Metodos Sustentabilidade Na Aquicultura - Anais Zootecnia

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Revista Brasileira de Zootecnia

2007 Sociedade Brasileira de Zootecnia


ISSN impresso: 1516-3598
ISSN on-line: 1806-9290
www.sbz.org.br

R. Bras. Zootec., v.36, suplemento especial, p.33-44, 2007

Mtodos de estudos de sustentabilidade aplicados a aquicultura


Mrcia Nolia Eler1, Thiago Jos Millani2
1 - Pesquisador, NEEA/CRHEA/SHS/EESC/USP. Av. do Trabalhador San Carlense, 400 . CP. 297. So Carlos, SP. marciaeler
@yahoo.com.br
2 - PPG-SEA- NEEA/CRHEA/SHS/EESC/USP

RESUMO - O objetivo deste artigo introduzir reflexes sobre as estratgias de interconexo da aqicultura no
contexto scio-ambiental, conclamando os atores comprometidos com o setor a pesquisar e utilizar mtodos de
viabilidade em conformidade com o princpio da sustentabilidade. Sendo que o conceito de desenvolvimento sustentvel
defendido aquele que tem como paradigma a incluso da dimenso social e ambiental desde o estgio de planejamento
at a operao. Para tanto, a metodologia da avaliao do ciclo de vida do produto, critrios de avaliao de impacto
ambiental, assim como, a adoo da bacia hidrogrfica como unidade de gesto participativa, so instrumentos
apresentados tendo a piscicultura de gua doce como exemplo. A Legislao ambiental brasileira apresentada como
critrio norteador e determinante na busca do desenvolvimento sustentvel.
Palavras-chave: agenda 21, aqicultura sustentvel, avaliao de ciclo de vida, impacto ambiental, legislao
ambiental

Sustainable development in aquiculture:


methodology and strategies
ABSTRACT - The objective of this article is to introduce the reader to a reflection about the strategies of
interconnection of the aquaculture in the human-environmental context, shouting the committed actors with the sector
it research and utilize approaches of feasibility in conformity with the beginning of the sustainability. Sustainability is
a complex idea and an abstract concept that provides a framework for interdisciplinary dialogue, interaction and
research. The Principle of Sustainable Development as it was endorsed in the Rio-Declaration of 1992, interpreted as
comprising the inter-relation of natural and technological aspects on the one hand, with socio-economic and valuebased considerations on the other. This study applies a consequential approach to system delimitation and includes
future scenarios. The latter are used to predict the impact potential over a longer time span. Also, the methodology for
life cycle impact assessment (LCA), environmental impact evaluation criteria, as well as, the adoption of the basin as
unit of management participatory. Interconnecting each aquaculture process, Brazilian environmental Legislation is
as a criteria determinant in the search of the sustainable development.
Key Words: environmental regulation and policies, impact assessments, LCA, Rio declaration of 1992, sustainable
aquaculture

Introduo
O desenvolvimento sustentvel tem levado
todas as naes a buscar um equilbrio entre o
crescimento e a proteo dos recursos naturais. Isto
foi enfatizado na proposta elaborada na reunio
da ONU em 1992 para o futuro sustentvel, a denominada agenda 21. Este documento trata a gua
como um elemento vital, por ser um recurso finito
e de distribuio irregular no planeta (Scare, 2003).
Correspondncias devem ser enviadas para: [email protected]

Com a evoluo da questo ambiental e das


condies que o planeta apresenta, o cultivo
racional de organismos aquticos, atividade
zootcnica mais conhecida como aqicultura,
apresenta-se como atividade economicamente
emergente na competio pelo recurso gua.
Atualmente, a aqicultura enfrenta o desafio de
moldar-se ao conceito de sustentabilidade, o que
implica em agregar novos valores a produo de
conhecimento e s prticas do setor.

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Eler & Millani

Segundo a FAO (2007), a produo aqcola


mundial, incluindo algas, excedeu em 2004 os 59
milhes de toneladas, e, em valor, ultrapassou US$
70 bilhes. No Brasil a situao no diferente. A
produo aqcola nacional total no ano de 2004
foi estimada em mais de 260.000 t, o que representa uma receita de mais de R$ 2 bilhes, havendo
um predomnio do cultivo de peixes de gua doce
com cerca de 65,8% de toda a produo.
Apesar dos benefcios sociais (gerao de
emprego) e econmicos, deve-se considerar que
todas as atividades produtivas so impactantes ao
meio ambiente, especialmente quando executadas
de maneira inadequada e sem considerar os
princpios bsicos de alteridade scio-ambiental,
dentre os quais, o planejamento do uso de recursos
naturais e as estratgias que assegurem o desenvolvimento pretendido. Assim, dificilmente um
princpio ou uma causa ter adquirido tanta adeso
e consenso.
Neste escopo, conceitos como ecodesenvolvimento, tecnologias apropriadas ou alternativas
passaram a ocupar um crescente espao nos debates
acadmicos (Assad & Bursztyn, 2000; Almeida,
2003) e empresariais. Assim, vrias formas de
avaliao de impactos e de gesto do setor produtivo
foram desenvolvidas, procurando-se reduzir de
forma exponencial os impactos ambientais
decorrentes do crescimento da produo.

