Evaristo da Veiga: diferenças entre revisões

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== Infância e adolescência ==
Filho de um português mestre-escola, Francisco Luís Saturnino da Veiga, chegado ao [[Brasil]] aos 13 anos, soldado miliciano na paróquia de Santa Rita, no Rio de Janeiro, depois nomeado professor régio de primeiras letras na [[freguesia]] de São Francisco Xavier do Engenho Velho. Passou a professor na [[Rua do Ouvidor (Rio de Janeiro)|rua do Ouvidor]], onde abriu uma loja. Andou por [[Ouro Preto|Vila Rica]] em 1788 e 1789, deve ter conhecido alguns dos [[inconfidentes]], pois recopiou as ''[[Cartas Chilenas]]'' de [[Tomás Antônio Gonzaga]], publicadas meio século mais tarde por seu neto [[Luís Francisco da Veiga]]. Casou com uma brasileira, D. Francisca Xavier de Barros, nascendo três filhos, dos quais Evaristo foi o segundo. Teve grande influência sobre seus filhos, sobretudo Evaristo, ótimo estudante que no Rio de Janeiro de [[D. João VI]] aprendeu francês, latim, inglês, cursou aulas de retórica e poética e estudou filosofia. Neste período adquiriu interesse por [[jornalismo]] ao visitar as oficinas da [[Impressão Régia]], nos porões do palácio do [[conde da Barca]].
 
Quando concluiu os estudos, o pai já abrira uma livraria na [[Rua da Alfândega (Rio de Janeiro)|rua da Alfândega]] e os livros que trazia da [[Europa]] tinham em Evaristo o primeiro leitor, o mais curioso. Seu projeto frustrado de partir para a [[Universidade de Coimbra]] encontrou compensação na livraria do pai.
 
== Poeta ==
 
[[Ficheiro:ABL Evaristo da Veiga.jpg|thumb|Evaristo da Veiga.]]
 
Autor da letra do "[[Hino da Independência|Hino à Independência]]", cuja música se deve a [[Pedro I do Brasil|D. Pedro I]]. Conta entre os precursores do [[Romantismo]] no Brasil.
 
Em suas poesias mais antigas se sente a influência da escola arcádica e sobretudo de [[Manuel Maria Barbosa du Bocage|Bocage]]. Datam de 1811, tinha 12 anos. Um ano depois, em 1812, celebra os desastres militares dos franceses em Portugal. Aos 14 anos era um poeta português que refletia no Brasil com atraso de 20 anos o movimento da [[Nova Arcádia]] em que haviam excedido Bocage, [[José Agostinho de Macedo]], [[Curvo Semedo]].
 
Em 1817 era súdito fiel de [[D. João VI]], um luso no Rio de Janeiro: o malogro da revolução de Pernambuco o encheu de alegria. Seus versos cantaram o casamento de D. Pedro com [[Dona Leopoldina|D. Leopoldina]], os anos de S. Majestade em 13 de maio de 1819, o aniversário da aclamação do rei. Diversas poesias são dedicadas a amigos, uma característica que se manterá: primou sempre nele o sentimento da amizade. Aos vinte anos começarmcomeçaram a aparecer Marílias, Nises, Lílias, Isbelas mas seus sonetos, cantigas e madrigais continuam arcádicos - com ligeira influência dos mineiros.
 
