Mostrar código-fonte de Áptera (cidade)

{{Ver desambig||Aptera}}
{{Info/Sítio arqueológico
|nome       =Áptera
|nome_alt   =Aptara, Apteria, Apterea, Aptaria, Aptere
|nome_nativo={{lang|el|Άπτερα}}
|imagens_tamanho=285
|imagem         =Aptera Bath and cisterns.JPG
|legenda        =[[Termas romanas|Termas]] e [[cisterna]]s romanas de Áptera
|mapa_alfinete  =Creta
|mapa_alfinete_legenda=Localização de Áptera em Creta
|latd=35 |latm=27 |lats=46 |latNS=N
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|país           =[[Grécia]]
|região_legenda =[[Regiões modernas da Grécia|Região]]
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|fundação       ={{-séc|XIV–XIII}}
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|fase1_legenda  =[[Civilização Minoica|Período minoico]]
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}}
[[Imagem:ApteraAgiosJoannis1(js).jpg|thumb|290px|Mosteiro de Agios Ioannis (São João), em Áptera]]

'''Áptera''' ({{langx|el|Άπτερα}}), também conhecida como '''Aptara''', '''Apteria''', '''Aptereia''', '''Aptaria''' ou '''Aptere''', foi uma cidade do noroeste da ilha de [[Creta]], [[Grécia]]. Atualmente as suas ruínas constituem um [[sítio arqueológico]], situado a menos de um quilómetro em linha reta da costa sul da [[baía de Suda]]. Ali existiu uma [[cidade-estado]], que já era poderosa no final do período [[Civilização Minoica|minoico]] e que atingiu o seu apogeu no [[período helenístico]]. Declinou lenta e gradualmente a partir daí, embora continuasse a ser uma cidade importante durante o [[Roma Antiga|período romano]] e primeiros tempos do [[Império Bizantino]]. Foi destruída por dois [[Sismo|terramotos]], nos séculos IV e {{DC|VII|x}}, e pelos [[Sarracenos]] em 823, quando foi definitivamente abandonada.

No {{séc|XII}} foi construído no local da antiga cidade um [[mosteiro]] dedicado a [[João de Patmos|São João, o Teólogo]], que funcionou até meados da década de 1960. Os [[Ducado de Cândia|venezianos]] construíram no local um forte, o qual foi destruído por [[pirata]]s em 1583. A posição estratégica do sítio foi também aproveitada pelos [[Creta otomana|otomanos]], que ali construíram uma fortaleza na segunda metade do {{séc|XIX}}, durante a [[Revolta de Creta de 1866-1869]], para dominar toda a baía de Suda. Durante a [[Segunda Guerra Mundial]], as tropas de ocupação [[Alemanha Nazi|alemãs]] também se posicionaram no planalto de Áptera.

O primeiro académico moderno a estabelecer a ligação entre as ruínas e a cidade de Áptera foi o viajante [[Inglaterra|inglês]] [[Robert Pashley]] {{nwrap||1805|1859}}, que confirmou a identificação graças a [[Moeda (peça)|moedas]] encontradas no local. As primeiras [[Escavação|escavações]] foram levadas a cabo em 1862 e 1864 pelo francês Carle Wescher. Em 1942 os alemães que então ocupavam Creta realizaram escavações mais extensas. Houve outras campanhas de escavação, em 1986–1987 e em 1992–1995, mas o sítio ainda está longe de estar completamente escavado. No recinto do convento são visíveis várias estruturas, nomeadamente uma capela e um bloco de dois andares de celas dos monges. Em volta destacam-se as ruínas de um templo de {{-séc|V}}, restos de vários templos [[dóricos]], duas [[cisterna]]s romanas de grandes dimensões com arcadas em [[abóbada]], [[termas romanas]], um [[teatro romano]] e uma [[Vila romana|''villa'' romana]] com um [[peristilo]]. O sítio é administrado pelo departamento de antiguidades do ministério da cultura grego e ocupa o planalto do cimo da colina de Paliocastro,<ref name=pal group=nt/> situada a algumas centenas de metros a leste da atual aldeia de Áptera e Megála Choráfia, as quais integram administrativamente a [[Unidades periféricas da Grécia|Unidade regional]] de [[Chania (unidade regional)|Chania]], cuja [[Chania|capital homónima]], situada a oeste-noroeste, dista cerca de 13&nbsp;km por estrada.

A cidade minoica é mencionada com o nome ''"A-pa-ta-wa"'' em tábuas escritas em {{Lknb|Linear|B}} no {{séc|XIV}} ou {{-séc|XIII}} Os restos arqueológicos encontrados cobrem dois períodos: o primeiro do {{-séc|IX}} ao {{+séc|VII}} e o segundo do {{+séc|X}} até 1960. A cidade ocupava um local estratégico, propício ao comércio e à defesa, pois tem amplas vistas sobre as regiões vizinhas, além de ter excelentes defesas naturais. Do alto da colina, que se eleva a 200&nbsp;metros sobre o nível do mar, avista-se toda a baía de Suda, e a [[Acrotíri (Creta)|península de Acrotíri]], a norte, do outro lado da baía, a zona costeira entre [[Suda]] e [[Kalives]] a noroeste, norte e nordeste, as [[Montanhas Brancas (Creta)|Montanhas Brancas]] (''Lefká Óri'') a sul e a planície de [[Apocórona]] a sul e sudeste. Embora não seja visível das ruínas, Chania fica a pouca distância, atrás de outras colinas. A cidade era servida por dois [[Porto (transporte)|portos]], um de cada lado da baía de Suda: o mais próximo, no lado sul da baía era Císsamos, provavelmente situado onde é hoje Kalives, a leste do sopé do monte da cidade; o outro era Minoa, atual Marati, a norte, na península de Acrotíri. No {{-séc|III}} Áptera esteve em guerra com [[Cidônia|Cidónia]], uma importante cidade do noroeste de Creta que muito  provavelmente se situava onde é hoje Chania ou nos seus arredores. Alguns historiadores referem que quando se deu a conquista romana de Creta, na década de {{AC|60|x}}, Áptera tinha-se tornado dependente de Cidónia.

