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{{Info/República Romana}}
'''República Romana''' ({{langx|la|''Res Publica Romana''}}) foi um período da [[Roma Antiga|antiga civilização romana]] onde o governo operou como uma [[república]]. Começou com a [[Reino de Roma|queda da monarquia]], tradicionalmente datada cerca de {{AC|509|x}}, e sua substituição pelo governo chefiado por dois [[Cônsul (Roma Antiga)|cônsules]], [[Eleições na República Romana‎|eleitos anualmente]] pelos cidadãos e aconselhados pelo [[Senado romano|senado]]. Uma complexa constituição gradualmente foi desenvolvida, centrada nos princípios de uma separação dos poderes e de freios e contrapesos. Exceto em tempos de terrível emergência nacional, ofícios públicos foram limitados por um ano, de modo que, em teoria ao menos, nenhum indivíduo exercesse poder absoluto sobre seus concidadãos.

A sociedade era hierárquica. A evolução da [[constituição da República Romana]] foi pesadamente influenciada pela luta entre os [[patrícios]], aristocratas proprietários de terra, que traçaram sua ancestralidade no início da história do Reino de Roma, e os [[plebeus]], os cidadãos muito mais numerosos. Com o tempo, as leis que deram aos patrícios direitos exclusivos de acesso aos mais altos ofícios foram revogadas e enfraquecidas, e as principais famílias plebeias tornaram-se membros plenos da aristocracia. Os líderes da república desenvolveram uma forte tradição e moralidade que exigia serviço público e [[patrocínio na Roma Antiga|patrocínio]] na paz e na guerra, tornando os sucessos políticos e militares indissociáveis.

Durante os primeiros dois séculos de sua existência a república expandiu-se através de uma combinação de conquista e aliança, da Itália central para a [[península Itálica]] inteira. Pelo século seguinte, incluía o [[Norte da África]], a [[Península Ibérica]], [[Grécia]], e o que é hoje o sul da [[França]]. Dois séculos após isso, em direção ao fim do {{-séc|I}}, incluía o resto da moderna França, e muito do [[Mediterrâneo Oriental]]. Por esta altura, apesar das restrições tradicionais e legais da república contra qualquer aquisição individual de poderes políticos permanentes, a política foi dominada por um pequeno número de líderes romanos, com suas alianças pontuadas por uma série de [[Guerras civis romanas|guerras civis]]. O vencedor de uma destas guerras civis, Otaviano (mais tarde conhecido como [[Augusto]]) reformou a república como um [[principado]], com ele mesmo como o "primeiro cidadão" ([[príncipe (Roma Antiga)|príncipe]]; ''princeps''). O senado continuou a sentar e debater. Magistrados anuais foram eleitos como antes, mas as decisões finais em assuntos de política, guerra, diplomacia e nomeações foram privilégios de Augusto através de seu manejo de um número de separados poderes simultaneamente. Um de seus muitos títulos foi ''imperator'' do qual o título "imperador" derivou, e é costumeiramente chamado o primeiro [[imperador romano]].

A República Romana nunca foi restaurada, mas também nunca foi formalmente abolida (o termo ''res publica'' continuou a ser usado para referir-se ao aparato do Estado), assim a data exata da transição para o [[Império Romano]] é um assunto de interpretação. Historiadores variadamente propuseram a nomeação de [[Júlio César]] como [[ditador perpétuo]] em {{AC|44|x}}, a derrota de [[Marco Antônio]] na [[Batalha de Ácio]] em {{AC|31|x}}, e a concessão de poderes extraordinários para Otaviano sob o primeiro assentamento e sua adoção do título de [[Augusto (título)|Augusto]] em {{AC|27|x}}, como o evento que define o fim da república.

== História política ==
{{AP|História da Constituição da República Romana|Lista de cônsules da República Romana}}
=== Era patrícia ({{AC|509–367|x}}) ===
De acordo com a lenda, {{lknb|Tarquínio,|o Soberbo}} foi derrubado em {{AC|509|x}} por um grupo de nobres liderado por [[Lúcio Júnio Bruto]]. Diz-se que Tarquínio fez uma série de tentativas para retomar o trono, incluindo a [[Conspiração Tarquiniana]],{{sfn|Lívio|27-25 a.C.|p=II.5}} a [[Guerras romano-etruscas|guerra]] com [[Veios]] e [[Tarquinia]]{{sfn|Lívio|27-25 a.C.|p=II.6–7}} e finalmente a [[Guerra contra Clúsio (508 a.C.)|guerra entre Roma e Clúsio]],{{notaNT|O conflito entre Roma e [[Clúsio]] deu-se quando [[Lars Porsena]] pretendeu invadir Roma. Para isso ele ameaçou invadi-la via [[ponte Sublícia]], sendo que há discordância nas fontes clássicas quanto ao resultado do conflito: enquanto a versão mais difundida alegou que Porsena foi repelido pelos esforços romanos, há outra na qual diz-se que o líder etrusco conseguiu, de fato, tomar Roma. E partindo desta segunda interpretação, autores como Tim Cornell consideram plausível que a monarquia tenha sido derrubada com a conquista de Porsena.{{sfn|Cornell|2008|p=21}}}} todas infrutíferas. A monarquia histórica, como a lenda sugere, foi provavelmente derrubada rapidamente, mas as mudanças constitucionais que ocorreram imediatamente após possivelmente não foram tão extensas como sugerido. A mais importante mudança talvez seja do chefe executivo. Antes, um rei era eleito pelos senadores para um mandato vitalício. Agora, dois cônsules eram eleitos pelos cidadãos para um mandato anual.{{sfn|Abbott|1901|p=25}} Cada cônsul verificaria seu colega, e o mandato limitado deles possibilitava que fossem acusados se abusassem dos poderes de seu ofício. Os poderes políticos consulares, quando exercidos conjuntamente, não foram diferentes daqueles do antigo rei.{{sfn|Abbott|1901|p=26}}

Em {{AC|494|x}}, a cidade estava em guerra com duas tribos vizinhas. Os soldados plebeus recusaram-se a marchar contra o inimigo, e em vez disso se [[Primeira secessão da plebe em 494 a.C.|separaram]] para o [[monte Aventino]]. Os plebeus exigiram o direito de eleger seus próprios oficiais. Os patrícios concordaram, e eles retornaram ao campo de batalha.{{sfn|Abbott|1901|p=28}} Os plebeus chamaram seus novos oficiais "[[Tribuno da plebe|tribunos da plebe]]". Os tribunos teriam dois assistentes, chamados "[[Edil|edis da plebe]]". De {{AC|375|x}} a {{AC|371|x}}, a república experimentou uma crise constitucional durante a qual os tribunos da plebe usaram seus votos para impedir a eleição de magistrados seniores. Em {{AC|367|x}}, uma lei foi aprovada, na qual exigiu-se a [[Eleições na República Romana‎|eleição]] de ao menos um edil plebeu cada ano. Em {{AC|443|x}}, o [[Censor romano|censor]] foi criado, e em {{AC|366|x}}, o [[pretor]]. Também em {{AC|366|x}}, edil curul foi criado.{{sfn|Abbott|1901|p=37}}

Logo após a fundação da república, a [[assembleia das centúrias]] tornou-se a principal assembleia legislativa. Nesta assembleia, magistrados foram eleitos, e leis foram aprovadas.{{sfn|Abbott|1901|p=257}} Durante o {{-séc|IV}}, uma série de reformas ocorreu, especialmente depois das sucessivas [[secessão da plebe|secessões da plebe]]. O resultado delas foi que qualquer lei aprovada pela [[assembleia da plebe]] teria toda a força da lei.{{sfn|Abbott|1901|p=49}} Isto deu aos tribunos, que presidiam a assembleia da plebe, um caráter positivo pela primeira vez, uma vez que, antes destas leis, o único poder que mantinham foi do [[veto]].{{sfn|Holland|2005|p=26}}

=== Conflitos das ordens ({{AC|367–287|x}}) ===

{{AP|Conflito das ordens}}

Os plebeus viviam uma crise em decorrência do endividamento. De acordo com [[Tito Lívio]], essa crise foi acelerada após o saque de Roma pelos gauleses (ca. {{AC|390-387|x}}). Contínuos protestos eclodiram, dentro os quais o liderado por [[Marco Mânlio Capitolino]] que, embora patrício, aliou-se aos plebeus, cujas dívidas ajudou a pagar com sua fortuna. Ao longo do século os distúrbios sociais tornaram-se frequentes e desencadearam desordens, como aquelas de {{AC|378|x}}, e a anarquia de {{AC|370|x}} Em decorrência do crescente descontentamento da classe plebeia, uma série de leis foram promulgadas com a finalidade de tratar a situação. A [[lei Licínia Sêxtia]] de {{AC|367|x}} serviu para acelerar o pagamento de dívidas e impôs um limite à acumulação de terras públicas (''[[ager publicus]]'') por cada ''[[pater familias]]'', bem como o número e ovelhas e gado que podia pastar nelas enquanto outras, promulgadas em 357, 352 e {{AC|347|x}}, tentaram reduzir e regularizar os tipos de juros.<ref name=Corn36 /> Pouco depois, em {{AC|342|x}}, a [[lei Genúcia]] determinou a ilegalidade de empréstimos a juros{{sfn|Abbott|1901|p=43}}{{sfn|Tito Lívio|27-25 a.C.|p=VII.42}} e em {{AC|326|x}}, a escravidão por dívidas (nexo), foi suprimida.<ref name=Corn36 />

Após o edil plebeu ter sido criado, os patrícios criaram o edil curul.{{sfn|Abbott|1901|p=42-43}} Depois do consulado ter sido aberto aos plebeus em {{AC|367|x}}, os plebeus foram capazes de manter tanto a ditadura ({{AC|356|x}}) como a censura ({{AC|351|x}}).{{sfn|name=Corn36|Cornell|2008|p=36}} Plebiscitos de {{AC|342|x}} colocaram limites nos cargos políticos; um indivíduo podia manter apenas um ofício de cada vez, e dez anos deviam decorrer entre o fim de seu mandato oficial e sua reeleição. Em {{AC|337|x}}, o primeiro pretor plebeu foi eleito.{{sfn|Abbott|1901|p=42}} Durante estes anos, os tribunos e os senadores ficaram cada vez mais próximos. O senado percebeu a necessidade de usar os oficiais plebeus para atingir seus objetivos.{{sfn|Abbott|1901|p=44}} Para conquistar os tribunos, os senadores deram a eles uma grande quantidade de poder e os tribunos começaram a se sentir sujeitados ao senado. Com a aproximação dos senadores e tribunos, os senadores plebeus foram frequentemente capazes de assegurar o tribunato para membros de suas próprias famílias. Com o tempo, o tribunato tornou-se um trampolim para cargos mais altos.{{sfn|Abbott|1901|p=45}}

