Alimento biológico

Alimentos biológicos (assim chamados em Portugal e na União Européia) ou alimentos orgânicos (assim chamados no Brasil) são os alimentos produzidos pela agricultura biológica ou orgânica.[1][2] Embora os padrões de definição variem ligeiramente em todo o mundo, a generalidade da agricultura biológica recorre a práticas agrícolas que promovem o ciclo natural dos recursos, o equilíbrio ecológico e que conservam a biodiversidade.[2] Não são permitidos pesticidas e fertilizantes químicos, embora possam ser usados pesticidas naturais, aprovados para culturas biológicas.[2] Geralmente, os alimentos biológicos não são processados com recursos como a irradiação, solventes químicos ou aditivos alimentares sintéticos.[2][3]

Alimentos biológicos / orgânicos à venda numa feira no Brasil
Feira da Redenção, em Porto Alegre, uma das maiores feiras de alimentos orgânicos da América Latina

Brasil, União Europeia, Estados Unidos, Canadá, México, Japão e muitos outros países exigem que os produtores de alimentos orgânicos/biológicos obtenham um certificado para poderem comercializar qualquer alimento como orgânico/biológico no interior das suas fronteiras.[2][4] No contexto destes regulamentos, os alimentos orgânicos/biológicos são produzidos de modo a se adequarem aos padrões de certificação dos governos e das organizações internacionais.[5]

Comparação com alimentos convencionais

editar

A diferença entre os alimentos orgânicos/biológicos em comparação com os alimentos convencionais, produzidos com a utilização de agrotóxicos, pode ser analisada sobre diferentes aspectos, como os valores nutricionais do alimento, quantidade de resíduos de agrotóxicos encontrados ou até mesmo os níveis de impacto ambiental e social produzidos pelas formas de produção.[4][6] Dessa forma, como existem muitos critérios que podem ser analisados, além de se tratar de um questão de grande repercussão econômica, têm existido muita confusão e polêmica sobre o assunto,[4][6][7][8] especialmente a partir das primeiras décadas do século XXI, momento em que os alimentos orgânicos passaram a ser mais regulamentados pelos governos e conquistado cada vez mais espaço e aceitação pelo mercado consumidor.[1][2][9][10]

Diferenças nos valores nutricionais

editar

Não existem evidências suficientes que apoiem a alegação de que os alimentos orgânicos sejam mais nutritivos que os convencionais, pois os estudos comparando o conteúdo nutricional de ambos não apresentam resultados consistentes.[6][11][7][12] Embora possam existir diferenças no conteúdo nutricional entre os alimentos biológicos e convencionais, a natureza variável da produção e processamento destes alimentos faz com que seja difícil generalizar os resultados.[6][7][8][11][12]

Diferenças nos níveis de agrotóxicos

editar
 
Aplicação de agrotóxicos em um cultivo convencional de alimentos

Alimentos biológicos apresentam níveis bastante reduzidos de resíduos de agrotóxicos em relação aos alimentos convencionais.[2][4][8]

Tal afirmação é amplamente atestada e comprovada por uma série de pesquisas e orgãos regulamentadores nacionais e internacionais, já que o uso de pesticidas é bastante restrito no cultivo biológico, enquanto nos alimentos convencionais o uso de agrotóxicos é amplamente difundido.[2][4][8][13] Porém, ainda sim é possível encontrar casos raros e isolados de contaminação de agrotóxicos em alimentos supostamente orgânicos, causados pela comercialização de produtos convencionais vendidos falsamente como orgânicos,[14] ou ainda por uma contaminação acidental alheia ao processo de produção, como a contaminação por pesticidas carregados pelo vento oriundos de plantações distantes ou durante o transporte ou armazenamento do produto em locais onde são armazenados alimentos convencionais com agrotóxicos.[15]

Diferenças nos impactos ambientais e sociais

editar
 
Cultivo baseado na agricultura orgânica, demonstrando a diversidade de alimentos cultivados e a proteção do solo com o uso de cobertura vegetal

Os alimentos biológicos (orgânicos) podem ser produzidos por uma grande diversidade de técnicas e meios produtivos que constituem a agricultura orgânica, que de modo geral são diretamente menos impactantes no meio ambiente do que os modos convencionais de produção com agrotóxicos, uma vez que só pela não utilização de pesticidas já impedem uma série de problemas ambientais, como a contaminação das águas ou intoxicação dos trabalhadores rurais envolvidos na produção.[4][13][16][17][18] Além disso os cultivo biológicos geralmente utilizam técnicas agrícolas mais sustentáveis como cobertura do solo, rotação de culturas e adubação verde.[2][4][19][20][21]

No entanto, há aqueles que são contrários à essa afirmação e digam que a produção orgânica não é boa para o meio ambiente, sustentando suas hipóteses no argumento que este tipo de produção é menos produtiva e exige mais mão-de-obra e gastos energéticos, gerando assim mais emissão de gases do efeito estufa, além de necessitar de maiores área de plantio, que contribuiriam para o desmatamento.[22][23] Porém, há pesquisadores que refutam esta afirmação, contrapondo a opinião através de pesquisas que apontam a evolução tecnológica da produtividade da agricultura orgânica, que tende a se equiparar sua produtividade com a agricultura convencional.[19][21][20][23]