== Nome ==
Além da forma Áptera, a cidade é também citada com os nomes Aptara, Apteria, Apterea, Aptaria<ref name=travtc/> e Aptere.<ref name=wes440/> O termo ''"Áptera"'', que significa "sem asas",{{ref infopedia dic|áptero}} pode estar ligado ao culto de [[Ártemis]] Áptera. Não era raro o nome das cidades gregas derivar do nome de um deus ou deusa, mas em Áptera foi escolhida a epiclese{{
NotaNT|
1=O termo em português "[[epiclese]]" está associado à invocação do [[Espírito Santo]], mas o termo grego que lhe deu origem {{lang|el|ἐπίκλησις}} (''epíklēsis''), além desse sentido de invocação de uma ou mais divindades, em sentido mais lato pode designar um epíteto pelo qual uma divindade é evocado no culto. É neste último sentido que é usado no texto, ou seja, Áptera é uma ''epiclese'' (outro nome) de Ártemis.<ref name=epicl/>
}} em vez do próprio nome da deusa, o que é mais raro. Isso pode significar que o termo Áptera precedeu o de Ártemis, uma confusão nascida da fusão dos cultos de Ártemis com o culto minoico da deusa dos animais.{{HarvRef|Willetts|1977|p=209}} [[Joseph Pitton de Tournefort]] {{nwrap||1656|1708}} refere que, segundo [[Eusébio de Cesareia]] {{nwrap||265|339}}, o nome de Áptera teria origem, de acordo com a tradição, em Apterão, rei de Creta, filho de Cidão e pai de Lápios,<ref name=tourn32/> que teria vivido no tempo de [[Moisés]], cerca de {{AC|1800|x}}<ref name=justc/> [[Pausânias (geógrafo)|Pausânias]] {{+nwrap||115|180}} relata que Pteras, fundador do segundo [[templo de Apolo (Delfos)|templo de Apolo]] em [[Delfos]], teria dado o seu nome à cidade.<ref name=pauX5/> Para [[Richard Pococke]] {{nwrap||1704|1765}} foi Ápteras, um antigo rei de Creta, que deu o seu nome à cidade.<ref name=poc437/> Finalmente, outra lenda, registada por [[Estêvão de Bizâncio]] no {{séc|VI}}, conta que as [[musa]]s e as [[sereia]]s se confrontaram num concurso musical no templo das musas. Estas venceram o concurso e as sereias angustiadas arrancaram as suas asas,{{
NotaNT|
1=Segundo outras versões, as sereias perderam as suas asas devido ao desespero.
}} que caíram na [[baía de Suda]] e que deram origem às diversas ilhotas que ali se encontram, chamadas ilhas brancas. As sereias, desprovidas de asas (''apteres'' em grego), deram o seu nome à cidade.<ref name=ody/><ref name=justc/>

A ocorrência mais antiga que se conhece do nome Áptera é o que se encontra numa tábua escrita em {{Lknb|Linear|B}} do {{-séc|XIII}}, na forma ''"A-pa-ta-wa"''. O termo Aptara, de origem [[Dóricos|dórica]], só surgiu mais tarde, quando os dóricos se apoderaram da ilha.{{HarvRef|Bennet|1985|p=231–249}}{{
NotaNT|
1=Há um estudo onde se demonstra que, entre os nomes das cidades de Creta da [[Antiguidade]], 70% são de origem dórica, 20% de origem cretense e 10% de origem [[Pelasgos|pelasga]]. Áptera é uma das que têm nome de origem dórica.{{HarvRef|Detorakis|2010|p=44}}
}} Essa forma dórica parece ter predominado em Creta, a avaliar pelas moedas e pelas inscrições encontradas. A forma Áptera, por sua vez, parece ter predominado no resto do mundo grego.<ref name=ody/>

== Topografia ==
[[Imagem:Aptera-baia-souda-18.jpg|esquerda|thumb|Vista da parte ocidental (interior) da [[baía de Suda]] e da [[Acrotíri (Creta)|península de Acrotíri]] desde Áptera. [[Chania]] situa-se atrás do monte à esquerda.]]

A antiga Áptera foi fundada no planalto do cimo da colina atualmente chamada Paleocastro,<ref name=pal group=nt/> a uma altitude de pouco mais de 200&nbsp;metros,<ref name=blackm/> num local de grande importância estratégica. A sua localização privilegiada favoreceu o seu desenvolvimento, particularmente no {{-séc|IV}}, e os seus dois portos asseguravam-lhe o controlo do comércio na região. O arqueólogo grego [[Ioannis Svoronos]] {{nwrap||1863|1922}} foi mesmo ao ponto de qualificar Áptera como a cidade comercial mais importante de Creta e uma das mais poderosas durante o seu período mais próspero.

Enquanto [[cidade-estado]], Áptera controlava toda a região e numerosas aldeias. Segundo as fontes históricas, as fronteiras do seu território podem ter sido o território de Cidónia, a ocidente, Lapa (atual [[Argirópolis (Creta)|Argirópolis]]), a sul, e para oriente estender-se-ia até ao [[cabo Drápano]].{{HarvRef|Ptolomeu|loc=III, 15}} O rio Pictos (atualmente Ciliaris), que nasce nas Montanhas Brancas e atravessa as planícies a sul e leste da colina da cidade, para desaguar em Kalives, contribuía para a fertilidade das atuais planícies de [[Stílos]] e [[Arméni (Chania)|Arméni]]. Tanto nestas planícies como em locais mais elevados foram descobertos vestígios de quintas agrícolas isoladas e parte da rede de estradas que ligava Áptera às cidades vizinhas. Um [[marco miliário]] indicando a distância entre Áptera e Císsamos{{
NotaNT|
1=Esta Císsamos tanto pode ser o porto de Áptera, situado muito perto da cidade, como a atual vila de [[Císsamos]] na extremidade ocidental de Creta, que foi uma cidade importante no período romano.
}} foi descoberto no eixo que conduz a Lapa; o mesmo menciona o [[imperador romano|imperador]] [[Trajano]] {{nwrap|r.|98/99|117}} e provavelmente data do ano 99 ou {{DC|100|x}}<ref name=ody/>

As [[muralha]]s da cidade, com {{fmtn|3480|metros}} de perímetro,{{
Nota de rodapé|grupo=nt|nome=permur|
1=O sítio web do Ministério da Cultura grego fala em ''quase'' quatro quilómetros de perímetro.<ref name=ody/>
}} rodeiam a parte plana da colina e a sua área interior nunca foi completamente urbanizada.<ref name=ody/>
{{limpar}}

