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Atomismo: diferenças entre revisões

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[[Imagem:Vortex-street-1.jpg|thumb|direita|A ideia do [[Vórtice]] é um dos aspectos mais significativos do pensamento epicurista, que o considerava um ponto de convergência dos átomos para a formação dos mundos.]]

'''Atomismo''' ({{lang-grc|ἄτομον}} ''atomon'' o que não pode ser cortado, indivisível<ref>{{LSJ|a)/tomos|ἄτομον|ref}}</ref><ref>{{citar web|título=atom|url=http://www.etymonline.com/index.php?term=atom&allowed_in_frame=0|publicado=Online Etymology Dictionary}}</ref><ref>O termo "atomismo" é registrado no Inglês desde 1670/1680 (''Random House Webster's Unabridged Dictionary'', 2001, "atomism").</ref>) é uma [[filosofia natural]] que se desenvolveu em várias tradições antigas. Os atomistas teorizaram que a natureza consiste em dois princípios fundamentais: ''átomo'' e ''vazio''. Ao contrário de seu homônimo científico moderno em [[teoria atômica]], os átomos filosóficos vêm em uma variedade infinita de formas e tamanhos cada uma delas sendo indestrutíveis, imutáveis e cercadas por um vazio onde colidem com os outros ou se reúnem em juntos formando arranjos. O aglomerado de diferentes formas, arranjos e posições dão origem a várias substâncias macroscópicas no mundo.<ref>[[Aristotle]], ''Metaphysics'' I, 4, 985<sup>b</sup> 10–15.</ref><ref name="SEP">Berryman, Sylvia, "Ancient Atomism", ''[[Stanford Encyclopedia of Philosophy|The Stanford Encyclopedia of Philosophy]]'' (Fall 2008 Edition), Edward N. Zalta (ed.), http://plato.stanford.edu/archives/fall2008/entries/atomism-ancient/</ref>
'''Atomismo''' ({{lang-grc|ἄτομον}} ''atomon'' o que não pode ser cortado, indivisível<ref>{{LSJ|a)/tomos|ἄτομον|ref}}</ref><ref>{{citar web|título=atom|url=http://www.etymonline.com/index.php?term=atom&allowed_in_frame=0|publicado=Online Etymology Dictionary}}</ref><ref>O termo "atomismo" é registrado no Inglês desde 1670/1680 (''Random House Webster's Unabridged Dictionary'', 2001, "atomism").</ref>) é uma [[filosofia natural]] que se desenvolveu em várias tradições antigas. Os atomistas teorizaram que a natureza consiste em dois princípios fundamentais: ''átomo'' e ''vazio''. Ao contrário de seu homônimo científico moderno em [[teoria atômica]], os átomos filosóficos vêm em uma variedade infinita de formas e tamanhos cada uma delas sendo indestrutíveis, imutáveis e cercadas por um vazio onde colidem com os outros ou se reúnem em juntos formando arranjos. O aglomerado de diferentes formas, arranjos e posições dão origem a várias substâncias macroscópicas no mundo.<ref>[[Aristotle]], ''Metaphysics'' I, 4, 985<sup>b</sup> 10–15.</ref><ref name="SEP">Berryman, Sylvia, "Ancient Atomism", ''[[Stanford Encyclopedia of Philosophy|The Stanford Encyclopedia of Philosophy]]'' (Fall 2008 Edition), Edward N. Zalta (ed.), http://plato.stanford.edu/archives/fall2008/entries/atomism-ancient/</ref>


