Civilização maia: diferenças entre revisões

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Os '''maias''' foram uma [[civilização]] [[Mesoamérica|mesoamericana]] desenvolvida pelos [[povos maias]] e conhecida pelo seu [[Escrita maia|logossilabário]] — o mais sofisticado e desenvolvido [[sistema de escrita]] da [[América]] [[Era pré-colombiana|pré-colombiana]] — bem como por sua [[arte]], [[Arquitetura maia|arquitetura]], [[Numeração maia|matemática]], [[Calendário maia|calendário]] e sistema [[Astronomia|astronômico]]. A civilização maia se desenvolveu em uma área que abrange o sudeste do [[México]], toda a [[Guatemala]] e [[Belize]], e as partes ocidentais de [[Honduras]] e [[El Salvador]]. Essa região consiste nas planícies do norte, que abrangem a [[Península de Iucatã]], e as montanhas da [[Sierra Madre de Chiapas|Sierra Madre]], que partem do estado mexicano de [[Chiapas]], atravessam o sul da [[Guatemala]] e seguem para El Salvador e as planícies do sul da planície litoral do Pacífico. O termo abrangente "maia" é um termo coletivo moderno que se refere aos povos da região; no entanto, o termo não era usado pelas próprias populações indígenas, pois nunca houve um senso comum de identidade ou unidade política entre essas populações distintas.{{HarvRef|Restall|Asselbergs|2007|p=4}}
 
O [[Cronologia da Mesoamérica|período arcaico]], antes de {{-nwrap|2000 a.C.}}, viu os primeiros desenvolvimentos na agricultura e nas aldeias mais antigas. O período pré-clássico (de cerca de {{-+nwrap|2000 a.C. até |250 d.C.)}} viu o estabelecimento das primeiras sociedades complexas na região maia e o cultivo das culturas básicas da dieta maia, como [[milho]], [[feijão]], [[Cucurbita|abóboras]] e [[pimenta chili]]. As primeiras cidades maias se desenvolveram por volta de {{-nwrap||750 a.C.}} A partir do ano {{-nwrap||500 a.C.}} essas cidades passaram a possuir arquitetura monumental, como grandes templos com elaboradas fachadas de [[estuque]]. A escrita hieroglífica já estava sendo usada na região maia no século {{-séc|III a.C}}. No período pré-clássico tardio, várias grandes cidades se desenvolveram na [[Bacia de Petén]], sendo que a cidade de [[Kaminaljuyú]] ganhou destaque nas [[Highlands da Guatemala|terras altas]] da [[Highlands da Guatemala|Guatemala]]. A partir do ano {{nwrap|250 d.C}}, o período clássico é amplamente definido como quando os maias estavam erguendo monumentos esculpidos com [[Contagem longa|datas de contagem longa]]. Nesse período, a civilização maia desenvolveu muitas [[Cidade-Estado|cidades-Estado]] ligadas por uma complexa rede comercial. Nas planícies maias, as cidades de [[Tikal]] e [[Calakmul]], tornaram-se poderosas e duas grandes rivais. No período clássico também houve a intervenção intrusiva da cidade de [[Teotihuacan]], no México central, na política dinástica maia. No século {{séc|VIII}}, houve um [[Colapso maia|colapso político]] generalizado na região central dos maias, resultando em [[Guerra civil|guerra internacional]], abandono de cidades e mudança de população para o norte. O período pós-clássico viu a ascensão de [[Chichén Itzá]], no norte, e a expansão do agressivo [[Gumarcaj|reino Quiché]], nas terras altas da Guatemala. No século {{séc|XVI}}, o [[Império Espanhol]] colonizou a região mesoamericana e uma longa série de campanhas viu a queda de [[Tayasal|Nojpetén]], a última cidade maia, em 1697.
 
O domínio político durante o período clássico estava centrado no conceito do "rei divino", que agia como mediador entre os mortais e o reino sobrenatural. O reinado era [[Patrilinearidade|patrilinear]] e o poder normalmente era [[Primogenitura|herdado pelo filho mais velho]]. Também se esperava que um possível rei fosse um líder bem-sucedido em guerras. A política maia era dominada por um sistema fechado de patrocínio, embora a composição política exata de um reino variasse em cada cidade-Estado. No final da era clássica, a aristocracia havia aumentado bastante, resultando na redução correspondente no poder exclusivo do rei divino. A civilização maia desenvolveu formas de arte altamente sofisticadas e as criou usando materiais perecíveis e não perecíveis, como [[madeira]], [[jade]], [[obsidiana]], [[cerâmica]], monumentos de pedra esculpida, estuque e murais finamente pintados.
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== Mesoamérica ==
[[Ficheiro:Mayamap.png|direita|miniaturadaimagem|A área maia na [[Mesoamérica]]]]
[[File:Ceren (8) sm (4290048784).jpg|thumb|Ruínas de [[Joya de Ceren]], um assentamento da era clássica em [[El Salvador]] enterrado sob cinzas vulcânicas por volta de {{nwrap||600 d.C}}. Sua preservação ajudou muito no estudo da vida cotidiana de uma comunidade agrícola maia.]]
 
A civilização maia se desenvolveu dentro da área cultural mesoamericana, que abrange uma região que se espalha do norte ao sul do México, na América Central.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=28}} A [[Mesoamérica]] foi um dos seis [[Berço da civilização|berços da civilização]] em todo o mundo.{{HarvRef|Rosenwig|2010|p=3}} A área mesoamericana foi palco de uma série de desenvolvimentos culturais que incluíam sociedades complexas, agricultura, cidades, arquitetura monumental, [[Sistemas de escrita mesoamericanos|escrita]] e sistemas de calendário.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=28–29}} O conjunto de traços compartilhados pelas culturas mesoamericanas também incluía conhecimento [[Astronomia|astronômico]], [[Sangria (medicina)|sangria]] e [[sacrifício humano]], além de uma [[Mesoamérica|cosmovisão]] que via o mundo como separado em quatro divisões alinhadas com as [[Ponto cardeal|direções cardeais]], cada uma com atributos diferentes, e uma divisão tríplice do mundoː reino celestial, terrestre e o submundo.{{HarvRef|Foster|2002|p=28}}
 
Em {{-nwrap||6000 a.C.}}, os primeiros habitantes da Mesoamérica estavam experimentando a [[domesticação]] de plantas, um processo que acabou levando ao estabelecimento de [[Sociedade agrária|sociedades agrícolas]] [[Sedentarização|sedentárias]].{{HarvRef|Blanton|Kowalewski|Feinman|Finsten|1993|p=35}} O clima diversificado permitiu uma grande variação nas culturas disponíveis, mas todas as regiões da Mesoamérica cultivaram milho, feijão e abóboras.{{HarvRef|Adams|2005|p=17}} Todas as culturas mesoamericanas usavam a [[tecnologia pré-histórica]]; depois do ano 1000 o [[cobre]], a [[prata]] e o [[ouro]] foram trabalhados. A Mesoamérica carecia de [[Trabalho animal|animais de tração]], não usava a roda e possuía poucos animais domesticados; o principal meio de transporte era a pé ou de canoa.{{HarvRef|Adams|2005|p=18}} Os mesoamericanos viam o mundo como hostil e governado por divindades imprevisíveis. O [[Jogo de bola mesoamericano|ritual do jogo de bola mesoamericano]] era amplamente praticado.{{HarvRef|Adams|2005|p=19}} A região era linguisticamente diversa, sendo que a maioria dos [[Línguas mesoamericanas|idiomas]] pertencia a um pequeno número de [[Família linguística|famílias]] — as principais famílias são [[Línguas maias|maias]], [[Línguas mixe-zoqueanas|mixe-zoqueanas]], otomangues e [[Línguas uto-astecas|uto-astecas]]; também há várias famílias menores e [[Língua isolada|isoladas]]. A [[área linguística]] mesoamericana compartilha uma série de características importantes, incluindo [[Empréstimo (linguística)|empréstimos]] generalizados e uso de um [[sistema de numeração vigesimal]].{{HarvRef|Witschey|Brown|2012|p=183–84}}
 