== História ==
=== Da fundação ao período helenístico ===
[[Imagem:Aptera-to-south-15.jpg|thumb|Vista do lado oriental da muralha desde o forte Koules,<ref name=koulnot group=nt/> com o vale de Stílos à esquerda (leste) e os primeiros contrafortes das [[Montanhas Brancas (Creta)|Montanhas Brancas]] ao fundo (sul)]]

No {{-séc|IX}} Creta beneficiava de condições favoráveis ao desenvolvimento de novas cidades, como foi o caso de [[Eleuterna]], [[Argirópolis (Creta)|Lapa]], [[Licto]], [[Cidónia]] e Áptera.{{HarvRef|Detorakis|2010|p=44}} Esta última teria sido fundada durante o chamado [[período geométrico]], no {{-séc|VIII}}, segundo escavações realizadas na necrópole da cidade.<ref name=toml47/> Áptera pode ter sido, pelo menos num período inicial, uma cidade "industrial". Na região existiam então [[Mina (mineração)|minas]] que eram exploradas desde o período minoico. Em Mesclá, a antiga Ceraia {{langp|el|Κεραια}}, situada a três ou quatro horas de marcha de Áptera, extraía-se [[ferro]] e [[cobre]],<ref name=assc/> mas a zona de Áptera é conhecida principalmente através dos [[dáctilos]] [[Monte Ida (Creta)|ideanos]], que segundo a lenda descobriram o fogo, o cobre e o ferro bem como a arte de trabalhar esses metais na região dos apteranos. Os dáctilos viviam perto do monte Berecinto.<ref name=assc/> Nessa zona, no que foi até 2011 o município de [[Maláxa (Creta)|Maláxa]], situado cerca de 10&nbsp;km por estrada a oeste de Áptera, havia uma das minas mais antigas da Europa.<ref name=justc/>

O que se sabe da cidade provém sobretudo das escavações, pois há poucas menções escritas. Não obstante, Pausânias relata que em {{AC|668|x}} os [[arqueiro]]s de Áptera participaram na [[Segunda Guerra Messénia]] ao lado de [[Esparta]].<ref name=blackm/>{{HarvRef|Pausânias|loc=4,20,8}} No {{-séc|V}}, como o conjunto das cidades cretenses, Áptera não participou nas [[Guerras Médicas]], apesar de não ter rompido as suas relações comerciais com [[Antiga Atenas|Atenas]], a crer nas cerâmicas importadas encontradas nas escavações que datam desse período.<ref name=justc/>

[[Imagem:View of Kalives from Aptera-62-graeme.jpg|esquerda|thumb|Vista em direção a nordeste desde Áptera; em baixo: [[Kalives]], onde se situava Císsamos, um dos portos da cidade; ao fundo: a [[península de Drápano]]]]

Como numerosas cidades de Creta, a cidade prosperou no {{-séc|IV}} Tinha então até oito aldeias nos arrabaldes, situadas no sopé da colina, no vale de [[Stílos]].<ref name=justc/> Célebre pela habilidade dos seus arqueiros, Áptera forneceu [[mercenário]]s a vários conflitos fora de Creta que depois trouxeram riquezas para a sua cidade de origem. Encontravam-se também mercenários de Áptera entre os numerosos [[pirata]]s do [[mar Egeu]].{{Harvy|rus|Russell|1942}} A [[prata]], importada do [[Antigo Egito|Egito]] e da [[Cirenaica]], permitia à cidade [[Cunhagem|cunhar]] as suas própria [[moeda (peça)|moedas]] e assim reforçar a sua independência e poderio económico. A maior parte dessas moedas — conhecem-se 76 tipos diferentes)<ref name=justc/> — representam a deusa Ártemis no [[Anverso e reverso|anverso]] com a inscrição ''APTARAION'' ou ''APTERAION'' e ''Pteras'' no reverso. Outras moedas tinham os retratos de [[Zeus]], [[Apolo]] ou [[Hera]] no anverso e uma [[tocha]], uma abelha ou um [[Arco (arma)|arco]] no reverso. Os arqueólogos estimam que a população da cidade nesse período fosse {{formatnum:20000}} habitantes, dos quais um quinto eram homens livres e o resto escravos. Muitos dos homens livres eram comerciantes, proprietários de terra ou [[Armador (marinha)|armadores]].<ref name=justc/>

Áptera volta a estar ao lado de Esparta contra os [[Macedónia Antiga|macedónios]] na [[guerra cremonidiana]] em {{AC|267–266|x}} Os conflitos internos pelos quais passou Creta no {{-séc|III}}, principalmente entre [[Cnossos]] e [[Gortina]], levaram a que Áptera se aliasse quase sempre com Cnossos. Depois da destruição de Licto por Cnossos, durante a [[guerra de Licto]], em {{AC|220|x}}, os aliados de Cnossos (Cidónia, Eleuterna e Áptera) viram-se cercados pelos aliados de Gortina (Lapa e [[Polirrénia]]), bem como pelo exército de {{Lknb|Filipe|V da Macedónia}}. Áptera acabou por se juntar a Gortina, que então se tinha tornado a principal cidade de Creta.<ref name=tourn32/><ref name=pol455/>

A intensa atividade de Áptera em matéria de política externa é confirmada nas inscrições acerca das alianças e pela nomeação de [[Cônsul (diplomacia)|cônsules]] que representaram a cidade em numerosas cidades. Houve cônsules de Áptera não só nas cidades cretenses de Cnossos, [[Ierápetra|Hierapitna]] e [[Mália]], mas também no [[Peloponeso]], no Egeu, na [[Ásia Menor]] e nas costas do [[mar Adriático|Adriático]]. Áptera encontra-se entre as trinta cidades que se aliaram ao [[Reino de Pérgamo|rei de Pérgamo]] {{Lknb|Eumenes|II}} em {{AC|183|x}}<ref name=blackm/> A cidade homenageará {{Lknb|Átalo|II de Pérgamo}} erigindo uma estátua de [[bronze]] com a sua [[efígie]].<ref name=ody/>

==== Cultos religiosos ====
[[Imagem:Aptera temple.JPG|thumb|Ruínas do templo bipartido atribuído ao culto de [[Ártemis]]]]

