankreich, Spanien und Deutschland (1848-1914), Vandenhoek & Ruprecht, Göttingen, 1914, ISBN 9783525310236
  11. Ruppert, Stefan in: Kirchenkampf und Kulturkampf: Historische Legitimation, politische Mitwirkung und wissenschaftliche Begleitung durch die Schule Emil Ludwig Richter, Mohr Siebeck, Tübingen, 2002, ISBN 978-3-16-147868-0, p. 1-2
  12. Borutta, Manuel in: Antikatholizismus. Deutschland und Italien im Zeitalter der europäischen Kulturkämpfe, Vandenhoeck & Ruprecht, Göttingen, 2011, p. 11, ISBN 978-3-525-36849-7
  13. «Kulturkampf - Definition, meaning & more - Collins Dictionary». Consultado em 21 de Dezembro de 2016 
  14. Christopher Clark, Iron Kingdom (2006) pp 412-19
  15. Róisín Healy (2003). The Jesuit Specter in Imperial Germany. [S.l.]: BRILL. p. 57 
  16. Nicholas Atkin and Frank Tallett, Priests, Prelates and People: A History of European Catholicism since 1750 (Oxford UP, 2003) pp 128, 193
  17. Franz, Georg in: Kulturkampf. Staat und katholische Kirche in Mitteleuropa von der Säkularisation bis zum Abschluss des preußischen Kulturkampfes, Munich 1954, ASIN: B0027NO7I4 , p. 16
  18. Robbins, Keith in: The Dynamics of Political Reform in Northern Europe 1780-1920, Political and Legal Perspectives, Leuven University Press, ISBN 9789058678256, p.154
  19. Roland Sarti (2009). Italy: A Reference Guide from the Renaissance to the Present. [S.l.]: Infobase Publishing. p. 462 
  20. Knight, Frances in : History of the Christian Church, Vol. 6: The Church in the 19th. Century, I.B.Tauris, London, 2008, ISBN 9781850438991
  21. Dittrich, Lisa in: Antiklerikalismuns in Europa: Öffentlichkeit und Säkularisierung in Frankreich, Spanien und Deutschland (1848-1914), Vandenhoek & Ruprecht, Göttingen, 1914, ISBN 9783525310236, p. 58
  22. Dittrich, Lisa in: Antiklerikalismuns in Europa: Öffentlichkeit und Säkularisierung in Frankreich, Spanien und Deutschland (1848-1914), Vandenhoek & Ruprecht, Göttingen, 1914, ISBN 9783525310236, p. 55
  23. Ruppert, Stefan in: Kirchenkampf und Kulturkampf: Historische Legitimation, politische Mitwirkung und wissenschaftliche Begleitung durch die Schule Emil Ludwig Richter, Mohr Siebeck, Tübingen, 2002, ISBN 978-3-16-147868-0, p.6-8
  24. Nicholas Atkin, and Frank Tallett. Priests, Prelates and People: A History of European Catholicism, 1750 to the Present (2003). pp 104-6
  25. Healy, Roisin in: The Jesuit Spectre in Imperial Germany, Brill Academic Publishers, Boston, 2003, ISBN 0391041940, p. 42
  26. Grew, Raymond in: "Liberty and the Catholic Church in 19th. century Europe", Freedom and Religion in the 19th. Century, edited by Richard Helmstadter, Stanford University Press, 1997, ISBN 9780804730877, p. 198-200
  27. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome Robbins 1920, p. 178
  28. Dittrich, Lisa in: Antiklerikalismuns in Europa: Öffentlichkeit und Säkularisierung in Frankreich, Spanien und Deutschland (1848-1914), Vandenhoek & Ruprecht, Göttingen, 1914, ISBN 9783525310236, p. 182
  29. Bucheim, Karl in: Geschichte der christlichen Parteien in Deutschland. Kösel, Munich, 1953, ASIN B0000BGX87, p. 197
  30. Erro de citação: Etiqueta <ref> inválida; não foi fornecido texto para as refs de nome unamsanctamcatholicam.com
  31. Healy, Roisin in: The Jesuit Spectre in Imperial Germany, Brill Academic Publishers, Boston, 2003, ISBN 0391041940, p. 55
  32. Dittrich, Lisa in: Antiklerikalismuns in Europa: Öffentlichkeit und Säkularisierung in Frankreich, Spanien und Deutschland (1848-1914), Vandenhoek & Ruprecht, Göttingen, 1914, ISBN 9783525310236, p. 95
  33. Pflanze, Otto, in: Bismarck and the Development of Germany, Volume II, Princeton University Press, ISBN 0-691-05587-4, p 199-200
  34. Iván T. Berend in: An Economic History of 19th-century Europe, Cambridge University Press, ISBN 978-1-107-03070-1, p 93
  35. Healy, Roisin in: The Jesuit Spectre in Imperial Germany, Brill Academic Publishers, Boston, 2003, ISBN 0391041940, p. 57
  36. de Gruyter, Walter in: Theologische Realenzykolpädie, Vol. 1, Berlin-New York, 1993, p. 101, ISBN 3-11 013898-0