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</ref> [[Ajivika]] e [[Carvaka]] remontam ao século VI a.C..<ref>Thomas McEvilley, The Shape of Ancient Thought: Comparative Studies in Greek and Indian Philosophies ISBN 1-58115-203-5, Allwarth Press, 2002, p. 317-321.</ref> As escolas [[Nyaya]] e [[Vaisheshika]] desenvolveram teorias sobre como os átomos se combinavam para formar objetos mais complexos.<ref>Richard King, Indian philosophy: an introduction to Hindu and Buddhist thought, , Edinburgh University Press, 1999, ISBN 0-7486-0954-7, pp. 105-107.</ref> No Ocidente, o atomismo surgiu no século V a.C., com [[Leucipo]] e [[Demócrito]].<ref>''[http://books.google.com/books?id=i_1u3X4yqdAC The Atomists, Leucippus and Democritus: Fragments - A Text and Translation with a Commentary]''. University of Toronto Press; 2010. ISBN 978-1-4426-1212-9. p. 157–158.</ref> A questão sobre se cultura indiana influenciou gregos ou vice-versa, ou se ambos evoluíram de forma independente ainda está em disputa.<ref>{{citar livro
</ref> [[Ajivika]] e [[Carvaka]] remontam ao século VI a.C..<ref>Thomas McEvilley, The Shape of Ancient Thought: Comparative Studies in Greek and Indian Philosophies ISBN 1-58115-203-5, Allwarth Press, 2002, p. 317-321.</ref> As escolas [[Nyaya]] e [[Vaisheshika]] desenvolveram teorias sobre como os átomos se combinavam para formar objetos mais complexos.<ref>Richard King, Indian philosophy: an introduction to Hindu and Buddhist thought, , Edinburgh University Press, 1999, ISBN 0-7486-0954-7, pp. 105-107.</ref> No Ocidente, o atomismo surgiu no século V a.C., com [[Leucipo]] e [[Demócrito]].<ref>''[http://books.google.com/books?id=i_1u3X4yqdAC The Atomists, Leucippus and Democritus: Fragments - A Text and Translation with a Commentary]''. University of Toronto Press; 2010. ISBN 978-1-4426-1212-9. p. 157–158.</ref> A questão sobre se cultura indiana influenciou gregos ou vice-versa, ou se ambos evoluíram de forma independente ainda está em disputa.<ref>{{citar livro
|último =Teresi|primeiro =Dick|publicado= Simon & Schuster|título= Lost Discoveries: The Ancient Roots of Modern Science|ano=2003|isbn=0-7432-4379-X|url = http://books.google.com/?id=pheL_ubbXD0C&pg=PA213|páginas= 213–214}}</ref>
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== História ==
=== Atomismo grego antigo ===
{{AP|vt=s|Filosofia grega antiga}}


A teoria atomista se desenvolve em algum após a metade do século V a. c., por obra de [[Leucipo]] e [[Demócrito]], cujas elaborações filosóficas são dificilmente separáveis nos registros transmitidos e preservados.{{Sfn|Warren|Sheffield|2014|p=197}} Sua formação conceitual guarda similaridades com as elaborações precedentes de [[Anaxagoras]] e [[Empédocles]] acerca da pluralidade de entidades irredutiveis, cujo movimento de composição e decomposição explica o movimento testemunhado no mundo dos fenômenos. Diferentemente desses filósofos, porém, o atomismo considera essas entidades como infinitas em número e indivisíveis, variando em [[forma]], [[tamanho]] e possivelmente também em seu [[peso]]. Essas são particulas plenas e internamente unificadas, chamadas, por inspiração da [[Parmênides|teoria parmenideana]] do [[Ser]], de 'aquilo que é', ou simplesmente [[Ser]], que existem circulando no [[vácuo]], chamado de vázio ou de [[não-ser]]. Esses dois conceitos formam a base simples do mundo, onde todo o resto decorre de suas misturas e composições.{{Sfn|Gill|Pellegrin|2006|p=47}} Fragmentos preservados atribuidos aos primeiros atomistas, como o transmitido por [[Galeno]], "''Por convenção doce, e por convenção amargo, por convenção quente, por convenção frio: na realidade átomos e vácuo''" (DK 68B9 = B125), demonstram a distinção colocada entre a percepção humana e a constituição própria das coisas, onde 'convenção' tem um sentido análogo ao de [[qualidade secundária]],{{Sfn|Gill|Pellegrin|2006|p=48}} como também o relativo ceticismo dos atomistas em relação ao conhecimento empírico.{{Sfn|Gill|Pellegrin|2006|p=49}}
==Atomistas gregos==
O atomismo grego se desenvolveu na Grécia do século V a.C.Os seus principais representantes são, sucessivamente, Demócrito (cerca de 460/360 a.C.) e Epicuro (341/270 a.C.), eles afirmavam que os menores componentes da matéria são corpúsculos indivisíveis em movimento em um vazio infinito.<ref name="TUNHAS2012">Paulo Abranches Tunhas. ''[http://books.google.com/books?id=5JF1oa9NhdkC&pg=PT41 História da Filosofia]''. Leya; 10 May 2012. ISBN 978-972-20-4932-0. p. 41.</ref>