Em meados do {{-séc|IV}}, a assembleia da plebe promulgou a [[lei Ovínia]]. Durante o início da república, apenas cônsules nomeavam novos senadores. A lei Ovínia, contudo, deu este poder aos censores. Ela também exigiu que o censor nomeasse qualquer magistrado recém-eleito para o senado.{{sfn|Abbott|1901|p=46}} Por este momento, os plebeus já estavam mantendo um número significativo de cargos magisteriais. Assim, o número de senadores plebeus provavelmente aumentou rapidamente. Contudo, permaneceu difícil para um plebeu entrar no senado se ele não era de uma família de políticos conhecidos, como a nova aristocracia plebeia emergente.{{sfn|Abbott|1901|p=47}} A antiga nobreza existiu pela força da lei, porque apenas patrícios foram autorizados a ficar em altos cargos. A nova nobreza existiu devido à organização da sociedade. Como tal, apenas uma revolução poderia derrubar esta nova estrutura.{{sfn|name=Abbo48|Abbott|1901|p=48}}

Por {{AC|287|x}}, a condição econômica do plebeu médio tornou-se miserável. O problema parece ter sido centrado em torno da dívida generalizada. Os plebeus exigiram assistência, mas os senadores se recusaram a deliberar a situação deles. O resultado foi a [[Terceira secessão da plebe em 287 a.C.|última secessão plebeia]]. Os plebeus se separaram para o monte [[Janículo]]. Para o fim da secessão, [[Quinto Hortênsio]] foi nomeado ditador e uma lei (a [[lei Hortênsia]]), que pôs fim à exigência a qual os senadores patrícios deviam concordar antes que qualquer projeto de lei pudesse ser considerado pela [[assembleia da plebe]].{{sfn|Abbott|1901|p=52}} Esta não foi a primeira lei a exigir que um ato da assembleia popular tivesse a mesma força da lei. A assembleia popular adquiriu este poder durante uma modificação da original [[Lex Valeria Horatia de plebiscitis|lei Valeriana]] em {{AC|449|x}}.{{sfn|Abbott|1901|p=51}} O significado desta lei foi, de fato, que ela roubou dos patrícios a última arma que tinham contra os plebeus e, como resultado, o controle do Estado caiu, não para os ombros dos eleitores, mas para a nova nobreza plebeia.{{sfn|Abbott|1901|p=53}} Os plebeus finalmente conseguiram igualdade política com os patrícios. Contudo, a condição da classe plebeia média não mudou. Um pequeno número de famílias plebeias alcançou a mesma posição que as antigas famílias aristocráticas patrícias sempre tiveram, mas os novos aristocratas plebeus tornaram-se desinteressados na condição da classe plebeia média como os antigos aristocratas patrícios tinham sempre feito.<ref name=Abbo48 />

=== Supremacia da nova nobreza ({{AC|287-133|x}}) ===

A lei Hortênsia foi a solução da última grande questão política desta época. Nenhuma mudança política importante ocorreu entre {{AC|287|x}} e {{AC|133|x}}.{{sfn|Abbott|1901|p=63}} As importantes leis deste momento foram promulgadas pelo senado.{{sfn|Abbott|1901|p=65}} De fato, os plebeus estavam satisfeitos com a posse do poder, mas não se preocuparam em usá-lo. O senado foi supremo durante este momento porque o período foi dominado por questões de política estrangeira e militar.{{sfn|Abbott|1901|p=66}} Nas décadas finais desta era, muitos plebeus ficaram mais pobres. As longas campanhas militares forçaram os cidadãos a deixarem suas fazendas para lutar, enquanto suas propriedades caíram em desuso. A aristocracia rural começou a comprar fazendas falidas a preços promocionais. Como os preços das ''commodities'' caíram, muitos fazendeiros já não podiam mais operar suas fazendas com lucro.{{sfn|Abbott|1901|p=77}} O resultado foi a falência total de muitos agricultores. Massas de plebeus desempregados logo começaram a inundar [[Roma]] e, assim, as fileiras das assembleias legislativas. A pobreza deles geralmente levou-os a votar para a candidato que lhes oferecesse mais. Uma nova cultura de dependência estava emergindo, na qual cidadãos olhariam por qualquer líder populista por auxílio.{{sfn|Abbott|1901|p=80}}

=== Dos Gracos a Júlio César ({{AC|133–49|x}}) ===

{{AP|Crise da República Romana}}

==== Os Gracos ====

{{AP|Gracos}}

[[Imagem:Brisset Caïus Gracchus.JPG|thumb|upright=1.1|''[[Caio Graco]]'', <small>por [[Pierre-Nicolas Brisset]], na [[École des Beaux-Arts|Escola Nacional Superior de Belas Artes]] </small>]]

[[Tibério Graco]] foi eleito [[tribuno]] em {{AC|133|x}} Ele tentou aprovar uma lei que limitaria a quantidade de terra que qualquer indivíduo poderia possuir. Os aristocratas, que estavam a perder uma grande quantia em dinheiro, foram opositores ferrenhos a esta proposta. Tibério apresentou esta lei a assembleia popular, mas a lei foi vetada por um tribuno chamado [[Marco Otávio]]. Tibério então usou a assembleia popular para contestar Otávio. A ideia que um representante do povo deixaria de sê-lo quando agisse contra os desejos do povo era contra a teoria constitucional romana. Se levada à sua conclusão lógica, esta teoria removeria todas as restrições constitucionais sobre a vontade popular, e colocaria o Estado sob o controle absoluto de uma temporária maioria popular.{{sfn|Abbott|1901|p=96}} Sua lei foi promulgada, mas Tibério foi assassinado com 300 de seus associados, quando pôs-se à reeleição para o tribunato.{{sfn|name=Bish6|Bishop|2014|p=6}}

O irmão de Tibério, [[Caio Graco]], foi eleito tribuno em {{AC|123|x}}. O objetivo de Caio Graco era enfraquecer o senado e fortalecer as forças democráticas.{{sfn|Abbott|1901|p=97}} No passado, por exemplo, o senado eliminaria rivais políticos através da criação de comissões judiciais especiais ou por meio de um ''[[senatus consultum ultimum]]'' ("decreto supremo do senado"). Ambos os dispositivos permitiam ao senado contornar os direitos ordinários devido a direitos processuais que todos os cidadãos tinham. Caio proibiu as comissões judiciais, e declarou o ''senatus consultum ultimum'' como inconstitucional. Caio então propôs uma lei que garantia cidadania a aliados [[italiotas]]. Esta última proposta não foi popular com os plebeus e ele perdeu muito de seu apoio.{{sfn|Stobart|1978|p=75-82}} Ele candidatou-se a um terceiro mandato em {{AC|121|x}}, mas foi derrotado e então morto por representantes do senado com {{fmtn|3000}} de seus partidários no [[monte Capitolino]], em Roma.<ref name=Bish6 /> Embora o senado tenha mantido o controle, os Gracos fortaleceram a influência política dos plebeus.{{sfn|Abbott|1901|p=98}}

==== ''Populares'' e ''optimates'' ====

{{AP|Populares|Optimates}}

[[Imagem:Sulla Coin2.jpg|thumb|upright=1.1|Um [[denário]] emitido em {{AC|56|x}} mostrando no [[anverso]] o busto da deusa [[Diana (mitologia)|Diana]], e no [[reverso]] o general [[Sula]] a quem está sendo oferecido uma oliveira por seu aliado [[Boco I]] com seu cativo [[Jugurta]] ajoelhado ao lado de Sula com suas mãos atadas]]

Em {{AC|118|x}}, o rei [[Micipsa]] da [[Numídia]] morreu. Foi sucedido por dois filhos legítimos, [[Aderbal da Numídia|Aderbal]] e [[Hiempsal I]], e um ilegítimo, [[Jugurta]]. Micipsa dividiu seu reino entre seus três filhos. Jugurta, contudo, voltou-se contra seus irmãos, matando Hiempsal I e expulsando Aderbal da Numídia. Aderbal fugiu para Roma em busca de assistência, e inicialmente ela mediou a divisão do país entre os dois irmãos. Posteriormente, Jugurta renovou sua ofensiva, levando-o a uma longa e inconclusiva guerra com os romanos. Ele também subornou vários comandantes romanos, e ao menos dois tribunos, antes e durante a guerra. Seu inimigo, [[Caio Mário]], um [[legado]] de uma família provincial virtualmente desconhecida, retornou da guerra na Numídia e foi eleito cônsul em {{AC|107|x}} sobre as objeções dos senadores aristocráticos. Mário invadiu a Numídia e levou a guerra a um rápido fim, capturando Jugurta no processo. A aparente incompetência do senado, e o brilho de Mário, teria sido posto em plena exibição.{{sfn|Abbott|1901|p=100}} O partido dos ''[[populares]]'' aproveitou esta oportunidade, aliando-se com Mário.{{sfn|Roberts|2006|p=319}}

Vários anos depois, em {{AC|88|x}}, um exército romano foi enviado para acabar com um poder asiático emergente, o rei [[Mitrídates VI do Ponto]]. O exército, contudo, foi derrotado. Um dos antigos [[questor]]es de Mário, [[Sula]], foi eleito cônsul no ano, e foi ordenado pela senado para assumir o comando da guerra contra Mitrídates. Mário, um membro do partido dos ''populares'', fez um tribuno revogar o comando de Sula na guerra contra Mitrídates. Sula, um membro do partido aristocrático (''optimates''), trouxe seu exército de volta para a Itália e [[Guerras civis de Sula|marchou sobre Roma]]. Ele estava tão nervoso com o tribuno de Mário que aprovou uma lei destinada a enfraquecer permanentemente o tribunato.{{sfn|Abbott|1901|p=103}} Ele então retornou para sua guerra contra Mitrídates. Com sua partida, os ''populares'' sob Mário e [[Lúcio Cornélio Cina]] tomaram controle da cidade.{{sfn|name=Corn64|Cornell|2008|p=64}}

Sula logo fez paz com Mitrídates. Em {{AC|83|x}}, retornou para Roma, superou toda a resistência, e recapturou a cidade. Ele e seus partidários, em seguida, mataram muitos dos partidários de Mário. Sula, tendo observado os resultados violentos das reformas populares radicais, foi naturalmente conservador. Como tal, procurou fortalecer a aristocracia, e por extensão, o senado.{{sfn|Abbott|1901|p=104}} Fez-se ditador, aprovou uma [[Reformas constitucionais de Sula|série de reformas constitucionais]], demitiu-se da ditadura, e serviu um último mandato como cônsul. Morreu em {{AC|78|x}}.<ref name=Corn64 />

==== Pompeu, Crasso e a conspiração de Catilina ====

{{AP|Segunda Conspiração de Catilina}}

[[Imagem:Bust of Cicero (1st-cent. BC) - Palazzo Nuovo - Musei Capitolini - Rome 2016.jpg|thumb|esquerda|upright=0.7|''[[Cícero]]'', <small>busto datado do {{-séc|I}}, [[Museus Capitolinos]]</small>]]

Em {{AC|77|x}}, o senado enviou um dos antigos tenentes de Sula, [[Cneu Pompeu Magno]], para acabar com uma revolta na [[Hispânia]]. Por {{AC|71|x}}, Pompeu retornou para Roma após ter completado sua missão. Cerca do mesmo tempo, outro dos antigos tenentes de Sula, [[Crasso]], teve que controlar a revolta de [[Espártaco]] e dos [[gladiador]]es/[[Escravidão na Roma Antiga|escravos]] na Itália. Após o regresso deles, Pompeu e Crasso encontraram os ''populares'' ferozmente atacando a constituição de Sula.{{sfn|Abbott|1901|p=108}} Eles tentaram forjar um acordo com os ''populares''. Na condição de desmantelarem os componentes mais abomináveis da constituição, ambos foram eleitos cônsules em {{AC|70|x}}.{{sfn|Abbott|1901|p=109}}

