Sono com movimento rápido dos olhos
O sono com movimento rápido dos olhos, abreviado sono MRO[1][2] ou sono REM (em inglês: Rapid eye movement sleep) é uma fase única do sono em mamíferos e aves, caracterizada por movimentos rápidos aleatórios dos olhos, acompanhados por baixo tônus muscular em todo o corpo e pela propensão do dorminhoco a sonhar vividamente.
A fase REM também é conhecida como sono paradoxal (SP) e às vezes sono dessincronizado ou sono sonhador,[3] devido a semelhanças fisiológicas com estados de vigília, incluindo ondas cerebrais dessincronizadas rápidas e de baixa voltagem. A atividade elétrica e química que regula esta fase parece ter origem no tronco cerebral e é caracterizada principalmente por uma abundância do neurotransmissor acetilcolina, combinada com uma ausência quase completa dos neurotransmissores monoamínicos histamina, serotonina e norepinefrina.[4] As experiências do sono REM não são transferidas para a memória permanente devido à ausência de norepinefrina.[3]
O sono REM é fisiologicamente diferente das outras fases do sono, que são coletivamente chamadas de sono sem movimento rápido dos olhos (sono não-REM, sono sincronizado). A ausência de estimulação visual e auditiva (privação sensorial) durante o sono REM pode causar alucinações.[5] O sono REM e não REM se alternam em um ciclo de sono, que dura cerca de noventa minutos em humanos adultos. À medida que os ciclos de sono continuam, eles mudam para uma proporção maior de sono REM. A transição para o sono REM traz mudanças físicas marcantes, começando com rajadas elétricas chamadas "ondas ponto-genículo-occipitais" (ondas PGO) originadas no tronco cerebral. O sono REM ocorre quatro vezes em um sono de sete horas.[6] Organismos no sono REM suspendem a homeostase central, permitindo grandes flutuações na respiração, termorregulação e circulação que não ocorrem em nenhum outro modo de dormir ou acordar. O corpo perde abruptamente o tônus muscular, um estado conhecido como atonia REM.[4][7]
Em 1953, o professor Nathaniel Kleitman e seu aluno Eugene Aserinsky definiram o movimento rápido dos olhos e o vincularam aos sonhos. O sono REM foi descrito posteriormente por pesquisadores, incluindo William Dement e Michel Jouvet. Muitos experimentos envolveram o despertar de cobaias sempre que eles começaram a entrar na fase REM, produzindo assim um estado conhecido como privação de REM. Indivíduos autorizados a dormir normalmente costumam experimentar um rebote REM modesto. Técnicas de neurocirurgia, injeção química, eletroencefalografia, tomografia por emissão de positrões e relatos de sonhadores ao acordar, têm sido usados para estudar essa fase do sono.[8]
Movimento dos olhos
editarOs movimentos dos olhos associados a fase R.E.M. são gerados pelo núcleo geniculado lateral do tálamo no cérebro e associados a ondas occipitais. Quando o tônus muscular da pessoa diminui consideravelmente.[9]
Função biológica
editarEm 2024, o cientista Raffael Spinassi publicou um artigo que apresenta uma teoria robusta para explicar a função biológica do sono REM[10]. Nele, o autor argumenta que a função biológica do sono REM é elevar os níveis de alerta do cérebro para reduzir a elevada vulnerabilidade a que o organismo é submetido durante o sono profundo (ou N-REM). Segundo a teoria, o sono REM é uma adaptação necessária para todo organismo que precisa dormir.
Spinassi demonstrou que uma imensa quantidade de evidências empíricas corroboram os argumentos propostos. Além disso (o que é ainda mais relevante), que inúmeras tentativas de refutar a teoria falharam. O que reforça a robustez de teoria proposta. Segundo o autor, a teoria é suportada por evidências biológicas, embriológicas, homólogas, filogenéticas, genéticas, evolutivas, fisiológicas, endocrinológicas, neurofisiológicas, neurobiológicas, neuroquímicas, neurofarmacológicas, ontogenéticas, alométricas e até mesmo estatísticas e matemáticas[10].