Os vestígios de culto mais antigos descobertos datam do {{-séc|VIII}} e foram encontrados perto do templo bipartido atribuído ao culto de [[Ártemis]] e [[Apolo]].<ref name=ody/> Este templo, descoberto em 1942, data possivelmente do {{-séc|V}} A [[deidade]] central de Áptera era Ártemis. Além desse templo, o retrato da deusa foi encontrado em dois tipos de moedas de prata dos séculos IV e {{AC|III|x}} Sabe-se por uma inscrição que nos séculos III e {{AC|II|x}}, se celebravam corridas em sua honra no mês de Dictinaion, ou seja no mês de [[Díctina]], uma forma arcaica de Ártemis em Creta. Há também uma menção a um [[santuário]] de Ártemis noutra inscrição relativa à renovação de uma aliança com a cidade [[Jônia|jónica]] de [[Teos]], na Ásia Menor, em {{AC|170|x}} Uma outra inscrição votiva refere-se a Ártemis com o nome de [[Ilítia]], a deusa do nascimento. Houve outros deuses e deusas adorados em Áptera. Os investigadores alemães puseram a descoberto um templo dedicado a [[Dioniso|Dionísio]] e foram encontradas moedas com os retratos de [[Hermes]], [[Zeus]] e [[Héstia]] ou [[Hera]].{{HarvRef|Willetts|1958}}

=== Período romano ===
[[Imagem:Aptera cisterns.JPG|thumb|Exterior das cisternas]]

Durante a [[Creta romana|conquista de Creta]] por [[Quinto Cecílio Metelo Crético]] {{-nwrap||67|63}}, Áptera rendeu-se sem combater, à semelhança de Cidónia. Este ato permitiu que a cidade ficasse nas boas graças dos romanos, que apenas impuseram à cidade impostos pouco elevados.<ref name=travtc/> Aparentemente o declínio de Áptera começou antes da da invasão romana, pois a cidade tinha-se tornado dependente de Cidónia.<ref name=hogan/> Com efeito, o uso de moedas de Cidónia faz pensar que Áptera teria sido colocada sob a autoridade administrativa da cidade vizinha.<ref name=blackm/> Pelas escavações sabe-se que a cidade conheceu um novo impulso nos séculos I e {{DC|II|x}}, quando são erigidas importantes infraestruturas que demonstram o seu desenvolvimento — as imponentes [[cisterna]]s que a abastecem de água são um sinal que a população da cidade era numerosa.<ref name=whit85/> Embora tenha perdido importância política e económica, em contrapartida a cidade viu a sua produção agrícola aumentar, uma consequência das políticas romanas.<ref name=ody/>

As escavações mostram igualmente que no período romano em Áptera se continuou a adorar diversos deuses e foram adotados novos cultos. Durante as escavações levadas a cabo por Stylianos Alexiou em 1958 foram postos a descoberto um pequeno templo do {{+séc|I}} dedicado a [[Deméter]] e [[Perséfone]]. O culto de Dionísio parece ter continuado presente, pois foi encontrada uma estátua desse deus da época romana. Na chamada "[[Vila romana|villa]] do [[peristilo]]" foram descobertas estátuas de [[Afrodite]] e de Hermes e na necrópole foram encontradas provas de culto à [[Deuses egípcios|deusa egípcia]] [[Ísis]]. Este último culto pode ter chegado ainda durante o período helenístico mas é certo que se desenvolveu durante o período romano.<ref name=ody/>

=== Declínio e destruição ===
[[Imagem:Aptera - Kloster - Ikone.jpg|thumb|[[Ícone]] de [[João de Patmos|São João, o Teólogo]] na capela do mosteiro dedicado a esse santo]]

A partir do {{+séc|III}}, Áptera começa a declinar, ao mesmo tempo que cidades próximas como Císsamos e Cidónia prosperam. O declínio foi acelerado com o [[sismo de Creta de 365]], que destruiu várias cidades em Creta e na costa mediterrânica do nordeste de África, e causou grandes estragos e milhares de mortos em [[Alexandria]].<ref name=amiano/><ref name=cronp/><ref name=teofc/> A cidade continuou a ser habitada, como é atestado pelo geógrafo bizantino do {{séc|VI|}} [[Hiérocles (geógrafo)|Hiérocles]]{{Harvy|hier|Hiérocles, 650, 11}}, e alguns bispos do período bizantino nasceram em Áptera<ref name=justc/> Os arqueólogos encontraram as fundações de uma igreja cristã do {{séc|VII}} ou VIII, com túmulos no chão. Um segundo sismo ocorrido no {{séc|VII}}{{
NotaNT|
1=Pode ter sido o terramoto de 796, que teria destruído o [[farol de Alexandria]] e que se fez sentir particularmente em [[Gortina]].
}} e o [[saque]] por piratas [[sarracenos]] em 823 marcaram o abandono da cidade pelos seus últimos habitantes.<ref name=grisl/>

No {{séc|XII}} foi fundado no centro do que tinha sido a cidade um [[mosteiro]] dedicado a [[João de Patmos|São João, o Teólogo]], cuja menção mais antiga é de 1182. O mosteiro era propriedade do [[Mosteiro de São João, o Teólogo|Mosteiro de Patmos]] e funcionou até 1964. No local da antiga cidade foi mais tarde construída pelos [[República de Veneza|venezianos]]{{
NotaNT|
1=Creta foi uma possessão da República de Veneza entre 1205 e o final do {{séc|XVII}}, quando foi conquistada pelo [[Império Otomano]].
}} uma fortaleza, chamada localmente Paleocastro (ou Paliocastro) ou Cules,<ref name=koulnot group=nt/> mas a aldeia junto a ela foi destruída pelos piratas em 1583.<ref name=justc/> No {{séc|XIX}}, as ruínas foram usadas como pedreira para a construção da fortaleza de Itzedin, por cima de Kalami, pouco acima do sopé da colina de Áptera, erigida pelos turcos em honra do filho do [[Sultão otomano|sultão]] [[Abdulazize (sultão)|Abdulazize]] em 1872 e que atualmente é uma prisão.<ref name=justc/>