Cerca de {{AC|66|x}}, um movimento para usar meios constitucionais, ou ao menos pacíficos, para resolver a situação de várias classes começou.{{sfn|Abbott|1901|p=109-110}} Após vários fracassos, os líderes do movimento decidiram usar todos os meios que fossem necessários para realizar os objetivos deles. O movimento se uniu sob um aristocrata chamado [[Lúcio Sérgio Catilina]]. O movimento estava baseado na cidade de [[Fésulas]], que foi um viveiro natural de agitação agrária.{{sfn|Abbott|1901|p=110}} Os descontentes do campo estavam para avançar sobre Roma,{{sfn|name=Abbo111|Abbott|1901|p=111}} e serem auxiliados por um levante dentro da cidade. Após assassinar os cônsules e muitos dos senadores, Catilina seria livre para aprovar suas reformas. A conspiração foi colocada em movimento em {{AC|63|x}} O cônsul do ano, [[Cícero]], interceptou mensagens que Catilina havia enviado numa tentativa de recrutar mais membros. Como resultado, os principais conspiradores em Roma (incluindo ao menos um cônsul anterior) foram executados por autorização (de constitucionalidade duvidosa) do senado, e o levante planejado foi interrompido.{{sfn|Biblioteca Latina|2017}} Cícero então enviou um exército, que cortou as forças de Catilina em pedaços.{{sfn|name=Corn68|Cornell|2008|p=68}}

O resultado mais importante da conspiração de Catilina foi que os ''populares'' tornaram-se desacreditados. Os 70 anos anteriores testemunharam uma gradual erosão dos poderes senatoriais. A natureza violenta da conspiração, em conjunção com a habilidade do senado em interrompê-la, foi importante para reparara imagem do senado.<ref name=Abbo111 />

==== Primeiro Triunvirato ====

{{AP|Primeiro Triunvirato}}

[[imagem:Bust of an unknown citizen in the realist republican tradition (Louvre MR 510).jpg|thumb|esquerda|upright=0.7|[[Crasso]], <small>busto no [[Louvre]]</small>]]
[[imagem:Pompeius.JPG|thumb|esquerda|upright=0.7|[[Pompeu]], <small>busto na [[Gliptoteca Ny Carlsberg]]</small>]]

Em {{AC|62|x}}, Pompeu retornou vitorioso da Ásia. O senado, eufórico por seus sucessos contra Catilina, recusou-se a ratificar os acordos que ele havia feito. Pompeu, na verdade, tornou-se impotente. Assim, quando [[Júlio César]] retornou de seu governo na Hispânia em {{AC|61|x}}, ele achou fácil fazer chegar a um entendimento. César e Pompeu, junto com Crasso, estabeleceram um acordo privado, agora conhecido como [[Primeiro Triunvirato]]. Sob o acordo, os arranjos de Pompeu seriam ratificados. César seria eleito cônsul em {{AC|59|x}}, e então serviria como governador da Gália por cinco anos. A Crasso foi prometido um consulado futuro.{{sfn|name=Abbo112|Abbott|1901|p=112}}

César tornou-se cônsul em {{AC|59|x}} Seu colega no cargo, [[Marco Calpúrnio Bíbulo]], era um aristocrata extremo. César submeteu as leis que ele tinha prometido a Pompeu para as assembleias. Bíbulo tentou obstruir a promulgação destas leis, e assim César usou meios violentos para assegurar a promulgação.<ref name=Abbo112 /> César foi então feito governador de três províncias. Ele facilitou a eleição do antigo patrício [[Públio Clódio Pulcro]] para o tribunato em {{AC|58|x}} Clódio começou a privar os inimigos senatoriais de César dos dois líderes mais obstinados deles, {{lknb|Catão,|o Jovem}} e Cícero. Clódio foi um opositor de Cícero, pois o último tinha testemunhado contra ele em um caso de sacrilégio. Clódio tentou Cícero a executar cidadãos sem julgamento durante a conspiração de Catilina, resultando em um exílio auto-imposto de Cícero e o incendiamento de sua casa em Roma. Clódio aprovou uma lei que forçou Catão a liderar uma invasão do [[Chipre]] que manteria-o fora de Roma por alguns anos. Clódio também aprovou uma lei para expandir o subsídio parcial de grãos aos cidadãos para uma distribuição totalmente livre.{{sfn|Abbott|1901|p=113}}

Clódio formou grupos armados que aterrorizaram a cidade e posteriormente começaram a atacar os seguidores de Pompeu, que em resposta fundou grupos de contra-ataque liderados por [[Tito Ânio Papiano Milão]]. A aliança política do triunvirato estava desmoronando. [[Lúcio Domício Enobarbo (cônsul em 54 a.C.)|Domício Enobarbo]] correu para o consulado em {{AC|55|x}}, prometendo tomar o comando de César. Posteriormente, o triunvirato foi renovado em [[Luca]]. A Pompeu e Crasso foi prometido o consulado de {{AC|55|x}}, e o mandato de César como governador foi estendido por cinco anos. Crasso liderou uma expedição malfadada com legiões lideradas por seu filho, o tenente de César, contra o [[Império Parta]]. Isto resultou em sua derrota e morte na [[batalha de Carras]]. Finalmente, a esposa de Pompeu, Júlia, que foi filha de César, morreu no parto. Este evento cortou o último laço remanescente entre Pompeu e César.{{sfn|Cornell|2008|p=69}}

Começando no verão de {{AC|54|x}}, uma onda de corrupção política e violência varreu Roma.{{sfn|Abbott|1901|p=114}} Este caos alcançou um clímax em janeiro de {{AC|52|x}}, quando Clódio foi assassinado em batalha por Tito Milão. Em 1 de janeiro de {{AC|49|x}}, um agente de César apresentou um ultimato ao senado. O ultimato foi rejeitado, e o senado então passou uma resolução que declarou que se César não entregasse seus exércitos até julho daquele ano, seria considerado um inimigo da república.{{sfn|Abbott|1901|p=115}} No meio tempo, os senadores adotaram Pompeu como o nome campeão deles contra César. Em 7 de janeiro de {{AC|49|x}}, o senado aprovou um ''[[senatus consultum ultimum]]'', que investiu Pompeu com poderes ditatoriais. O exército de Pompeu, contudo, era composto largamente de recrutas não treinados. Em 10 de janeiro, César cruzou o [[rio Rubicão]] com seu exército veterano (em violação das leis romanas) e marchou em direção a Roma. O rápido avanço de César forçou Pompeu a fugir para a Grécia. César entrou na cidade sem oposição.{{sfn|name=Corn71|Cornell|2008|p=71}}

=== O período de transição ({{AC|49-29|x}}) ===

==== Ditadura de Júlio César ====

{{AP|Júlio César|Liberatores}}

[[Imagem:Rimini083.jpg|thumb|upright=0.7|''[[Júlio César]]'', <small>estátua de bronze em [[Rimini]]</small>]]

Com Pompeu derrotado e a ordem restaurada, Júlio César queria conseguir o controle incontestável sobre o governo. Os poderes que deu a si mesmo foram mais tarde assumidos por seus sucessores imperadores. César manteve a ditadura e o tribunato, e alternou entre o consulado e o [[Procônsul|proconsulado]].{{sfn|Abbott|1901|p=134}} Em {{AC|48|x}}, César recebeu poderes tribunícios perpétuos. Isto fez sua pessoa sacrossanta, deu a ele o poder do [[veto]] no senado, e permitiu-lhe dominar a assembleia popular. Em {{AC|46|x}}, recebeu poderes censoriais,{{sfn|Abbott|1901|p=135}} que usou para preencher o senado com seus próprios partidários. César então elevou a composição do senado para 900.{{sfn|name=Abbo137|Abbott|1901|p=137}} Isto roubou o prestígio da aristocracia senatorial, e tornou-a cada vez mais subserviente a ele. Enquanto as assembleias continuaram a se encontrar, ele apresentou todos os candidatos para eleição e todas as leis para promulgação. Assim, as assembleias tornaram-se impotentes e foram incapazes de opor-se a ele.{{sfn|Abbott|1901|p=138}}

Próximo do fim de sua vida, César começou a se preparar para uma guerra contra o [[Império Parta]]. Uma vez que sua ausência em Roma limitaria sua habilidade de instalar seus próprios cônsules, ele aprovou uma lei que o permitiu nomear todos os magistrados em {{AC|43|x}}, e todos os cônsules e tribunos em {{AC|42|x}} Isto transformou os magistrados de representantes do povo para representantes do ditador.<ref name=Abbo137 />

César [[Assassinato de Júlio César|foi assassinado]] em 15 de março de {{AC|44|x}}. O assassinato foi liderado por [[Caio Cássio Longino|Caio Cássio]] e [[Marco Júnio Bruto|Marco Bruto]]. Muitos dos conspiradores foram senadores, que tinham uma variedade de motivações econômicas, políticas e pessoais para realizar o assassinato. Muitos estavam receosos que César logo ressuscitaria a monarquia e declararia a si próprio rei. Outros temiam perda de propriedade e prestígio com César realizando reformas agrárias em favor das classes sem-terra. Virtualmente todos os conspiradores deixaram a cidade após a morte de César com receio de retaliação. A guerra civil que se seguiu destruiu o que havia sido deixado da república.{{sfn|Abbott|1901|p=133}} Apesar das facções terem redes de espionagem fortes, isso não ajudou [[Júlio César]] a evitar o atentado efetuado pelo senado.<ref>[http://www.bbc.com/news/magazine-24749166 Roman Empire to the NSA: A world history of government spying]</ref>

==== Segundo Triunvirato e ascensão de Otaviano ====

{{AP|Segundo Triunvirato|Augusto}}

[[Imagem:Statue-Augustus.jpg|thumb|upright=0.7|''[[Augusto de Prima Porta]]'', <small>[[Museus Vaticanos]]</small>]]

Após o assassinato, [[Marco Antônio]] formou uma aliança com o filho adotivo e sobrinho-neto de César, [[Otaviano|Caio Otaviano]]. Junto com [[Lépido|Marco Lépido]], formaram uma aliança conhecida como segundo Triunvirato.{{sfn|Goldsworthy|2004|p=237}} Mantiveram poderes quase idênticos aos que César havia mantido sob sua constituição. Como tal, o senado e as assembleias permaneceram impotentes, mesmo após César ter sido assassinado. Os conspiradores foram então derrotados na [[batalha de Filipos]] em {{AC|42|x}} Posteriormente, contudo, Antônio e Otaviano lutaram um contra o outro numa última batalha. Antônio foi derrotado na [[batalha de Ácio]] em {{AC|31|x}}, e cometeu suicídio com seu amor, [[Cleópatra]].{{sfn|Cornell|2008|p=73-74}} Em {{AC|29|x}}, Otaviano retornou para Roma como um mestre incontestado do império e depois aceitou o título de Augusto - "Exaltado".{{sfn|Killinger|2002|p=33}}