O conceito de vácuo destaca-se pelas dificuldades filosóficas que carrega, dado que deve, para que a teoria tenha validade, ser tão real e conhecível quanto o átomo, ainda que as evidências apontem que os atomistas chamavam-o de 'não-ser' ou 'aquilo que não é', o que implica uma contradição de termos em contraste com a influência [[eleática]] do atomismo. Entretanto, outros fragmentos indicam que [[Demócrito]] verdadeiramente considerava o vácuo como existente (''hupostasis'') e dotado de uma natureza própria (''phusis''), e afirmava que um [[corpo]] não 'seria mais' que o vácuo.{{Sfn|Gill|Pellegrin|2006|p=48}} A ideia do vazio é essencial à teoria atomista, pois possibilita a ideia de movimento, a existência dos átomos enquanto unidades separadas, como também a dinâmica de corpos complexos - a [[doxografia]] testemunha que os atomistas explicavam a diferença de dureza e resistência dos metais como consequência do arranjo dos átomos que os contituem, diferindo por suas ligações mais ou menos esparsas; no mesmo sentido, é possível que [[Demócrito]] tenha afirmado que corpos macroscópicos tenham um tendência à se mover para o vácuo em razão da menor resistência oferecido, outra demonstração do efeito do vácuo na dinâmica dos corpos.{{Sfn|Gill|Pellegrin|2006|p=49}}
Segundo C. Tamagnone, Demócrito, um estudante de Leucipo, substitui o [[indeterminismo]] do movimento dos átomos pelo [[determinismo]].<ref>C.Tamagnone, ''Ateismo filosofico em mundo antigo'', (''religião, naturalismo, materialismo, atomismo. O nascimento da filosofia atea''), Florença, 2005, pp.141-197) Clinamen</ref> No entanto, para a maioria dos autores, não há, nos fragmentos preservados, como distinguir as teorias de Leucipo das de Demócrito. Para [[Demócrito]], o cosmo (o mundo e todas coisas, inclusive a alma) são formadas por um ''turbilhão de infinitos átomos'' de diversos formatos que jorram ao acaso e se chocam. Com o tempo, alguns se unem por suas características (às vezes, as formas dos átomos coincidentemente se encaixam como peças de quebra-cabeça) e muitos outros se chocam sem formar nada (porque as formas não se encaixam ou se encaixam fracamente). Dessa maneira, alguns conjuntos de átomos que se aglomeram tomam consistência e formam todas as coisas que conhecemos e depois se dissolvem no mesmo movimento turbilhonar dos átomos do qual surgiram.<ref name="ONFRAYSTAHEL">Michel Onfray; Monica Stahel. ''[http://books.google.com/books?id=L7R1PgAACAAJ Contra-História da Filosofia: As sabedorias antigas]''. Vol. I. Wmf Martins Fontes; ISBN 978-85-60156-63-4.</ref> O trabalho de Demócrito só sobrevive em relatos de segunda mão, alguns dos quais não são confiáveis ou são conflitantes. Grande parte da melhor evidência da teoria de atomismo de Demócrito é relatada por Aristóteles em suas discussões sobre Demócrito e suas visões contrastantes a Platão sobre os tipos de indivisíveis que compõem o mundo natural.<ref>Berryman, Sylvia, "Democritus", ''[[Stanford Encyclopedia of Philosophy|The Stanford Encyclopedia of Philosophy]]'' (Fall 2008 Edition), Edward N. Zalta (ed.), http://plato.stanford.edu/archives/fall2008/entries/democritus</ref>