O território dos maias cobria um terço da Mesoamérica{{HarvRef|Foster|2002|p=5}} e os maias estavam engajados em um relacionamento dinâmico com culturas vizinhas, que incluíam os [[olmecas]], [[mixtecas]], [[teotihuacan]]os, [[Civilização asteca|astecas]] e outros.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=29}}{{HarvRef|Foster|2002|p=5}} Durante o início do período clássico, as cidades maias de Tikal e Kaminaljuyu foram os principais focos maias em uma rede que se estendia além da área maia até as terras altas do centro do México.{{HarvRef|Marcus|2004b|p=342}} Por volta da mesma época, havia uma forte presença maia no complexo de Totitla em [[Teotihuacan]].{{HarvRef|Taube|2004|p=273}} Séculos depois, durante o século {{+séc|IX d.C}}, os murais de [[Cacaxtla]], outro local no planalto central do México, foram pintados em estilo maia.{{HarvRef|McVicker|1985|p=82}} Isso pode ter sido um esforço para se alinhar com a ainda poderosa área maia após o colapso de Teotihuacan e a subsequente fragmentação política nas terras altas do México{{HarvRef|Brittenham|2009|p=140}} ou uma tentativa de expressar uma origem maia distante dos habitantes.{{HarvRef|Berlo|1989|p=30}} A cidade maia de [[Chichén Itzá]] e a distante capital [[Toltecas|tolteca]] de [[Tula Xicocotitlan|Tula]] tinham um relacionamento especialmente próximo.{{HarvRef|Kristan-Graham|Kowalski|2007|p=13–14}}
 
== Geografia ==
Linha 61:
|-
| colspan="3" | Arcaico
| 8000–2000 a.C.{{-nwrap||8000|2000}}{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=98}}
|-
| rowspan="6" | Pré-clássico
| colspan="2" | Pré-clássico inicial
| {{-nwrap||2000|1000}}
| 2000–1000 a.C.
|-
| rowspan="2" | Pré-clássico médio
| Pré-clássico médio inicial
| {{-nwrap||1000|600}}
| 1000–600 a.C.
|-
| Pré-clássico médio tardio
| {{-nwrap||600|350}}
| 600–350 a.C.
|-
| rowspan="3" | Pré-clássico tardio
| Pré-clássico tardio inicial
| {{-+nwrap||350|1}}
| 350–1 a.C.
|-
| Pré-clássico tardio tardio
| {{nwrap||1|59}}
| 1 a.C. – 159 d.C.
|-
| Pré-clássico tardio final
| {{nwrap||159|250}}
| 159–250 d.C.
|-
| rowspan="3" | Clássico
| colspan="2" | Clássico inicial
| {{nwrap||250|550}}
| 250–550 d.C.
|-
| colspan="2" | Clássico tardio
| {{nwrap||550|830}}
| 550–830 d.C.
|-
| colspan="2" | Clássico final
| {{nwrap||830|950}}
| 830–950 d.C.
|-
| rowspan="2" | Pós-clássico
| colspan="2" | Pós-clássico inicial
| {{nwrap||950|1200}}
| 950–1200 d.C.
|-
| colspan="2" | Pós-clássico tardio
| {{nwrap||1200|1539}}
| 1200–1539 d.C.
|-
| colspan="3" | Período de contato
| 1511–1697 d.C.{{nwrap||1511|1697}}{{HarvRef|Masson|2012|p=18238}}{{HarvRef|Pugh|Cecil|2012|p=315}}
|}
 
=== Período pré-clássico (c.{{circa}} {{-nwrap||2000 a.C.}}{{+nwrap||250 d.C.}}) ===
Os maias desenvolveram sua primeira civilização no período pré-clássico.{{HarvRef|Estrada-Belli|2011|p=28}} Os estudiosos continuam a discutir quando esta era da civilização maia começou. A ocupação maia em [[Cuello]] (atual Belize) foi datada de carbono por volta de {{-nwrap||2600 a.C.}}{{HarvRef|Hammond|Pring|Berger|Switsur|Ward|1976|p=579–81}} Os assentamentos foram estabelecidos por volta de {{-nwrap||1800 a.C.}} na região de Soconusco, na costa do Pacífico, e os maias já estavam cultivando as principais culturas de milho, feijão, abóbora e pimenta.{{HarvRef|Drew|1999|p=6}} Este período foi caracterizado por comunidades [[Sedentarização|sedentárias]] e pela introdução de estatuetas de barro e cerâmica.{{HarvRef|Coe|1999|p=47}}
{{Multiple image| image1 = Kaminaljuyu 7.jpg| width1 = 200| image2 = El Mirador 5.jpg| width2 = 222| footer = [[Kaminaljuyu]], nas áreas mais elevadas, e [[El Mirador]], nas regiões mais baixas, eram importante cidades do final do período pré-clássico.}}
 
Uma pesquisa feita com [[LIDAR]] no local recém-descoberto de Aguada Fénix em Tabasco, no México, revelou grandes estruturas sugeridas como um local cerimonial datado de {{-nwrap||1000}} a {{-nwrap||800 a.C}}. O relatório de 2020 da pesquisa, na revista ''[[Nature]]'', sugere seu uso como uma observação cerimonial dos solstícios de inverno e verão, com festividades associadas e encontros sociais.{{HarvRef|Inomata|Vázquez López|p=530–533}}
 
Durante o [[Cronologia da Mesoamérica|período pré-clássico médio]], pequenas aldeias começaram a crescer até formar cidades.{{HarvRef|Olmedo Vera|1997|p=26}} Nakbe, no departamento de Petén, na Guatemala, é a primeira cidade bem documentada nas planícies maias{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=214}} onde grandes estruturas foram datadas por volta de {{-nwrap||750 a.C}}. As planícies do norte de Iucatã foram amplamente colonizadas pelo pré-clássico médio.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=276}} Por volta de {{-nwrap||400 a.C.}}, os primeiros governantes maias começaram a levantar estelas.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=182, 197}} Uma escrita desenvolvida já estava sendo usada em Petén no século {{-séc|III a.C.}}{{HarvRef|Saturno|Stuart|Beltrán|2006|p=1281–83}} No período pré-clássico tardio, a enorme cidade de [[El Mirador]] cresceu até cobrir cerca de 16 quilômetros quadrados.{{HarvRef|Olmedo Vera|1997|p=28}} Embora não fosse tão grande, [[Tikal]] já era uma cidade significativa por volta de {{-nwrap||350 a.C}}.{{HarvRef|Martin|Grub|2000|p=25–26}}
 
Nas terras altas, [[Kaminaljuyú]] emergiu como um centro principal no pré-clássico tardio.{{HarvRef|Love|2007|p=293, 297}}{{HarvRef|Popenoe de Hatch|Schieber de Lavarreda|2001|p=991}} [[Takalik Abaj]] e [[Chocolá]] eram duas das cidades mais importantes da planície costeira do Pacífico{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=236}} e [[Komchen]] cresceu e se tornou um local importante no norte de Iucatã.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=275}} A florescência cultural pré-clássica tardia entrou em colapso no século {{+séc|I d.C}} e muitas das grandes cidades maias da época foram abandonadas; a causa desse colapso é desconhecida.{{HarvRef|Martin|Grub|2000|p=8}}
 