Em 1821, porém, vivia-se no Rio de Janeiro «o ano do constitucionalismo português», como afirma [[Oliveira Lima]] em ''O Movimento da Independência''. Ninguém podia ficar indiferente. O elemento conservador, receoso de desordens, alimentava esperança de que a chegada das novas instituições não importaria em ruptura com Portugal, pois haveria uma monarquia dual, servindo a coroa como união. Era o pensamento de Evaristo da Veiga, ilusão de que participaram muitos brasileiros. Não tardaram os constitucionalistas de Portugal a demonstrar sua incompreensão das coisas do Brasil e foram aparecendo as resoluções das Cortes que tinham como propósito estabelecer a antiga submissão colonial, embora de outra forma. Foi nesse instante que nele despertou o patriota: um soneto em 17 de outubro de 1821 é intitulado ''O Brasil''. Outro, de fevereiro de 1822, já estigmatizava «a perfídia de Portugal».
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== Livreiro ==
Morreu sua mãe em 1823 e o pai, que desejava casar-se de novo, escrupuloso e exato como era, entregou aos filhos a parte que lhes tocava na herança materna. Evaristo e João Pedro, seu irmão, abriram então uma livraria. Era empreendimento lucrativo. O país se europeizava e os livros e jornais eram os agentes dessa europeização. Em 1821 no ''Diário do Rio de Janeiro'' havia anúncios de oito lojas de livros. Datam de outubro de 1823 os primeiros anúncios da loja de Evaristo («João Pedro da Veiga & Comp»), 14 dias antes de [[Pedro I do Brasil|D. Pedro I]] dissolver a Assembleia.
 
Leu tudo que vendia, formou seu pensamento, fixou-se na posição da monarquia constitucional, pois a república lhe parecia um exagero e era moderado por temperamento. Vendendo livros e fazendo cada vez menos versos passou os anos até 1827, quando, economicamente independente, se separou do irmão e estabeleceu livraria própria ao comprar a livraria e tipografia de João Batista Bompard na rua dos Pescadores nº 49.
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Os fundadores foram um jovem brasileiro cedo falecido, [[José Apolinário de Morais]], o médico francês [[José Francisco Sigaud]] e [[Francisco Crispiano Valdetaro]]. Evaristo resolveu associar-se e passou em pouco tempo de colaborador a redator principal e finalmente único. Assinava seus artigos apenas como ''Evaristo da Veiga''.
 
A imprensa do Rio de Janeiro era então detestável, pasquineira. A [[Gazeta do Brasil]] era favorável ao governo, órgão ministerial, defendendo o Gabinete de 15 de janeiro de 1827, e quem enviava seus artigos, como depois se descobriria, era [[Francisco Gomes da Silva]], o [[Chalaça]], oficial do Gabinete Imperial, íntimo e detestável amigo de [[Pedro I do Brasil|D. Pedro I]]. A ''Gazeta'' chamava ''A Aurora Fluminense'' de ''fedorenta sentina da demagogia e do jacobinismo'', a [[Astréa]] de [[João Clemente Vieira Souto]] de ''insolente e demagógica'', [[O Universal]] de Ouro Preto, de inspiração de [[Bernardo Pereira de Vasconcelos]], de ''jacobino e anárquico''.
 
Os fundadores de ''A Aurora Fluminense'' queriam ''linguagem imparcial'', guiada pela razão e virtude, e havia para ''servir à liberdade constitucional'' um Evaristo da Veiga, imbuído de leituras francesas e inglesas, com o sonho de ver adotadas as instituições que seus autores prediletos preconizavam como indispensáveis à grandeza das nações. Uma quadrinha de versos pífios, composta por D. Pedro I, foi seu lema:
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Em 1830 foi eleito [[deputado]] por [[Minas Gerais]], tendo sido reeleito até morrer. Era nome conhecido no Brasil inteiro. Deputado, continuou jornalista e foi sempre livreiro.
 
Aproximava-se de [[Bernardo Pereira de Vasconcelos]], pela coincidência da posição ideológica. Na nova Câmara abundavam adeptos do liberalismo e para formar a opinião liberal do Brasil ninguém concorrera mais que Evaristo, que jamais assinara um artigo sequer, e a Aurora Fluminense, que em 1830 fora aumentada para seis páginas. Sem nunca ter saído do Rio de Janeiro, recebeu seu mandato de deputado por Minas Gerais, substituindo [[Raimundo José da Cunha Matos]], que optara pela cadeira de Goiás. Em seu mandato tentou pôr as instituições monárquicas a serviço do grande problema brasileiro - a unidade do vasto país. Cumpria cuidar dos interesses mais vitais do povo, fomentar a indústria, sanear zonas quase inabitáveis, difundir a instrução. Batia-se pelo estreitamento das relações com as demais nações americanas, desconfiando das da Europa. Sempre assíduo, queria que os assuntos fossem discutidos com calma, nas Comissões, longe do tumulto do plenário. Opunha-se às liberalidades à custa do Tesouro: «Devemos desgostar antes aos afilhados do que à nação», dizia. Falava pouco, sem retórica, indo direto ao assunto sem divagações. Tinha qualidades raras como deputado: senso de proporções, espírito objetivo, modéstia patriótica.
 