Em {{AC|27|nl}}, após devolver ao senado a autoridade para com as legiões e as províncias,{{sfn|Eck|2003|p=45}} Otaviano recebeu o título de [[Augusto (título)|Augusto]] e [[príncipe (Roma Antiga)|príncipe]] (''princeps''), ou seja, de primeiro cidadão.{{sfn|Eck|2003|p=50}}{{sfn|name=Corn74|Cornell|2008|p=74}} Mesmo depois de ter recebido várias recusas de outros títulos por parte de Otaviano, conhecido a partir de então como Augusto, tais como o de [[ditador]] e o de [[Cônsul (Roma Antiga)|cônsul]] vitalício, o senado concedeu-lhe o poder de ''imperium'' vitalício. Este último cedia a Augusto o controle sobre todas as [[Legião romana|legiões]] existentes na república, elevando-o ao posto de [[imperador romano|imperador]], apesar de as instituições republicanas romanas continuarem existindo.<ref>[http://www.worldcat.org/title/senate-of-the-roman-republic-addresses-on-the-history-of-roman-constitutionalism/oclc/255101651 The Senate of the Roman Republic: Addresses on the History of Roman Constitutionalism] por Robert C Byrd publicado por "US Gov. Print. Off., 1995"</ref>

== História militar ==

{{AP|História militar da Roma Antiga|Exército da Roma Antiga}}

=== Antecedentes ===

{{AP|Reino de Roma}}

Durante o [[Reino de Roma|período real]], Roma se caracterizava como uma reduzida povoação cujas relações exteriores limitavam-se a guerras locais e pequenas disputas com seus vizinhos. Nos primeiros anos de sua existência, seu território se estendia por cerca de 7 quilômetros em todas as direções e media por volta de 150 quilômetros quadrados. Porém, ainda durante o período monárquico, seus domínios foram substancialmente expandidos: sob [[Túlio Hostílio]] {{nwrap|r.|673|642}} [[Alba Longa]] foi subjugada e sob [[Anco Márcio]] {{nwrap|r.|640|616}} as fronteiras foram expandidas em direção a costa.{{sfn|Cornell|2008|p=27}} Pelo reinado de [[Sérvio Túlio]] {{nwrap|r.|578|535}}, Roma já havia se tornado a principal cidade do [[Lácio]], econômica e militarmente. Abrangia uma área aproximada de 285 hectares e possuía uma população estimada de {{fmtn|30000}} habitantes. Estima-se que por {{AC|500|x}}, já como uma república, teria uma área de 822 quilômetros quadrados sob seu controle. Estudos estatísticos acerca do nível provável de produtividade apontam que tal área poderia abrigar uma população entre {{fmtn|30000}} e {{fmtn|45000}} habitantes, o que confirma as suposições acerca da população durante o reinado de Sérvio Túlio.{{sfn|name=Corn28|Cornell|2008|p=28}}

=== República Precoce ({{AC|509–274|x}}) ===

{{AP|Conquista romana da Itália}}

==== Primeiras campanhas italianas ({{AC|509-396|x}}) ====

{{AP|Primeira Guerra Latina}}

[[Imagem:Roma Antiga - 500 a.C..svg|thumb|esquerda|upright=0.75|Localização dos povos e cidades vizinhas de Roma]]
[[Imagem:BattleOfLakeRegillus.jpg|thumb|esquerda|upright=0.75|''[[Castor e Pólux]] lutando na [[batalha do Lago Regilo]]'', <small>ilustração de [[John Reinhard Weguelin|J.R. Weguelin]] para o livro ''[[Lays of Ancient Rome]]'', de [[Thomas Macaulay]]</small>]]

As primeiras guerras da República Romana foram de expansão e defesa, no sentido de defendê-la de cidades e nações vizinhas e estabelecer seu território na região.{{sfn|Grant|1978|p=33}} Inicialmente, os vizinhos imediatos de Roma foram [[Latinos|cidades e vilas latinas]],{{sfn|name=FloroI.11|Floro|século I/II|p=I.11}} ou mesmo [[Sabinos|tribos sabinas]] das [[Apeninos|colinas Apeninas]] e além. De acordo com um tratado entre Roma e [[Cartago]] datado de {{AC|509|x}} e preservado pelo historiador grego [[Políbio]], nos primeiros anos da república, os romanos não só mantinham várias possessões no Lácio como intercediam pelos latinos. Tudo indica que tal tratado represente uma tentativa do novo regime romano de conseguir ser reconhecido e, ao mesmo tempo, reafirmar a hegemonia romana no Lácio. Porém, os latinos, se aproveitando da temporária fragilidade de Roma, uniram-se em torno de uma renovada [[Liga Latina]], na qual os romanos foram excluídos. Logo isso levaria-os a um conflito que culminou na [[batalha do Lago Regilo]] de {{AC|499|x}} ou {{AC|496|x}},{{sfn|Tito Lívio|27-25 a.C.|p=II.19-21}}<ref name=FloroI.11 />{{sfn|Grant|1978|p=37}}{{sfn|Tito Lívio|1998|p=89}} na qual os latinos foram derrotados. Essa vitória resultou no [[Tratado de Cássio]] (''Foedus Cassianum'') de {{AC|494/493|x}}, redigido pelo cônsul [[Espúrio Cássio]].<ref name=Corn28 />

No {{-séc|V}}, o Lácio tornou-se alvo de incursões de sabinos, [[équos]] e [[volscos]], no contexto da expansão das populações do centro e sul dos Apeninos. Os sabinos, que foram esporadicamente documentados em meados do {{-séc|V}}, não foram considerados uma ameaça em potencial, ao contrário dos équos e volscos que viriam, inclusive, a ameaçar Roma como a história romântica de [[Caio Márcio Coriolano]] revela. Tais incursões levariam os romanos a realizarem, em {{AC|486|x}}, uma [[Guerras romano-hérnicas|aliança tripartite]] com os latinos e [[hérnicos]].{{sfn|name=Corn29|Cornell|2008|p=29}} Além disso, confrontaram-se com os invasores na [[batalha do Monte Álgido]] em {{AC|458|x}}, onde angariaram uma decisiva vitória contra os équos, e na [[Batalha de Corbião]] em {{AC|446|x}},{{sfn|Dião Cássio|século III|p=VII.17}}{{sfn|name=Maty13|Matyszak|2004|p=13}} onde derrotaram os volscos e os équos;{{sfn|Heritage History|2017}} neste mesmo ano, também derrotaram, na [[batalha de Arícia]], uma invasão dos [[auruncos]].{{sfn|Tito Lívio|1998|p=96}}

O {{-séc|V}} também presenciou o antagonismo entre romanos e a cidade-estado etrusca de [[Veios]]. Veios estava situada ca. 15 quilômetros de Roma, num planalto rochoso, do qual controlava uma área que estendia-se ao longo da margem direita do Tibre até a costa. Tudo indica que o conflito tenha sido gerado pelo interesse de ambas as potências regionais no controle das ribeiras salgadas na desembocadura do rio e as rotas comerciais que dirigiam-se para o interior através do vale do Tibre. Ao longo do século vários conflitos foram relatados, podem dentre eles os mais importantes são a [[batalha do Crêmera]] de {{AC|477|x}},{{sfn|Grant|1978|p=41}}{{sfn|name=FloroI.12|Floro|século I/II|p=I.12}} na qual os romanos foram derrotados, a [[conquista de Fidenas]] em {{AC|435|x}}, um entreposto de Veios, e o [[cerco de Veios]] de {{AC|396|x}}, que terminaria com a conquista e destruição da cidade.<ref name=Maty13 /><ref name=FloroI.12 />{{sfn|Grant|1978|p=42}}{{sfn|Dião Cássio|século III|p=VII.20}}

==== Invasão celta da Itália ({{AC|390–387|x}}) ====

[[Imagem:Paul Jamin - Le Brenn et sa part de butin 1893.jpg|thumb|upright=0.7|''Breno e sua parte dos despojos'', <small>por [[Paul Jamin]]</small>]]

{{AP|Batalha do Ália}}

Por {{AC|390|x}}, várias tribos gaulesas começaram a invadir a Itália pelo norte a medida que a cultura celta expandiu-se pela [[Europa]]. Os romanos foram alertados disso quando a tribo particularmente guerreira{{sfn|name=Grant44|Grant|1978|p=44}} dos [[sênones]]{{sfn|name=FloroI.13|Floro|século I/II|p=I.13}} invadiu a cidade etrusca de [[Clúsio]].{{sfn|name=PenncapIX|Pennell|1894|loc=Cap. IX para. 2}} Clúsio não estava longe da esfera de influência romana e solicitou ajuda. O chamado foi atendido e os exércitos encontraram-se na [[batalha do Ália]]<ref name=FloroI.13 /> ca. {{AC|390-387|x}}, em 18 de julho.{{sfn|Cornell|2008|p=30}} Os gauleses, sob o chefe deles [[Breno (século IV a.C.)|Breno]], derrotou o exército romano de ca. {{fmtn|15000}}<ref name=Grant44 /> soldados e começaram a perseguir os sobreviventes em direção a Roma, saqueando-a{{sfn|Tito Lívio|1998|p=329}}{{sfn|Fox|2005|p=283}} antes de serem expulsos<ref name=FloroI.13 />{{sfn|Tito Lívio|1998|p=330}} ou comprados.<ref name=Grant44 /><ref name=PenncapIX />

==== Expansão romana na Itália ({{AC|343–282|x}}) ====

{{AP|Guerras Samnitas|Segunda Guerra Latina}}

Após se recuperarem do saque de Roma, os romanos organizaram, em {{AC|378|x}}, a construção de uma grande muralha, da qual ainda há vestígios. Dai, continuaram as investidas contra os volscos e équos, estabeleceram as colônias de [[Sútrio]] e [[Népete]] (algum momento após a partida dos gauleses), [[Sátrico]] ({{AC|385|x}}) e [[Sécia]] ({{AC|382|x}}), concederam a cidadania à [[Túsculo]] em {{AC|381|x}}, e renovaram seu tratado com os latinos e hérnicos em {{AC|358|x}} Por {{AC|354|x}}, os romanos assinaram um novo tratado com os [[samnitas]] e em {{AC|348|x}}, com Cartago.{{sfn|Cornell|2008|p=34}}

Por {{AC|343|x}}, o tratado romano-samnita foi rompido e a [[Primeira Guerra Samnita]] eclodiu. Travada entre {{AC|343-341|x}}, teria sido ocasionada por invasões samnitas em território romano,{{sfn|Pennell|1894|loc=Cap. IX para. 8}} tendo sido relativamente curta: os romanos derrotaram os samnitas nas batalhas de [[batalha do Monte Gauro|Monte Gauro]], [[Batalha de Satícula|Satícula]] e [[Batalha de Suéssula|Suéssula]] em {{AC|343|x}}, mas foram forçados a se retirarem da guerra quando uma revolta de várias cidades latinas tomou forma.{{sfn|Grant|1978|p=48}}{{sfn|Pennell|1894|loc=Cap. IX para. 13}} Com o fim da guerra, os romanos restabelecerem seu acordo com os samnitas. Em {{AC|340|x}}, ambos participaram da [[Segunda Guerra Latina]] contra os revoltosos e seus aliados [[campanienses]], [[sidicinos]], volscos e auruncos. Os romanos os superaram na [[batalha do Vesúvio (340 a.C.)|batalha do Vesúvio]] e novamente na [[batalha de Trifano]], após as quais as cidades latinas foram subjugadas.{{sfn|Grant|1978|p=49}}{{sfn|Pennell|1894|loc=Cap. IX para. 14}} O tratado de paz de {{AC|338|x}} teve como consequência a desintegração da Liga Latina, a submissão dos latinos como aliados independentes e a incorporação dos demais povos envolvidos diretamente ao Estado na condição de comunidades semi-independentes ([[município romano|município]]).{{sfn|Cornell|2008|p=36}}