Ver também

editar

Referências

  1. a b Fonseca, Nádia Mariana Rodrigues (2016). «Comportamento do Consumidor Determinantes no Consumo de Alimentos Biológicos» (PDF). Universidade de Coimbra - Dissertação de Mestrado. Consultado em 11 de agosto de 2019 
  2. a b c d e f g h i Machado Moreira, Rodrigo; et al. (2016). «Legislação de produção orgânica no Brasil: projeto de fortalecimento da agroecologia e da produção orgânica nos SPG e OCS brasileiros» (PDF). Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Sul de Minas Gerais, 2016. Consultado em 11 de agosto de 2019 
  3. «Pestcides in Organic Farming». University of California, Berkeley. Consultado em 8 de agosto de 2015. Organic foods are not necessarily pesticide-free. Organic foods are produced using only certain pesticides with specific ingredients. Organic pesticides tend to have natural substances like soaps, lime sulfur and hydrogen peroxide as ingredients. Not all natural substances are allowed in organic agriculture; some chemicals like arsenic, strychnine and tobacco dust (nicotine sulfate) are prohibited. 
  4. a b c d e f g Sousa AA, Azevedo E, Lima EE, Silva APF. (2012). «Alimentos orgânicos e saúde humana: estudo sobre as controvérsias.» (PDF). Revista Panamericana Salud Publica. 2012;31(6):513–7. Consultado em 11 de agosto de 2019 
  5. «Organic certification». European Commission: Agriculture and Rural Development. 2014. Consultado em 8 de agosto de 2015 
  6. a b c d Barański, M; Srednicka-Tober, D; Volakakis, N; Seal, C; Sanderson, R; Stewart, GB; Benbrook, C; Biavati, B; Markellou, E; Giotis, C; Gromadzka-Ostrowska, J; Rembiałkowska, E; Skwarło-Sońta, K; Tahvonen, R; Janovská, D; Niggli, U; Nicot, P; Leifert, C (26 de junho de 2014). «Higher antioxidant and lower cadmium concentrations and lower incidence of pesticide residues in organically grown crops: a systematic literature review and meta-analyses.». The British journal of nutrition. 112 (5): 1–18. PMID 24968103. doi:10.1017/S0007114514001366 
  7. a b c Magkos F et al (2006) Organic food: buying more safety or just peace of mind? A critical review of the literature Crit Rev Food Sci Nutr 46(1) 23–56 | pmid=16403682
  8. a b c d Smith-Spangler, C; Brandeau, ML; Hunter, GE; Bavinger, JC; Pearson, M; Eschbach, PJ; Sundaram, V; Liu, H; Schirmer, P; Stave, C; Olkin, I; Bravata, DM (4 de setembro de 2012). «Are organic foods safer or healthier than conventional alternatives?: a systematic review.». Annals of Internal Medicine. 157 (5): 348–366. PMID 22944875. doi:10.7326/0003-4819-157-5-201209040-00007 
  9. Freitas Macena (Elaboração), Alethéa (2011). «Pesquisa - O mercado brasileiro de produtos orgânicos» (PDF). IPD Orgânicos - Instituto de Promoção do Desenvolvimento Orgânicos. Consultado em 11 de agosto de 2019 
  10. Willer & Lernoud, Helga (2019). «The World of Organic Agriculture - Statistics and Emerging Trends 2019». FiBL - Research Institute of Organic Agriculture; IFOAM - Organics International. Consultado em 11 de agosto de 2019 
  11. a b Blair, Robert. (2012). Organic Production and Food Quality: A Down to Earth Analysis. Wiley-Blackwell, Oxford, UK. ISBN 978-0-8138-1217-5
  12. a b «Organic food». UK Food Standards Agency. Consultado em 8 de agosto de 2015. Cópia arquivada em 5 de junho de 2011 
  13. a b Misiewicz & Jessica Shade, Tracy (2018). «Organic Agriculture: Reducing occupational pesticide exposure in farmers and farmworkers» (PDF). The Organic Center. Consultado em 11 de agosto de 2019 
  14. TV, RBS (2016). «Feirantes vendem produtos com agrotóxico como orgânicos em SC». RBS Santa Catarina. Consultado em 11 de agosto de 2019 
  15. Ory, Joanna (2017). «Avoiding Pesticide Drift Impacts on Organic Farms» (PDF). Santa Cruz: California. Organic Farming Research Fondation. Consultado em 11 de agosto de 2019 
  16. Neto & Sacinelli, Maria (2009). «Agrotóxicos em água para consumo humano: uma abordagem de avaliação de risco e contribuição o processo de atualização da legislação brasileira». Eng. Sanit. Ambient. vol.14 no.1 Rio de Janeiro Jan./Mar. 2009. Consultado em 11 de agosto de 2019 
  17. Secretaria de Vigilância em Saúde, Ministério da Saúde (2018). «Relatório Nacionalde Vigilância em Saúde de Populações Expostas a Agrotóxicos» (PDF). Ministério da Saúde. Consultado em 11 de agosto de 2019 
  18. Leite & Serra, Marina Ferreira (2013). «Avaliação dos impactos ambientais na aplicação dos agrotóxicos». Ambiência Guarapuava (PR) v.9 n.3 p. 675 - 682. Consultado em 11 de agosto de 2019 
  19. a b Altieri & Nicholls, Miguel (2013). «Agroecology Scaling Up for Food Sovereignty and Resiliency». Sustainable Agriculture Reviews: Volume 11 (pp.1-29). Consultado em 11 de agosto de 2019 
  20. a b Mier, Mateo; et al. (2018). «Bringing agroecology to scale: key drivers and emblematic cases». Agroecology and Sustainable Food Systems. Consultado em 11 de agosto de 2019 
  21. a b Altieri, Miguel (2012). «The scaling up of agroecology: spreading the hope for food sovereignty and resiliency» (PDF). SOCLA’s Rio+20 position paper. Consultado em 11 de agosto de 2019 
  22. SULENG, KRISTIN. «Deixe de comprar comida orgânica se quiser salvar o planeta». El País Brasil 
  23. a b GALÁN, LOLA (2016). «Defensora do Leitor do EL PAÍS: A pegada da agricultura orgânica». El País Brasil. Consultado em 11 de agosto de 2019