Odin: diferenças entre revisões
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Revisão das 21h58min de 24 de março de 2005
Odin é a figura central do panteão germânico, o rei dos deuses; os germânicos, povo dado a luta e guerras, viam nele o protótipo da bravura, da altivez e do valor; os escandinavos dos últimos séculos pagãos, os Vikings aventureiros, terror do ocidente cristão foram os derradeiros a combater invocando o nome de Óðinn (Odin). Ao lado do deus Loki, é a personagem de mais complexa personalidade dentro do panteão germânico, o que fez com que, embora seu nome fosse exaltado por muitos poetas, permanecesse obscuro para o camponês simples, mais identificados com Þórr (Thor) e Freyr devido a suas características de deuses agrários.
Origens do nome
Os nomes do deus são encontrados no antigo nórdico (Old Norse) Óðinn (Saxo Grammaticus, latinizando escreve Othinus), no germano Wotan e no primitivo germânico sob a forma de Wodanaz, no gótico, Vôdans, no dialeto das ilhas Feroé (nas costas da Noruega), Ouvin, no antigo saxão, Wuodan, no alto alemão, Wuotan, enquanto que entre os lombardos e na região da Vestefália aparece Guodan ou Gudan, e na Frísia, Wêda. Nos dialetos dos alamanos e borgundos temos a expressão Vut, usada até hoje no sentido de ídolo. Essas denominações estão ligadas pela raiz, no Old Norse, às palavras vada e od, e, no antigo alto alemão, à Watan e Wuot, que significavam a princípio “razão”, “memória” ou “sabedoria”. Mais tarde tornaram-se equivalentes a “tempestuoso” ou “violento”, sentido que os cristãos faziam empenho de acentuar, procurando depreciar a figura do deus pagão.
Dia da semana de dedicação
O nome “quarta-feira”, dia que era dedicado ao deus, tomou as denominações, no inglês, wednesday (antigo saxão, wôdanes dag, anglo-saxão, vôdnes dag), no holandês, woensdag (média-neerlandês, woensdach), no sueco e dinamarquês, onsdag (Old Norse, odinsdagr), e no dialeto da Vestefália, godenstag ou gunstag.
Citações na Edda Poética
Na Edda Poética, o maior ciclo é naturalmente o do deus supremo, compreendendo as seguintes baladas: Baldrs Draumar (“Os Sonhos de Baldr”), Hárbarzljóð (“A Balada de Harbard”), Vafþrúðnismál (“A Balada de Vafthrudnir”), Grímnismál (“A Balada de Grimnir”) e Hávamál (“As Máximas de Hár”).
Odin se apresenta sob diversos nomes nas baladas édicas, de acordo com as exigências da situação. Sabemos, pela Völúspa (“A Profecia da Vidente”) e Hyndluljóð (“A Balada de Hyndla”), que ele era filho de Bur. As elevadas designações de “velho criador” e “pai dos homens”, que o poeta anônimo lhe deu em Baldrs Draumar e no Vafþrúðnismál, bem como a informação de que “Odin dera o fôlego” (Völuspá) a um casal inanimado, não deixa dúvidas sobre uma interferência na criação da humanidade. No Grímnismál há o cognome de “príncipe dos homens”, na Lokassena (“A Altercação de Loki”) de “pai das batalhas”, na Völuspá, de “pai dos exércitos”, e no Grípisspá (“A Profecia de Gripir”), de “pai da escolha” ou “pai dos mortos em batalha”.
Personalidade:
Em linguagem corrente nos países escandinavos e no norte da Alemanha, conforme observa-se entre pessoas cultas, são usadas as expressões “zu Odin fahren” ou “hei Odin zu Gast sein”, e “far þu til Odin” ou “Odins eigo þik”, citadas também por Jacob Grimm, para imprecações equivalentes a “vá para o diabo”, ou “o diabo que o carregue”. É uma tendência malévola que se explica, não só pela ação do cristianismo, mas ainda pelas atitudes violentas e sombrias que o deus tomava, infligindo castigos inflexíveis, como o sono imposto à valkyrja (valquíria), e atravessando os ares com seu exército de maus espíritos, nas noites de tempestades.
