Victor Meirelles: diferenças entre revisões

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Etiqueta: Reversão
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Seus anos iniciais são obscuros e as poucas fontes trazem informações conflitantes.<ref name="Moreno"/> Victor Meirelles de Lima era filho dos imigrantes [[Portugal|portugueses]] Antônio Meirelles de Lima e Maria da Conceição dos Prazeres, comerciantes que viviam com limitados recursos econômicos na cidade de Nossa Senhora do Desterro (hoje [[Florianópolis]]).<ref name="Rubens">Rubens, Carlos. [http://www.brasiliana.com.br/obras/pequena-historia-das-artes-plasticas-no-brasil/pagina/123/ "Victor Meirelles"]. In: ''Pequena História das Artes Plásticas no Brasil'' [1941]. Edição Brasiliana online, pp. 123-131</ref> Teve um irmão, Virgílio.<ref name="Moreno"/> Segundo se registra, com cinco anos começou a ser educado em latim, português e aritmética, mas o menino Victor passava seu tempo livre desenhando bonecos e paisagens de sua [[Ilha de Santa Catarina]] e copiando imagens alheias que encontrava em gravuras e folhetos.<ref name="Moreno"/> Segundo o testemunho de José Arthur Boiteux,
 
::"Aos cinco anos mandaram-o os pais à Escola Régia e tão pequeno era que o professor para melhor dar-lhe as lições sentava-o aos joelhos. Quando voltava à casa o seu passatempo era o velho Cosmorama que Antonio Meirelles comprara por muito barato e ótimo curioso que era, concertava sempre que o filho quebrava, o que era comum, algumas das peças. Aos dez anos não escapava a Victor estampa litografada: quantas lhes chegassem às mãos, copiava-as todas. E quem pela loja de Antonio Meirelles sita à Rua da Pedreira, antiga dos Quartéis Velhos, esquina da Rua da Conceição passasse, pela tardinha, invariavelmente veria o pequeno debruçado sobre o balcão a fazer garatujas, quando não as caricaturas dos próprios fregueses que àquela hora lá se reuniam para os idefectíveisindefectíveis dois dedos de prosa".<ref name="Moreno">Franz, Teresinha Sueli. [http://www.dezenovevinte.net/artistas/vm_mmoreno.htm "Mariano Moreno e a primeira formação artística de Victor Meirelles"]. In: ''19&20 - A revista eletrônica de DezenoveVinte'', 2011; VI (1)</ref>
 
Em 1843, quando tinha entre 10 e 11 anos, começou a receber instrução do padre Joaquim Gomes d’Oliveira e Paiva, que lhe ensinou francês e filosofia e aprofundou seu conhecimento de latim. O seu talento precoce foi notado e incentivado pela família e por autoridades locais, e em 1845 começou a ter aulas regulares com um professor de [[desenho geométrico]], o engenheiro argentino [[Mariano Moreno]], que era doutor em direito e em teologia, além de jornalista, político e ex-secretário da primeira Junta de Governo das [[Províncias Unidas do Rio da Prata]], desempenhando, segundo Teresinha Franz, "um papel importante na construção da identidade argentina". Ao mesmo tempo, provavelmente completou seus estudos gerais no Colégio dos Jesuítas, que ministrava aulas de latim, francês, filosofia, história elementar, geografia, retórica e geometria, e é possível que tenha entrado em contato com artistas viajantes que documentavam a natureza e o povo local.<ref name="Moreno"/>
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[[File:Victor Meirelles - A Passagem do Humaitá.jpg|thumb|400px|Detalhe da ''Passagem de Humaitá'', 1868-72. Museu Histórico Nacional.]]
 
Em seu tempo o Brasil recém emergia da tradição barroca, que ainda se mantinha viva em diversos locais, mas que desde o início do século XIX, sob o influxo da vanguarda neoclássica patrocinada pela corte portuguesa e pela [[Missão Francesa]], já era considerada ultrapassada pela elite. Mesmo dando enorme importância aos princípios clássicos, o modo como organizava suas composições, com grupos formando opostos dinâmicos, e o tratamento basicamente pictórico e não gráfico da pintura, seu gosto por efeitos de luz, [[sfumato|esfumados]] e "atmosfera", o aproximam da produção barroca e [[Pintura do romantismo|romântica]]. As obras que copiou em sua fase de estudos eram basicamente de mestres dessas escolas.<ref name="Leite"/><ref name="Makowiecky2"/><ref name="Jorge">Coli, Jorge. [http://caiana.caia.org.ar/resources/uploads/3-pdf/Coli.pdf "Pedro Américo, Victor Meirelles, entre o passado e o presente"]. In: ''Caiana'', 2013; (3)</ref> Esta dialética era muito antiga, estava presente no seio das academias europeias desde o século XVII, quando surgiu a disputa entre os [[Rubens|rubenistas]] e os [[poussin]]istas, que defendiam a supremacia, respectivamente, da cor sobre o desenho, e do desenho sobre a cor. Subentendia-se nesta disputa o primado da [[razão]], da [[ortodoxia]] e da pureza do espírito, simbolizadas pelo [[desenho]], ou o da [[emoção]], da [[intuição]] irracional e do [[sensualismo]], simbolizados pela [[cor]], o que trazia importantes associações morais no contexto da época. A polêmica, de fato, jamais se resolveu.<ref name="Makowiecky2"/><ref>Duro, Paul. "Academic Theory: 1550-1800". In: Smith, Paul & Wilde, Carolyn. ''A companion to art theory''. Wiley-Blackwell, 2002, pp. 89-90</ref><ref>Barasch, Moshe. ''Theories of Art: From Plato to Winckelmann''. Routledge, 2000, pp. 320-322</ref> Para especialistas como [[Mário Baratta|Mario Barata]] e [[Lilia Schwarcz]] sua produção se insere mais corretamente dentro do [[romantismo]] eclético típico da segunda metade do século XIX, com suas associações patrióticas e idealistas e certo sentimentalismo, tendência que predominou no período da maturidade de D. Pedro II, e que coincidiu com o apogeu do [[academismo no Brasil|academismo nacional]].<ref name="Boppré"/><ref name="Biscardi"/> Mas [[Jorge Coli]], falando ao mesmo tempo de Meirelles e de Pedro Américo, faz pertinente observação:
 
::"Vale mais, portanto, colocar de lado as noções e interrogar as obras. É evidentemente mais difícil. Se eu digo 'Victor Meirelles é romântico' ou 'Pedro Américo é acadêmico', projeto sobre eles conhecimentos, critérios e preconceitos que dão segurança ao meu espírito. Se me dirijo diretamente às telas, de modo honesto e cuidadoso, percebo que elas escapam continuamente àquilo que eu supunha ser a própria natureza delas e, o que é pior, fogem para regiões ignotas, não submetidas ao controle do meu saber. Assim, ao invés de discutir se Meirelles ou Américo são ou não são clássicos, são ou não são românticos, são ou não são pré-modernos – o que me coloca em parâmetros seguros e confortáveis, mas profundamente limitados – é preferível tomar esses quadros como projetos complexos, com exigências especificas muitas vezes inesperadas".<ref name="Jorge"/>