==== Leucipo ====
Parmênides negou a existência de movimento, mudança e vazio. Ele acreditava que tudo o que existe, era um único, abrangente e imutável [[monismo]], e que a mudança e o movimento eram meras ilusões. Parmênides rejeitou explicitamente a experiência sensorial como um caminho para a compreensão do mundo, privilegiando a [[razão]] pura. Ele argumentou contra a existência do vazio, equiparando-a com o não-ser (ou seja, o nada).<ref name="From AtomosToAtom">{{citar livro|autor =Andrew G. van Melsen|ano=1952|título=From Atomos to Atom: The History and Concept of the Atom|isbn= 0-486-49584-1|publicado=Dover Publications|edição=Phoenix Editions.|local=Mineola, N.Y.}}</ref><ref name="History of Western Philosophy">{{citar livro|autor =Bertrand Russel|ano=1946|título=History of Western Philosophy|página=75|isbn=0-415-32505-6|publicado=Routledge|local=London}}</ref>
{{Excerto|Leucipo|apenas=parágrafo}}


===Geometria e átomos===
==== Demócrito ====
{{Excerto|Demócrito}}

==== Epicurismo ====
{{AP|vt=s|Epicurismo}}
O [[epicurismo]] (cujos representantes principais foram [[Epicuro]] e [[Lucrécio]]), que teve uma ampla difusão na antiguidade, foi influenciado pelo atomismo de Demócrito, mas com grandes mudanças. A principal diferença foi o abandono da ideia de turbilhão de átomos e a afirmação de que os átomos possuem peso e que, por isso, os átomos percorrem linhas retilíneas paralelas, tal como objetos em [[queda livre]]. Ocasionalmente, cada átomo exibe espontaneamente um desvio mínimo da linha reta indeterminado e imprevisível, desvio esse chamado ''clinamen''. Esse desvio mínimo é que explicaria o choque e encontro entre os átomos.
[[Imagem:Lucretius1.jpg|thumb|direita|[[Lucrécio]], filósofo epicurista latino, cuja obra ''[[De rerum natura]]'' serviu de referência do pensamento atomista na modernidade.]]
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==Na filosofia latina==
===Lucrécio===
{{AP|vt=s|Lucrécio}}

==No período medieval==
{{AP|vt=s|Filosofia medieval
==No período moderno==
{{AP|vt=s|Filosofia moderna}}
===Pierre Gassendi===
{{AP|vt=s|Pierre Gassendi}}

==Na contemporaneidade==
{{AP|vt=s|Filosofia contemporânea}}
===Novos materialismos===
{{AP|vt=s|Novos materialismos}}
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== Temas ==
=== Geometria e átomos ===