O objetivo deste artigo introduzir reflexes


ao leitor a uma reflexo sobre as estratgias de
interconexo da aqicultura no contexto scioambiental, conclamando os atores comprometidos
com o setor a pesquisar e utilizar mtodos de viabilidade do setor em conformidade com o conceito
de desenvolvimento sustentvel (Figura 1).

Conceito de sustentabilidade
O conceito de desenvolvimento sustentvel
defendido neste artigo aquele que tem como
paradigma a incluso da dimenso social e
ambiental desde o estgio de planejamento at a
operao e avaliao do empreendimento ou de
uma poltica de desenvolvimento (FAO).
O termo Desenvolvimento Sustentvel prope
uma nova forma de modelo de desenvolvimento,
especialmente a partir do relatrio da comisso
mundial para tratar de meio ambiente e desenvolvimento (Wecd, 1987), mais conhecido como
relatrio de Brundtland. A comisso definiu como
desenvolvimento sustentvel, aquele desenvolvimento que supre as necessidades do presente
sem, contudo, comprometer as necessidades das
geraes futuras.
Vrias abordagens sobre o conceito de desenvolvimento sustentvel (DS) foram apresentadas
por Thiago (2002). O autor ressalta a importncia

Figura 1 Modelo de desenvolvimento sustentvel com enfoque sistmico. Elaborado por Mara Teresa
Lpes B. In: Srie Relatrio Tcnico n.03. Instituto de Pesca/APTA/SAA. 2000.

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Mtodos de estudos de sustentabilidade aplicados a aquicultura

de uma ampla discusso destas abordagens no que


se refere ao setor aqcola, iniciando-se um dilogo
por meio de fruns multi e interdisciplinares que
culminem em um consenso sobre o que deve ser
um empreendimento aqcola ambientalmente
sustentvel.
Embora existam vria abordagens, o Estado
brasileiro por meio do Ministrio do Meio Ambiente, fundamentado nas recomendaes da FAO,
j apontou diretrizes para o setor aqcola desde
1997. O objetivo destas diretrizes identificar as
responsabilidades, deveres e obrigaes do Estado
e dos atores envolvidos com a aqicultura, sendo
que o intercambio contnuo entre estes atores
essencial para garantir a sustentabilidade, a segurana alimentar e a erradicao da pobreza, direcionando para o bem estar das geraes futuras.
O documento produzido como subsdio para a
elaborao da agenda 21 brasileira, com foco na
agricultura sustentvel (Bezerra et al., 2000),
adverte sobre o significado do adjetivo sustentvel,
consagrado na Eco 92. A sustentabilidade significa
preservao do capital ambiental oferecido pela
natureza. Entretanto o documento encoraja (p.13)
a superar as dificuldades da aplicao prtica da
definio de DS em funo de seu profundo
sentido tico. Por fim, reconhece-se que muitas
vezes a crise ambiental tambm a crise de um
conjunto de relaes sociais. Os problemas
ambientais denunciam desigualdades profundas no
acesso das populaes aos recursos da natureza e
s boas condies ambientais. Embora o direito a
um meio ambiente saudvel esteja garantido a
todos na Constituio Brasileira (Artigo 225), o
que resta populao menos favorecida a
excluso do desenvolvimento sustentvel.
Na verdade, o conceito de DS est contemplado
indiretamente na Constituio brasileira pela
combinao dos Artigos 170 que trata da ordem
econmica (valorizao do trabalho humano e na
livre iniciativa.. III - funo social da propriedade;
VI - defesa do meio ambiente, inclusive mediante
tratamento diferenciado conforme o impacto
ambiental dos produtos e servios e de seus
processos de elaborao e prestao e VII reduo das desigualdades regionais e sociais);
do artigo 186 que trata do cumprimento da funo
social em propriedade rural (...I- aproveitamento
racional e adequado; II - utilizao adequada dos
recursos naturais disponveis e preservao do

meio ambiente; III - observncia das disposies


que regulam as relaes de trabalho; IV explorao que favorea o bem-estar dos
proprietrios e dos trabalhadores) e, finalmente
pelo captulo V, artigo 225 que dedicado, exclusivamente, ao meio ambiente (Todos tm direito ao
meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem
de uso comum do povo e essencial sadia
qualidade de vida, impondo-se ao Poder Pblico
e coletividade o dever de defend-lo e preservlo para as presentes e futuras geraes...).
Para reverter este quadro, as quatro diretrizes
propostas em Bezerra et al. (2000), sistematizadas
de maneira participativa e dialgica, ressaltam a
necessidade do fortalecimento da agricultura
familiar, o estmulo aos mecanismos de comercializao, processo de certificao ambiental (selo
verde), ampliao do acesso a educao, formao
profissional, a educao ambiental, atendimento
aos padres de qualidade exigidos pelo mercado,
estmulo a formao de organizaes civis e o
fortalecimento de articulaes entre o governo e
sociedades civis, dentre outros.
Impactos ambientais
Invariavelmente, a agricultura tem afetado o
ambiente por meio da ocupao e fragmentao
dos habitats naturais e primitivos (originais), pela
reduo da abundncia e da diversidade da biota,
com alteraes do solo, da gua e da qualidade da
paisagem, contribuindo para que haja alteraes
nos fatores climticos globais. De certa forma, as
preocupaes com esses impactos e a anlise de
custo-benefcio so essenciais para a avaliao da
sustentabilidade da aqicultura a qual, at ento,
no era considerada como geradora de impacto
ambiental.
O meio aqutico, para a maioria dos usurios,
suporta uma flora e uma fauna diversificada com
a coleta e insero de algumas espcies do ambiente natural em ambiente de cativeiro. Entretanto
Beveridge et al. (1996) ressaltam que os
organismos aquticos se comportam de forma
diferente dos animais terrestres, pois escapam e
formam populao feral que poder: (1) espalhar
e inter-reproduzir com o estoque nativo e, desta
forma, ameaar os recursos genticos naturais; (2)
provocar a ruptura nos habitats naturais pela
proliferao ou remoo da vegetao ou pelo
aumento da turbidez; e (3) pela introduo de