  37. Rowe, Michael in: From Reich to State. The Rhineland in the Revolutionary Age, Cambridge University Press, 2003, ISBN 0-521-82443-5, p. 248-249
  38. Ruppert, Stefan in: Kirchenkampf und Kulturkampf: Historische Legitimation, politische Mitwirkung und wissenschaftliche Begleitung durch die Schule Emil Ludwig Richter, Mohr Siebeck, Tübingen, 2002, ISBN 978-3-16-147868-0, p.13
  39. Robbins, Keith in: The Dynamics of Political Reform in Northern Europe 1780-1920, Political and Legal Perspectives, Leuven University Press, ISBN 9789058678256, p.150-175
  40. Healy, Roisin in: The Jesuit Spectre in Imperial Germany, Brill Academic Publishers, Boston, 2003, ISBN 0391041940, p. 52
  41. Rowe, Michael in: From Reich to State. The Rhineland in the Revolutionary Age, Cambridge University Press, 2003, ISBN 0-521-82443-5, p. 259-264
  42. Schneider, Bernhard in: Katholiken auf die Barrikaden? Europäische Revolutionen und deutsche katholische Presse 1815-1848, Reihe B: Forschungen, Vol. 84., Ferdinand Schöningh, Paderborn, 1998, ISBN 978-3-506-79989-0
  43. Robbins, Keith in: The Dynamics of Political Reform in Northern Europe 1780-1920, Political and Legal Perspectives, Leuven University Press, ISBN 9789058678256, p.158-161
  44. Healy, Roisin in: The Jesuit Spectre in Imperial Germany, Brill Academic Publishers, Boston, 2003, ISBN 0391041940, p. 56
  45. Gross, The War Against Catholicism, pp. 128-131, Univ. of Michigan Press 2004
  46. Winkler, Heinrich in: Der lange Weg nach Westen: Deutsche Geschichte vom Ende des Alten ..., Vol 1, Beck Verlag, Munich, 2002, p. 218, ISBN 3406460011
  47. Otto Pflanze (1990). Bismarck and the Development of Germany, Volume II: The Period of Consolidation, 1871-1880. [S.l.]: Princeton UP. p. 189 
  48. Wielka historia Polski t. 4 Polska w czasach walk o niepodległość (1815-1864). Od niewoli do niepodległości (1864–1918) Marian Zagórniak, Józef Buszko 2003 page 186
  49. Robbins, Keith in: The Dynamics of Political Reform in Northern Europe 1780-1920, Political and Legal Perspectives, Leuven University Press, ISBN 9789058678256, p. 178
  50. Pflanze, Otto, in: Bismarck and the Development of Germany, Volume II, Princeton University Press, ISBN 0-691-05587-4, p 199
  51. Arlinghouse, Francis in: The Kulturkampf and European Diplomacy 1871-1875 in The Catholic Historical Review 28/3, 1942, p. 342
  52. Ross, Ronald in: "Kulturkampf. Restrictions and Controls on the Practice of Religion in Bismarck’s Germany", Freedom and Religion in the 19th. Century, edited by Richard Helmstadter, Stanford University Press, 1997, ISBN 9780804730877, p. 173
  53. The War between Prussia and Rome in: Quarterly Review, John Murray, London, 1874, Vol. 136, p. 314
  54. Lamberti, (2001)
  55. a b Gross, Michael B., The war against Catholicism: liberalism and the anti-Catholic imagination in nineteenth-century Germany, p. 75, University of Michigan Press, 2004
  56. Anthony J. Steinhoff, "Christianity and the creation of Germany," in Sheridan Gilley and Brian Stanley, eds. Cambridge History of Christianity: Volume 8: 1814-1914 (2008) p 294
  57. Pflanze, Otto, in: Bismarck and the Development of Germany, Volume II, Princeton University Press, ISBN 0-691-05587-4, p 201
  58. Rumschöttel, Prof. Dr. Hermann in: Bismarcks Kulturkampf. Motive und Gegner, Presentation at Sommerakademie St. Bonifaz 2013 –Kulturkampf in Bayern- http://sankt-bonifaz.de/fileadmin/images-bonifaz/redakteur/colloquium/docs/neu-Rumsch%C3%B6ttel_Bismarck-2013.pdf
  59. Pflanze, Otto, in: Bismarck and the Development of Germany, Volume II, Princeton University Press, ISBN 0-691-05587-4, p 200-201
  60. Biographie, Deutsche. «Falk, Adalbert - Deutsche Biographie». Consultado em 21 de Dezembro de 2016 
  61. «Adalbert Falk - Prussian official». Consultado em 21 de Dezembro de 2016 
  62. «concordat of 1855 - Austrian religious history». Consultado em 21 de Dezembro de 2016 
  63. «Konkordat». Consultado em 21 de Dezembro de 2016 
  64. «'Heroischer Tugendgrad' für Bischof Rudigier». Consultado em 21 de Dezembro de 2016 

Ligações externas

(em inglês)