As baladas édicas nos apresentam Odin com inúmeras falhas de caráter, tendo ou procurando ter aventuras amorosas, que ele próprio narra no Hávalmál (parte II) e na balada Hárbarzljóð, além das relações simultâneas com Jörd, a Mãe-Terra, que lhe deu o filho Thor, com Rind, que lhe deu o filho Váli, e uma giganta, que lhe deu o filho Víðar (Vidar), sem contar sua esposa, a deusa Frigg, mãe de Baldr, Hödr, Bragr e Hermóðr (Hermod). Outras ações menos dignas são o roubo da razão ao gigante Hlebard, descrito também na balada Hárbarzljóð, e a sedução de Gunnlod no Hávalmál (parte III) afim de conseguir furtar a bebida encantada, que desperta o dom da poesia. O fato de a Edda Poética não ter sido escrita numa época exclusivamente pagã, explica, suficientemente, os defeitos do deus supremo, embora estes se verifiquem com deuses superiores de outras mitologias.
Virtudes:
Cabe-nos mencionar, finalmente, o aposto de “pai da magia”, constante do Baldrs Draumar, confirmado no seu próprio depoimento do Hávamál (parte IV), em que nos descreve seu próprio sacrifício: feriu-se com a lança e suspendeu-se numa árvore, onde permaneceu nove dias agitado pelos ventos; está árvore é Yggdrasill, o freixo do mundo. Tudo isso visando à iniciação na sabedoria das runas, tendo até criado algumas delas, tornando-se senhor do “hidromel dos poetas”, licor mágico que profere vaticínios.
Quanto ao elevado saber de Odin, relata-se que nem sempre foi assim, sábio e mágico poderoso; ávido por conhecer todas as coisas, quis beber da fonte da Sabedoria, onde o freixo Yggdrasill mergulha uma das raízes; mas Mímir, seu tio, o guardião da fonte, sábio e prudente, só lhe concedeu o favor com a condição de que Óðinn lhe desse um de seus olhos. Ele então encontrou na água da fonte milagrosa tanta sabedoria e poderes secretos que pôde, logo que Mímir foi morto da guerra ente os Æsir e os Vanir, lhe conferir a faculdade de renascer pela sabedoria: sua cabeça, embalsamada graças aos cuidados dos deuses, é capaz de responder a todas as perguntas que lhe dirigem. Após adquirir tantos conhecimentos, procurava depois revelar em duelos de palavras, em que aposta a vida e sai sempre ganhado. Além do mais, por várias vezes se dirige a profetisas e visionárias, pedindo informações estranhas, dando-lhes em paga ricos presentes.
Cultuação:
Desse modo, vemos que Óðinn, na concepção do poeta édico, é criador da humanidade, detentor supremo do conhecimento, das fórmulas mágicas e das runas, invocado por ocasião das batalhas, durante os naufrágios e as doenças, na defesa contra o inimigo, e afinal em qualquer situação desesperadora. Altares se elevavam em sua honra, e sacrifícios lhe eram oferecidos, inclusive de humanos e, até mesmo, de crianças.
Símbolos:
Nas baladas da Edda, o deus supremo está em ligação com símbolos, emblemas e certos elementos adequados às diversas circunstâncias em que aparece. Assim, no Valhöll (Valhalla), tem o seu grande palácio onde recebe e aloja os guerreiros mais valorosos, e em outro dos seus três palácios em Ásgarðr (Asgard), o Valaskjalf, senta-se no trono Hliðskjalf (Hlidskialf), de onde é possível enxergar o mundo inteiro e acompanhar todos os acontecimentos da vida. A seus pés, deitam-se os dois lobos Geri e Freki, símbolos da gulodice, que o acompanham em suas caçadas e lutas, alimentando-se dos cadáveres dos guerreiros. Nos seus ombros estão os dois corvos Munin e Hugin, a sussurrar-lhe o que viram e ouviram por todos os cantos. Quando se encaminha a uma batalha, o que é freqüente, usa armadura e elmo de ouro, trazendo nas mãos o escudo e a lança Gungnir, que tem runas gravadas no cabo, montando seu famoso corcel branco, de oito patas, chamado Sleipnir, que tem a faculdade de cavalgar no espaço, por cima das terras e águas.
Disfarces:
Em muitas passagens, descrevem-se as andanças de Óðinn, em que se apresenta sob o disfarce de um viandante, envolvido numa enorme capa azul ou cinza, com um chapéu de abas largas, quebradas em cima do olho perdido, como nas baladas édicas Vafþrúðnismál e no Grímnismál, e com os nomes significativos de Gagnrad (“o que determina a vitória”), Grimnir (“o disfarçado”), além do Hávalmál (parte III) e nos Baldrs Draumar, respectivamente com os nomes Bolverg (“o malfeitor”), Hár (“o elevado”, “o eminente”, “o sublime”) e Vegtam (“o acostumado aos caminhos”).