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Eler & Millani

organismos patognicos, predadores e outras


pragas.
Como impacto positivo, a literatura considera
o consrcio entre aqicultura e outras modalidades
agrcolas, como por exemplo, o cultivo integrado
de arroz e peixe, suno-peixe, aves-peixe ou ainda
o sistema integrado de usos mltiplos. O clssico
exemplo italiano em que se utiliza a agricultura
nos vales integrada ao sistema de manejos dos
lagos, implementando-se ainda a recreao um
desses exemplos. Outro aspecto positivo a
manuteno de estoques de materiais no mar e nos
reservatrios, protegendo e conservando espcies
em perigo de extino, alm do emprego de
efluentes industriais no enriquecimento dos
viveiros de piscicultura, ou ainda o acoplamento
de um sistema de hidroponia junto aos resduos
da prpria piscicultura. Deve-se ressaltar tambm
como um aspecto positivo social e econmico as
oportunidades de novas fontes econmicas e de
trabalho na bacia hidrogrfica.
Entretanto, a aqicultura no produz apenas
impactos positivos. Analisando-se todos os
sistemas de criao de peixes em cativeiro, tem
sido verificado que os impactos negativos so
muitos, com conseqncias diretas sobre o meio
ambiente (Rosental, 1994).
A eutrofizao dos recursos hdricos talvez seja
um dos maiores impactos causados pela aqicultura. Pillay (1992), ao monitorar 200 fazendas na
Inglaterra, tambm mostrou os efeitos negativos
da criao de peixes sobre o efluente, verificando

que geralmente os impactos estavam associados


ao aumento de fsforo, florescimento de algas
potencialmente txicas, aumento do material em
suspenso, culminando com a mortandade de
peixes (Tabela 1).
O efeito da qualidade do efluente sobre o corpo
receptor est ligado principalmente quantidade
de slidos suspensos na gua, quantidade de
nutrientes dissolvidos e reduo nas concentraes de oxignio dissolvido. O enriquecimento
orgnico afeta diretamente as taxas de consumo
de oxignio e quando a demanda pelo oxignio
dissolvido na gua maior que a disponvel o
sistema pode se tornar anxico, principalmente na
interface gua-sedimento, embora, muitas vezes,
ocorra dficit de oxignio dissolvido na coluna
dgua, principalmente no perodo noturno. Os
processos anaerbicos que ocorrem no sedimento
tambm colaboram com a reduo nas concentraes de oxignio dissolvido, resultando na
produo de amnia, gs sulfdrico e metano, os
quais podem dissipar-se pela coluna dgua. O
enriquecimento de amnia na gua, sob baixas
concentraes de oxignio dissolvido, pH e
temperatura elevada, propiciam a mortandade de
peixes (Boyd, 1982), implicando em perdas
econmicas.
Quanto ao enriquecimento pelo fsforo e
nitrognio, o maior problema que eles agem
como substncias fertilizantes, estimulando o
crescimento do fitoplncton. O aumento da
produo orgnica no sistema resulta em aumento

Tabela 1 - Impactos negativos notificados em viveiros de produo de peixes.


Impacto negativo
Eutrofizao
da Carga de fsforo
da concentrao de bactrias indicadoras de qualidade sanitria
da concentrao de oxignio dissolvido
do florescimento de algas
de fungos de esgoto e material suspenso
da concentrao de clorofila a
da biomassa de macrfitas
da turbidez da gua
Odores
Sabor desagradvel na carne do peixe
gua no potvel
Restrio ao uso da gua do efluente
Morte de peixes
Alterao na fauna bentnica
Poluio pelas gaiolas
Deteriorao das pesca

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Pillay,1992
22
15
11
9
8
5
4
3
2
2
2
2
1
1
1
1
1

Eler, 2000

no foi analisado
observada
Observado

Pstia sp

no observado
no ocorreu
aps tratamento
sem restrio
ocorreu
no analisado

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Mtodos de estudos de sustentabilidade aplicados a aquicultura

do consumo de oxignio, o que se torna mais


drstico no perodo noturno, resultando na mortandade de peixes.
Entretanto, o crescimento das algas no leva
apenas competio por oxignio dissolvido.
Espcies potencialmente txicas de cianobaterias
podem provocar grandes mortandades de peixes
(Eler et al., 2006), como apresentado na Tabela 2.
Alm do efluente produzido pelos processos
naturais e pelo enriquecimento de nutrientes e por
fezes e rao no consumida, a piscicultura
tambm lana os resduos de produtos qumicos,
os quais so utilizados na desinfeco, controles
de pestes e predadores, tratamentos de doenas,
hormnios para induzir a reproduo e a reverso

sexual alm dos anestsicos para transporte, dentre


outros. Na Tabela 3 so apresentados os medicamentos de uso comum na piscicultura.
De acordo com Pillay (1992), os anestsicos,
desinfetantes e biocidas podem exercer efeitos
primrios e secundrios. Os efeitos primrios
resultam no impacto ecotoxicolgico e os secundrios esto relacionados com a mortandade (efeito
letal) e efeitos subletais em espcies que no eram
alvo do tratamento.
Os antibiticos, por exemplo, aumentam a
resistncia de vrios organismos (efeito primrio),
tendo como efeito secundrio o aumento da resistncia de organismos patognicos ao medicamento
aplicado, o que pode atingir rios e lagos. Alm

Tabela 2 - Perdas de estoque de peixes em pesque-pague da Bacia Hidrogrfica do rio Mogi-Guau.