[[Imagem:Roma em 338 a.C..svg|thumb|esquerda|upright=1|Território romano em {{AC|338|x}}]]

A [[Segunda Guerra Samnita]], ocorrida entre {{AC|327-304|x}}, foi motivada pelo estabelecimento da colônia romana de [[Frégelas]] em {{AC|328|x}}. Os romanos obtiveram um êxito inicial em {{AC|326|x}}, quando o governante de [[Neápolis (Nápoles)|Neápolis]] chamou-os em ajuda depois de repelir os samnitas que haviam [[Captura de Neápolis|capturado a cidade]]. Após combates inconclusivos, os romanos foram obrigados a se render na [[Batalha de Forcas Caudinas]] em {{AC|321|x}}. Uma trégua foi firmada na qual Frégelas foi cedida e as hostilidades foram interrompidas até {{AC|316|x}} Em {{AC|316|x}}, o conflito foi retomado com uma invasão samnita no Lácio, e os romanos foram derrotados na [[batalha de Láutulas]] em {{AC|315|x}} No ano seguinte, após saquearem o território latino até [[Árdea]], os samnitas foram derrotados e Frégelas foi reconquistada em {{AC|313|x}} Em {{AC|305|x}}, os samnitas foram derrotados na [[batalha de Boviano]], o que levou ao fim do conflito. Nos decorreres da [[Segunda Guerra Samnita]], os romanos foram obrigados a travar guerra em duas frentes. Em {{AC|311|x}}, uma invasão liderada por cidades da [[Etrúria]] e [[Úmbria]] foi repelida, com uma expedição punitiva sendo realizada. Em {{AC|306|x}}, uma [[Guerra Hérnica|revolta dos hérnicos]] foi sufocada e a capital deles, [[Anâgnia]], foi incorporada como cidade sem sufrágio. Mais tarde, os romanos conseguiram subjugar os [[marrucinos]], [[frentanos]], [[marsos (italiotas)|marsos]] e [[vestinos]], que foram convertidos em aliados.{{sfn|name=Corn37|Cornell|2008|p=37}}

Em {{AC|304|x}}, um assédio foi realizado nos territórios dos équos, que foram conquistados e deixaram de existir como povo independente. Em {{AC|302|x}}, uma campanha foi realizada no território etrusco. Em {{AC|298|x}}, os samnitas ergueram-se novamente e derrotaram os romanos na [[batalha de Camerino]], dando início a [[Terceira Guerra Samnita]]. Em {{AC|295|x}}, um exército samnita foi enviado ao norte onde uniu forças com tropas etruscas, úmbrias e gaulesas{{sfn|Grant|1978|p=53}} e enfrentou os romanos na [[batalha de Sentino]],{{sfn|Fox|2005|p=290}} porém a coalizão foi decisivamente derrotada. Como consequência da derrota, os romanos invadiram [[Sâmnio]] e conseguiram a paz em {{AC|290|x}}. Os samnitas foram submetidos como aliados e perderam sua independência. Neste mesmo ano, o cônsul [[Mânio Cúrio Dentato]] subjugou os latinos, que tornaram-se cidadãos sem sufrágio. Ao longo da década seguinte, os romanos alcançaram vitórias contra os gauleses e submeteram etruscos e úmbrios como aliados.<ref name=Corn37 />

==== Guerra Pírrica ({{AC|280-275|x}}) ====

{{AP|Guerras Pírricas}}

[[Imagem:Pyrrhic War Italy PioM pt.svg|thumb|esquerda|Itinerário de Pirro]]

Por {{AC|280|x}}, com sua posição assegurada na Itália Central, Roma passou a envolver-se nos assuntos das cidades-Estado gregas da [[Magna Grécia]], primeiro auxiliando [[Túrios]] contra uma investida dos [[lucanos]], e depois protegendo [[Lócris Epicefíria]], [[Régio]] e [[Crotona]]. A medida que a presença romana tornou-se mais intensa, [[Taranto]] resolveu agir, confrontando-os na [[batalha de Túrios]], de {{AC|280|x}}, que terminou em uma vitória romana. Como rescaldo do confronto, Taranto solicitou o auxílio do rei [[Pirro]] do [[Reino do Epiro|Epiro]], que desembarcou na Itália no mesmo ano com {{fmtn|25000}} homens e 20 [[Elefante de guerra|elefantes de guerra]]. No primeiro conflito, a [[batalha de Heracleia]] de {{AC|280|x}},{{sfn|Grant|1978|p=78}} os epirotas conseguiram uma vitória. Depois, Pirro marchou em direção a Roma, porém, nas imediações de [[Anâgnia]], preferiu retroceder em direção a Ásculo,{{sfn|name=Corn39|Cornell|2008|p=39}} onde uma [[Batalha de Ásculo|nova batalha]] tomou forma e os romanos foram derrotados.{{sfn|Floro|século I/II|p=I.18}}{{sfn|Fox|2005|p=305}}{{sfn|name=Grant79|Grant|1978|p=79}}

Mesmo tendo vencido os romanos por duas vezes, as baixas de Pirro foram altas e, para deixar sua posição instável, não conseguiu auxílio de outras cidades-Estado gregas. Em {{AC|278|x}}, o exército epirota invadiu a Sicília, onde os gregos solicitaram a ajuda de Pirro contra Cartago.{{sfn|Fox|2005|p=306}} Após poucos ganhos, retornou para a Itália em {{AC|275|x}}, onde confrontou-se novamente com os romanos na [[batalha de Malevento]],{{notaNT|A batalha também é comumente referida como batalha de Benevento, pois foi nesta ocasião que Malevento foi rebatizada como [[Benevento]]<ref name=Corn39 />}}<ref name=Grant79 /> onde sofreu uma derrota que o levou a abandonar a península. Com a partida de Pirro, os romanos investiram contra a Magna Grécia.{{sfn|Fox|2005|p=307}} Tarento foi sitiada e tomada em {{AC|272|x}}.<ref name=Corn39 />

=== República Média ({{AC|274-146|x}}) ===

==== Guerras Púnicas ({{AC|264-146|x}}) ====

{{AP|Guerras Púnicas}}

[[Imagem:Punic wars-pt.svg|thumb|upright=1|Primeira e Segunda Guerras Púnicas]]

A expansão fora do território da [[península Itálica]] teve início com as [[Guerras Púnicas]] contra [[Cartago]], [[cidade-Estado]] [[fenícios|fenícia]] localizada no [[Norte da África]], que por volta do {{-séc|III}} dominava o comércio do [[Mediterrâneo]]. A partir deste momento, começa a fase verdadeiramente histórica de Roma, cujos acontecimentos possuem registros documentados pelo historiador grego [[Políbio]], que conviveu com os protagonistas romanos do conflito.{{sfn|Havell|2003|p=544}} A [[Primeira Guerra Púnica]] começou em {{AC|264|x}}, quando assentamentos na [[Sicília]] começaram a apelar aos dois poderes - Roma e Cartago - de modo a resolver conflitos internos.{{sfn|Cantor|2004|p=152}} A guerra se iniciou com batalhas campais na Sicília, mas o teatro mudou para batalhas navais em torno da Sicília e [[África]]. Antes da Primeira Guerra Púnica, os romanos não possuíam uma marinha. A nova guerra na Sicília contra Cartago, um grande poder naval,{{sfn|Pennell|1894|loc=Cap. XII para. 14}} forçou Roma a rapidamente construir uma frota e treinar marinheiros.{{sfn|Fox|2005|p=309}}

As primeiras batalhas navais foram desastres catastróficos para Roma. Contudo, após treinar mais marinheiros e investir em mecanismos de [[:wikt:arpéu|arpéu]],{{sfn|Goldsworthy|2001|p=113}} uma frota cartaginesa foi derrotada, e mais vitórias se seguiram.{{sfn|Goldsworthy|2001|p=84}} Os cartagineses então contrataram [[Xantipo (general)|Xantipo]], um general mercenário [[esparta]]no, para reorganizar e liderar o exército deles.{{sfn|Goldsworthy|2001|p=88}} Ele conseguiu cortar o exército romano de sua base e restabelecer a supremacia naval cartaginesa. Com suas capacidades navais recém-descobertas, os romanos então confrontaram os cartagineses numa nova batalha, a [[batalha das Ilhas Égadas]] de {{AC|241|x}}, que foram derrotados. Privada de sua marinha, e sem fundos para criar outra, Cartago pediu a paz.{{sfn|Goldsworthy|2001|p=128}} Com a derrota cartaginesa, Roma tornou-se senhora da Sicília. Pouco depois, fragilizada, Cartago ingressaria numa guerra contra seus mercenários, que rebelaram-se. Aproveitando-se dessa instabilidade, os romanos invadiram a [[Córsega]] e a [[Sardenha]] e conquistaram ambas. Após consolidarem sua posição nas recém-conquistadas possessões mediterrâneas, os romanos marcharam ao norte da Itália, onde os gauleses voltaram a trazer problemas. Nos anos que se seguiram, expandiram seus domínios em direção ao [[vale do Pó]], chegando a conquistarem, em {{AC|222|x}}, [[Mediolano]], e a começaram a integração da [[Gália Cisalpina]] à Itália romana.{{sfn|Cornell|2008|p=43-44}}

[[Imagem:Marco Porcio Caton Major.jpg|thumb|esquerda|upright=0.6|"Portanto, creio que Cartago deve ser destruída", frase atribuída a {{lknb|Catão,|o Velho}}{{notaNT|{{langx|la|''Ceterum censeo Carthaginem delendam esse''}}}}]]
A contínua desconfiança entre Roma e Cartago levou a novas hostilidades na [[Segunda Guerra Púnica]], quando [[Aníbal]], um membro da [[família bárcida]] da nobreza cartaginesa, atacou [[Sagunto]],{{sfn|Goldsworthy|2004|p=29}}{{sfn|Matyszak|2004|p=25}} uma cidade com laços diplomáticos com Roma.{{sfn|Pennell|1894|loc=Cap. XIII para. 15}} Aníbal então preparou um exército na [[Ibéria]] e, em {{AC|218|x}}, [[Travessia dos Alpes por Aníbal|atravessou os Alpes]] italianos com [[elefante de guerra|elefantes]] para invadir a Itália.{{sfn|name=Cantor153|Cantor|2004|p=153}}{{sfn|Matyszak|2004|p=27}} Auxiliado por tropas gaulesas, conseguiu derrotar no mesmo ano os romanos em duas batalhas e avançar pela península. Prosseguindo em sua marcha, confrontou-se com os romanos nos anos posteriores, uma delas em [[Batalha de Canas|Canas]], uma das maiores derrotas da história romana.{{sfn|Matyszak|2004|p=27}} Depois de Canas, Aníbal obteve novas vitórias e adquiriu territórios no sul da Itália, bem como conseguiu a lealdade de várias povoações em [[Cápua]] e [[Apúlia]]. Além disso, conseguiu forjar alianças com ex-aliados romanos, dentre eles Tarento, por {{AC|212|x}}, assim como com o rei de [[Siracusa]] e [[Filipe V da Macedônia|Filipe V]] da [[Macedônia Antiga|Macedônia]].{{sfn|name=Corn47|Cornell|2008|p=47}} Embora tendo firmado várias alianças com os poderes italianos, a situação de Aníbal começou a esfacelar-se nos anos seguintes, em especial pela mudança da tática romana, que privilegiou, ao invés de batalhas abertas, o combate numa [[guerra de exaustão]]. Com isso, os romanos, não só passaram a gradualmente retomar os territórios perdidos, como chegaram a saquear Siracusa em {{AC|211|x}}, esmagaram uma revolta geral na Sicília e impediram o avanço cartaginês na Ibéria mediante uma série de expedições. Além disso, conseguiram destruir completamente o exército cartaginês que havia invadido a Itália pelos Alpes sob [[Asdrúbal]].<ref name=Cantor153 /> Por {{AC|204|x}}, por ainda não serem capazes de expulsar Aníbal da Itália, os romanos lançaram uma expedição na África, com intuito de atacar Cartago. Após derrotarem um exército cartaginês, Aníbal se viu forçado a retornar para a África onde confrontou-os na [[batalha de Zama]] de {{AC|203|x}}, que terminou numa decisiva vitória romana. Isso levou Cartago a pedir a paz.<ref name=Corn47 />

