Avestruz-comum
O avestruz-comum[1] (Struthio camelus) é uma espécie de ave não voadora, originária da África. É uma das duas únicas espécies vivas da família Struthionidae, do género Struthio e da ordem das Struthioniformes, juntamente com o avestruz-somali (Struthio molybdophanes), reconhecido como uma espécie separada em 2014.[2] O avestruz-comum é considerado a maior espécie viva de ave.[3]
Avestruz-comum | |||||||||||||||
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Ocorrência: 15–0 Ma | |||||||||||||||
Estado de conservação | |||||||||||||||
Pouco preocupante (IUCN 3.1) | |||||||||||||||
Classificação científica | |||||||||||||||
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Nome binomial | |||||||||||||||
Struthio camelus Linnaeus, 1758 | |||||||||||||||
Distribuição geográfica | |||||||||||||||
S. c. camelus
S. c. australis S. c. massaicus S. molybdophanes |
Etimologia
editarO termo avestruz vem do latim avis struthio: avis significa ave e struthio (ou strouthiōn) é uma palavra que os gregos antigos usavam para se referir tanto a pardais como aos próprios avestruzes.[4][5][6] O animal foi descrito cientificamente pela primeira vez pelo naturalista sueco Carolus Linnaeus em sua obra Systema Naturae, no século XVIII. Ele batizou a espécie com o nome Struthio camelus, aceito até hoje. O epíteto específico camelus, que quer dizer "camelo", uma referência ao habitat seco da ave.
Descrição
editarAvestruzes normalmente pesam de 90 a 130 kg, embora alguns avestruzes machos tenham sido registrados com pesos de até 155 kg. Na maturidade sexual (entre 2 e 4 anos de idade), avestruzes machos podem possuir de 1,8 m a 2,7 m de altura, enquanto as fêmeas alcançam de 1,7 m a 2 m. Durante o primeiro ano de vida crescem cerca de 25 cm por mês. Em um ano um avestruz pesa cerca de 45 kg.
Possui dimorfismo sexual: nos adultos, o macho tem plumagem preta e as pontas das asas são brancas, enquanto que a fêmea é cinza. O dimorfismo só se apresenta com um ano e meio de idade.
As pequenas asas vestigiais são usadas por machos como exibição para fins de acasalamento.
As penas são macias e servem como isolante térmico e são bastante diferentes das penas rígidas de pássaros voadores. Possui duas garras em dois dos dedos das asas, sendo a única ave que possui apenas 2 dedos em cada pata. As pernas fortes do avestruz não possuem penas. Suas patas têm dois dedos, sendo que apenas um tem unha enquanto o maior lembra um casco. Seu aparelho digestivo é semelhante ao dos ruminantes e seus olhos, com as suas grossas sobrancelhas negras, são os maiores olhos das aves terrestres. Os seus olhos são maiores do que o cérebro.[7][8][9]
Possui as seguintes características:
- Altura média: 2 a 2,5 m.[10]
- Peso: de 100 a 150 kg.[10]
- Velocidade: até 80 km/h.[10]
- Expectativa de vida: 50 a 70 anos, sendo 20 a 30 anos de vida reprodutiva.[10]
São aves polígamas e não migratórias. Adaptam-se com facilidade e vive em áreas montanhosas, savanas ou planícies arenosas desérticas. Seus hábitos alimentares são onívoros, o avestruz come ervas, folhagem de árvores, arbustos e todo pequeno vertebrado e invertebrado que consiga capturar.[11]
Embora não voe, por ter asas atrofiadas, as longas, fortes e ágeis pernas, permitem que ele atinja até a velocidade de 80 km/h com vento favorável (média de 65 km/h), pois em uma só passada cobre 4 a 5 metros. Além da velocidade máxima, tem também uma resistência impressionante, podendo viajar a 70 km/h durante 30 minutos. Tem o pescoço longo, a cabeça pequena, e tem dois dedos muito grandes (em cada pata) que se assemelham a cascos.