Eventos ocorridos entre os anos de 1999 a 2005. Preo mdio do kg de peixe ao consumidor em 2005:
R$ 5,00. Fonte: Eler et al., 2006.
Local
1
2
3
4
5
6

Causa mais provvel

8
1
2
3
4
5

Estoque (kg)
10.000
1.000
5.000
400
4.000
10.000

Prejuzo (R$)
50.000,00
5.000,00
25.000,00
2.000,00
20.000,00
50.000,00

OD
Cheia/rompimento
de barragem
e/ou do
monge

1.000
20.000
20.000
3.000
2.000
10.000

5.000,00
10.0000,00
10.0000,00
1.5000,00
10.000,00
50.000,00

Roubo

1.300

6.500,00

Parasita (Laernia)

600

3.000,00

Manejo no inverno

5.000

25.000,00

Pequena oferta de gua

1.500

7.500,00

Total

94.800

474.000,00

Florescimento
de algas

Tabela 3 - Principais medicamentos e produtos qumicos utilizados em piscicultura.


Medicamento
Premix
Verde malaquita
Formol
Teramicina/Oxytetraciclina
Cloramina/Amoxilina
Cloreto de sdio
Sulfato de cobre
Permanganato de potssio
Vitaminas
Dipterex
Hidrxido de sdio
Hipocloreto de sdio
Hormnio

Uso
Suplemento
Desinfetante
Desinfetante
Antibitico
Antibitico
Desinfetante
Algicida
Desinfetante
Suplemento alimentar
Controle de predador
Desinfetante
Desinfetante
Induo de reproduo ou sexagem

Fonte
Pillay,1990
Pillay, 1990
Pillay , 1990
Vinatea, 1999
Vinatea, 1999
Pillay, 1990
Vinatea, 1999
Pillay, 1990
Pillay, 1990
Vinatea, 1999
Vinatea, 1999
Pillay, 1990

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Eler & Millani

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espcies nativas: este tipo de dano ocorre


quando h fuga das espcies em cativeiro
para o ambiente natural;
3.o impacto na biodiversidade. A introduo e
transporte de espcies de criao, resultante
de erros, como o escape acidental ou intencional para o ambiente natural (Tabela 5).

disso, existe tambm a possibilidade da transmisso de organismos patognicos das criaes para
a populao natural. Sampaio (1996), relata o uso
de DIPTEREX para o controle de insetos e a
influencia negativa na cadeia alimentar nos
viveiros experimentais da CITROSUCO. Os dados
da Tabela 4 apontam o uso mais freqente dos
produtos qumicos empregados nas pesque-pague
e a Figura 2 aponta a presena dos produtos na
gua.
Alm dos impactos negativos anteriormente
mencionados, mencionam-se outros, tais como:
1.a destruio de habitats de espcies nativas,
principalmente nas criaes de camaro nos
mangues: este efeito ocorre quando o projeto
no estuda a capacidade de sustentao da
rea empregada no sistema de criao;
2.a interao entre as espcies de cativeiro e

Segundo Munday et al. (1992) as espcies


introduzidas podem interferir nas taxas de
sobrevivncia, predao, inibio da reproduo,
modificao ambiental, transferncia de novos
parasitas e doenas e hibridao.
Considerando-se as formas mitigadoras dos
impactos ambientais gerados pela aqicultura,
verifica-se que os impactos negativos destes
empreendimentos podem ser evitados. Sandifer &
Hopkiens (1996) apresentam uma proposta que

Tabela 4 -Casos de enfermidades e parasitas mais freqentes nos pesque-pague e produtos empregados
para controle. Fonte: Eler et al., 2006.
Doena
Fungo

N de casos
10

Lernaea (lernia)

20

Dactylogirus
Argulus

1
7

Ichthyophthirus
Bactrias

1
2

Predadores
Algas

55

alfa-BHC
beta-BHC
delta-BHC
Heptacloro
Gama-BHC
Aldrin
Heptacloro Epoxide
Endosulfan-I
4,4-DDE
Dieldrin
Endrin
Enosulfan-II
Endrin - Aldeido
Endosulfan sulffato

Produtos
Formol, verde malaquita, terramicina, sulfato de cobre, azul
de metileno
Dimilim (Diflubenzuron- 20), formol (1), folisuper (parathion
1), dipterex (triclorfon)
Verde malaquita, alcistin
Dimilim (Diflubenzuron- 5), Folidol (Parathion (1), Nitrosol
(nitrofurano 1)
Sulfato de cobre
Terramicina, octetraciclina, po de alho, formol, antibioticos,
verde malaquita (1)
Dipterex
Sulfato de cobre (20), calcrio

1
4
10
14
1
16
13
5
1
3
7
4
2
1

5
10
15
20
Pesque-pague com resultados positivos para gua

Figura 2 Principais substncias organoclo-radas determinadas em lagos de pesca na Bacia Hidrogrfica


do Rio Mogi-Guau. Eler et al., 2006.