=== Redescoberta da cidade ===
Após ter sido destruída e abandonada a cidade caiu no esquecimento e foi preciso esperar vários séculos para que fosse identificada. Em 1415, o geógrafo italiano [[Cristóvão Buondelmonti]] parece ter identificado Minoa, a cidade do mítico rei [[Minos]], no local de Áptera<ref name=issu1_17/>{{
NotaNT|
1=Atualmente considera-se que Minoa, um dos portos de Áptera, se situava onde é hoje Marati, na costa sul da [[Acrotíri (Creta)|península de Acrotíri]].<ref name=issu1_17/>
}} e descreveu as cisternas e tirou-lhes as medidas.{{HarvRef|Pashley|1837|p=42}} Domenico Negri cometeu o mesmo erro em 1557. Cornaro, que pensava que Minoa se situava entre Cidónia e Áptera, coloca esta última mais a leste do que ela está na realidade.{{HarvRef|Pashley|1837|p=43}} Em 1630, o arquiteto veneziano Francesco Basilicata<ref name=nell/> descreveu um teatro redondo e mosaicos, mas não procurou identificar o nome da cidade.<ref name=issu1_17/>

O célebre [[Botânica|botânico]] francês [[Joseph Pitton de Tournefort]] esteve em Creta em 1700 e em julho desse ano visitou as ruínas de Paleocastro. Baseando-se em [[Estrabão]], formulou a hipótese de Paleocastro ser o sítio da antiga Áptera e lamentou que a população local tivesse esquecido essa antiga cidade.<ref name=tourn32/> Em 1834, o viajante inglês [[Robert Pashley]] foi o primeiro a situar Áptera com precisão.<ref name=issu1_17/> A presença de moedas no local com a inscrição APTE fortaleceu a sua opinião e perto do mosteiro de São João, o Teólogo descobriu, a cerca de um metro de profundidade, uma parede com um decreto da cidade antiga.{{HarvRef|Pashley|1837|p=56}}

[[Imagem:Aptera - Thermen - Ruinen 2.jpg|thumb|esquerda|Ruínas da termas romanas]]

Em 1862 e 1864, o francês Carle Wescher escavou a cidade e pôs a descoberto a chamada "parede das inscrições", que poderia marcar a localização do [[pritaneu]].<ref name=blackm/>{{
NotaNT|
1=O [[pritaneu]] era a sede do poder executivo de uma cidade, local, onde se reuniam os [[prítanes]].
}} Na parede estava escrito um decreto emitido pelo senado no qual se homenageava {{Lknb|Átalo|II|de Pérgamo}}, [[Reino de Pérgamo|rei de Pérgamo]], agradecendo-lhe a sua benevolência em relação à confederação cretense em geral e a Áptera em particular. O texto mencionava que a cidade iria erigir uma estátua de bronze representando Átalo, a pé ou a cavalo, conforme fosse sua vontade, e que garantiria ao rei a sua segurança pessoal, tanto em tempo de paz como em tempo de guerra, quer na cidade de Áptera quer nos seus portos.<ref name=wes440/> A descoberta de Wescher confirmou a hipótese de Pashley segundo a qual as ruínas em Paleocastro eram de Áptera.<ref name=travtc/> Em setembro de 1878, Haussollier também esteve no local, onde estudou, copiou e publicou as inscrições encontradas por Wescher. Segundo ele, a "parede das inscrições" encontrava-se perto do templo bipartido provavelmente dedicado a Ártemis. Em 1899, quando dois viajantes italianos, Luigi Savignoni e Gaetano de Sanctis, visitaram o local, a "parede das inscrições" tinha desaparecido, mas em 1928 foram postas a descoberto outras três inscrições.<ref name=blackm/>

Depois da [[batalha de Creta]] (1941), o sítio foi ocupado pelo exército alemão, devido à sua posição estratégica. Ainda hoje se podem ver os ninhos de metralhadoras construídos com pedras encontradas no local. Durante a ocupação alemã o sítio foi novamente escavado. O templo bipartido foi encontrado a sudoeste do mosteiro; datado do {{séc|V}} ou {{AC|IV|x}}, foi depois usado como túmulo, antes de ser coberto por outros edifícios da época medieval.<ref name=blackm/>

Em 1958, o arqueólogo grego Stylianos Alexiou dirigiu mais escavações, tendo descoberto um templo em honra de Deméter e vários exemplares de [[cerno]]s (vasos de oferendas){{
NotaNT|
1=Um cerno (''kérnos''; plural: ''kérnoi'') é um vaso com pequenos recipientes ou aberturas em volta nos quais eram depositados cereais como oferenda às divindades da agricultura.
}} da época helenística. Alexiou descobriu igualmente parte de um tratado entre Cidónia e Áptera e um conjunto de túmulos do {{séc|IV}} que continham loiça e [[broche]]s em prata.<ref name=justc/>

== Urbanismo e principais monumentos ==
=== Monumentos da Antiguidade ===
==== Cisternas e banhos romanos ====
[[Imagem:ApteraCisterns2(js).jpg|esquerda|thumb|Interior de uma das cisternas]]

As construções mais imponentes visíveis no sítio são as [[cisterna]]s da cidade. Datadas do período romano, não é de se excluir que as mais antigas sejam do período helenístico. A mais imponente de todas as cisternas, chamada ''gama'' ([[Γ]]) devido à sua forma, mede {{fmtn|55.8|metros}} de comprimento por 25&nbsp;m de largura e tem capacidade para {{fmtn|3050|[[Metro cúbico|m³]]}} de água. O teto, já desaparecido, era originalmente [[abóbada|abobadado]]. As paredes são reforçadas no interior por uma parede de tijolos e [[argamassa]]. A estanquidade era assegurada por uma espessa camada de [[gesso]] impermeável. Devido ao comprimento do edifício, foi adicionado um muro de sustentação a fim de ajudar as paredes a suportar o teto e a pressão da água. Ali foi colocada uma escada que permitia descer à cisterna e fazer a sua manutenção. A conduta de evacuação não está ao nível do solo, mas ligeiramente elevada, a fim de que as impurezas presentes na água não atingissem a conduta de água potável e se depositassem no fundo do reservatório.<ref name=whit85/>