Classificação e distribuição
editarAvestruzes ocorrem naturalmente nas savanas e no Sahel da África, tanto ao norte como ao sul da zona de florestas equatorial. A espécie pertence à ordem dos Struthioniformes (ratitas). Segundo certas classificações, outros membros deste grupo são a ema, o emu, o casuar e a maior ave de todos os tempos, o extinto Aepyornis, embora estes animais sejam considerados por outros como pertencentes a outras ordens.[12]
Quatro subespécies são reconhecidas atualmente[13]:
- S. c. camelus no Norte de África, também chamado avestruz-do-norte-da-áfrica ou avestruz-de-pescoço-vermelho.
- S. c. massaicus na África Oriental, algumas vezes chamado de avestruz-masai. Durante a estação de acasalamento, o pescoço e as coxas do macho ficam laranja-rosado. Ocupa uma faixa entre Etiópia e Quênia no leste até o Senegal no oeste, e da Mauritânia oriental no norte até o sul do Marrocos no sul.
- S. c. australis na África Meridional, também chamada de avestruz-meridional, ou avestruz-de-pescoço-negro.
- S. c. syriacus no Oriente Médio, também chamado de avestruz-árabe ou avestruz-do-oriente-médio, era uma subespécie antes muito comum na Península Arábica, Síria e Iraque. Foi extinta por volta de 1940.
- Segundo classificações mais antigas, haveria uma quinta subepécie, S. c. molybdophanes, na Somália, Etiópia e norte do Quênia, algumas vezes chamado de avestruz-somali, cujos machos, durante a estação do acasalamento, ficam com o pescoço e as coxas azuis. Sua faixa se sobrepõe com S. c. massaicus no nordeste do Quênia. Algumas autoridades consideram o avestruz-somali uma outra espécie, com estudos recentes confirmando que se trata de fato de uma espécie distinta, Struthio molybdophanes.[2][14]
Em 2016, foi descoberto um bem preservado espécime fóssil de uma ave datado de 50 milhões de anos que representa uma nova espécie que é um parente até então desconhecido do avestruz.[15]
Comportamento
editarAvestruzes vivem em grupos nômades de 5 a 50 aves que frequentemente viajam juntos com animais ruminantes, tais como zebras e antílopes, no entanto, a avestruz é um monogástrico. Percorrem longas distâncias à procura de sementes e outros produtos vegetais (que consequentemente faz com que sejam seminômades); ocasionalmente eles também comem animais como gafanhotos. Como não possuem dentes, eles engolem pedrinhas que ajudam a esmagar os alimentos engolidos no papo. Eles podem ficar sem água por muito tempo, vivendo exclusivamente da umidade das plantas consumidas. Entretanto, eles gostam de água e tomam banhos frequentemente.
Com visão e audição aguçadas, eles podem detectar predadores tais como leões de uma grande distância.
Na mitologia popular, o avestruz é famoso por esconder sua cabeça na areia ao primeiro sinal de perigo. O escritor romano Plínio, o Velho é notado por suas descrições do avestruz em sua História Natural, onde ele descreve o suposto hábito dos avestruzes de esconder a cabeça em arbustos. Nunca houve observações registradas deste comportamento e um contra-argumento comum a isto é que uma espécie que exibisse tal comportamento não sobreviveria por muito tempo. O mito pode ter surgido do fato de que, de uma certa distância, quando avestruzes se alimentam eles parecem estar enterrando sua cabeça na areia pois eles deliberadamente engolem areia/pedras para ajudar a esmagar sua comida. Quando deitados ou se escondendo de predadores, eles são conhecidos por deitar sua cabeça e pescoço rente ao chão. Quando ameaçados, avestruzes fogem, mas podem também ferir seriamente seus inimigos através de coices por meio de suas poderosas pernas.
Reprodução
editarAvestruzes se tornam sexualmente maduros entre 2 e 4 anos de idade; fêmeas amadurecem cerca de seis meses antes dos machos. A espécie é iterópara, com a estação de acasalamento começando em Março ou Abril e terminando um pouco antes de Setembro. O processo de acasalamento difere nas diferentes regiões geográficas. Os Machos tipicamente usarão assobios e outros sons para lutar por um harém de 2 a 5 fêmeas. O vencedor destas lutas cruzará com todas as fêmeas em uma área mas só formará uma ligação com uma, a fêmea dominante. A fêmea se abaixa no chão e é montada por trás pelo macho.