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Platão compôs sua teoria física sobre a constituição do universo baseando-se em um modelo geométrico, ele percebeu que uma teoria da natureza apenas aritmética era impossível e que era então preciso um novo método matemático para a descrição do mundo, assim, encorajou o desenvolvimento de um método geométrico que veio até mesmo a influenciar [[Euclides]]. A teoria platônica propôs uma versão geométrica para a teoria atômica, usando o [[triângulo]] como o elemento básico de seu modelo de partículas elementares e partir dele construiu os sólidos geométricos.<ref>{{Citar web |url=https://medienportal.univie.ac.at/presse/aktuelle-pressemeldungen/detailansicht/artikel/2000-atome-an-zwei-orten-gleichzeitig/ |titulo=2.000 Atome an zwei Orten gleichzeitig |acessodata=2020-07-26 |website=medienportal.univie.ac.at |lingua=de}}</ref> Cada elemento de [[Empédocles]] foi associado a um sólido geométrico em partícula, assim o cubo fora associado à terra por ser o mais imóvel dos quatro elementos; então pela ordem da estabilidade: o [[icosaedro]] à água, o octaedro ao ar e o tetraedro ao fogo.<ref name="Pires">Antonio S.T. Pires. ''[http://books.google.com/books?id=5TK6dDpQyVEC&pg=PA30 Evolução das Idéais da Fisica]''. Editora Livraria da Fisica; ISBN 978-85-88325-96-8. p. 30–31.</ref>
Platão compôs sua teoria física sobre a constituição do universo baseando-se em um modelo geométrico, ele percebeu que uma teoria da natureza apenas aritmética era impossível e que era então preciso um novo método matemático para a descrição do mundo, assim, encorajou o desenvolvimento de um método geométrico que veio até mesmo a influenciar [[Euclides]]. A teoria platônica propôs uma versão geométrica para a teoria atômica, usando o [[triângulo]] como o elemento básico de seu modelo de partículas elementares e partir dele construiu os sólidos geométricos.<ref>{{Citar web |url=https://medienportal.univie.ac.at/presse/aktuelle-pressemeldungen/detailansicht/artikel/2000-atome-an-zwei-orten-gleichzeitig/ |titulo=2.000 Atome an zwei Orten gleichzeitig |acessodata=2020-07-26 |website=medienportal.univie.ac.at |lingua=de}}</ref> Cada elemento de [[Empédocles]] foi associado a um sólido geométrico em partícula, assim o cubo fora associado à terra por ser o mais imóvel dos quatro elementos; então pela ordem da estabilidade: o [[icosaedro]] à água, o octaedro ao ar e o tetraedro ao fogo.<ref name="Pires">Antonio S.T. Pires. ''[http://books.google.com/books?id=5TK6dDpQyVEC&pg=PA30 Evolução das Idéais da Fisica]''. Editora Livraria da Fisica; ISBN 978-85-88325-96-8. p. 30–31.</ref>


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==Epicurismo==
O [[epicurismo]] (cujos representantes principais foram [[Epicuro]] e [[Lucrécio]]), que teve uma ampla difusão na antiguidade, foi influenciado pelo atomismo de Demócrito, mas com grandes mudanças. A principal diferença foi o abandono da ideia de turbilhão de átomos e a afirmação de que os átomos possuem peso e que, por isso, os átomos percorrem linhas retilíneas paralelas, tal como objetos em [[queda livre]]. Ocasionalmente, cada átomo exibe espontaneamente um desvio mínimo da linha reta indeterminado e imprevisível, desvio esse chamado ''clinamen''. Esse desvio mínimo é que explicaria o choque e encontro entre os átomos.





