Estado metaestável
Um estado metaestável, ou de forma equivalente estado metastável, corresponde a qualquer estado do sistema diferente do estado de equilíbrio mais estável — diferente do equilíbrio termodinâmico — que tenha consigo associado uma restrição que impeça a transição imediata deste para o estado mais estável sem alguma perturbação significativa de origem geralmente externa ao sistema. O sistema pode assim permanecer por longos tempos no estado metaestável sem transitar para o estado mais estável. Contudo, presente a influência externa — ou interna adequada — o sistema irá transitar para o estado mais estável.
Um sistema termodinâmico pode, em um estado metastável, encontrar-se em equilíbrio térmico com a vizinhança sem contudo encontrar-se em seu equilíbrio termodinâmico. Como exemplo tem-se uma mistura de hidrogênio e oxigênio encerrada em uma fronteira completamente restritiva, compondo um sistema isolado. Embora este sistema rapidamente atinja o seu estado de equilíbrio térmico, este encontra-se em um estado metastável e não em seu equilíbrio termodinâmico. A menor perturbação de natureza adequada é capaz de levar o sistema ao estado de equilíbrio termodinâmico, estado este bem distinto do anterior, encontrando-se agora água — e em caso estequiométrico adequado apenas água — quando em seu estado de equilíbrio termodinâmico. O estado metastável, embora em seu equilíbrio térmico, não encontra-se em seu equilíbrio químico. Algo similar ocorre com o carbono na forma de diamante, este associado a um estado alotrópico metastável deste elemento. O estado estável corresponde ao grafite.
Física atômica
editarEm física atômica, um nível metaestável ou estado eletrônico metaestável é aquele no qual um elétron em um átomo excitado encontra-se em um orbital a partir do qual a transição para o nível fundamental ou demais níveis de menor energia encontra-se inibida pela regra de transição inerente ao sistema atômico, o que leva a um tempo de vida médio para este estado consideravelmente maior do que o tempo de vida médio associado aos demais estados excitados não metastáveis. Nestes casos o tempo de vida médio só não é consideravelmente maior do que os experimentalmente determinados devido ao fato de os átomos excitados não integrarem sistemas isolados, e perturbações externas de natureza eletromagnética encontrarem-se sempre presentes. A permanência neste nível é determinada pelo coeficiente de Einstein ( ) para este nível. Quanto maior for o , maior será a permanência do elétron neste estado.
O princípio de funcionamento dos lasers — como o de rubi e o de hélio-neônio — atrelam-se geralmente ao uso de estados eletrônicos metaestáveis para promover a inversão de população requisitada ao funcionamento dos mesmos. O processo de emissão estimulada encarrega-se de gerar a perturbação necessária às transições, que neste caso se dão de forma coerente (em fase).
A título ilustrativo cita-se a regra de seleção para transições interatômicas expressa em função dos respectivos números quânticos principal "n", secundário ou de momento angular (ou magnético) "l", de spin "s" — estes diretamente associados ao elétron e seu orbital — e do número quântico J associado ao acoplamento spin-órbita ( ), aqui considerando-se o caso de átomos descritos por acoplamento LS.[Nota 1] Maiores detalhes podem ser encontrados na literatura específica:[Ref. 1]
- Transições eletrônicas ocorrem mediante a transição de um elétron por vez. Isto significa que não ocorrem transições eletrônicas simultâneas de dois ou mais elétrons entre subcamadas eletrônicas de um mesmo átomo.
- Só podem ocorrer transições entre níveis de energia que impliquem uma variação do número quântico magnético "l" igual a mais ou menos uma unidade.
- Só podem ocorrer transições entre estados destas configurações para os quais as mudanças nos números quânticos s', l' e j' associados aos momentos magnéticos totais do átomo (devidos a todos os elétrons e não a um em específico - acoplamento LS) satisfaçam às restrições:
- ; ; (exceto j'=0 para j'=0).
Um estado átomo excitado cujas transições eletrônicas do elétron excitado encontrem-se proibidas por tais regras encontra-se em um estado metastável.
Notas
- ↑ Há duas formas de se calcular o momento angular total devido à eletrosfera em um átomo: no acoplamento J-J, o momento angular total é devido à soma de todos os momentos angulares associados a cada elétron (indexados por a), correspondendo à soma do momento angular orbital e do momento de spin para cada um dos elétrons em específico. No acoplamento LS, deve-se primeiro realizar a soma de todos os momentos de spin , encontrando-se por tal , e de todos os momentos angulares orbitais , encontrando-se por tal , e então proceder a soma dos resultados em questão para obter-se . Em notação matemática, para o acoplamento LS tem-se onde e . Já no acoplamento J-J tem-se e . A forma correta de se determinar o momento angular total depende da natureza e de quão preenchidas encontram-se as camadas eletrônicas do átomo em questão. Para átomos com número atômico Z muito grande, o acoplamento J-J mostra-se geralmente o mais adequado. Já para a maioria dos átomos, o acoplamento LS é o que mostra-se mais adequado.
Referências
- ↑ Física Quântica - Átomos, Moléculas, Sólidos, Núcleos e Partículas - Eisberg, Robert - Resnick, Robert - 13ª ed. - Editora Campus - 1979 - ISBN 85-7001-309-4