Cartago nunca conseguiu se recuperar após a Segunda Guerra Púnica{{sfn|Pennell|1894|loc=Cap. XV para. 24}} e a [[Terceira Guerra Púnica]] que se seguiu foi na verdade uma simples missão punitiva para arrasar Cartago.{{sfn|Goldsworthy|2001|p=338}} Cartago estava quase indefesa e quando sitiada ofereceu rendição imediata, acatando uma série de exigências romanas.{{sfn|name=Gold339|Goldsworthy|2001|p=339}} Os romanos recusaram a rendição, exigindo como termos complementares à rendição a destruição completa da cidade e, vendo pouco a perder,{{sfn|Floro|século I/II|p=II.15}} os cartagineses se prepararam para lutar.<ref name=Gold339 /> Na [[Batalha de Cartago (146 a.C.)|batalha de Cartago]] de {{AC|146|x}}, a cidade foi invadida após um curto cerco e completamente destruída.{{sfn|Cantor|2004|p=154}}

==== Macedônia, pólis gregas e Ilíria ({{AC|229-146|x}}) ====
{{AP|Guerras Macedônicas|Guerras Ilíricas|Guerra contra Nábis|Guerra Etólia|Guerra Acaia}}
[[Imagem:Map Macedonia 200 BC-pt.svg|thumb|upright=1|Grécia ca. {{AC|200|x}}]]
Em {{AC|229|x}}, em decorrência da pirataria praticada pelos ilírios no Adriático, os romanos [[Primeira Guerra Ilírica|lançaram uma expedição]] à [[Reino da Ilíria|Ilíria]] contra a rainha [[Teuta de Ilíria|Teuta]]. A esta se seguiram duas guerras, a [[Primeira Guerra Ilírica|primeira]] entre {{AC|229-228|x}}, e a [[Segunda Guerra Ilírica|segunda]] entre {{AC|221-219|x}}, que tiveram como resultado a humilhação dos ilírios e a conquista romana de diversas cidades gregas da costa.{{sfn|name=Corn50|Cornell|2008|p=50}} Estes eventos preocuparam Filipe V da Macedônia que em {{AC|215|x}} aliou-se com Aníbal.{{sfn|Matyszak|2004|p=47}}{{sfn|Grant|1978|p=115}} Em resposta, os romanos aliaram-se com a [[Liga Etólia]] e deram início a [[Primeira Guerra Macedônica]] ({{AC|215-205|x}}). Por ainda estarem ocupados com Aníbal na Itália, pouco fizeram neste conflito que foi marcado por operações limitadas, essencialmente lideradas pelos gregos. Temendo serem derrotados pelo número reduzido de efetivos disponível, optaram pela paz em {{AC|205|x}}.<ref name=Corn50 />

A Macedônia começou a invadir o território reivindicado pelas cidades-Estado gregas em {{AC|200|x}} e estes estados pediram ajuda a Roma. Ela deu a Filipe um ultimato para que ele submetesse várias porções da Grande Macedônia e desistisse de seus projetos na Grécia. Ele recusou, e os romanos declararam guerra, dando início a [[Segunda Guerra Macedônica]].{{sfn|Matyszak|2004|p=49}} Finalmente, em {{AC|197|x}}, Filipe foi decisivamente derrotado na [[batalha de Cinoscéfalos]]{{sfn|Grant|1978|p=117}} e forçado a aceitar um tratado favorável. Nos anos subsequentes, os romanos entrariam em guerra contra [[Guerra contra Nábis|Esparta]],{{sfn|Matyszak|2004|p=51}} a [[Guerra Etólia|Liga Etólia]],{{sfn|Floro|século I/II|p=II.9}} os [[Guerra Istriana|istrianos]],{{sfn|Floro|século I/II|p=II.10}} os [[Terceira Guerra Ilírica|ilírios]]{{sfn|Floro|século I/II|p=II.13}} e a [[Guerra Aqueia|Liga Aqueia]].{{sfn|Floro|século I/II|p=II.16}} Roma então voltou sua atenção para um dos reinos gregos, o [[Império Selêucida]], no Oriente. Uma força romana derrotou os selêucidas na [[Batalha das Termópilas (191 a.C.)|batalha das Termópilas]] e forçou-os a evacuar a Grécia. Os romanos então perseguiram-nos além da Grécia, derrotando-os decisivamente na [[batalha de Magnésia]].{{sfn|Grant|1978|p=119}}{{sfn|Fox|2005|p=326}}

Em {{AC|179|x}}, Filipe morreu{{sfn|name=Grant120|Grant|1978|p=120}} e seu filho, [[Perseu da Macedônia|Perseu]], tomou o trono e mostrou um interesse renovado na Grécia.{{sfn|Goldsworthy|2004|p=75}} Roma declarou guerra à Macedônia novamente, dando início a [[Terceira Guerra Macedônica]]. Perseu inicialmente teve alguns sucessos, contudo, os romanos responderam enviando outro exército forte. O segundo exército consular decisivamente derrotou os macedônios na [[batalha de Pidna]] em {{AC|168|x}},<ref name=Grant120 />{{sfn|Goldsworthy|2004|p=92}} fazendo-os capitular, o que concluiu a guerra.{{sfn|Matyszak|2004|p=53}} O Reino da Macedônia foi dividido em quatro repúblicas clientes.{{sfn|Adkins|1998|p=117}} A [[Quarta Guerra Macedônica]], travada entre {{AC|150-148|x}}, teve como justificativa a luta contra o pretendente ao trono macedônica e a tentativa de restabelecer o antigo reino. Os macedônios foram rapidamente derrotados na segunda [[batalha de Pidna (148 a.C.)|batalha de Pidna]]. A [[Liga Aqueia]] escolheu este momento para se rebelar contra o domínio romano, mas foi derrotada.{{sfn|Paterculus|2011|p=6}} [[Corinto]] foi sitiada e destruída em {{AC|146|x}}, o mesmo ano da destruição de Cartago, o que levou a rendição da liga.{{sfn|Sacks|1995|p=67}}{{sfn|Cornell|2008|p=51}}

==== Expansão na Gália e Hispânia ({{AC|204-133|x}}) ====

[[Imagem:Conquista Hispania Simplificado-pt.svg|thumb|upright=1|Representação simplificada da conquista da Hispânia]]

Após a derrota dos cartagineses durante a Segunda Guerra Púnica, os romanos puderam retomar sua expansão pela Gália Cisalpina. Por {{AC|203|x}}, sistematicamente conquistaram a região, dominando as tribos locais, reforçando suas antigas possessões e estabelecendo colônias latinas. Em {{AC|187|x}}, construíram a [[via Emília]], que acabou dando seu nome a região. Por {{AC|178-177|x}}, lançaram uma expedição contra a [[Ístria]] e em {{AC|175|x}}, marcharam contra as tribos da [[Ligúria]] e do norte dos Apeninos.{{sfn|name=Corn48|Cornell|2008|p=48}}

Concomitante à expansão na Gália, os romanos empreenderam a gradual conquista da [[Hispânia]]. Com base nas províncias da [[Hispânia Citerior]] e [[Hispânia Ulterior]], ambas criadas nos ex-territórios cartagineses, expedições foram lançadas em direção ao interior. Em {{AC|197|x}}, uma revolta eclodiu na Hispânia Ulterior e que em pouco tempo espalhou-se para o território das tribos interioranas. Uma guerra eclodiu e ela só seria concluída por {{AC|179|x}}, quando [[Tibério Semprônio Graco (cônsul em 177 a.C.)|Tibério Semprônio Graco]] pacificou a província e chegou a um acordo com os [[celtiberos]]. Mais tarde, entre {{AC|154-138|x}}, os romanos ingressaram na [[Guerra Lusitana]] contra [[Viriato]] e as [[lusitanos|tribos lusitanas]], que se concluiu com o assassinato de Viriato por 3 companheiros dele;{{sfn|Matyszak|2004|p=61}} paralelo à guerra com Viriato, Roma enfrentou outra guerra, entre {{AC|153-151|x}}, contra os celtiberos. Por {{AC|143|x}}, uma rebelião liderada pelos celtiberos eclodiu e uma nova guerra se iniciou. Esta, concluída em {{AC|133|x}}, teve como momento decisivo a [[Cerco de Numância|destruição romana]] da cidade de [[Numância]].<ref name=Corn48 />

=== República Tardia ({{AC|146-27|x}}) ===

==== Inquietação interna ({{AC|135-71|x}}) ====

{{AP|Guerras Servis|Guerra Social (91–88 a.C.)}}

Entre {{AC|135-71|x}}, houve três revoltas contra o Estado romano, conhecidas como Guerras Servis, a última das quais com possível envolvimento de {{fmtn|120000}}{{sfn|Apiano|século II|loc=I.117}} a {{fmtn|150000}}{{sfn|Santosuosso|2003|p=43}} escravos. Além disso, em {{AC|91|x}}, a [[Guerra Social (91–88 a.C.)|Guerra Social]] eclodiu entre Roma e seus antigos aliados na Itália, coletivamente conhecidos como [[Sócios (Roma Antiga)|sócios]] ({{langx|la|''socii''}}), sob a queixa de que compartilharam os riscos das campanhas militares,{{sfn|Grant|1978|p=156}}{{sfn|Fox|2005|p=351}} mas não suas recompensas.{{sfn|Matyszak|2004|p=75}}{{sfn|Santosuosso|2003|p=30}} Apesar de algumas derrotas como aquela na [[batalha do Lago Fucino]], as tropas romanas derrotaram as milícias itálicas em combates decisivos, notadamente a [[batalha de Ásculo (89 a.C.)|batalha de Ásculo]]. Embora perderam militarmente, os sócios conseguiram seus objetivos com as proclamações da [[Lei Júlia]] e da [[Lei Pláucia Papíria]], que garantiram a [[cidadania romana]] a mais de {{fmtn|500000}} [[itálicos]].{{sfn|Cantor|2004|p=167}} A inquietação interna alcançou seu estágio mais sério nas [[Guerras civis de Sula|duas guerras civis]] ou marchas sobre Roma lideradas pelo cônsul [[Sula]] no começo de {{AC|82|x}}. Na [[batalha da Porta Colina (82 a.C.)|batalha da Porta Colina]], às portas de Roma, um exército comandado por Sula superou um exército do [[senado romano]] e seus aliados [[samnitas]].{{sfn|Grant|1978|p=161}}