{{Referências|col=2}}








== Referências ==
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=== Bibliografia ===
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* {{citar livro |ultimo=Shields |primeiro=Christopher |data=2012 |titulo=Ancient Philosophy - A contemporary introduction |titulotrad= |url= |lingua=en |local= |editora=Routledge |isbn=978-0-415-89659-7}}
* {{citar livro |editor-sobrenome1=Shields |editor-nome1=Christopher |data=2003 |title=The Blackwell Guide to Ancient Philosophy |titulotrad= |url= |urlmorta= |formato= |lingua=en |local= |editora=Blackwell |isbn=978-0-631-22215-6 |arquivourl= |arquivodata= |via= |subscricao= |citacao=|ref=harv }}
* {{citar livro |editor-sobrenome1=Ierodiakonou |editor-nome1=Katerina |data=2002 |title=Byzantine Philosophy and its Ancient Sources |titulotrad= |url= |urlmorta= |formato= |lingua=en |local= |editora=Oxford University Press |isbn=|arquivourl= |arquivodata= |via= |subscricao= |citacao=|ref=harv }}
* {{citar livro |ultimo=Vesperini |primeiro=Pierre |data=2019 |titulo=La philosophie antique - Essai d'histoire|titulotrad= |url= |lingua=fr |local= |editora=Fayard |isbn=978-2-213-68007-1}}
* {{citar livro |ultimo=Dumond |primeiro=Jean-Paul |data=2012 |titulo=La philosophie antique |titulotrad= |url= |lingua=fr |local= |editora=Presses Universitaires de France|isbn=|ref=harv}}
* {{citar livro |ultimo=Mattéi |primeiro=Jean-François |data=2015 |titulo=La pensée antique|titulotrad= |url= |lingua=fr |local= |editora=Presses Universitaires de France|isbn=|ref=harv}}
* {{citar livro |editor-sobrenome1=Gill |editor-nome1=Mary Louise|editor-sobrenome2=Pellegrin |editor-nome2=Pierre |data=2006 |title=A companion to ancient philosophy|titulotrad= |url= |urlmorta= |formato= |lingua=en |local= |editora=Blackwell |isbn=|arquivourl= |arquivodata= |via= |subscricao= |citacao=|ref=harv }}
* {{citar livro |ultimo=Johansen |primeiro=Karsten Friis |data=1998 |titulo=A history of ancient philosophy: from the beginnings to Augustine|titulotrad= |url= |lingua=en |local= |editora=Routledge|isbn=|ref=harv}}
* {{citar livro |editor-sobrenome1=Warren |editor-nome1=James|editor-sobrenome2=Sheffield |editor-nome2=Frisbee |data=2014 |title=Routledge companion to ancient philosophy|titulotrad= |url= |urlmorta= |formato= |lingua=en |local= |editora=Routledge |isbn=|arquivourl= |arquivodata= |via= |subscricao= |citacao=|ref=harv }}
* {{citar livro |ultimo=Pullman |primeiro=Bernard |data=1998 |titulo=The Atom in the History of Human Thought|titulotrad= |url= |lingua=en |local= |editora=Oxford University Press|isbn=|ref=harv}}

* {{Citar Q|Q116601687}}

* {{Citar Q|Q116602061}}

* {{Citar Q|Q116602295}}

* {{Citar Q|Q116602572}}
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[[Categoria:Filosofia]]
[[Categoria:Filosofia]]

Edição atual tal como às 22h57min de 28 de janeiro de 2024

A ideia do Vórtice é um dos aspectos mais significativos do pensamento epicurista, que o considerava um ponto de convergência dos átomos para a formação dos mundos.

Atomismo (em grego clássico: ἄτομον atomon o que não pode ser cortado, indivisível[1][2][3]) é uma filosofia natural que se desenvolveu em várias tradições antigas. Os atomistas teorizaram que a natureza consiste em dois princípios fundamentais: átomo e vazio. Ao contrário de seu homônimo científico moderno em teoria atômica, os átomos filosóficos vêm em uma variedade infinita de formas e tamanhos cada uma delas sendo indestrutíveis, imutáveis e cercadas por um vazio onde colidem com os outros ou se reúnem em juntos formando arranjos. O aglomerado de diferentes formas, arranjos e posições dão origem a várias substâncias macroscópicas no mundo.[4][5]

Referências ao conceito de atomismo e seus átomos são encontrados na Índia antiga e Grécia Antiga. Na Índia as escolas atomistas Jainistas,[6][7] Ajivika e Carvaka remontam ao século VI a.C..[8] As escolas Nyaya e Vaisheshika desenvolveram teorias sobre como os átomos se combinavam para formar objetos mais complexos.[9] No Ocidente, o atomismo surgiu no século V a.C., com Leucipo e Demócrito.[10] A questão sobre se cultura indiana influenciou gregos ou vice-versa, ou se ambos evoluíram de forma independente ainda está em disputa.[11]

Atomismo grego antigo

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Ver também : Filosofia grega antiga