A segunda cisterna comporta três compartimentos e outras tantas abóbadas. Uma parte deste complexo foi escavado numa rocha, sendo a parte restante trabalho de [[alvenaria]] similar ao da primeira cisterna, recoberto com um revestimento muito duro que persistiu até à atualidade sobre a maior parte das paredes. Estima-se que a sua capacidade fosse de {{fmtn|2900|m³}}. Após o abandono da cidade, dado que o local foi habitado apenas pelos monges do mosteiro, esta cisterna deixou de ser usada como tal e serviu possivelmente como [[celeiro]]. Devido a esta transformação, a escada que subia do chão até ao teto e que era usada para manutenção foi destruída. No seu lugar, foi aberto um acesso à cisterna ao nível do solo.<ref name=perr79/>

A alimentação das cisternas era feita por aberturas no teto de cada uma delas. Mas a água era também coletada por numerosas outras cisternas situadas em diversos locais da cidade, que alimentavam as duas principais através de um sistema de [[aqueduto]]s. Pashley e [[Georges Perrot|Perrot]] descreveram canos em [[terracota]] enterrados perto da entrada das cisternas, bem como um pequeno aqueduto com 80&nbsp;cm de largura e outro tanto de altura.<ref name=perr79/>{{HarvRef|Pashley|1837|p=39}} As duas cisternas principais serviam principalmente para abastecer o complexo de [[Termas romanas|termas]] situado a norte delas. Ao contrário do que era usual na época, não se encontrou qualquer [[mosaico]] nessas termas, construídas nos primeiros anos do {{+séc|I}}<ref name=ody/>

==== ''Villa'' "do peristilo" ====
[[Imagem:Aptera villa.JPG|thumb|"''Villa'' "do peristilo"]]

Uma ''[[Vila romana|villa]]'', chamada "do [[peristilo]]", parcialmente escavada, permite conhecer melhor a arquitetura residencial em Áptera. Datada do período romano — final do {{-séc|I}} ou início do {{+séc|I|x}} — o que dela se descobriu permite supor que os padrões arquitetónicos de Áptera seguem os do período helenístico nas ilhas do [[Mar Egeu|Egeu]] e [[Ásia Menor]].<ref name=blm147/> A ''villa'' é baseada nesses padrões e possui um peristilo interior e uma álea originalmente coberta com um teto de [[telha]]s. Este teto é suportado por [[coluna]]s de [[Ordem dórica|tipo dórico]]. A ''villa'' terá sido destruída pelo [[Sismo de Creta de 365|terramoto de 365]]. No seu [[Átrio (arquitetura)|átrio]] principal foram encontradas uma pequena estátua de [[Afrodite]] em [[mármore]], um [[busto]] de [[Hermes]] proveniente de uma [[estela]], moedas e peças de [[olaria]] de uso quotidiano. Esse átrio é o centro da casa, em volta do qual se organizava o resto do edifício. Há um segundo átrio na parte sul do edifício, onde há restos de um [[Poço (água)|poço]], alimentado por canalizações que recolhiam a água da chuva. A inexistência de [[Nascente (geologia)|nascentes]] na colina de Áptera levou os habitantes da cidade a construírem poços e cisternas individuais para as necessidades pessoais e infraestruturas maiores para as necessidades gerais da cidades. Perto do poço da ''villa'' encontra-se um reservatório em pedra bem como um balde e uma prensa de [[azeitona]]s em pedra. Noutras divisões da ''villa'' foram encontradas peças de olaria de uso quotidiano e partes metálicas de portas e janelas.<ref name=blm147/>

==== Teatro ====
O teatro da cidade ocupa uma cavidade natural situada na parte sudoeste. O mau estado atual do teatro resulta da sua utilização durante o {{séc|XIX}} como pedreira para construções próximas, nomeadamente da fortaleza otomana de Itzedin. Os visitantes do início desse século descrevem um teatro em melhores condições do que as atuais. A largura máxima do conjunto é de 55 metros e a orquestra tem 18 metros.<ref name=blackm/> A parte que foi escavada mostra que as bancadas eram constituídas por assentos talhados na rocha.<ref name=ody/>

==== Fortificações ====
[[Imagem:Aptera walls.JPG|thumb|Muralha ocidental, em estilo "pseudo-[[Aparelho isódomo|isódomo]]"]]

A [[muralha]] que rodeava Áptera tem {{fmtn|3480|metros}} de perímetro<ref name=permur group=nt/> e circunda toda a parte plana do cimo da colina onde a cidade foi construída. A muralha foi construída na segunda metade do {{-séc|IV}},{{
NotaNT|
1=Pashley estimou que essa parte da muralha seria anterior ao período romano.<ref name=pash37/>
}} mas notam-se diferenças no acabamento de diversos trechos da muralha: foi dada uma atenção maior às partes oeste e sudoeste, seguindo o sistema "pseudo-[[Aparelho isódomo|isódomo]]",<ref name=ody/> um tipo de alvenaria adotado pelos arquitetos gregos, no qual todas as pedras eram talhadas com a mesma altura, de forma que, quando eram colocadas, todas as camadas eram regulares e iguais. Nas partes sul e leste foram por vezes usadas pedras simples nas zonas em que a construção da muralha não foi muito cuidadosa. Nas partes leste e norte a muralha é composta por pedras octogonais e assemelha-se a um [[Construção ciclópica|muro ciclópico]], o que está na origem de durante muito tempo se ter acreditado que essas partes da muralha, com quase quatro metros de altura e cerca de dois metros de espessura e claramente visíveis do sopé da colina, eram muito mais antigas;<ref name=ody/> Pashley, por exemplo, comparou-as com as muralhas de [[Tirinto]] (construídas no {{AC|2º milénio|x}}).<ref name=pash37/>

A proteção assegurada por estas muralhas era reforçada por torres de fortificação, sobretudo na parte ocidental, a de mais fácil acesso e por isso mais difícil de defender. Uma dessas torres foi identificada no lado ocidental: era de planta retangular e denota um cuidado particular na talha das suas pedras e na qualidade das suas juntas, com o objetivo de garantir a melhor resistência possível. A porta principal da cidade foi também identificada nessa parte da muralha. Uma outra porta, chamada ''sideroporti'' ("porta de ferro"), foi identificada na parte norte e devia conduzir ao porto de Císsamos. Uma terceira porta, situada no lado sudoeste, devia conduzir ao vale.<ref name=ody/>

==== Necrópoles ====
[[Imagem:Aptera cemetery.JPG|esquerda|thumb|Cemitério ocidental]]