Avestruzes são ovíparos. As fêmeas porão seus ovos fertilizados em um único ninho comunitário, um buraco escavado no chão e com trinta a 60 cm de profundidade. Ovos de avestruz podem pesar 1,4 kg e são os maiores ovos de uma espécie viva (e as maiores células únicas), embora eles sejam na verdade os menores em relação ao tamanho da ave. O ninho pode conter de 15 a 60 ovos, com um ovo médio tendo 15 cm de comprimento, 12 cm de largura, e peso de 1,4 kg. Eles são brilhantes de esbranquecidos. Os ovos são chocados pelas fêmeas de dia e pelo macho à noite, aproveitando as cores diferentes dos dois sexos para melhor camuflagem. O período de gestação é de 35 a 45 dias. Após a eclosão o macho cria sozinho os filhotes.
A expectativa de vida é de 50 anos em média, podendo variar de 30 a 70 anos.
Relação com humanos
editarO avestruz é um animal bastante rústico, muito resistente a doenças e com ótima capacidade de adaptação. É criado com sucesso no Brasil, Canadá, Estados Unidos e Europa, suportando bem tanto altas quanto baixas temperaturas.
No passado, os avestruzes foram muito caçados por suas penas, que costumavam ser muito populares como ornamentos em chapéus de mulheres e em outros acessórios. Suas peles eram também valorizadas para fazer couros finos. No século XVIII, eles foram caçados quase à extinção. A criação para o comércio de penas começou no século XIX. O mercado de penas colapsou depois da Primeira Guerra Mundial, mas a criação comercial para penas, e mais tarde por peles, decolou durante a década de 1970. Avestruzes na Arábia e sudeste da Ásia foram caçados até à extinção local em meados do século XX. Hoje, avestruzes são criados por todo o mundo, incluindo climas tão frios como o da Suécia. Considerando que eles podem se desenvolver em climas entre 30 °C e -10 °C não é surpresa que existam fazendas em mais de 50 países ao redor do mundo, mas a maioria é ainda encontrada na África Austral. Desde que eles também tem o melhor ganho de peso por alimento de qualquer animal terrestre (3.5:1 enquanto o boi é de 6:1), eles se tornam bastante atrativos para pecuaristas. Embora eles sejam criado primeiro pelo couro e depois pela carne, outros produtos úteis são os ovos e as plumas. É afirmado que avestruzes produzem o couro mais forte comercialmente disponível¹. A carne de avestruz tem um gosto similar ao do bife magro e se compara favoravelmente, tendo pouca gordura e colesterol. A criação de avestruzes é chamada de Estrutiocultura.
Os avestruzes são suficientemente grandes para que uma pessoa pequena possa cavalgá-los; normalmente a pessoa segurará nas asas enquanto cavalga. Eles foram treinados em algumas áreas do norte da África e na Arábia como montarias de corrida. Corridas de avestruz nos Estados Unidos foram criticadas por organizações dos direitos animais, embora seja pouco provável que tal se torne uma prática comum devido à dificuldade de montar estes animais. Avestruzes são classificados como animais perigosos na Austrália, Estados Unidos e Reino Unido. Há vários incidentes registrados de pessoas tendo sido atacadas e mortas. Machos grandes podem ser muito territoriais e agressivos e podem atacar e escoicear com muita força usando suas pernas. Um avestruz pode facilmente alcançar qualquer atleta na corrida.
Produtividade
editarSão muito resistentes contra as doenças, e têm uma ótima capacidade de adaptação (criados com sucesso no Canadá, Estados Unidos, Europa e Israel), suportando altas e baixas temperaturas. Alimenta-se de ração (1,5 kg/dia) e pasto verde (2 a 5 kg/dia).