A teoria atomista se desenvolve em algum após a metade do século V a. c., por obra de Leucipo e Demócrito, cujas elaborações filosóficas são dificilmente separáveis nos registros transmitidos e preservados.[12] Sua formação conceitual guarda similaridades com as elaborações precedentes de Anaxagoras e Empédocles acerca da pluralidade de entidades irredutiveis, cujo movimento de composição e decomposição explica o movimento testemunhado no mundo dos fenômenos. Diferentemente desses filósofos, porém, o atomismo considera essas entidades como infinitas em número e indivisíveis, variando em forma, tamanho e possivelmente também em seu peso. Essas são particulas plenas e internamente unificadas, chamadas, por inspiração da teoria parmenideana do Ser, de 'aquilo que é', ou simplesmente Ser, que existem circulando no vácuo, chamado de vázio ou de não-ser. Esses dois conceitos formam a base simples do mundo, onde todo o resto decorre de suas misturas e composições.[13] Fragmentos preservados atribuidos aos primeiros atomistas, como o transmitido por Galeno, "Por convenção doce, e por convenção amargo, por convenção quente, por convenção frio: na realidade átomos e vácuo" (DK 68B9 = B125), demonstram a distinção colocada entre a percepção humana e a constituição própria das coisas, onde 'convenção' tem um sentido análogo ao de qualidade secundária,[14] como também o relativo ceticismo dos atomistas em relação ao conhecimento empírico.[15]

O conceito de vácuo destaca-se pelas dificuldades filosóficas que carrega, dado que deve, para que a teoria tenha validade, ser tão real e conhecível quanto o átomo, ainda que as evidências apontem que os atomistas chamavam-o de 'não-ser' ou 'aquilo que não é', o que implica uma contradição de termos em contraste com a influência eleática do atomismo. Entretanto, outros fragmentos indicam que Demócrito verdadeiramente considerava o vácuo como existente (hupostasis) e dotado de uma natureza própria (phusis), e afirmava que um corpo não 'seria mais' que o vácuo.[14] A ideia do vazio é essencial à teoria atomista, pois possibilita a ideia de movimento, a existência dos átomos enquanto unidades separadas, como também a dinâmica de corpos complexos - a doxografia testemunha que os atomistas explicavam a diferença de dureza e resistência dos metais como consequência do arranjo dos átomos que os contituem, diferindo por suas ligações mais ou menos esparsas; no mesmo sentido, é possível que Demócrito tenha afirmado que corpos macroscópicos tenham um tendência à se mover para o vácuo em razão da menor resistência oferecido, outra demonstração do efeito do vácuo na dinâmica dos corpos.[15]

Leucipo de Abdera[16] (em grego clássico: Λεύκιππος; primeira metade do século V a.C.) foi um filósofo grego. Tradicionalmente, Leucipo é considerado o mestre de Demócrito de Abdera e, talvez, o verdadeiro criador do atomismo (segundo a tese de Aristóteles), que relatava que uma matéria pode ser dividida até chegar a uma pequena partícula indivisível chamada átomo.

Demócrito de Abdera (em grego clássico: Δημόκριτος, Dēmokritos, "escolhido do povo"; ca. 460 a.C.370 a.C.) foi um filósofo pré-socrático da Grécia Antiga. Nasceu na cidade de Mileto ou Abdera, viajou pela Babilônia, Egito e Atenas, e se estabeleceu em Abdera no final do século V a.C.. Do ponto de vista filosófico, a maior parte de suas obras (segundo a doxografia) tratou da ética e não apenas da physis (cujo estudo caracterizava os pré-socráticos).

Demócrito foi discípulo e depois sucessor de Leucipo de Mileto. Sua fama decorre do fato de ele ter sido o maior expoente da teoria atômica ou do atomismo. De acordo com essa teoria, tudo o que existe é composto por elementos indivisíveis chamados átomos (do grego, "a", negação e "tomo", divisível. Átomo= indivisível). Não há certeza se a teoria foi concebida por ele ou por seu mestre Leucipo, e a ligação estreita entre ambos dificulta a identificação do que foi pensado por um ou por outro. Todavia, parece não haver dúvidas de ter sido Demócrito quem de fato sistematizou o pensamento e a teoria atomista. Demócrito avançou também o conceito de um universo infinito, onde existem muitos outros mundos como o nosso.