Áptera tinha dois cemitérios, um situado a sudeste e outro a oeste da cidade. O primeiro ainda não foi escavado, mas vários túmulos talhados na rocha podem ser facilmente identificados e foram todos [[Pilhagem|pilhados]] no passado. A sua arquitetura parece indicar que são da época romana.<ref name=blackm/><ref name=toml47/> O cemitério ocidental foi amplamente escavado, em parte devido a escavações de salvamento, pois situa-se no local onde no {{séc|XIX}} se estabeleceu a aldeia de Pacalona, que continua a crescer. Numerosos túmulos deste cemitério foram também pilhados.<ref name=toml47/><ref name=blm147/>

Pashley conseguiu localizar vários túmulos facilmente e descreveu dois: o primeiro foi construído para acolher três corpos e o segundo quatro corpos.<ref name=pashl32/> Os túmulos mais antigos, que atestam a data da fundação da cidade, remontam ao [[período geométrico]], no {{-séc|VIII}} O morto era geralmente colocado dentro de um grande [[pito (vaso)|pito]], que era posto num túmulo escavado na rocha. Ao lado do pito eram colocadas oferendas, usualmente peças de [[olaria]] bastante simples. Nos períodos seguintes, entre os séculos VII e {{-séc|I}}, o tipo de túmulo mais frequente foi o retangular, escavado numa rocha mole e coberto com um bloco de pedra. Há também túmulos com paredes e cobertura construídas com blocos espessos de pedra ([[cista]]s). Há ainda um terceiro tipo de túmulo, mais simples, que consiste em telhas juntas em volta do corpo do defunto, onde assenta a cobertura. Este último tipo era usado pelas famílias mais modestas.<ref name=toml47/><ref name=blm147/>

[[Imagem:Aptera Heroon.JPG|thumb|upright|Estela do ''[[heroon]]'']]

Na época romana, o tipo de túmulo mais comum foi o de câmara funerária escavada na rocha à qual se acedia descendo uma escada. A entrada era fechada por um bloco de pedra. Foram encontradas nesses túmulos peças de olaria, [[Lâmpada a óleo|lâmpadas de azeite]], figurinhas de argila, joias e moedas. Estes túmulos contêm inscrições com os nomes das pessoas neles enterradas.<ref name=ody/> A presença de sepulturas no interior das muralhas da cidade leva a crer que nem toda a área rodeada pelas muralhas era habitada.<ref name=blackm/>

Na necrópole ocidental, podem observar-se restos de um ''[[heroon]]'' (túmulo monumental construído para um herói) da época romana, do {{séc|I}} ou {{DC|II|x}}<ref name=whit85/> Entre duas filas de túmulos foram descobertas seis bases de [[estela]]s que formavam um memorial. Estas estelas, sobre as quais se encontravam certamente estátuas, foram erigidas em honra de cidadãos de Áptera, por serviços prestados à cidade.<ref name=ody/> Cinco das bases têm inscrições.<ref name=whit85/> A destruição deste ''heroon'' foi causado pela implantação próxima de túmulos cristãos do {{séc|VI}}.<ref name=ody/>

=== Monumentos mais tardios ===
Há dois edifícios construídos no sítio de Áptera após o abandono da cidade, da qual já não fizeram parte mas que foram simplesmente edificados no perímetro das muralhas da antiga cidade.

==== Mosteiro de São João, o Teólogo ====
Fundado em 1182 e dedicado a [[João de Patmos|São João, o Teólogo]] (''Agios Joannis''), este mosteiro encontra-se no centro da antiga cidade. Propriedade do [[Mosteiro de São João, o Teólogo|mosteiro homónimo]] em [[Patmos]],<ref name=pashl32/> conservou o estatuto de ''metochion'' até 1964, quando deixou de estar ocupado.<ref name=ody/> [[Georges Perrot]] usou o termo "[[fazenda]]"{{
NotaNT|
1=''métairie'' no original em francês.
}} para descrever o mosteiro.{{HarvRef|Perrot|1867|p=80}} Richard Pococke indica que quando passou por Áptera viu um mosteiro em ruínas no meio da antiga cidade, que pode ter sido este.<ref name=poc437/> Pashley visitou o mosteiro no século seguinte, relatando que em 1833 os monges tinham campos de oliveiras em volta do edifício, os quais tinham sido deixados ao abandono desde o início dos combates da [[guerra de independência grega]] em 1822. [[Thomas Abel Brimage Spratt|Thomas Spratt]] contou que os monges eram ajudados nas suas tarefas por camponeses dos arredores e falou nas dificuldades dos religiosos em lidarem com os roubos de trigo e gado cometidos pelos habitantes de [[Apocórona]] e de [[Sfakiá]].{{HarvRef|name=spratt|Spratt|1865|p=130}}

Os monges deram a Pashley moedas encontradas na terra em volta do mosteiro, as quais lhe permitiram relacionar as ruínas com a cidade de Áptera.{{HarvRef|Pashley|1837|p=34}} Os viajantes referem também a presença de mosaicos no local onde se encontra a atual capela do mosteiro, que seriam a prova da existência de uma [[basílica]] cristã mais antiga.<ref name=justc/> O mosteiro, atualmente abandonado pelos monges, é agora usado pelas equipas de arqueólogos que trabalham no sítio. Uma das salas acolhe uma exposição sobre a história, arquitetura e as escavações empreendidas no local.

==== Fortaleza turca ====
[[Imagem:Aptera Fortress.jpg|thumb|A fortaleza turca de Koules<ref name=koulnot group=nt/> e a encosta norte (virada para o mar) da colina de Áptera, com o maciço das Montanhas Brancas ao fundo]]

Na extremidade nordeste do espaço circunscrito pelas muralhas ergue-se a fortaleza originalmente construída pelos [[República de Veneza|venezianos]] no {{séc|XVI}} e que foi destruída por piratas em 1583. Quando visitou Creta no {{séc|XVIII}}, Richard Pococke descreveu as ruínas de uma torre semicircular que provavelmente defendia a passagem.<ref name=poc437/> As ruínas dessa fortaleza ainda eram visíveis quando Spratt visitou o local na década de 1850, reconhecendo os restos de uma antiga fortaleza, mas Spratt julgou que eles eram da época romana ou medieval.<ref name=spratt/> O edifício foi restaurado pelos otomanos em 1866–1867, durante a [[Revolta de Creta de 1866-1869|revolta de cretense]] e tem o nome de Koules.{{
Nota de rodapé|grupo=nt|nome=koulnot|
1=''Koules'' (do turco "torre" ou "forte"), é um nome comum a muitas fortalezas de Creta.<ref name=koulcb/>
}} A sua construção foi feita recorrendo em parte a materiais recolhidos nas ruínas da antiga cidade. O edifício é de forma praticamente retangular, com 35 por 25 metros e é flanqueado por duas torres na fachada meridional. A fachada norte descreve um arco de círculo. A fortaleza domina a baía de Suda e o vale de Apocórona, em direção a [[Kalives]] e [[Vámos]], e a fortaleza de Itzedin construída pelos Otomanos mais abaixo alguns anos mais tarde. Em 2013, o ministério da cultura grego tinha em projeto a reconstrução do forte Koules de Áptera.<ref name=yppo5121/>