=== Período clássico (c. 250–900 d.C.){{nwrap||250|900}} ===
[[File:QuiriguaStela1.jpg|thumb|esquerda|upright|Estela D de [[Quiriguá]], representando o rei [[Kʼakʼ Tiliw Chan Yopaat]]{{HarvRef|Schele|Mathews|1999|p=179, 182–83}}]]
 
O período Clássico é amplamente definido como o período durante o qual os maias da planície levantaram monumentos datados usando o calendário Long Count.{{HarvRef|Coe|1999|p=81}} Esse período marcou o pico da construção e do [[Urbanismo|urbanismo em]] larga escala, a gravação de inscrições monumentais e demonstrou significativo desenvolvimento intelectual e artístico, particularmente nas regiões das terras baixas do sul. O cenário político maia do período clássico foi comparado ao da [[Renascença italiana|Itália renascentista]] ou [[Grécia Clássica|da Grécia clássica]], com várias cidades-Estado envolvidas em uma complexa rede de alianças e inimizades.{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=21}} As maiores cidades tinham populações entre 50.000 mil e 120.000 mil habitantes e estavam ligadas a redes de locais subsidiários.{{HarvRef|Masson|2012|p=18237}}
 
Durante o início do período clássico, cidades em toda a região maia foram influenciadas pela grande metrópole de [[Teotihuacan]], no distante [[vale do México]].{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=9}} Em 378 dC, Teotihuacan interveio decisivamente em Tikal e em outras cidades próximas, depôs seus governantes e instalou uma nova dinastia.{{HarvRef|Demarest|2004|p=218}}{{HarvRef|Estrada-Belli|2011|p=123–26}} Essa intervenção foi liderada por [[Siyaj Kʼak']] ("Nascido do Fogo"), que chegou a Tikal no início de 378. O rei de Tikal, [[Chak Tok Ichʼaak I]], morreu no mesmo dia, o que sugere que houve violência.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=322}}{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=29}} Um ano depois, Siyaj Kʼak' supervisionou a instalação de um novo rei, [[Yax Nuun Ahiin I]].{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=324}} A instalação da nova dinastia levou a um período de domínio político, quando Tikal se tornou a cidade mais poderosa das planícies centrais.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=324}}
Linha 132:
[[Ficheiro:Chichen_Itza_ruins_in_Mexico_--_by_John_Romkey.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|[[Chichén Itzá]] era a cidade mais importante da região maia do norte]]
 
Durante o século {{+séc|IX d.C}}, a região central dos maias sofreu um grande colapso político, marcado pelo abandono das cidades, o fim de dinastias e uma mudança de atividade para a parte norte da região.{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=9}} Nenhuma teoria aceita universalmente explica esse colapso, mas provavelmente teve uma combinação de causas, como guerras endêmicas e superpopulação, o que resultou em grave [[degradação ambiental]] e [[seca]].{{HarvRef|Coe|1999|p=151–55}} Durante esse período, conhecido como clássico tardio, as cidades do norte, [[Chichén Itzá]] e [[Uxmal]], apresentaram um aumento de atividade. As principais cidades da península de Iucatã, no norte, continuaram a ser habitadas muito tempo depois que as cidades das planícies do sul deixaram de erguer monumentos.{{HarvRef|Becker|2004|p=134}}
 
A organização social clássica maia era baseada na autoridade ritual do governante e não no controle central do comércio e da distribuição de alimentos. Esse modelo de governo estava mal estruturado para responder às mudanças sociais e ecológicas, porque as ações do governante eram limitadas pela tradição a atividades como construção, ritual e guerra. Isso serviu apenas para exacerbar problemas sistêmicos.{{HarvRef|Demarest|2004|p=246}} Nos séculos IX e X, isso resultou no colapso desse sistema de governo. No norte de Iucatã, o domínio individual foi substituído por um conselho governante formado a partir de linhagens de elite. No sul de Iucatã e no centro de Petén, os reinos declinaram; no oeste de Petén e em algumas outras áreas, as mudanças foram catastróficas e resultaram no rápido despovoamento das cidades.{{HarvRef|Demarest|2004|p=248}} Dentro de algumas gerações, grandes áreas do centro da região maia foram praticamente abandonadas.{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=226}} As capitais e seus centros secundários foram geralmente abandonados dentro de um período de 50 a 100 anos.{{HarvRef|Masson|2012|p=18237}} Uma a uma, as cidades pararam de esculpir monumentos antigos; a última data de [[contagem longa]] foi inscrita em [[Toniná]] em 909. As estelas não eram mais criadas e os invasores se mudaram para os palácios reais abandonados. As rotas comerciais mesoamericanas também mudaram e passaram a contornar Petén.{{HarvRef|Foster|2002|p=60}}
 
=== Período pós-clássico (c. 950–1539 d.C.){{nwrap||950|1539}} ===
[[Ficheiro:Zacuelu2.jpg|miniaturadaimagem| [[Zaculeu]] era a capital do reino pós-clássico [[Mames|Mame]] nas [[terras altas da Guatemala]]{{HarvRef|Sharer|2000|p=490}}]]
 
Embora muito reduzida, uma presença maia significativa permaneceu no período pós-clássico após o abandono das principais cidades do período clássico; a população estava particularmente concentrada perto de fontes de água permanentes.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=613, 616}} Ao contrário dos ciclos anteriores de contração na região maia, as terras abandonadas não foram rapidamente reassentadas no pós-clássico.{{HarvRef|Masson|2012|p=18237}} A atividade mudou para as planícies do norte e as terras altas dos maias; isso pode ter envolvido a migração das planícies do sul, porque muitos grupos maias pós-clássicos tinham mitos sobre a migração.{{HarvRef|Foias|2014|p=15}} Chichén Itzá e seus vizinhos [[Puuc]] diminuíram drasticamente no século {{séc|XI}} e isso pode representar o episódio final do colapso do período clássico. Após o declínio de Chichén Itzá, a região maia não possuía poder dominante até a ascensão da cidade de [[Mayapan]] no século {{séc|XII}}. Novas cidades surgiram perto das costas do [[Caribe]] e do [[Golfo do México|Golfo]], e novas redes comerciais foram formadas.{{HarvRef|Masson|2012|p=18238}}
 
O período pós-clássico foi marcado por alterações em relação ao período clássico anterior.{{HarvRef|Arroyo|2001|p=38}} A outrora grande cidade de Kaminaljuyu, no vale da Guatemala, foi abandonada após uma ocupação contínua de quase 2.000dois mil anos.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=618}} Nas terras altas e na costa do Pacífico vizinha, as cidades ocupadas em locais expostos foram realocadas, aparentemente devido a uma proliferação de conflitos. As cidades passaram a ocupar locais de morros mais fáceis de defender, cercados por ravinas profundas, com defesas de valas e muralhas às vezes complementando a proteção oferecida pelo terreno natural. Uma das cidades mais importantes das terras altas da Guatemala naquela época era [[Qʼumarkaj]], a capital do agressivo [[Gumarcaj|reino Quiché]]. O governo dos Estados maias, de Iucatã ao planalto guatemalteco, costumava ser organizado em conjunto por um conselho. No entanto, na prática, um membro do conselho poderia atuar como governante supremo, enquanto os outros membros o serviam como conselheiros.{{HarvRef|Foias|2014|p=100–02}}
[[Ficheiro:Mayapan_chac.JPG|miniaturadaimagem|[[Mayapan]] era uma importante cidade pós-clássica no norte da [[península de Iucatã]]]]
 