Embora amplamente ignorado em Atenas durante sua vida, a obra de Demócrito foi bastante conhecida por Aristóteles, que a comentou extensivamente. É famosa a anedota de que Platão detestava tanto Demócrito que queria que todos os seus livros fossem queimados.[17][18] Séculos mais tarde, na era moderna, filósofos marxistas contraporão o materialismo de Demócrato contra o idealismo de Sócrates. Há anedotas segundo as quais Demócrito ria e gargalhava de tudo e dizia que o riso torna sábio,[19][20] o que o levou a ser conhecido, durante o renascimento, como "o filósofo que ri".

Na Grécia Antiga, Protágoras de Abdera teria sido seu discípulo direto[21] e, posteriormente, o principal filósofo influenciado por ele foi Epicuro. No Renascimento, muitas de suas ideias foram aceitas (por, por exemplo, Giordano Bruno) e tiveram um papel importante durante o Iluminismo. Muitos consideram que Demócrito é "o pai da ciência moderna".[22]
Ver também : Epicurismo

O epicurismo (cujos representantes principais foram Epicuro e Lucrécio), que teve uma ampla difusão na antiguidade, foi influenciado pelo atomismo de Demócrito, mas com grandes mudanças. A principal diferença foi o abandono da ideia de turbilhão de átomos e a afirmação de que os átomos possuem peso e que, por isso, os átomos percorrem linhas retilíneas paralelas, tal como objetos em queda livre. Ocasionalmente, cada átomo exibe espontaneamente um desvio mínimo da linha reta indeterminado e imprevisível, desvio esse chamado clinamen. Esse desvio mínimo é que explicaria o choque e encontro entre os átomos.

Lucrécio, filósofo epicurista latino, cuja obra De rerum natura serviu de referência do pensamento atomista na modernidade.

Geometria e átomos

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Elemento Poliedro Faces Triângulos
Fogo Tetraedro

(Animação)

Tetrahedron 4 24
Ar Octaedro

(Animação)

Octahedron 8 48
Água Icosaedro

(Animação)

Icosahedron 20 120
Terra Cubo

(Animação)

Hexahedron (cube) 6 24
Corpos geométricas simples, de acordo com Platão,Timeu[23]

Platão compôs sua teoria física sobre a constituição do universo baseando-se em um modelo geométrico, ele percebeu que uma teoria da natureza apenas aritmética era impossível e que era então preciso um novo método matemático para a descrição do mundo, assim, encorajou o desenvolvimento de um método geométrico que veio até mesmo a influenciar Euclides. A teoria platônica propôs uma versão geométrica para a teoria atômica, usando o triângulo como o elemento básico de seu modelo de partículas elementares e partir dele construiu os sólidos geométricos.[24] Cada elemento de Empédocles foi associado a um sólido geométrico em partícula, assim o cubo fora associado à terra por ser o mais imóvel dos quatro elementos; então pela ordem da estabilidade: o icosaedro à água, o octaedro ao ar e o tetraedro ao fogo.[25]







  1. ἄτομον. Liddell, Henry George; Scott, Robert; A Greek–English Lexicon no Perseus Project
  2. «atom». Online Etymology Dictionary 
  3. O termo "atomismo" é registrado no Inglês desde 1670/1680 (Random House Webster's Unabridged Dictionary, 2001, "atomism").
  4. Aristotle, Metaphysics I, 4, 985b 10–15.
  5. Berryman, Sylvia, "Ancient Atomism", The Stanford Encyclopedia of Philosophy (Fall 2008 Edition), Edward N. Zalta (ed.), http://plato.stanford.edu/archives/fall2008/entries/atomism-ancient/
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  19. Cartas do Pseudo-Hipócrates, IV, XXXII, século I dC
  20. Seneca, de Ira, ii.10; Aelian, Varia Historia, iv.20.
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  24. «2.000 Atome an zwei Orten gleichzeitig». medienportal.univie.ac.at (em alemão). Consultado em 26 de julho de 2020 
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