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Mtodos de estudos de sustentabilidade aplicados a aquicultura

Tabela 5 Nome comum, cientfico e peso das espcies de peixes pescadas no rio Mogi-Guau em
Cachoeira de Emas/junho de 2005. Coleta de dados por meio de entrevista a pescadores no local de
pesca. Fonte: Eler et al., 2005
Nome vulgar
Barbado
Bagre africano*
Cachara
Carpa capim*
Carpa espelho*
Cascudo preto
Curimbat**
Curvina**
Matrinx**
Piauu
Pintado
Pirambeba
Piranha
Piraputanga
Sardinho
Tilpia*

Nome cientfico
Pinirampus pinirampus
Clarias gariepinus (Burchell, 1822)
Pseudoplatystima fasciatum (Linnaeus, 1766)
Ctenopharyngodon idellus (Valenciennes, 1844)
Cyprinus carpio specularis (Gonow, 1854)
Rhinelepis aspera
Prochilodus argentus
Plagioscion squamosisimus (Heckel, 1840)
Brycon cephalus (Gnther, 1869)
Leporinus sp
Pseudoplastytoma corruscan
Serrasalmus rhombeus
Serrasalmus sp
Brycon orbigynianus (Gnther, 1869)
Pellona sp
Oreochromis sp

Peso (kg)
11-18,0
4-6,0
6,0
3,0
9,0
0,5
8,0
1,5- 2,0
1,5
8,0
34-60,0
0,3-1,0
0,5-1,0
1,0
0,3
0,5

* Espcie extica; ** Espcie allctone


mostra o caminho do fsforo e do nitrognio em
cada elo da cadeia alimentar de uma piscicultura
de camaro, bem como as fontes de exportao e
a de emisso de poluentes (efluente). proposta a
reciclagem da gua nos viveiros por meio da
hidroponia e reaproveitamento da gua.
No entanto, impactos de outras atividades no
entorno do empreendimento influenciam e limitam
a prtica da piscicultura. Dentre os quais, alteraes na qualidade de gua pelo uso e ocupao do
solo da bacia hidrogrfica, nos quais as atividades
industriais e agrcolas so as maiores contribuintes.
Collinson (In: Pillay, 1992), sugere a Matriz
de Avaliao de Impacto Ambiental como ferramenta de anlise de todas as interaes existentes
nos sistemas de cultivo de peixes. Incluindo relaes biticas internas aos viveiros e externas, em
conseqncia dos impactos da atividade e sobre a
atividade (efeitos dos usos e ocupao da bacia
hidrogrfica sobre a piscicultura). Este instrumento
de extrema importncia antes da implantao
desta atividade, o que possibilita ao piscicultor e
aos analistas ambientais a visualizao dos possveis impactos durante a construo dos viveiros,
instalao e os futuros.
Licenciamento e observao da Legislao
A preocupao com os aspectos sanitrios e
ambientais desses empreendimentos, em relao
qualidade das guas, dos peixes destinados ao

consumo, das condies das lanchonetes (em


pesque-pague) e, num sentido mais geral, com os
impactos negativos relacionados interferncia nos
cursos dgua e em reas de preservao permanente
um comportamento recente no Brasil. Sendo que
as propriedades rurais utilizam largamente de
recursos naturais, diversas so as matrias ambientais
implicadas em uma abordagem jurdica. De maneira
geral, a aqicultura afetada por leis de sade
pblica, leis sanitrias, leis de exportao e
importao, leis tributrias, dentre outras.
Geralmente os aqicultores relatam a complexidade e a dificuldade do licenciamento de atividades aqcolas e envolvem muitas e diferentes
instituies (Venturieri, 2002, Eler, 2006).
De acordo com Thiago (2000), um dos maiores
problemas em relao aos licenciamentos o fato
de que faltam instrumentos especficos, incentivadores ou desincentivadores, que auxiliem e
assegurem um desenvolvimento sustentvel da
aqicultura e promovam a proteo ambiental. No
entanto, o analista ambiental Dr. Carlos Frosch
(comunicao pessoal), enfatiza a importncia e a
necessidade do processo de licenciamento,
argumentando que se o empreendedor observar a
legislao (Federal e Estadual) desde a elaborao
at a implantao e operao do projeto, a
sustentabilidade ambiental estar assegurada.
Alm disso, o produtor poder utiliz-los como
um selo de qualidade para atrair sua clientela.

