Atenção
Atenção
Atenção
Já tive muitas capas e infinitos guarda-chuvas, mas acabei me cansando de tê-los e perdê-los;
há anos vivo sem nenhum
desses abrigos, e também, como toda gente, sem chapéu. Tenho apanhado muita chuva, dado
muita corrida, me plantado debaixo de
Ontem, porém, choveu demais, e eu precisava ir a três pontos diferentes do bairro. Pedi ao
moço de recados, quando veio
apanhar a crônica para o jornal, que me comprasse um chapéu-de-chuva que não fosse
vagabundo demais, mas também não muito
Depois de cumprir meus afazeres voltei para casa, pendurei o guarda-chuva a um canto e me
pus a contemplá-lo. Senti então
uma certa simpatia por ele; meu velho rancor contra os guarda-chuvas cedeu a um estranho
carinho, e eu mesmo fiquei curioso de
Pensando bem, ele talvez derive do fato de ser o guarda-chuva o objeto do mundo moderno
mais infenso a mudanças. Sou
apenas um quarentão, e praticamente nenhum objeto de minha infância existe mais em sua
forma primitiva.
abusaram que até caíram de moda. Ele permaneceu austero, negro, com seu cabo e suas
invariáveis varetas.
Reparem que é um dos engenhos mais curiosos que o homem já inventou; tem ao mesmo
tempo algo de ridículo e algo de
Já na minha infância era um objeto de ares antiquados, que parecia vindo de épocas remotas,
e uma de suas características
era ser muito usado em enterros. Por outro lado, esse grande acompanhador de defuntos
sempre teve, apesar de seu feitio grave, o
costume leviano de se perder, de sumir, de mudar de dono. Ele na verdade só é fiel a seus
amigos cem por cento, que com ele saem
todo dia, faça chuva ou sol, apesar dos motejos alheios; a estes, respeita. O freguês vulgar e
ocasional, este o irrita, e ele se aproveita
(Adaptado de: BRAGA, Rubem. Coisas antigas. In: 200 Crônicas escolhidas. 13. ed. Rio de
Janeiro: Record, 1998, p.217-9)
(A) mesmo que possam ser condenáveis os abusos a que foi submetido o aspecto das
sombrinhas, elas têm a grande
vantagem de não serem esquecidas exatamente por conta da sua diversidade de cores e
padrões.
(B) se a todo momento se perde um guarda-chuva, a perda não precisa ser lamentada, já que
guarda-chuvas podem sempre
(C) ainda que o guarda-chuva seja uma invenção bastante engenhosa, parece surpreendente
que o homem não tenha
conseguido até hoje inventar alguma coisa mais prática que pudesse substituí-lo na proteção
contra a chuva.
(E) se é elogiável o fato do guarda-chuva ter permanecido praticamente o mesmo desde a sua
invenção, a falta de variedade
de seu aspecto é responsável pelas confusões que o levam a constantes trocas de dono.
10. Em diversos momentos o autor se vale do humor na composição do texto, como ocorre no
segmento:
I. Pensando bem, ele talvez derive do fato de ser o guarda-chuva o objeto do mundo moderno
mais infenso a mudanças.
(4
parágrafo)
II. Suas irmãs, as sombrinhas, já se entregaram aos piores desregramentos futuristas e tanto
abusaram que até caíram de
moda. (5
parágrafo)
III. Reparem que é um dos engenhos mais curiosos que o homem já inventou; tem ao mesmo
tempo algo de ridículo e algo
de fúnebre... (6
parágrafo)
IV. Por outro lado, esse grande acompanhador de defuntos sempre teve, apesar de seu feitio
grave, o costume leviano de se
(A) II e IV.
(B) I, II e III.
(C) II e III.
(D) I, III e IV.
(E) IV.
O verbo empregado nos mesmos tempo e modo que o verbo grifado acima está em
(B) ... nenhum objeto de minha infância existe mais em sua forma primitiva.
DPERR-Conhecimentos Básicos