== Notas ==
{{Refbegin}}
{{Tradução/ref|fr|Aptera (Grèce)|98699914}}
{{Reflist|group=nt|2|refs=

<ref name=pal group=nt>O nome Paleocastro ou Paliocastro ("velho forte") tem origem na presença da antiga fortaleza veneziana situada na orla das ruínas da cidade, construída no {{séc|XVI}} e destruída em 1583, que esteve em ruínas entre 1583 e 1866, quando foi substituída pela fortaleza otomana de Koules, que ainda hoje existe. Tanto Paleocastro como Koules são topónimos usados noutros locais de Creta e do resto da Grécia. Ver [[Paleocastro]] e [[#cite_note-koulnot-21|nota sobre ''Koules'']].</ref>

}}
{{Refend}}

{{Referências|refs=

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}}<!--fim refs-->

==Bibliografia==
===Fontes antigas===
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===Obras modernas===
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*{{Citation|último =Tod|primeiro =Marcus Niebuhr|data=maio de 1932|título=Greek Inscriptions|publicado=Cambridge University Press on behalf of The Classical Association|língua=en|periódico=Greece & Rome|volume=1|número=3|páginas=163-165|url=http://www.jstor.org/stable/641848|acessodata=31-12-2013}}
*{{Citation|último =Tomlinson|primeiro =Richard Allan|ano=1995–1996|título=Archaeology in Greece 1995-96|publicado=The Society for the Promotion of Hellenic Studies|língua=en|autorlink =Richard Allan Tomlinson|periódico=Archaeological Reports|número=42|páginas=1–47|issn=2041-4102|url=http://www.jstor.org/stable/581053|acessodata=31-12-2013}}
*{{Citation|último =Willetts|primeiro =R. F.|data=novembro de 1958|título=Cretan Eileithyia|publicado=Cambridge University Press|língua=en|periódico=The Classical Quarterly|series=New Series|volume=8|número=3/4|páginas=221-223|url=http://www.jstor.org/stable/637985|acessodata=31-12-2013}}
*{{Citation|último =Willetts|primeiro =R. F.|ano=1977|título=The Civilization of Ancient Crete|publicado=University of California Press|língua=en|páginas=279|isbn=9780520034068|url=http://books.google.pt/books?id=b2Y1E4Qi8eoC&pg=PA209&q=Aptera|acessodata=31-12-2013}}
*{{Citation|título=Bulletin de l’Association CRETE : terre de rencontres|data=outubro de 1999|língua=fr, el|local=Paris|número=5|url=http://creteterrederencontres.info/numero_pdf/numero%2005.pdf|acessodata=31-12-2013|formato=PDF|ref=assc}}
*{{Citation|último =Whitley|primeiro =James|ano=2002–2003|título=Archaeology in Greece 2002-2003|periódico=Archaeological Reports|publicado=The Society for the Promotion of Hellenic Studies|língua=en|número=49|páginas=1-88|issn=2041-4102|url=http://www.jstor.org/stable/3246017|acessodata=31-12-2013}}
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=== Obras mais antigas e relatos de viagens===
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*{{Citation|último =Pashley|primeiro =Robert|ano=1837|título=Travels in Crete|publicado=The Pitt Press. Jouhn W. Parker|língua=en|autorlink =Robert Pashley|páginas=321|url=http://books.google.pt/books?id=HmIGAAAAQAAJ|acessodata=31-12-2013}}
*{{Citation|último =Perrot|primeiro =Georges|ano=1867|autorlink =Georges Perrot|título=L'île de Crète: souvenirs de voyage|publicado=Hachette|língua=fr|local=Paris|páginas=278|url=http://books.google.pt/books?id=vYATAAAAYAAJ|acessodata=31-12-2013}}
*{{Citation|último =Pococke|primeiro =Richard|ano=1772|autorlink =Richard Pococke|título=Voyages en Orient, dans l'Egypte, l'Arabie, la Palestine, la Syrie, la Grèce, la Thrace}}
*{{Citation|último =Spratt|primeiro =Thomas Abel Brimage|ano=1865|autorlink =Thomas Abel Brimage Spratt|título=Travels and Researches in Crete|publicado=John Van Voorst|língua=en|local=Londres|páginas=435|url=http://books.google.pt/books?id=ed8GAAAAQAAJ|acessodata=31-12-2013}}
*{{Citation|último =Taylor|primeiro =Bayard|ano=1863|autorlink =Bayard Taylor|título=Travels in Greece and Russia: With an Excursion to Crete|publicado=G.P. Putnam. Reimp. 2010: BiblioBazaar|língua=en|páginas=426|isbn=9781178035773}}
*{{Citation|último =Tournefort|primeiro =Joseph Pitton de|ano=1727|título=Relation d'un voyage du Levant, fait par ordre du roy|autorlink =Joseph Pitton de Tournefort|publicado=Frères Bruyset|língua=fr|url=http://books.google.pt/books?id=gV9yyiCQ5VQC|acessodata=31-12-2013}}
*{{Citation|último =Wescher|primeiro =Carl|ano=1864|título=Rapport sur les fouilles d'Aptére|publicado=Académie des inscriptions & belles-lettres|língua=fr|periódico=Comptes rendus des séances}}
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== Ligações externas ==
{{Commonscat|Aptera|Áptera}}
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*{{Citar web|url=http://issuu.com/nectarios|titulo=Site de Nectarios Mavromatakis com publicações em linha sobre Áptera|acessodata=11 de janeiro de 2014|obra=issuu.com/nectarios|língua=en}}
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