Quando, trabalhado por intrigantes, D. Pedro I demitiu inopinadamente Barbacena da Fazenda, com os desenvolvimentos que se conhecem, os mais otimistas se foram convencendo de que o Brasil nunca seria um país livre com semelhante imperador. Precisamente nesse clima caiu como um raio a noticia da revolução de julho de 1830 na França, derrubando [[Carlos X de França|Carlos X]], e recrudesceu a campanha na imprensa em favor das idéias liberais. Surgiu no Rio o jornal ''O Repúblico'', e nenhum teria papel mais ativo para desencadear a crise. Pregava-se abertamente a federação, querendo mesmo a ''Nova Luz'' uma ´federação democrática´. Evaristo combatia-os e ao mesmo tempo os órgãos absolutistas: o ''Imparcial'', o ''Diário Fluminense'', o ''Moderador'', em posição difícil de equidistância. Mas a agitação popular se alastrava. D. Pedro, mal aconselhado, resolveu ir a Minas Gerais, onde foi friamente recebido. Diz [[Octávio Tarquínio de Sousa]] que «já se apagara da imaginação popular a figura romântica do príncipe que fora o melhor instrumento da Independência.»
 
Evaristo enfrentou com destemor os dias de atentados que precederam o Sete de Abril. Foi ele o autor da representação enérgica de 17 de março de 1831 na chácara da Flora, propriedade do padre [[José Custódio Dias]], um verdadeiro ultimato ao imperador. P. Pedro I, que chefiava em Portugal a campanha constitucionalista, se foi no Brasil distanciando de suas atitudes liberais de 1822 e a ele se foram chegando cada vez mais os portugueses aqui residentes, sendo então abandonado pelos próprios elementos moderados da política brasileira. Já estavam conspirando Evaristo, [[Odorico Mendes]], [[Nicolau de Campos Vergueiro]] e esforçando-se por conseguir a adesão da tropa. «O dia 6 de abril seria de fato a verdadeira data revolucionária em que se verificaria a insurreição da tropa e do povo no [[Campo de Santana (Rio de Janeiro)|Campo de Santana]]; a 7 de abril apenas se completaria a vitória liberal com a abdicação do monarca.»
 
Evaristo anuiu ao golpe quando se esgotaram as possibilidades de uma solução menos violenta, como ele próprio declarou num discurso em 12 de maio de 1832 na Câmara. Aderiu para evitar a anarquia, o desmembramento, a desunião das províncias. Evaristo correu ao Senado para dar forma legal à nova situação por meio da reunião extraordinária que elegeu a Regência provisória (o [[José Joaquim Carneiro de Campos|marquês de Caravelas]], [[Nicolau de Campos Vergueiro]], o brigadeiro [[Francisco de Lima e Silva]]). Coube-lhe redigir a proclamação, e o documento, nobre, nacionalizava a independência e pedia não macular a vitória com excessos. Terminava: «Do dia 7 de abril de 1831 começou a nossa existência nacional; o Brasil será dos brasileiros, e livre!»
 