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Eler & Millani

Garutti (2003) apresenta uma abordagem


abrangente sobre todas as etapas, passo a passo,
para a regularizao de um empreendimento
aqcola, assim como exemplos de roteiros para
solicitao de Licenas, outorga do uso da gua e
respectivos rgos. Alm disso, a legislao
brasileira oferece um conjunto de atos administrativos normativos regulamentadores para a
organizao da atividade aqcola brasileira. Todos
esto disponveis nos sites das organizaes afins
(MMA, M. Agricultura, Secretarias Estaduais de
meio ambiente e da agricultura, FUNASA).
Exemplos de legislaes relacionadas a
aqicultura:
Resoluo CONAMA n 357, de 18 de junho
de 1986;
Lei Estadual (SP) n 11.165, de 27 de junho
de 2002 (Cdigo de Aqicultura e Pesca do
Estado de So Paulo);
O Cdigo Florestal atualmente em vigor (Lei
4.771, de 15 de setembro de 1965, com alteraes introduzidas pelas Leis 6.535/78 e 7.803/
89),
Instruo Normativa n 05, de 18 Janeiro
2001 (regulamenta a autorizao, permisso ou
registro de atividades pesqueiras, includa a
aqicultura);
Decreto n 2.869, de 09 de dezembro de 1998
(regulamenta a cesso de guas pblicas para
explorao da aqicultura, e d outras
providncias);
Portaria n 145/98, de 29 de outubro de 1998
- (estabelece normas para a introduo,
reintroduo e transferncia de peixes,
crustceos, moluscos, e macrfitas aquticas
para fins de aqicultura, excluindo-se as
espcies animais ornamentais);
Portaria IBAMA n 136, de 14 de outubro
de 1998 (normas para registro de Aqicultor e
Pesque-pague no Instituto Brasileiro do Meio
Ambiente e dos Recursos Naturais
Renovveis);
Decreto n 2.612, de Resoluo CONAMA
n 237, de 19 de dezembro de 1997 (reviso
de procedimentos e critrios utilizados em
licenciamento ambiental);
Portaria n 451, de 19 de setembro de 1997
- (Secretaria Nacional de Vigilncia Sanitria/
MS);
Lei n 9.433, de 08 de janeiro de 1997

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(Poltica Nacional de Recursos Hdricos e cria


o Sistema Nacional de Gerenciamento de
Recursos Hdricos);
Resoluo CONAMA n 357, de 17 de maio
de 2005 (classificao das guas doces, salobras e salinas ) e a Lei de Crimes Ambientais.
(Lei n 9.605/98); Conceito de degradao (
Lei n 6938/81 Artigo 3).
Alm disso, importante destacar que cdigos
de conduta para o desenvolvimento da aqicultura
responsvel foram elaborados e so respeitados
em diversos pases do mundo. Queiroz & Kitamura
(2001) citam os principais Cdigos disponveis e
reforam a adoo destes como instrumentos
auxiliares, como exemplo: o da Aliana Global da
Aqicultura (GAA), manejo da produo de
camares e monitoramento de manguezais,
controle de qualidade na produo do Salmo
irlands, prticas e mtodos de profilaxia na
sanidade e produo do Catfish, Desenvolvimento
responsvel da Aqicultura recomendado pela
FAO e disponvel no site www.fao.org; meio
ambiente e desenvolvimento da aqicultura em
pases tropicais (ICLARM).
Os cdigos de conduta encorajam a adoo de
Boas Prticas de Manejo (BMP), amplamente
discutidas em Sipaba-Tavares (2006), Queiroz &
Kitamura (2001), que sugerem a avaliao prvia
da cadeia produtiva da aqicultura, os possveis
elos dessa cadeia, indstria de processamento e
consumo, insumos e aqicultores. O alvo pretendido com esta metodologia a busca da harmonia
entre a produo e a preservao ambiental, bem
como a incluso scio-ambiental dos atores
envolvidos na cadeia produtiva. Para tanto, de
extrema importncia que o processo acontea de
forma participativa e dialgica, reunindo
aqicultores, representantes da indstria, rgos
de pesquisa e poder pblico em todas as esferas
(Municpio, Estado e Unio).
Avaliao do ciclo de vida na cadeia produtiva
da aqicultura
Esta metodologia baseada em recomendaes
da ABNT (2004), que define o conceito de impacto
ambiental e que busca a integrao das variveis
ambientais ao processo administrativo de uma
empresa por meio da implementao de um
Sistema de Gesto Ambiental (SGA).

41

Mtodos de estudos de sustentabilidade aplicados a aquicultura

Um sistema de gesto ambiental (SGA) visa


combater o impacto dos processos produtivos no
ambiente, fornecendo suporte para planejar e
implementar medidas de proteo e recuperao
ambiental. A implementao de prticas ambientais em empresas e em atividades rurais sempre
interessante, trazendo benefcios ecolgicos e
financeiros, visto que o rtulo de produtos
ambientalmente corretos pode ser uma estratgia
de marketing, agregando valor ao produto final.
Em meados dos anos 70 e 80 algumas empresas
passaram a utilizar tecnologias de tratamento de
resduos, efluentes e emisses, que foram denominadas de tecnologias de fim de tubo. Hoje muitas
empresas ainda utilizam esse tipo de tecnologia
como estratgia para solucionar seus problemas
ambientais no Brasil. Com o passar do tempo e
com a crescente crise ambiental pela qual o mundo
passa, as empresas comearam a se preocupar com
a gesto dos processos produtivos, objetivando a
reduo das perdas e dos desperdcios na fonte
geradora (Ometto, 2005).
Segundo Giannetti & Almeida (2006), no
decorrer do detalhamento do processo, a oportunidade de utilizar abordagens mais sofisticadas e que
esto sendo desenvolvidas nas ultimas dcadas
descortinam como instrumentos de aprimoramento
nas diferentes etapas do processo produtivo. Desta
forma, prticas que abordem todo o ciclo de vida
do produto ou processo, desde a aquisio da
matria prima at a sua disposio final no mercado, vem proporcionar uma forma de conhecimento
profundo de todas as etapas do processo, alm de
minimizar os impactos negativos.
Uma das ferramentas presentes nessa linha de
atuao a Avaliao do ciclo de Vida (ACV) que,
de acordo com Hinz et al. (2006), surgiu pela
necessidade de se estabelecer metodologias
eficazes que facilitassem a anlise dos impactos
ambientais decorrentes das atividades de uma
empresa, incluindo seus produtos e processos. Um
dos objetivos da ACV estabelecer uma sistemtica confivel e que possa ser reproduzida a fim
de possibilitar a deciso do gestor entre vrias
atividades, preferindo sempre aquela de menor
impacto ambiental potencial.
A ACV normatizada no Brasil pela Associao Brasileira de Normas Tcnicas (ABNT), que
a define como a compilao e avaliao das entradas, das sadas e dos impactos ambientais poten-