O artigo de Spinassi será muito relevante para orientar pesquisas futuras sobre o sono REM. Afinal, o autor demonstrou que quaisquer fatores associados direta ou indiretamente à vulnerabilidade (ou proteção) do organismo afetam os parâmetros do sono REM[10]. Como o trabalho de Spinassi ainda se trata de um preprint, falta o artigo ser publicado para termos maior confiança nos resultados.
Vale ressaltar que o que Spinassi fez no artigo foi transformar a hipótese sentinela de Snyder[11] na teoria do sono sentinela.
Como a função do sono REM consiste em um dos maiores enigmas da neurociência, se as conclusões apresentadas por Spinassi se mostrarem corretas, o seu trabalho pode conter a solução desse grande mistério científico.
Ver também
editarReferências
- ↑ «O que é o sono REM? Como entrar no REM». United We Care. 16 de novembro de 2022. Consultado em 31 de janeiro de 2023
- ↑ Earle, Liz; Vartuli, Michele A. (25 de setembro de 2020). Menopausa bem vivida: o guia definitivo para se sentir bem e radiante na pré-menopausa, na menopausa e depois dela. [S.l.]: Editora Senac São Paulo
- ↑ a b Hall, John E. (19 de julho de 2010). Guyton and Hall Textbook of Medical Physiology E-Book (em inglês). [S.l.]: Elsevier Health Sciences. ISBN 978-1-4377-2674-9
- ↑ a b Ritchie E. Brown & Robert W. McCarley (2008), "Neuroanatomical and neurochemical basis of wakefulness and REM sleep systems", in Neurochemistry of Sleep and Wakefulness ed. Monti et al.
- ↑ Orem, John (2 de dezembro de 2012). Physiology in Sleep (em inglês). [S.l.]: Elsevier. ISBN 978-0-323-15416-1
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- ↑ Yuan-Yang Lai & Jerome M. Siegel (1999), "Muscle Atonia in REM Sleep", in Rapid Eye Movement Sleep ed. Mallick & Inoué.
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- ↑ Brown, Ritchie E.; Basheer, Radhika; McKenna, James T.; Strecker, Robert E.; McCarley, Robert W. (julho de 2012). «CONTROL OF SLEEP AND WAKEFULNESS». Physiological reviews. 92 (3): 1087–1187. ISSN 0031-9333. PMC 3621793 . PMID 22811426. doi:10.1152/physrev.00032.2011
- ↑ a b c Spinassi, Raffael (27 August 2024). «The Sentinel Sleep Theory: The Biological Function of REM Sleep Unveiled». Preprints.org. Preprints.org. Consultado em 28 August 2024 Verifique data em:
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(ajuda) - ↑ SNYDER, FREDERICK (agosto de 1966). «Toward an Evolutionary Theory of Dreaming». American Journal of Psychiatry (2): 121–136. ISSN 0002-953X. doi:10.1176/ajp.123.2.121. Consultado em 28 de agosto de 2024
Bibliografia
editar- Snyder F (1966). «Toward an Evolutionary Theory of Dreaming». American Journal of Psychiatry. 123 (2): 121–142. PMID 5329927. doi:10.1176/ajp.123.2.121
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- Grace KP, Vanstone LE, Horner RL (2014). «Endogenous Cholinergic Input to the Pontine REM Sleep Generator Is Not Required for REM Sleep to Occur». J. Neurosci. 34 (43): 14198–209. PMC 6608391 . PMID 25339734. doi:10.1523/JNEUROSCI.0274-14.2014
- Carson III, Culley C., Kirby, Roger S., Goldstein, Irwin, editors, "Textbook of Erectile Dysfunction" Oxford, U.K.; Isis Medical Media, Ltd., 1999; Moreland, R.B. & Nehra, A.; Pathosphysiology of erectile dysfunction; a molecular basis, role of NPT in maintaining potency: pp. 105–15.
Ligações externas
editar- Transcrição e vídeo do episódio "What Are Dreams?" da série NOVA, da PBS
- LSDBase- um banco de dados aberto de pesquisa do sono com imagens de gravações do sono REM.