==== Ameaça celta ({{AC|121|x}}) e germânica ({{AC|113-101|x}}) ====

{{AP|Guerra Cimbria}}

[[Imagem:Cimbrians and Teutons invasions-pt.svg|thumb|upright=1|Rota das invasões dos cimbros e teutões]]

Por {{AC|125|x}}, os romanos começaram a conquista da posterior província da [[Gália Narbonense]]. Nesse processo entraram em contato com duas tribos gaulesas, os [[alóbroges]] e [[arvernos]] que os ameaçaram em {{AC|121|x}}. Após duas batalhas bem-sucedidas, os gauleses foram derrotados.{{sfn|Grant|1978|p=152}} Mais tarde, em {{AC|113|x}}, com a consolidação da recém-adquirida província, os romanos tiveram de enfrentar uma invasão de [[cimbros]] e [[teutões]].{{sfn|Apiano|século II|loc=§6}} Ao longo dos anos de conflito, os romanos foram derrotados um par de vezes pelos invasores, notadamente nas batalhas de [[batalha de Noreia|Noreia]] de {{AC|112|x}} e [[batalha de Aráusio|Aráusio]] de {{AC|105|x}}, porém prevalecerem, em especial com as vitórias nas batalhas de [[batalha de Águas Sêxtias|Águas Sêxtias]] ({{AC|102|x}}) e [[batalha de Vercelas|Vercelas]] ({{AC|101|x}}).{{sfn|Floro|século I/II|p=III.3}}

==== Guerra Jugurtina ({{AC|112-105|x}}) ====

{{AP|Guerra de Jugurta}}

Roma tinha, no começo das Guerras Púnicas, adquirido grandes extensões do território na África, que foram consolidados nos séculos seguintes.{{sfn|Luttwak|1979|p=9}} Muitos destes territórios foram concedidos ao [[Reino da Numídia]], um Estado na costa norte africana aproximadamente na moderna [[Argélia]], em troca da assistência militar prestada no passado.{{sfn|Salústio|século I a.C.|loc=V}} A Guerra Jugurtina de {{AC|111-104|x}} foi travada entre Roma e [[Jugurta]] da Numídia e constituiu a pacificação romana final do Norte da África,{{sfn|Santosuosso|2003|p=29}} após a qual Roma cessou a expansão no continente após alcançar as barreiras naturais do deserto e montanhas. Em resposta a usurpação do trono númida por Jugurta,{{sfn|Salústio|século I a.C.|loc=XII}} um aliado romano desde as Guerras Púnicas,{{sfn|Matyszak|2004|p=64}} Roma interveio. Jugurta descaradamente subornou os romanos a aceitarem sua usurpação,{{sfn|Matyszak|2004|p=65}}{{sfn|Salústio|século I a.C.|loc=XIII}}{{sfn|Floro|século I/II|p=III.1}} e a ele foi concedido metade do reino. Após novas agressões e novas tentativas de suborno, os romanos enviaram um exército para depô-lo. Os romanos foram derrotados na [[batalha de Sutul]],{{sfn|Salústio|século I a.C.|loc=XVIII}} mas se saíram melhor na [[batalha de Mutul]],{{sfn|Salústio|século I a.C.|loc=LII}} e finalmente derrotaram Jugurta nas batalhas de [[batalha de Tala|Tala]],{{sfn|Matyszak|2004|p=69}}{{sfn|Salústio|século I a.C.|loc=LXXVI}} [[batalha de Mulucha|Mulucha]]{{sfn|Salústio|século I a.C.|loc=XCIV}} e [[batalha de Cirta (104 a.C.)|Cirta]].{{sfn|Salústio|século I a.C.|loc=CI}} Jugurta foi capturado não em batalha mas por traição,{{sfn|Salústio|século I a.C.|loc=CXIII}}{{sfn|Grant|1978|p=153}} o que terminou a guerra.{{sfn|Matyszak|2004|p=71}}

==== Conflitos com Mitrídates ({{AC|89-63|x}}) e os piratas cilicianos ({{AC|67|x}}) ====

[[Imagem:Mithradates VI of Pontos.jpg|thumb|esquerda|[[Tetradracma]] com efígie de {{lknb|Mitrídates|VI|do Ponto}}]]

{{lknb|Mitrídates|VI|do Ponto}} foi o governante do [[Reino do Ponto]], um grande Estado na [[Ásia Menor]], entre {{AC|120-63|x}}. Mitrídates antagonizou Roma na busca pela expansão de seu reino, e os romanos pareciam igualmente ansiosos pela guerra e os despojos e prestígio que podiam trazer.{{sfn|Floro|século I/II|p=III.5}}{{sfn|Matyszak|2004|p=76}} Após conquistar a Anatólia ocidental, segundo as fontes romanas, Mitrídates ordenou a execução de ca. {{fmtn|80000}} romanos que viviam em seu reino.{{sfn|Grant|1978|p=158}} O massacre teria sido a razão oficial dada para o início das hostilidades na [[Primeira Guerra Mitridática]]. Por {{AC|86|x}}, o general romano [[Sula]] forçou Mitrídates a abandonar a Grécia após uma vitória em [[batalha de Queroneia (86 a.C.)|Queroneia]]. Em decorrências de distúrbios políticos na Itália, e a necessidade de abandonar o fronte, Sula entrou em negociações e conseguiu a paz por {{AC|85|x}}.<ref name=Corn64 /> A [[Segunda Guerra Mitridática]] começou quando Roma tentou anexar o [[Reino da Bitínia]] como uma província. Na [[Terceira Guerra Mitridática]], primeiro [[Lúcio Licínio Lúculo]] e então [[Pompeu, o Grande]] foram enviados contra Mitrídates.{{sfn|name=Fox363|Fox|2005|p=363}} Ele foi finalmente derrotado por Pompeu na noturna [[batalha do Lico]].{{sfn|Tucker|2009|p=115}} Após derrotá-lo, Pompeu conquistou a maior parte da Anatólia e toda a Síria, tomou [[Jerusalém]]<ref name=Corn68 /> e [[Campanha georgiana de Pompeu|invadiu o Cáucaso]], subjugando o [[Reino da Ibéria]] e estabelecendo o controle romano sobre a [[Cólquida]].{{sfn|Fields|2012|p=29}}{{sfn|Gamqreliże|2012|p=132-133}} Além disso, rodeou o território das províncias recém-conquistadas com Estados vassalos, dentre eles o [[Reino da Capadócia]].<ref name=Corn68 />

O Mediterrâneo tinha neste tempo caído nas mãos dos piratas, principalmente da Cilícia. Os piratas não só estrangularam rotas de navegação, mas também saquearam muitas cidades na costa da Grécia e Ásia.{{sfn|Floro|século I/II|p=III.6}} Pompeu foi nomeado como comandante de uma força naval para fazer campanha contra eles.<ref name=Fox363 /> Em três meses, Pompeu conseguiu limpar as costas dos piratas.<ref name=Corn68 />

==== Campanhas iniciais de César ({{AC|59-50|x}}) ====

{{AP|Guerras da Gália|Invasões da Britânia por Júlio César}}

[[Imagem:Caesar campaigns gaul-pt.svg|thumb|esquerda|Campanhas de César na Gália]]

Durante seu mandato como [[pretor]] na [[Hispânia]], [[Júlio César]] derrotou os [[galaicos]] e [[lusitanos]] em batalha.{{sfn|Plutarco|século Ia|loc=XII.1}} Após um mandato consular, foi então nomeado para um mandato de cinco anos como governador proconsular da [[Gália Transalpina]] e [[Ilírico (província romana)|Ilíria]] (costa da [[Dalmácia]]).{{sfn|Plutarco|século Ia|loc=XIV.10}} Nesta posição, procurou maneiras de convencer os romanos a acatar uma invasão à Gália, evocando a [[Saque de Roma (387 a.C.)|saque gaulês de Roma]] e as [[Guerra Cimbria|invasões dos cimbros e teutões]].{{sfn|Goldsworthy|2004|p=187}} Quando os [[helvécios]] e [[tigurinos]]{{sfn|Plutarco|século Ia|loc=XVIII.1}} começaram a migrar em direção às áreas próximas{{sfn|name=Maty117|Matyszak|2004|p=117}} à Gália Transalpina, César teve sua desculpa para dar início a suas [[guerras da Gália]], travadas entre {{AC|58-51|x}}.{{sfn|Goldsworthy|2004|p=191}} Após abater os helvécios,{{sfn|name=FloroIII.10|Floro|século I/II|p=III.10}} César prosseguiu uma "longa, árdua e custosa"{{sfn|name=Cantor162|Cantor|2004|p=162}} campanha contra outras tribos em toda a amplitude da Gália, muitas das quais haviam lutado ao lado de Roma contra os helvécios,<ref name=Maty117 /> e anexou seus territórios para os de Roma. Plutarco afirma que a campanha custou um milhão de vidas gaulesas.{{sfn|Santosuosso|2003|p=48}} Embora "ferozes e capazes", os gauleses foram prejudicados pela desunião interna e caíram em uma série de batalhas ao longo da década.<ref name=Cantor162 />{{sfn|Matyszak|2004|p=116}}

César derrotou os [[helvécios]] em {{AC|58|x}} na [[batalha do Arar]] e na [[batalha de Bibracte]],{{sfn|Santosuosso|2003|p=59}} a [[belgas (tribo)|confederação belga]] na [[batalha do Áxona]],{{sfn|Goldsworthy|2004|p=201}} os [[nérvios]] em {{AC|57|x}} na [[Batalha do Sábis (57 a.C.)|Batalha do Sábis]],{{sfn|Plutarco|século Ia|loc=XX.4-9}} os [[aquitanos]], [[tréviros]], [[tencteros]], [[éduos]] e [[eburões]] em batalhas desconhecidas, e os [[vênetos (Gália)|vênetos]] em {{AC|56|x}}. Em {{AC|55-54|x}}, fez [[Invasões da Britânia por Júlio César|duas expedições na Britânia]].<ref name=FloroIII.10 />{{sfn|Santosuosso|2003|p=60}} Em {{AC|52|x}}, após o [[cerco de Avárico]] e uma série de batalhas inconclusivas,{{sfn|Goldsworthy|2004|p=204}} César derrotou uma união de gauleses liderada por [[Vercingetórix]]{{sfn|Matyszak|2004|p=78}} na [[batalha de Alésia]],{{sfn|Goldsworthy|2004|p=212}} completando a conquista romana da Gália Transalpina.{{sfn|Santosuosso|2003|p=62}} Por {{AC|50|x}}, a Gália inteira caiu em mãos romanas. César registrou seus próprios relatos destas campanhas nos ''[[Comentários sobre a Guerra Gálica]]''.{{sfn|Júlio César|século I a.C.}}