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Durante o pós-clássico tardio, a península foi dividida em várias províncias independentes que compartilhavam uma cultura comum, mas variavam na organização sociopolítica interna.{{HarvRef|Andrews|1984|p=589}}</ref> Na véspera da conquista espanhola, as terras altas da Guatemala foram dominadas por vários poderosos Estados maias.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=717}} Os [[quichés]] haviam conquistado um pequeno império cobrindo grande parte das terras altas da Guatemala ocidental e da planície costeira do Pacífico. Contudo, nas décadas anteriores à invasão espanhola, o [[Caqchiquel|reino Caqchiquel]] vinha corroendo constantemente o reino dos quichés.{{HarvRef|Restall|Asselbergs|2007|p=5}}
 
=== Período de contato e conquista espanhola (1511–1697 d.C){{nwrap||1511|1697}} ===
[[Ficheiro:Lienzo_de_Tlaxcala_Iximche.gif|esquerda|miniaturadaimagem|Página do ''Lienzo de Tlaxcala'' mostrando a conquista espanhola de [[Iximché|Iximche]], conhecida como Cuahtemallan na língua [[Língua náuatle|náuatle]] ]]
Em 1511, uma [[caravela]] espanhola foi destruída no Caribe e cerca de uma dúzia de sobreviventes chegaram à costa de Iucatã. Eles foram capturados por um senhor maia e a maioria foi sacrificada, embora dois tenham conseguido escapar. De 1517 a 1519, três expedições espanholas separadas exploraram a costa de Iucatã e se envolveram em várias batalhas com os habitantes maias.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=759–60}}
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=== Investigação da civilização maia ===
[[Ficheiro:Uxmal_nunnery_by_Catherwood_02.jpg|direita|miniaturadaimagem| Desenho de Frederick Catherwood do complexo de templos de [[Uxmal]] ]]
Os agentes da Igreja Católica escreveram relatos detalhados sobre os maias, em apoio aos seus esforços de evangelização e absorção dos maias no Império Espanhol.{{HarvRef|Demarest|2004|p=31}} Isso foi seguido por vários padres e oficiais coloniais espanhóis que deixaram descrições das ruínas que visitaram em Iucatã e na América Central.{{HarvRef|Demarest|2004|p=32–33}} Em 1839, o viajante e escritor americano [[John Lloyd Stephens]] decidiu visitar vários locais maias com o arquiteto e desenhista inglês Frederick Catherwood.{{HarvRef|Koch|2013|p=1, 105}} Seus relatos ilustrados das ruínas despertaram grande interesse popular e chamaram a atenção do mundo para os maias. No final do século {{séc|XIX}} começou o registro e a recuperação de relatos etno-históricos dos maias e foram dados os primeiros passos para decifrar os hieróglifos maias.{{HarvRef|Demarest|2004|p=33–34}}
 
As duas últimas décadas do século {{séc|XIX}} viram o nascimento da arqueologia científica moderna na região maia, com o trabalho meticuloso de [[Alfred Percival Maudslay|Alfred Maudslay]] e [[Teoberto Maler]].{{HarvRef|Demarest|2004|p=37–38}} No início do século {{séc|XX}}, o [[Peabody Museum de Harvard|Museu Peabody]] patrocinava escavações em Copán e na Península de Iucatã.{{HarvRef|Demarest|2004|p=38}} Nas duas primeiras décadas do século {{séc|XX}}, houve avanços na decifração do calendário maia e na identificação de divindades, datas e conceitos religiosos.{{HarvRef|Demarest|2004|p=39}} Desde a década de 1930, a exploração arqueológica aumentou dramaticamente, com escavações em larga escala na região maia.{{HarvRef|Demarest|2004|p=42}}
[[Ficheiro:Castillo_Maler.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Fotografia de 1892, do [[Templo de Kukulcán|Castillo]] em [[Chichén Itzá]], por [[Teoberto Maler]]]]
 
Na década de 1960, o ilustre maiaista J. Eric S. Thompson promoveu as ideias de que as cidades maias eram essencialmente centros cerimoniais vagos, servindo uma população dispersa na floresta, e que a civilização maia era governada por sacerdtes astrônomos pacíficos.{{HarvRef|Demarest|2004|p=44}} Essas ideias começaram a entrar em colapso com grandes avanços na decifração da escrita maia no final do século {{séc|XX}}, pioneiros em Heinrich Berlin, Tatiana Proskouriakoff e Yuri Knorozov.{{HarvRef|Demarest|2004|p=45}} Com avanços na compreensão dos registros maias desde a década de 1950, os textos revelavam as atividades bélicas dos reis maias clássicos e a visão deles como pacíficos não podia mais ser sustentada.{{HarvRef|Foster|2002|p=8}}
 
A capital Sak Tz'i ' (um antigo reino maia) agora chamado Lacanja Tzeltal, foi revelada por pesquisadores liderados pelo professor de antropologia Charles Golden e pelo bioarqueólogo Andrew Scherer em [[Chiapas]], no quintal de um fazendeiro mexicano em 2020.<ref name=":0"/><ref>{{Citar web |último =Kettley |url=https://www.express.co.uk/news/science/1254403/Archaeology-news-Ancient-Maya-kingdom-discovery-Mexico-cattle-ranch |titulo=Archaeology breakthrough: Ancient Maya kingdom discovered in... a rancher's backyard |obra=Express.co.uk |lingua=en |acessodata=16 de janeiro de 2021}}</ref>
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[[Imagem:Tikal_St04.jpg|thumb|upright|Estela 26 em [[Tikal]], representando o rei [[Yax Nuun Ahiin I]]]]
 
Ao contrário dos [[Civilização asteca|astecas]] e dos [[Império Inca|incas]], o sistema político maia nunca integrou toda a área cultural maia em um único Estado ou império. Em vez disso, ao longo de sua história, a área maia continha uma mistura variável de complexidade política, que incluía [[Estado]]s e [[chefatura]]s. Essas políticas flutuavam bastante em seus relacionamentos e estavam envolvidas em uma complexa rede de rivalidades, períodos de domínio ou submissão, [[vassalagem]] e alianças. Às vezes, políticas diferentes alcançavam domínio regional, como Calakmul, [[El Caracol|Caracol]], Mayapan e Tikal. As primeiras políticas de evidência confiável formadas nas planícies maias no século {{-séc|IX a.C.}}{{HarvRef|Cioffi-Revilla|Landman|1999|p=563}}
 
Durante o período pré-clássico, o sistema político maia se fundiu em uma forma [[Teocracia|teopolítica]], onde a ideologia da elite justificava a autoridade do governante e era reforçada pela exibição pública, rituais e religião.{{HarvRef|Oakley|Rubin|2012|p=81}} O rei divino era o centro do poder político, exercendo controle final sobre as funções administrativas, econômicas, judiciais e militares da sociedade. A autoridade divina investida no governo era tal que o rei era capaz de mobilizar tanto a aristocracia quanto os plebeus na execução de grandes projetos de infraestrutura, aparentemente sem força policial ou exército permanente.{{HarvRef|Oakley|Rubin|2012|p=82}} Algumas instituições políticas se engajaram em uma estratégia de aumentar a administração e preencher cargos administrativos com apoiadores leais ao invés de parentes de sangue.{{HarvRef|Foias|2014|p=162}} Dentro da política, os centros populacionais de classificação média teriam desempenhado um papel fundamental no gerenciamento de recursos e conflitos internos.{{HarvRef|Foias|2014|p=60}}
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=== Rei e corte ===
[[Ficheiro:Toniná_Stela_1.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|upright|[[Estela]] de [[Toniná]], representando o rei [[Bahlam Yaxuun Tihl]], que governou no século {{séc|VI}}{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=178}}{{HarvRef|Witschey|Brown|2012|p=321}}]]
O domínio maia clássico era centrado em uma cultura real exibida em todas as áreas da arte maia clássica. O rei era o governante supremo e possuía um estatuto semidivino que o tornava o mediador entre o reino dos mortais e o dos deuses. Desde muito cedo, os reis foram especificamente identificados com o jovem deus do milho, que era a base da civilização mesoamericana. A sucessão real maia era [[Patrilinearidade|patrilinear]] e o poder real só passava às rainhas quando o contrário resultaria na extinção da dinastia. Normalmente, o poder era passado para o filho mais velho. Um jovem príncipe era chamado de ''chʼok'' ("juventude"), embora essa palavra mais tarde se referisse à nobreza em geral. O herdeiro real foi chamado ''bʼaah chʼok'' ("chefe da juventude"). Vários pontos na infância do jovem príncipe eram marcados por rituais; o mais importante era uma cerimônia de derramamento de sangue aos cinco ou seis anos de idade. Embora pertencer à linhagem real fosse de extrema importância, o herdeiro também tinha que ser um líder de guerra bem-sucedido, como demonstrado pela captura de cativos. A entronização de um novo rei era uma cerimônia altamente elaborada, envolvendo uma série de atos separados que incluíam entronização sobre uma almofada de pele de onça, sacrifício humano e o recebimento de símbolos do poder real, como uma faixa de cabeça com uma representação de jade do então chamado "deus bobo da corte", um toucado elaborado adornado com penas de quetzal e um cetro representando o deus K'awiil.{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=14}}
 
