Os fons (singular: fon[3][4]) são um dos principais grupos étnicos e linguísticos da África Ocidental no sul do Benim e sul do Togo, cuja origem mítica está entre povos gbe-falantes. Possuem como características o uso da língua fon, e sua maior expressão histórica, política e social do povo se expressou no Benim através do Reino do Daomé e na diáspora africana através do vodum.

Fons
Ahosi, regimento militar feminino fon do Reino do Daomé (c. 1890)
População total

est. 2 277 300 (2023)[1]

Regiões com população significativa
 Benim 2 134 000 [1]
Togo 78 000 [1]
Gabão 28 000 [1]
 França 19 000 [1]
Gana 17 000 [1]
 Canadá 1 300 [1]
Línguas
fon, inglês
Religiões
Cristianismo
  
65%
  
25,4%
Islão
  
9%
Irreligião
  
0,3%
Outras
  
0,3%
no Benim[2]
Grupos étnicos relacionados
jejes, ajás, guines

O complexo cultural expressado tanto pelo vodum como pelo Reino do Daomé possui uma origem mítica na cidade-reino adjá de Tadô ou Sadô, onde uma filha solteira do rei, ao dirigir-se à floresta sozinha para realizar uma tarefa encontrou-se com um leopardo encantado. Ao retornar à cidade, descobriu-se grávida e a paternidade da criança foi atribuída ao leopardo. Como entre os adjá o sangue da mãe também enobrece, esse filho do leopardo, povis (kpòvi) e seus descendentes constituíram-se em uma nova linhagem real. Entretanto, o filho do leopardo ficou sendo conhecido na posteridade pelo cognome de Agassu, o bastardo, e seus descendentes por isso sempre eram preteridos no sistema sucessório de Adjá-Tadô, ainda que herdassem a bravura e ousadia de seu ancestral animal.

Um dia porém, os povis, mais uma vez excluídos, se revoltaram contra a escolha do sucessor no trono de Adjá–Tadô. Eles e seus partidários se armaram e, após uma violenta refrega, muitos cadáveres tombaram de lado a lado, inclusive o do rei escolhido. O chefe dos povis, Copom por esta razão, ficou sendo conhecido como Adjá-Hutó, o matador de adjás, e ele junto com seus partidários tiveram que partir para o exílio, uma vez que perpetrou o delito de maior lesa-majestade que é o de amaldiçoar a terra com o derramamento do precioso sangue real.

O êxodo dos povis e seus seguidores, após várias peripécias, deteve-se em Aladá, onde Adjá-Hutó Copom fundou uma nova dinastia de governantes até que o falecimento um rei também chamado Copom dá lugar a uma guerra de sucessão entre seus três herdeiros: Meji, Té-Abanlim e Aô-Dacodonu. Meji permanece em Aladá e dá continuidade à dinastia local reinante; Té-Abanlim dirige-se para o leste, onde funda uma nova dinastia em Ajaxé (Porto Novo) enquanto que Dacodonu segue para o norte com seu irmão Ganerreçu e, após algumas peripécias, busca alojar-se com seus ferozes seguidores entre a população de língua iorubá dos iguedês (guedevis) e mata seu rei Agli, dizimando seu povo, escravizando mulheres e crianças, os quais mais tarde são vendidos aos portugueses. Funda ali uma nova dinastia.

Dacodonu tenta estabelecer-se em Cana e vai solicitando consecutivamente ao rei de Cana, cujo nome era Dam, locais para alojamento. Um dia Dam, aborrecido com mais uma solicitação dos adjá-tadonus, declara mordazmente: “Depois de alojar-se em tantos lugares do meu reino, só falta agora a minha barriga para esta gente ficar”. Os adjá-tadonus compreenderam essa declaração como um chamado para a luta e, desta forma, Dacodonu matou e estripou pessoalmente Dam, e disse que cumpriria sua palavra e construiria seu reino sobre a barriga deste, daí a expressão Dan-ho-mé, que era o reino edificado "no ventre de Dam".

O Reino de Daomé superou as duas outras dinastias adjá-tadonus reinantes em Porto Novo e Aladá, governando um poderoso Estado da capital Abomei, fundada por Agassuvi Aô, sobrinho e sucessor de Dacodonu, também chamado de Uebajá, em circunstâncias muito parecidas com a fundação do próprio reino. Outra versão da história conta que Abomei teria sido fundada por Huessu, filho de Uebajá. Os dois outros reinos, apesar do crescimento do Daomé, continuaram a ser considerados Estados-irmãos e, tanto os reis de Porto Novo como os de Abomei, dirigiam-se à Aladá, cidade onde as suas dinastias teriam começado a reinar, como parte do ritual da cerimônia de entronização.

Referências

  1. a b c d e f g «Fon people group in all countries | Joshua Project». joshuaproject.net. Consultado em 16 de fevereiro de 2023 
  2. Project, Joshua. «Fon in Benin». joshuaproject.net (em inglês). Consultado em 16 de fevereiro de 2023 
  3. Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa: 'fon'
  4. Dicionário Houaiss: 1'fon'

Bibliografia

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  • Santos, Maria Emília Madeira. A Africa e a instalação do sistema colonial (c. 1885–1930): III Reunião Internacional de História de África. Lisboa: Instituto de Investigação Científica Tropical, Centro de Estudos de História e Cartografia Antiga