==== Triunviratos e ascensão de Augusto ({{AC|59-30|x}}) ====
{{AP|Guerra Civil de César|Terceira Guerra Civil da República Romana|Última Guerra Civil da República Romana}}
[[Imagem:Castro Battle of Actium.jpg|thumb|esquerda|upright=1|''A Batalha de Ácio'' (1672), <small>por [[Lorenzo A. Castro]], [[Museu Marítimo Nacional]]</small>]]
[[Imagem:The Death of Cleopatra arthur.jpg|thumb|esquerda|upright=1|''A morte de Cleópatra'', <small> (1892), por [[Reginald Arthur]], [[Roy Miles Gallery]]</small>]]
Por {{AC|59|x}}, uma aliança política informal conhecida como [[Primeiro Triunvirato]] foi formada entre [[Júlio César]], [[Crasso]] e [[Cneu Pompeu Magno]] para compartilhar o poder e influência.{{sfn|Cantor|2004|p=168}} Em {{AC|53|x}}, Crasso lançou uma invasão romana ao [[Império Parta]]. Após sucessos iniciais,{{sfn|Matyszak|2004|p=133}} ele marchou seu exército fundo no deserto onde foi emboscado e derrotado<ref name=FloroIII.10 /> na [[batalha de Carras]],{{sfn|Matyszak|2004|p=79}}{{sfn|Goldsworthy|2004|p=213}} a "maior derrota romana desde Aníbal",{{sfn|Cantor|2004|p=169}} na qual o próprio Crasso pereceu.{{sfn|Goldsworthy|2004|p=271}} Após a morte de Crasso, as relações entre Pompeu e César gradualmente se deterioraram a ponto de ambos entrarem em conflito. Em {{AC|51|x}}, alguns senadores romanos exigiram que César devolvesse o controle de suas legiões ao Estado em troca de seu ofício de cônsul. Não acatando o comando,{{sfn|Goldsworthy|2004|p=215}}{{sfn|Fox|2005|p=398}} invadiu a Itália, forçando Pompeu, que havia se comprometido a derrotá-lo em batalha, e o senado a fugirem para a Grécia.{{sfn|Holland|2005|p=299}}{{sfn|Goldsworthy|2004|p=216}}

Antes de dirigir-se para a Grécia, César enviou parte de seu exército para combater os partidários de Pompeu na [[Hispânia]] e [[Gália]]. Após obter vitórias em [[batalha de Ilerda|Ilerda]] e em [[cerco de Massília|Massília]], César marchou contra Pompeu.{{sfn|Goldsworthy|2004|p=218}} O primeiro embate, a [[Batalha de Dirráquio (48 a.C.)|batalha de Dirráquio]] de {{AC|48|x}}, terminou com uma vitória pompeana,{{sfn|Goldsworthy|2004|p=220}} porém esta foi seguida por uma esmagadora vitória cesariana na [[batalha de Farsalos]],{{sfn|Goldsworthy|2004|p=227}}{{sfn|Fox|2005|p=403}} o que forçou Pompeu a fugir, desta vez para o [[Egito Ptolemaico|Egito]], onde foi assassinado.{{sfn|Fox|2005|p=404}}{{sfn|Plutarco|século Ib|loc=LXXIX.1-3}} No final de {{AC|47|x}} uma nova batalha foi travada, em [[batalha de Tapso|Tapso]], onde os partidários de Pompeu fizeram sua base após derrotarem os lugares-tenente de César em {{AC|49|x}}. Eles foram derrotados e os sobreviventes, dentre eles [[Sexto Pompeu]] e [[Pompeu, o Jovem]], os filhos de Pompeu, fugiram para a Hispânia. Lá, em {{AC|46|x}}, uma nova batalha, a [[batalha de Munda|de Munda]], foi travada e as tropas cesarianas venceram novamente, o que pôs um fim temporário a guerra.<ref name=Corn71 />

Após o assassinato de César em {{AC|44|x}}, novas disputas pelo poder tomaram forma, desta vez entre os ''[[liberatores]]'', grupo de senadores que esteve envolvido no assassinato, e os cesarianos. [[Marco Antônio]], um dos principais partidários de César, ao condenar o assassinato, foi considerado como inimigo público da república e foi derrotado em duas batalhas ([[batalha do Fórum dos Galos|Fórum dos Galos]] e [[Batalha de Mutina (43 a.C.)|Mutina]]). Após tais eventos, [[Otaviano]], jovem adotado por César e então seu herdeiro, Marco Antônio e [[Lépido]], na intenção de unirem-se contra o senado e os ''liberatores'', formaram o [[Segundo Triunvirato]]. A esta aliança se seguiu um expurgo realizado entre os senadores e cavaleiros e por {{AC|42|x}}, Otaviano e Marco Antônio perseguiram [[Marco Júnio Bruto|Marco Bruto]] e [[Caio Cássio Longino|Caio Cássio]] no Oriente e os derrotaram na [[batalha de Filipos]].{{sfn|Cornell|2008|p=72-73}}

Com o fim das disputas com os ''liberatores'', e a posterior divisão dos domínios romanos entre os membros do triunvirato, conflitos eclodiram entre os triúnviros. O primeiro deles deveu-se a uma disputa entre Otaviano e [[Lúcio Antônio]], irmão de Marco Antônio, e terminou com o [[Guerra de Perúsia|cerco de Lúcio]] em [[Perúsia]] por {{AC|40|x}} e um quase confronto entre os triúnviros. Ao longo da década seguinte, cessaram-se os conflitos internos e outros assuntos entraram em pauta: Marco Antônio fez campanha contra os partas, mas acabou sendo derrotado em {{AC|36|x}}, e saqueou o [[Reino da Armênia (Antiguidade)|território armênio]] em {{AC|34|x}}; Otaviano combateu Sexto Pompeu, que havia se instalado na [[Sicília (província romana)|Sicília]], em {{AC|36|x}}, e fez campanha na Ilíria ({{AC|35-33|x}}). A partir de então, contudo, Otaviano voltou sua atenção para a consolidação de sua posição na Itália e para tal iniciou uma guerra propagandista contra Marco Antônio, alegando que seu relacionamento com [[Cleópatra]] poderia trazer prejuízos à república. Por {{AC|32|x}}, as cidades da Itália juraram lealdade a Otaviano solicitaram uma campanha contra Marco Antônio. Essa campanha, iniciada pouco depois, culminaria numa vitória total de Otaviano na [[batalha de Ácio]] em {{AC|31|x}}. Marco Antônio e sua amada Cleópatra fugiram para [[Alexandria]] e se suicidaram.<ref name=Corn74 />

{{notas|grupo=nt|col=2}}

{{referências|col=5}}

== Bibliografia ==

=== Fontes primárias ===

{{refbegin|2}}

* {{Citar livro|sobrenome=Apiano|autorlink=Apiano|título=História Romana|ano=século II|local=desconhecido|editora=desconhecido|ref=harv}}

* {{Citar livro|sobrenome=Dião Cássio|autorlink=Dião Cássio|url=http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Cassius_Dio/49*.html|ano=século III|título=[[História Romana (Dião Cássio)|História Romana]]|local=desconhecido|editora=desconhecido|ref=harv}}

* {{Citar livro|sobrenome=Floro|autorlink=Floro|título=Compêndio da História Romana|ano=século I–II|local=desconhecido|editora=desconhecido|ref=harv}}

* {{Citar web|sobrenome=Júlio César|url=http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Caesar/Gallic_War/home.html|ano=século I a.C.|título=Caesar: The Gallic War|língua=en}}

* {{Citar livro|sobrenome=Plutarco|autorlink=Plutarco|url=http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Plutarch/Lives/Caesar*.html|título=Vida de César|ano=século Ia|local=desconhecido|editora=desconhecido|ref=harv}}

* {{Citar livro|sobrenome=Plutarco|título=Vida de Pompeu|url=http://penelope.uchicago.edu/Thayer/E/Roman/Texts/Plutarch/Lives/Pompey*.html|ano=século Ib|local=desconhecido|editora=desconhecido|ref=harv}}

* {{Citar livro|sobrenome=Salústio|autorlink=Salústio|título=A Guerra Jugurtina|ano=século I a.C.|local=desconhecido|editora=desconhecido|ref=harv}}

* {{Citar livro|sobrenome=Tito Lívio|título=Ab Urbe condita libri|ano=27–25 a.C.|local=Roma|editora=desconhecido|ref=harv}}

{{refend}}

=== Fontes secundárias ===

{{refbegin|2}}

* {{Citar livro|sobrenome=Abbott|nome=Frank Frost|título=A History and Description of Roman Political Institutions|editora=Elibron Classics|ano=1901| local=Bel Aire, Califórnia|isbn=0-543-92749-0|ref=harv}}

* {{Citar livro|sobrenome=Adkins|nome=Lesley|autor2=Roy A. Adkins|título=Handbook to Life in Ancient Rome|editora=Oxford University Press|ano=1998| local=Oxford|isbn=0195123328|ref=harv}}

* {{Citar web|ref={{harvid|Biblioteca Latina|2017}}|ano=2017|url=http://www.thelatinlibrary.com/sallust/chronology.html|título=CHRONOLOGY OF CATILINE'S CONSPIRACY|língua=en}}

* {{Citar periódico|sobrenome=Bishop|nome=Paul A.|url=http://www.hccfl.edu/media/160883/ee1rome.pdf|título=Rome: Transition from Republic to Empire| ano=2014|ref=harv}}

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* {{Citar livro|sobrenome=Eck|nome=Werner|autorlink=Werner Eck|título=The Age of Augustus|ano=2003|tradutor=Deborah Lucas Schneider|local= Oxford|editora=Blackwell Publishing|isbn=978-0-631-22958-2|ref=harv}}

* {{Citar livro|sobrenome=Fields|nome=Nic|título=Pompey|editora=Osprey Publishing|local=Oxford|ano=2012|isbn=1849085722|ref=harv}}

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* {{Citar web|ref={{harvid|Heritage History|2017}}|ano=2017|url=http://archive.is/Inost|título=Rise of Rome|língua=en}}

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* {{Citar livro|sobrenome=Sacks|nome=David|título=A Dictionary of the Ancient Greek World|ano=1995|editora=Oxford University Press|local=Oxford|isbn= 0195112067|ref=harv}}

* {{Citar livro|sobrenome=Santosuosso|nome=Antonio|título=Storming The Heavens: Soldiers, Emperors, And Civilians In The Roman Empire|editora=Westview Press|ano=2003|local=Boulder, Colorado|isbn=0813341604|ref=harv}}

* {{Citar livro|sobrenome=Stobart|nome=J.C.|título=The Grandeur That was Rome|capítulo="III"|editor1=Maguinness, W.S|editor2= [[H. H. Scullard|Scullard, H.H.]]|ano=1978|edição=IV|editora=Book Club Associates|local=Londres|ref=harv}}

* {{Citar periódico|sobrenome=Taagepera|nome=Rein|título=Size and Duration of Empires: Growth–Decline Curves, 600 BC to 600 AD|ano=1979|jornal=Social Science History|volume=3|número=3/4|doi=10.2307/1170959|ref=harv}}

* {{Citar livro|sobrenome=Tucker|nome=Spencer C.|título=A Global Chronology of Conflict: From the Ancient World to the Modern Middle East: From the Ancient World to the Modern Middle East|editora=ABC-CLIO|local=Santa Bárbara, Califórnia|ano=2009|isbn=1851096728|ref=harv}}

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