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A guerra era predominante no mundo maia. As campanhas militares foram lançadas por uma variedade de razões, incluindo o controle de rotas e tributos comerciais, incursões para capturar cativos, aumentando a destruição completa de um estado inimigo. Pouco se sabe sobre a organização, logística ou treinamento militar maia. A guerra é retratada na arte maia do período clássico, e guerras e vitórias são mencionadas nas inscrições hieroglíficas.{{HarvRef|Foster|2002|p=143}} Infelizmente, as inscrições não fornecem informações sobre as causas da guerra ou sobre a forma que ela tomou. Nos séculos 8VIII a 9IX, a guerra intensiva resultou no colapso dos reinos da região de Petexbatún, no oeste de Petén.{{HarvRef|Aoyama|2005|p=291}} O rápido abandono de Aguateca por seus habitantes ofereceu uma rara oportunidade de examinar os restos de armas maias ''in situ'' .{{HarvRef|Aoyama|2005|p=292}} Aguateca foi invadida por inimigos desconhecidos por volta de {{+nwrap||810 d.C}}, que superaram suas formidáveis defesas e queimaram o palácio real. Os habitantes de elite da cidade fugiram ou foram capturados e nunca mais voltaram para recolher suas propriedades abandonadas. Os habitantes da periferia abandonaram o local logo depois. Este é um exemplo de guerra intensiva realizada por um inimigo para eliminar completamente um estado maia, em vez de subjugá-lo. Pesquisas em Aguateca indicaram que os guerreiros do período clássico eram principalmente membros da elite.{{HarvRef|Aoyama|2005|p=293}}
 
Desde o período pré-clássico, esperava-se que o governante de uma sociedade maia fosse um líder de guerra distinto, o que seria representado com cabeças de troféu penduradas no seu cinto. No período clássico, essas cabeças não apareciam mais no cinturão do rei, mas os governantes deste período são frequentemente retratados em pé sobre cativos de guerra humilhados.{{HarvRef|Foster|2002|p=143}} Até o final do período pós-clássico, os reis maias lideravam como capitães de guerra. As inscrições maias dessa época mostram que um rei derrotado podia ser capturado, torturado e sacrificado.{{HarvRef|Foster|2002|p=144}} Os espanhóis registraram que os líderes maias acompanhavam os movimentos das tropas em livros pintados.{{HarvRef|Webster|2000|p=66}}
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As maiores esculturas maias consistiam em fachadas arquitetônicas feitas de [[estuque]]. A forma áspera era colocada sobre um revestimento simples de base de gesso na parede e a forma tridimensional era construída com pequenas pedras. Finalmente, esta era revestida com estuque e moldada na forma acabada; as formas do corpo humano eram modeladas primeiro em estuque, sendo que seus trajes eram adicionados posteriormente. A escultura final de estuque era então pintada de maneira brilhante.{{HarvRef|Miller|1999|p=84}} Máscaras de estuque gigantes eram usadas para enfeitar as fachadas dos templos do pré-clássico tardio e essa decoração continuou no período clássico.{{HarvRef|Estrada-Belli|2011|p=44, 103–04}}
 
Os maias tinham uma longa tradição de pintura mural; ricos murais policromáticos foram escavados em San Bartolo e datavam entre {{-nwrap||300}} e {{-nwrap||200 a.C}}.{{HarvRef|Saturno|Stuart|Beltrán|2006|p=1281–82}} As paredes eram revestidas com gesso e os desenhos multicoloridos eram pintados no acabamento liso. A maioria desses murais não sobreviveu, mas túmulos do período clássico pintados em creme, vermelho e preto foram escavados em Caracol, [[Río Azul]] e Tikal. Entre os murais mais bem preservados, há uma série de pinturas em tamanho clássico em [[Bonampak]].{{HarvRef|Miller|1999|p=84–85}}
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| caption2 = Figurinha de cerâmica da [[Ilha de Jaina]], 650–800 d.C.{{+nwrap||650|800}}
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}}
 
A cerâmica é o tipo mais comum de arte maia sobrevivente. Os maias não tinham conhecimento da [[Roda de oleiro|roda do oleiro]], e os vasos maias eram construídos enrolando tiras de argila enroladas na forma desejada. A cerâmica maia não era envidraçada, embora muitas vezes tivesse um acabamento fino produzido pelo polimento. A cerâmica maia foi pintada com tiras de argila misturadas com minerais e argilas coloridas. As antigas [[Olaria|técnicas de tiro]] maia ainda não foram replicadas.{{HarvRef|Miller|1999|p=86}} Esculturas de cerâmica extremamente finas foram escavadas em túmulos do clássico clássico na [[ilha de Jaina]], no norte de Yucatán. Eles variam de 10 a 25 cm de altura e foram modelados à mão, com detalhes requintados.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=378}} O ''corpus'' de cerâmica policromada no estilo I, incluindo placas finamente pintadas e vasos cilíndricos, teve origem no final do período clássico Motul de San José. Ele inclui um conjunto de recursos, como hieróglifos pintados em uma cor rosa ou vermelho pálido e cenas com dançarinos usando máscaras. Uma das características mais marcantes é a representação realista dos assuntos como eles apareceram na vida. O assunto dos navios inclui a vida na corte da região de Petén no século 8 d.C{{-séc|VIII}}, como reuniões diplomáticas, banquetes, derramamento de sangue, cenas de guerreiros e o sacrifício de prisioneiros de guerra.{{HarvRef|Reents-Budet|Foias|Bishop|Blackman|Guenter|2007|p=1417–18}}
 
Osso, humano e animal, também era esculpido; ossos humanos podem ter sido troféus ou relíquias de ancestrais.{{HarvRef|Miller|1999|p=78}} Os maias valorizavam as conchas de Spondylus e as trabalhavam para remover o exterior branco e os espinhos, para revelar o fino interior laranja.{{HarvRef|Miller|1999|p=77}} Por volta do século {{séc|X}}, a [[metalurgia]] chegou à Mesoamérica vinda da América do Sul e os maias começaram a fazer pequenos objetos em [[ouro]], [[prata]] e [[cobre]]. Os maias geralmente martelavam chapas em objetos como miçangas, sinos e discos. Nos últimos séculos antes da conquista espanhola, os maias começaram a usar o [[Cera perdida|método de cera perdida]] para [[Fundição|fundir]] pequenas peças de metal.{{HarvRef|Miller|1999|p=76}}
 