ciais de um processo ou produto ao longo do seu


ciclo de vida. De acordo com a (ABNT, 2004), as
categorias gerais de impacto devem considerar o
uso de recursos, a sade humana e as possveis
conseqncias ecolgicas.
A metodologia da ACV baseia-se no estudo dos
aspectos ambientais e seus potenciais impactos ao
longo da vida de um produto (do bero ao tmulo),
ou seja, considerando desde a aquisio da matria
prima, at a disposio final do produto ou seu
reuso (ABNT, 2001).
A metodologia da ACV estruturada da
seguinte maneira (Figura 3):
1) Definio dos objetivos e escopo;
2) Anlise de inventrio;
3) Avaliao de impactos; e
4) Interpretao de resultados (ABNT, 2001).

1. Definio do
objetivo e escopo

2. Inventrio do
ciclo de vida

4. Interpretao

3. Avaliao do impacto do ciclo de vida

Figura 3 - Fases da ACV (Fonte: ABNT, 2001).


Ressalta-se, desta maneira, que a ACV uma
metodologia interativa, e medida que os dados e
as informaes vo sendo compilados, vrios
aspectos do escopo podem precisar de modificaes para se alcanar os objetivos originais do
estudo. Em alguns casos, os prprios objetivos do
estudo podem ser revistos devido s limitaes no
previstas, restries ou informaes adicionais.
Tornando necessrio documentar e justificar
devidamente tais alteraes (ABNT, 2004).
Segundo Ometto (2005), a ACV se apresenta
como uma importante ferramenta para subsidiar
todas etapas do desenvolvimento do produto,
desde a gesto da produo, o ps-uso, a gerao
de resduos, entre outras, a partir da compilao
de informaes e das avaliaes tcnicas.
Atualmente, o mercado globalizado, exige algumas obrigaes dos produtores, quanto ao
desempenho ambiental de seus produtos, sendo

2007 Sociedade Brasileira de Zootecnia

42

Eler & Millani

que os mesmos podero ser avaliados pela ACV.


De acordo com o Mourad et al. (2002) a ACV
um instrumento que permite uma contabilizao
ambiental, onde se considera a retirada dos
recursos naturais e da energia do ambiente, assim
como a devoluo destes para o mesmo ambiente.
Alm disso, no mbito da metodologia a avaliao
dos impactos ambientais potenciais relativos s
entradas e sadas do sistema tambm so contemplados. Para tanto, emprega-se a abordagem holstica do custo ambiental, por meio das inter-relaes
dos diversos sistemas envolvidos e as relaes
destes com o meio ambiente.
Segundo Berlin1 (2002 apud XAVIER 2004),
o uso da ACV na cadeia de alimentos apresenta
algumas particularidades relativas s influncias
das variaes geogrficas e climticas, do comportamento dos consumidores e da estrutura da cadeia,
compreendendo um grande nmero de unidades
produtivas de pequena escala e referentes a regio
do empreendimento.
Embora a produo de alimentos demande usos
significativos dos recursos naturais, de energia e
de produtos qumicos, os produtos so consumidos
em grande escala pela populao humana, demonstrando que a produo de alimentos representa um
considervel fluxo fsico e monetrio para a
sociedade. Alm disso, os produtos de origem
animal contribuem com uma grande parcela na
produo de alimentos. No entanto, o emprego de
ferramentas auxiliares, como a ACV, recebe pouca
ateno em projetos deste segmento de mercado,
principalmente em relao aos produtos aqucolas
(Thrane, 2006).
De acordo com Ellingsen and Aanondsen
(2006), os consumidores esto exercendo presses
para que este segmento adote uma produo mais
sustentvel. Desta forma, a adoo da ACV pode
antecipar e gerar informaes a respeito do
desempenho ambiental dos produtos alimentcios.
Mtodos de ACV j so adotados na indstria e,
assim esforos devem ser direcionados na
adaptao desta metodologia para o setor da
1
BERLIN, J. Environmental life cycle assessment
(LCA) of Swedish semi-hard cheese. International Dairy
Journal, Oxford, v. 12, n. 11, p. 939-953, Nov. 2002.
apud XAVIER, J.H.V.; CALDEIRA-PIRES, A. Uso
Potencial da metodologia da Analise do Ciclo de Vida
(ACV) para a Caracterizao dos Impactos Ambientais
na Agricultura. Cadernos de Cincia e Tecnologia,
Braslia, v. 21, n.2, p. 311 341, maio/ago. 2004.