Vida longa (média de 50 anos de vida), contando de 20 a 30 anos de vida reprodutiva. O início da vida reprodutiva é com 2 a 3 anos; no Brasil há avestruzes em jardins zoológicos que iniciaram a postura com dezoito meses.
O mercado
editarOs quatro principais produtos para comércio são:
- Carne: um avestruz produz entre 30 a 45 quilogramas de carne, que ao contrário de outras aves é vermelha. O avestruz alcança o peso de abate por volta de 12 meses.
- Couro: utilizado no fabrico de bolsas, carteiras, roupas, etc.
- Plumas: Uma ave adulta produz 2 kg de plumas por ano. As plumas do avestruz ainda representam objeto de comércio, e é um dos motivos pelos quais o homem caça essa ave. Tem dimorfismo sexual marcado: nos adultos, o macho é preto com as pontas das asas brancas e a fêmea é cinza, porém tal diferença só aparece a partir de 1 ano e meio de idade. As fêmeas são em geral presa fácil e suas plumas podem ser arrancadas sem feri-las.[carece de fontes]
- Ovos: O ovo de avestruz pesa entre 1,2 kg e 1,8 kg. Ovos não fecundados são utilizados para o artesanato. Cada fêmea põe de 40 a 100 ovos por ano, e os ovos são incubados por 42 dias.
Os criadouros desse espécime tem como objetivo a intermediação para a produção de ovos, carne e também o uso da gordura corporal, esse que é usado para fins medicinais em algumas regiões do Brasil.
Ver também
editarReferências
- ↑ O nome "Avestruz" é um substantivo de gêneros, ou seja, nesse caso, o artigo concordará com o sexo do animal.
- ↑ a b «Struthio molybdophanes (Somali Ostrich)». www.iucnredlist.org. Consultado em 28 de julho de 2018
- ↑ «Você sabe qual é a maior ave do mundo?». Natureza e Conservação
- ↑ «Significado de "avestruz"». Michaelis. Dicionário de Português Online. Consultado em 18 de julho de 2015
- ↑ «Ostrich: origin». Oxford dictionaries. Oxford University Press. Consultado em 18 de julho de 2015
- ↑ Gray, Jeannie; Fraser, Ian (2013). Australian Bird Names: A Complete Guide (em inglês). Collingwood: Csiro Publishing. p. 1817. ISBN 9780643104716
- ↑ Ahmad, Jawad (26 de maio de 2013). «An ostrich's eye is bigger than its brain. | Veterinary Hub». Veterinary Hub (em inglês)
- ↑ «Did You Know: An Ostrich's Eye is Bigger than it's Brain?» (em inglês)
- ↑ Marcel, Guellity (14 de outubro de 2012). «Avestruzes possuem cérebro menor que os olhos». Eu Quero Biologia
- ↑ a b c d «Características dos Avestruzes». Consultado em 9 de março de 2012
- ↑ «Quais as características fenotípicas do avestruz?». Consultado em 9 de março de 2012
- ↑ «Catalogue of Life - 30th June 2018 : Taxonomic tree». www.catalogueoflife.org (em inglês). Consultado em 28 de julho de 2018
- ↑ «Catalogue of Life : Struthio camelus Linnaeus, 1758». www.catalogueoflife.org (em inglês). Consultado em 28 de julho de 2018
- ↑ «Catalogue of Life : Struthio molybdophanes Reichenow, 1883». www.catalogueoflife.org (em inglês). Consultado em 28 de julho de 2018
- ↑ Well-preserved fossils show ostrich relatives lived in North America 50 million years ago por Steven Mackay, publicado pela "Virginia Polytechnic Institute and State University" (2016)
Bibliografia
editar- Shanawany, MM; Dingle J (199). Ostrich Production Systems, Partes 1-2. Volume 144 de FAO animal production and health paper (em inglês) ilustrada ed. Roma: Food & Agriculture Org. 256 páginas. ISBN 9789251043004
- Williams, Edgar M (2013). Ostrich (em inglês). Londres: Reaktion Books. 184 páginas. ISBN 9781780230665