Uma área pouco estudada da arte folclórica maia é o [[Grafito|grafite]],{{HarvRef|Hutson|2011|p=403}} que não fazia parte da decoração planejada, mas foi incisivo no estuque de paredes, pisos e bancos interiores, em uma ampla variedade de edifícios, incluindo templos, residências e depósitos. Esse tipo de expressão artística foi registrado em 51 locais maias, particularmente agrupados na Bacia de [[Petén]] e no sul de Campeche, e na região de [[Chenes (arquitetura maia)|Chenes]], no noroeste de Yucatán. Em [[Tikal]], onde uma grande quantidade de grafiti foi encontrada, os temas mais comuns incluíam desenhos de templos, pessoas, divindades, animais e tronos. Muitas vezes, o grafite era inscrito ao acaso, com desenhos sobrepostos e exibindo uma mistura de arte bruta e não treinada e exemplos de artistas familiarizados com as convenções artísticas do período clássico.{{HarvRef|Hutson|2011|p=405–06}}
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=== Design urbano ===
[[Ficheiro:Tikal-Reconstruction4.jpg|esquerda|miniaturadaimagem| Reconstrução do núcleo urbano de [[Tikal]] no século {{séc|VIII }}]]
 
As cidades maias não eram planejadas formalmente e estavam sujeitas a expansão irregular, com a adição aleatória de palácios, templos e outros edifícios.{{HarvRef|Olmedo Vera|1997|p=34}} A maioria das cidades maias tendia a crescer para fora do centro e para cima, à medida que novas estruturas se sobrepunham à arquitetura anterior.{{HarvRef|Miller|1999|p=25}} As cidades maias geralmente tinham um centro cerimonial e administrativo rodeado por uma vasta extensão irregular de complexos residenciais. Os centros de todas as cidades maias apresentavam recintos sagrados, às vezes separados das áreas residenciais próximas por muralhas.{{HarvRef|Schele|Mathews|1999|p=23}} Esses recintos continham templos em pirâmide e outras arquiteturas monumentais dedicadas a atividades da elite, como plataformas basais que davam suporte a complexos residenciais administrativos ou da classe dominante. Monumentos esculpidos eram erguidos para registrar os feitos da dinastia governante. Os centros das cidades também apresentavam praças, quadras sagradas e edifícios usados para mercados e escolas.{{HarvRef|Schele|Mathews|1999|p=24}} Frequentemente, calçadas ligavam o centro às áreas periféricas da cidade. Alguns desses grupos de arquitetura formaram grupos menores nas áreas periféricas da cidade, que serviram como centros sagrados para linhagens não reais. As áreas adjacentes a esses compostos sagrados incluíam complexos residenciais que abrigavam linhagens ricas. O maior e mais rico desses complexos de elite às vezes possuía escultura e arte artesanal igual à da arte real.{{HarvRef|Schele|Mathews|1999|p=24}}
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A quadra de [[jogo de bola mesoamericano]] é uma forma distinta de arquitetura pan-mesoamericana. Embora a maioria das quadras maias datem do período clássico,{{HarvRef|Colas|Voß|2011|p=186}} os primeiros exemplos apareceram por volta de {{-nwrap||1000 a.C.}} no noroeste de Iucatã, durante o pré-clássico médio.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=207}} Na época do contato com os espanhóis, os campos só eram usados nas montanhas da Guatemala, em cidades como Qʼumarkaj e Iximche. Ao longo da história maia, as quadras de bola mantiveram uma forma característica, consistindo em uma forma de ɪ, com uma área de jogo central terminando em duas zonas transversais.{{HarvRef|Foster|2002|p=233}} A área central de jogo geralmente mede entre 20 e 30 metros de comprimento e é flanqueado por duas estruturas laterais que se erguiam até 3 a 4 metros de altura.{{HarvRef|Colas|Voß|2011|p=189}}{{HarvRef|Taladoire|Colsenet|1991|p=165}} As plataformas laterais frequentemente suportavam estruturas que podem ter acomodado espectadores privilegiados.{{HarvRef|Taladoire|Colsenet|1991|p=189}} A Grande Quadra de Bola de Chichén Itzá é o maior da Mesoamérica, medindo 83 metros de comprimento por 30 metros de largura, com paredes de 8,2 metros de altura.{{HarvRef|Coe|1999|p=175}}
 
=== Estilos arquitetônicos regionais ===
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[[Ficheiro:Mayan_Language_Migration_Map.svg|esquerda|miniaturadaimagem|Mapa das rotas de migração da [[Línguas maias|língua maia]]]]
 
Antes de {{-nwrap||2000 a.C.}}, os maias falavam uma única língua, apelidada de [[Língua protomaia|protomaia]] pelos linguistas.{{HarvRef|Foster|2002|p=274}} A análise linguística do vocabulário protomaia reconstruído sugere que a pátria original desse povo estava nas terras altas do oeste ou norte da Guatemala, embora as evidências não sejam conclusivas.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=28}} O protomaia divergiu durante o período pré-clássico para formar os principais grupos de línguas maias que compõem a família, incluindo [[Línguas huastecas|huastecano]], [[línguas quicheanas]], [[línguas canjobalanas]], [[Língua mameana|mameano]], [[tz'eltalano-cholano]] e [[Línguas de Yucatán|iucateano]].{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=26}}
 
Esses grupos divergiram ainda mais durante a era pré-colombiana, formando mais de 30 línguas que sobreviveram até os tempos modernos.{{HarvRef|Foster|2002|p=274}}{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=26}} A linguagem de quase todos os textos maias clássicos em toda a área maia foi identificada como [[língua maia clássica]];{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=132}} o texto pré-clássico tardio de [[Kaminaljuyu]], nas terras altas, também parece estar em, ou relacionado a, língua clássica maia.{{HarvRef|Estrada-Belli|2011|p=112}} O uso dela como a língua dos textos maias, no entanto, não indica necessariamente que era essa a língua comumente usada pela população local - pode ter sido equivalente ao [[latim medieval]] como uma [[Dialeto de prestígio|língua]] [[Língua litúrgica|ritual]] ou de [[Dialeto de prestígio|prestígio]],{{HarvRef|Houston|Robertson|Stuart|2000|p=326}} usada pela elite maia na comunicação política, como na diplomacia e nas relações comerciais.{{HarvRef|Houston|Robertson|Stuart|2000|p=338}} No período pós-clássico, [[Iucateque|Yucatec]] também estava sendo escrito em códices maias ao lado da língua maia clássica.{{HarvRef|Bricker|2007|p=143}}
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[[Ficheiro:Ethnologisches_Museum_Berlin_Mesoamerika_019.JPG|miniaturadaimagem| Vaso de [[cerâmica]] pintado com [[escrita maia]], no [[Museu Etnológico (Berlim)|Museu Etnológico de Berlim]]]]
 
O sistema de escrita maia é uma das realizações mais notáveis dos habitantes pré-colombianos das Américas.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=125}} Foi o sistema de escrita mais sofisticado e altamente desenvolvido entre os mais de doze idiomas que foram desenvolvidos na Mesoamérica.{{HarvRef|Diehl|2004|p=183}} As primeiras inscrições em uma escrita maia identificável datam de 300–200 a.C.{{-nwrap||300|200}}, na Bacia de Petén.{{HarvRef|Saturno|Stuart|Beltrán|2006|p=1282}} No entanto, isso é precedido por vários outros [[sistemas de escrita mesoamericanos]], como as escritas [[Escrita ístmica|ístmica]] e [[Escrita zapoteca|zapoteca]]. A escrita maia primitiva apareceu na costa do Pacífico da Guatemala no final do século {{séc|I}} ou início do século {{séc|II}}.{{HarvRef|Love|2007|p=293}}{{HarvRef|Schieber Laverreda|Orrego Corzo|2010|p=2}} Semelhanças entre a escrita ístmica e a escrita maia primitiva da costa do Pacífico sugerem que os dois sistemas se desenvolveram em conjunto.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=225}} Por volta do ano 250, a escrita maia havia se tornado um sistema de escrita mais formal e consistente.{{HarvRef|Kettunen|Helmke|2008|p=10}}
 