2007 Sociedade Brasileira de Zootecnia

produo animal, com a finalidade de reforar a


efetivao de uma avaliao mais exata dos
impactos ambientais decorrentes dessas atividades.
Proposta para um aqicultura sustentvel
com enfoque na bacia hidrogrfica como
unidade de gesto
A Poltica Nacional de Recursos Hdricos, sob
a Lei n 9433, de 8 de janeiro de 1997, assinala,
como primeiro princpio, que a bacia hidrogrfica
deve ser adotada como unidade de planejamento.
Considerando-se os limites da bacia como o que
define o permetro da rea a ser planejada, fica
mais fcil estabelecer-se o confronto entre as
disponibilidades e as demandas essenciais para
o estabelecimento do balano hdrico. O segundo
princpio o dos usos mltiplos da gua, o que
coloca todas as categorias de usurios em
igualdade de condies em termos de acesso ao
recurso natural. O terceiro princpio o reconhecimento da gua como um bem finito e vulnervel,
o que serve de alerta para a necessidade de uma
utilizao preservacionista deste bem. O quarto
princpio o do reconhecimento do valor
econmico da gua, fortemente indutor do seu uso
racional, dado que serve para a instituio da
cobrana pela utilizao dos recursos hdricos.
O quinto e ltimo princpio o da gesto
Descentralizada e Participativa. A filosofia por
trs da gesto descentralizada a de que tudo
quanto pode ser decidido em nveis hierrquicos
mais baixos de governo no ser resolvido por
nveis mais altos dessa hierarquia, ou seja, o que
pode ser decidido em mbito de governos
regionais, ou mesmo locais, no deve ser tratado
em Braslia ou nas capitais dos estados. Quanto
a gesto participativa, esta constitui um mtodo
que enseja aos usurios, sociedade civil
organizada, s ONGS e aos outros agentes
interessados, a possibilidade de influenciar no
processo da tomada de deciso2.
Na Figura 4 apresenta-se um modelo terico
da aqicultura como uma prtica econmica
alternativa, o qual est baseado na Lei 9433.
Pretende-se que o proponente e seus assessores
faam uma avaliao prvia sobre a principal
vocao da bacia hidrogrfica. Nesta fase de
1

Ministrio do Meio Ambiente (MMA), Secretaria de


Recursos Hdricos (SRH) 2ed. Ver. Atual. Braslia,1999

43

Mtodos de estudos de sustentabilidade aplicados a aquicultura

estudo, aconselha-se o questionamento da


contribuio global da aqicultura para a bacia.
As avaliaes das interaes scio-econmicas,
tais como a competio pelo uso da gua, devem
ser analisadas, tendo em vista que o uso
preponderante da gua, de acordo com a Lei 9433,
para o consumo humano e para os animais.
Entretanto, a legislao ambiental (resoluo do
CONAMA 357 de 17 de maio 2005, atualizao
da 20/86), enquadra os corpos dgua em classes,
sendo que os rios de classe especial, 1 e 2, alm
da vocao para o abastecimento urbano, so
tambm destinados proteo das comunidades
aquticas e, para tanto, foram determinados
parmetros de emisso de efluentes.
Caso a avaliao das interaes scioeconmicas seja vivel e aceitvel, o prximo
passo ser a anlise dos aspectos tcnicos. Neste

contexto, o proponente dever escolher, em funo


da anlise scio-econmica e tcnica, o tipo de
manejo adequado sua propriedade. Assim,
algumas questes devero ser respondidas, como
por exemplo, se est apto a desenvolver um manejo
intensivo ou extensivo, qual a espcie que deve
escolher (carnvoras, herbvoras, indivduos de
pequeno ou grande porte) e qual a demanda e
exigncia do mercado (em relao ao tipo de
produto). As respostas a estas perguntas esto
inseridas na demanda de mercado.
Aps a pesquisa de mercado e escolha da
espcie e do manejo vem a anlise de controle
ambiental. Nesta, o proponente dever estar ciente
do impacto ambiental que poder ocorrer, quais so
os mecanismos de controle a serem desenvolvidos
para evitar o escape da populao e as formas de
controle das cargas de emisso de poluentes.

Aqicultura no mbito da BH

Contribuio setor

Avaliao
Interaes
scioeconmicas
Competio
pelo uso da
gua

Aspectos
tcnicos

Interaes
ecolgicas

Sistema:
extensivo/
intensivo

Inventrio da
rea
Interaes
positiva

Espcies

negativa

Controle
ambiental

Aceitvel?

Aceitvel?

No

Aceitvel?

Monitoramento

Sim

Figura 4 Etapas e interaes em projetos aqucolas com enfoque na gesto de Bacias Hidrogrficas.

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44

Caso o projeto contemple de maneira aceitvel


esses questionamentos, o passo seguinte ser a
avaliao das interaes ecolgicas por meio de
inventrios da rea. Nesse momento, a anlise do
custo e benefcio entre o projeto e o meio ambiente
que deve ser avaliada com cautela e preciso, assim
como as interaes negativas e positivas, a magnitude e a intensidade de cada uma no ambiente.
Com base nos resultados desta anlise se poder
recomendar ou no licenciamento ambiental. A
opo final dever ser aquela favorvel
sustentabilidade scio ambiental.

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