Aberta a Câmara a 3 de maio, Evaristo foi escolhido para a Comissão de criação da [[Guarda Nacional (Brasil)|Guarda Nacional]], a ´força cidadã´, como ele chamava, que teria o importante papel de manter a ordem em todo o período regencial. Elegeu-se a 17 de junho de 1831 a primeira Regência permanente, sendo escolhidos Francisco de Lima e Silva, [[Costa Carvalho]] e [[João Bráulio Muniz]], este representando o Norte. Evaristo teve imenso papel na elaboração da lei que a regulou.
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A 14 de junho de 1833 entrou em discussão o projeto de reforma da Constituição. Discutiu-se inicialmente a quem competia, e a opinião de Evaristo - a competência era da Câmara - foi aprovada por enorme maioria. Depois de [[Bernardo Pereira de Vasconcelos]], seu autor, ninguém mais do que Evaristo estudou o projeto. Declarou inicialmente que, por seu voto, não se tocaria na Constituição - mas cedia à opinião geral, às aspirações autonomistas das províncias, sem esquecer os interesses superiores da unidade nacional. Foi voto vencido na questão da temporariedade da função de Regente pois a Câmara mostrou-se mais liberal que ele, Limpo de Abreu, Paula Araújo e [[Bernardo Pereira de Vasconcelos|Vasconcelos]] e quase estabeleceu no Brasil uma verdadeira república provisória.
 
A facilidade com que se votou a reforma tinha explicação no temor à volta de [[Pedro I do Brasil|D. Pedro I]]. Quando o ex-imperador morreu em 24 de setembro (a notícia chegou ao Rio em dezembro de 1834), a desagregação dos moderados se processou com rapidez pois nunca houve coesão partidária. Evaristo o julgou com serenidade: "não foi um Príncipe de ordinária medida, existia nele o germe de grandes qualidades, que defeitos lamentáveis e uma viciosa educação sufocaram em parte. (...) Se existimos como corpo de nação livre, se a nossa terra não foi retalhada em pequenas repúblicas inimigas, onde só dominasse a anarquia e o espírito militar, devemo-lo muito à resolução que tomou de ficar entre nós, de soltar o primeiro grito de nossa Independência."
 
A situação política do Brasil dava sinais de persistência de divisão e indisciplina. No [[Rio Grande do Sul]] começara a guerra que ia durar dez anos, havia reluçãorevolução no [[Pará]]. A grande questão era a escolha do Regente único, de acordo com o [[Ato Adicional]]. O candidato de Evaristo foi Feijó, pois dele não via os defeitos e o que temia era a desordem, a anarquia, que prometia a candidatura [[Holanda Cavalcanti]], tido como arrebatado e frenético. Fez a campanha com as mesmas agrúriasagruras anteriores, destemido, sereno, até que a 7 de abril de 1835 votaram em todo o Brasil os eleitores, que eram seis mil, cada um com direito a sufragar dois nomes. Com as dificuldades de comunicação, os resultados chegaram morosamente - feita a apuração final a 9 de outubro, Feijó ficou em primeiro lugar (2.826 votos), Holanda Cavalcanti em segundo (2.251). Com maioria na Câmara, o «partido holandês» tentaria ainda fazer de D. [[Januária Maria de Bragança|Januária]] regente, mas nada conseguiu.
 
;O fim da ''Aurora Fluminense''
A eleição de Feijó foi a última demonstração do prestígio de Evaristo da Veiga. Estava afastado de Bernardo Pereira de Vasconcelos, de Honório Hermeto, de Rodrigues Torres, era combatido pelos caramurus e ainda teve a amargura de desavir-se com Feijó, regente único - por culpa sua, pensavam todos.
 
Em 30 de dezembro de 1835 saiu o último número de seu jornal, com oito anos de existência. Recolhia-se a uma vida que desejava tranquila, com as três filhas e a mulher. Mas não se retirou da vida pública, pois em 1836 compareceu normalmente à Câmara. Depois decidiu fechar por uns tempos sua casa na rua dos Barbonos, hoje rua ''Evaristo da Veiga'', e em novembro partiu para [[Campanha]], onde vivia um irmão. Voltou ao Rio em 2 de maio de 1837. Visitou Feijó, foi para cama presa de violenta ´febre perniciosa´, como diagnosticaram os médicos. Morreu a 12 de maio, repentinamente, aos 37 anos.
 
;Apreciação
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*[http://www.academia.org.br/academicos/evaristo-da-veiga Perfil no sitio da Academia Brasileira de Letras]
*[https://web.archive.org/web/20070212194238/http://br.geocities.com/bravagentebrasileira/bravagente.html A música do Hino à Independência]
 
 
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