A [[Igreja Católica]] e os oficiais coloniais, notadamente o bispo [[Diego de Landa]], destruíram textos maias onde quer que os encontrassem e, com eles, a maior parte do conhecimento da escrita maia. No entanto, por um acaso, três [[Códices maias|códices pré-colombianos]] não contestados datados do período pós-clássico foram preservados. Estes são conhecidos como ''[[Códice de Madrid]]'', ''[[Códice de Dresden]]'' e ''[[Códice de Paris]]''.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=126}}{{HarvRef|Foster|2002|p=297}} Algumas páginas sobrevivem em um quarto texto, o ''Códice Grolier'', cuja autenticidade é contestada. A arqueologia conduzida em sítios maias frequentemente revela outros fragmentos, pedaços retangulares de gesso e lascas de tinta que já foram códices; esses vestígios tentadores estão, no entanto, muito danificados para que quaisquer inscrições tenham sobrevivido, sendo que a maior parte do material orgânico se deteriorou.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=129}} Em referência aos poucos escritos maias existentes, [[Michael D. Coe]] afirmou:
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A escrita maia estava em uso até a chegada dos europeus, seu pico de uso durante o período clássico.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=120, 123}} Mais de 10 mil textos individuais foram recuperados, a maioria inscritos em monumentos de pedra, lintéis, estelas e cerâmicas.{{HarvRef|Kettunen|Helmke|2008|p=6}} Os maias também produziram textos pintados em uma forma de papel manufaturado a partir de casca de árvore processada, geralmente conhecida agora pelo termo náuatle "''[[Amate|amatl]]",'' usado para produzir [[códice]]s.{{HarvRef|Miller|Taube|1993|p=131}} O conhecimento da escrita maia persistiram entre segmentos da população até a conquista espanhola. Essa habilidade foi posteriormente perdida, como resultado do impacto do domínio espanhol na sociedade maia.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=120}}
 
A decifração e recuperação do conhecimento da escrita maia foi um processo longo e trabalhoso.{{HarvRef|Coe|1994|p=245–46}} Alguns elementos foram decifrados pela primeira vez no final do século {{séc|XIX}} e no início do século {{séc|XX}}, principalmente as partes relacionadas a [[Numeração maia|números]], calendário maia e astronomia.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=135–36}} Grandes avanços foram feitos entre os anos 1950 e 1970 e se aceleraram rapidamente depois disso.{{HarvRef|Foster|2002|p=271–72}} No final do século {{séc|XX}}, os estudiosos já eram capazes de ler a maioria dos textos maias e o trabalho, ainda em andamento, continua a iluminar ainda mais o conteúdo produzido por essa civilização.{{HarvRef|Macri|Looper|2003|p=11}}{{HarvRef|Kettunen|Helmke|2014|p=9}}
 
=== Escrita logossilábica ===
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}}
Em comum com as outras civilizações mesoamericanas, os maias usavam um sistema de base 20 (vigesimal).{{HarvRef|Foster|2002|p=249}} O sistema de contagem de barras e pontos que é a base dos algarismos maias estava em uso na [[Mesoamérica]] desde por volta de {{-nwrap||1000 a.C.}};{{HarvRef|Blume|2011|p=53}} os maias o adotaram no período pré-clássico tardio e adicionaram o símbolo do [[zero]]{{HarvRef|Blume|2011|p=53}} {{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=101}} Esta pode ter sido a primeira ocorrência conhecida da ideia de um zero explícito em todo o mundo,{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=101}}{{HarvRef|Justeson|2010|p=46}} embora possa ser mais recente que o [[Matemática babilônica|sistema babilônico]], feito na [[Mesopotâmia]].{{HarvRef|Justeson|2010|p=46}} O primeiro uso explícito de zero ocorreu em monumentos datados do ano 357.{{HarvRef|Justeson|2010|p=49}} Em seus primeiros usos, o zero serviu como um [[Notação posicional|marcador]], indicando a ausência de uma contagem calendárica particular. Posteriormente, evoluiu para um numeral que servia para realizar cálculos{{HarvRef|Justeson|2010|p=50}} e foi utilizado em textos hieroglíficos por mais de mil anos, até que o sistema de escrita foi extinto pelos espanhóis.{{HarvRef|Justeson|2010|p=52}}
 
O sistema numérico básico consiste em um ponto para representar um e uma barra para representar cinco.{{HarvRef|Foster|2002|p=248}} No período pós-clássico, um símbolo de casca representava zero; durante o período clássico, outros glifos foram usados.{{HarvRef|Foster|2002|p=248}}{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=101}} Os numerais maias de 0 a 19 usavam repetições desses símbolos. O valor de um numeral era determinado por sua posição; à medida que um numeral é deslocado para cima, seu valor básico é multiplicado por vinte. Dessa forma, o símbolo mais baixo representaria unidades e o símbolo logo acima representaria múltiplos de vinte, enquanto o símbolo acima desse representaria múltiplos de 400 e assim por diante. Por exemplo, o número 884 seria escrito com quatro pontos no nível mais baixo, quatro pontos no próximo nível acima e dois pontos no próximo nível, para dar 4 × 1 + 4 × 20 + 2 × 400 = 884 . Usando esse sistema, os maias eram capazes de registrar números enormes.{{HarvRef|Foster|2002|p=249}} Cálculos simples de adição podiam ser realizados somando os pontos e barras em duas colunas para dar o resultado em uma terceira coluna.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=101}}
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O ''haab de'' 365 dias era produzido por um ciclo de dezoito denominados ''winals'' de 20 dias, completado pela adição de um período de 5 dias denominado ''wayeb,'' que era considerado um momento perigoso, pois seria quando as barreiras entre os reinos mortal e sobrenatural eram quebradas, permitindo que divindades malignas cruzassem e interferissem nos assuntos humanos.{{HarvRef|Foster|2002|p=253}} De forma semelhante ao ''tzʼolkin'', o ''winal'' seria prefixado por um número (de 0 a 19), no caso do período ''wayeb'' mais curto, os números do prefixo iam de 0 a 4. Visto que cada dia no ''tzʼolkin'' tinha um nome e número (por exemplo, 8 Ajaw), isso se interligaria com o ''haab'', produzindo um número e nome adicionais, para dar a qualquer dia uma designação mais completa, por exemplo 8 Ajaw 13 Keh. Esse nome de dia só poderia ocorrer uma vez a cada 52 anos e esse período é conhecido pelos maias como ciclo do calendário. Na maioria das culturas mesoamericanas, o ciclo era a maior unidade para medir o tempo.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=107}}
 
Como acontece com qualquer calendário não repetitivo, os maias mediam o tempo a partir de um ponto inicial fixo. Os maias definiram o início de seu calendário como o fim de um ciclo anterior de ''bakʼtuns'', equivalente a um dia no ano {{-nwrap||3114 a.C}}. Os maias acreditavam que esse era o dia da criação do mundo em sua forma atual. Os maias usavam o calendário de [[contagem longa]] para fixar qualquer dia do ciclo em seu grande ciclo p''iktun'' atual, que consistia em 20 ''bakʼtuns''. Havia alguma variação no calendário, especificamente textos em [[Palenque]] demonstram que o ciclo do ''piktun'' que terminou em {{-nwrap||3114 a.C.}} tinha apenas 13 ''bakʼtuns'', mas outros usavam um ciclo de 13 + 20 ''bakʼtuns'' no ''piktun'' atual.{{notade rodapé|"Uma única passagem em um painel hieroglífico do clássico tardio em Palenque esclarece dois outros pontos; primeiro, que a contagem de bakʼtuns acumulará até 19, como antes da era atual, antes que o número na casa dos piktuns mude; e segundo, que esse número mudará para 1, não para 14, assim como os bakʼtuns fizeram em {{-nwrap||2720 a.C}}. Em outras palavras, todos os piktuns, exceto o atual, continham 20 bakʼtuns, mas o atual contém 33; todos os kalabtuns anteriores, o próximo lugar acima, continham 20 piktuns, mas o kalabtun atual contém 33 deles. Presumivelmente, o mesmo padrão se aplica ao restante dos lugares mais elevados. Essa redefinição escalonada dos ciclos de ordem superior, tão inesperadamente inesperada de uma perspectiva ocidental contemporânea, sugere uma atitude em relação ao tempo mais numerológica do que matemática. Afinal de contas, 13 e 20 são os números-chave do tzolkʼin, então é apropriado que eles sejam incorporados à Contagem Longa em enormes escalas temporais."{{HarvRef|Carter|2014}}}}
 
Uma data de contagem longa completa consistia em um glifo introdutório seguido por cinco glifos contando o número de ''bakʼtuns'', ''katʼuns'', ''tuns'', ''winals'' e ''kʼins'' desde o início da criação atual. Isso seria seguido pela porção ''tzʼolkin'' da data do ciclo do calendário e, depois de vários glifos intermediários, a data da contagem longa terminaria com a porção ''haab'' da data do ciclo.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=110}}
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O [[sangue]] era visto como uma potente fonte de nutrição para as divindades maias e o sacrifício de uma criatura viva era uma poderosa oferenda. Por extensão, o sacrifício de uma vida humana era a oferta definitiva aos deuses, sendo que os rituais maias mais importantes culminavam em sacrifícios humanos. Geralmente, apenas prisioneiros de guerra de alto status eram sacrificados, enquanto que os cativos de status inferior eram usados para o trabalho.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=751}}
 
Rituais importantes, como a dedicação de grandes projetos de construção ou a entronização de um novo governante, exigiam uma oferenda humana. O sacrifício de um rei inimigo era o mais valorizado e envolvia a decapitação do governante cativo em uma reconstituição ritual da decapitação do deus maia do milho pelos deuses da morte.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=751}} No ano {{+nwrap||738 d.C}}, o rei vassalo Kʼakʼ Tiliw Chan Yopaat de Quiriguá capturou seu soberano Uaxaclajuun Ubʼaah Kʼawiil de Copán e poucos dias depois o decapitou ritualmente.{{HarvRef|Miller|1999|p=134–35}}{{HarvRef|Looper|2003|p=76}} O sacrifício por decapitação é descrito na arte maia do período clássico e às vezes acontecia depois que a vítima era torturada, sendo espancada, [[Escalpelamento|escalpelada]], queimada ou estripada de várias maneiras.{{HarvRef|Miller|Taube|1993|p=96}} Outro mito associado à decapitação era o dos gêmeos heróis contado no ''[[Popol Vuh]]'': jogando uma partida de bola contra os deuses do submundo, os heróis alcançaram a vitória, mas um membro de cada par de gêmeos foi decapitado por seus oponentes.{{HarvRef|Gillespie|1991|p=322–23}}
 
Durante o período pós-clássico, a forma mais comum de sacrifício humano era a extração do coração, influenciada pelos ritos dos [[astecas]] no [[Vale do México]];{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=751}} isso geralmente acontecia no pátio de um templo ou no topo das pirâmides.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=752}} Em um ritual, o cadáver era esfolado por sacerdotes assistentes, exceto pelas mãos e pés, e o sacerdote oficiante então se vestia com a pele da vítima do sacrifício e realizava uma dança ritual simbolizando o renascimento da vida. Pesquisas arqueológicas indicam que o sacrifício através da extração do coração era praticado já no período clássico.{{HarvRef|Tiesler|Cucina|2006|p=493}}
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[[Ficheiro:WLA_lacma_Mayan_ceramic_bowl.jpg|thumb|Um cidadão maia comum com oferenda de [[tamales]] aos deuses]]
[[Ficheiro:Día_Internacional_de_los_Pueblos_Indígenas_(7852553230).jpg|direita|miniaturadaimagem| O [[milho]] era um [[alimento básico]] da dieta maia]]
Os antigos maias tinham diversos e sofisticados métodos de produção de alimentos. Acreditava-se que a [[agricultura itinerante]] fornecia a maior parte de seus alimentos,{{HarvRef|Fisher|2014|p=196}} mas agora se pensa que campos permanentes, [[Terraceamento|terraços]], jardinagem intensiva, jardins florestais e [[pousio]]s administrados também eram cruciais em algumas regiões para apoiar as grandes populações do período clássico{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=81–82}}{{HarvRef|Demarest|2004|p=130–38}}{{HarvRef|Ross|2011|p=75}} De fato, a evidência desses diferentes sistemas agrícolas persiste hoje: campos elevados conectados por canais podem ser vistos em fotografias aéreas.{{HarvRef|Adams|Brown|Culbert|1981|p=1460}} A composição contemporânea de espécies da floresta tropical tem abundância significativamente maior de espécies de valor econômico para os antigos maias em áreas densamente povoadas nos tempos pré-colombianos{{HarvRef|Ross|2011|p=75}} e os registros de [[pólen]] em sedimentos de lago sugerem que [[milho]], [[mandioca]], [[Semente de girassol|sementes de girassol]], [[algodão]] e outros as culturas eram desenvolvidas em associação com o desmatamento na Mesoamérica desde pelo menos {{-nwrap||2500 a.C}}.{{HarvRef|Colunga-García Marín|Zizumbo-Villarreal|2004|p=S102–S103}}
 
Os alimentos básicos da dieta maia eram milho, [[feijão]] e [[abóbora]]. Estes eram complementados com uma grande variedade de outras plantas cultivadas em jardins ou colhidas diretamente na floresta. Em [[Joya de Cerén]], uma erupção vulcânica preservou um registro de alimentos armazenados em casas maias, entre eles estavam [[pimentões]] e [[tomate]]s. As sementes de algodão estavam em processo de moagem, talvez para produzir [[óleo de cozinha]]. Além de alimentos básicos, os maias também cultivavam safras de prestígio, como algodão, [[cacau]] e [[baunilha]]. O cacau era especialmente valorizado pela elite, que consumia [[História do chocolate|bebidas à base de chocolate]].{{HarvRef|Foster|2002|p=310}} O algodão era fiado, tingido e tecido em panos valiosos para serem comercializados.{{HarvRef|Foster|2002|p=310–11}}
 
Os maias tinham poucos animais domésticos; os [[cães]] foram domesticados por volta de 3.000 a.C.{{-nwrap||3000}}, enquanto que o [[pato-selvagem]] foi domesticado no período pós-clássico tardio.{{HarvRef|Foster|2002|p=311–312}} A espécie de peru ''[[Meleagris ocellata]]'' era inadequada para a domesticação, mas exemplares eram recolhidos na selva e confinados para engorda. Todos estes foram usados como animais de alimentação; os cães também eram usados para a caça. É possível que [[veado]]s também tenham sido confinados e engordados.{{HarvRef|Foster|2002|p=312}}
 
== Patrimônio histórico ==