Evaristo da Veiga: diferenças entre revisões

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;A Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional
 
Ao mesmo tempo, empenhou-se pela criação de um outro instrumento de ordem, de disciplina social, de orientação política, que foi a [[Sociedade Defensora da Liberdade e Independência Nacional]], instalada no Rio de Janeiro a 19 de maio de 1831. Inspirava-se em sua congênere paulista e teve por iniciador [[Antônio Borges da Fonseca]], o redator de ''O Repúblico''. Evaristo se tornou seu adepto mais fervoroso e de 1831 a 1835 a Aurora Fluminense, a tribuna da Câmara e a Sociedade se tornaram seu centro de ação diária.
 
Foi instrumento de ação dos moderados, e se disse, com algum exagero, que ´governou o Brasil pelo espaço de quatro anos´. [[Abreu Lima]] em ''História do Brasil'' acha que «foi em realidade outro Estado no Estado, porque sua influência era a que predominava no gabinete e nas Câmaras; e sua ação, mais poderosa que a do governo, se estendia por todos os ângulos do Império.» O grande elemento de ação da ´Defensora´ foram as representações à Câmara, ao governo, publicadas nos jornais do partido moderado desde 1 de junho de 1831.
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Os Andradas haviam-se logo alistado entre os descontentes,Evaristo se tornou alvo de ataques e calúnias. Em julho de 1831 era profunda a divisão dos liberais. Nomeado Feijó para a Justiça, recebeu todo o apoio de Evaristo, na Câmara e pela ''Aurora Fluminense'' mas havia grandes embaraços ao governo com a indisciplina militar, a separação entre exaltados e moderados. Evaristo era já, por consenso, o chefe do partido moderado. Formigavam apodos: ´Farroupilhas´ e ´jurujubas´ seriam os exaltados, ´chimangos´ ou ´chapéus redondos´ os moderados, ´caramurus´ os restauradores. Era moço, tinha 32 anos. A ''Malagueta'' o achava feio e menoscabava sua profissão de livreiro.
 
A partir de 1832 os restauradores pareciam mais perigosos do que os exaltados, o ''Carijó'' e o ''Caramuru'' iniciaram ofensiva contra o governo. Uma grave crise foi a campanha de Feijó para destituir [[José Bonifácio de Andrada e Silva|José Bonifácio]] da tutoria dos filhos do imperadorImperador, cujo desfecho se daria com o malogrado golpe de 30 de julho de 1832. Membro da comissão de resposta à Fala do Trono, Evaristo fez um de seus mais longos discursos, quase de improviso, eloquente. Serviu-se também da ''Aurora Fluminense'', enquanto o ''Carijó'' obediente a [[Antônio Carlos Ribeiro de Andrada|Antônio Carlos]] o chamava de «sanefa da Pátria, sabugo versicolor da Aurora». Em julho, a Câmara aprovou a destituição de José Bonifácio de seu posto como tutor, muito comprometido com o facciosismo dos irmãos, mas o Senado não, e Feijó pediu demissão. Os moderados já viam D. Pedro I de novo sentado no trono... Ficou decidido o golpe de Estado tramado na chácara do Padre [[José Custódio Dias]], mas Evaristo não teve nenhuma iniciativa, nenhum entusiasmo, não deu seu assentimento nem adesão formal - instava, entretanto, por uma ´medida salvadora´ e demonstrou sua solidariedade completa, irrestrita a Feijó. Malogrado o golpe, Feijó e outros ministros saíram do governo e a Regência continuou - o bastão de líder escapou de suas mãos. No novo ministério organizado a 3 de agosto de 1832 não havia amigos seus. O ''Carijó'' chegou a escrever: "Evaristo está morto".
 
;A reforma constitucional e a eleição de Feijó
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Sofreu um atentado em sua livraria mesmo, a 8 de novembro de 1832. Recebeu mais de mil visitantes, desde os regentes, ministros de Estado, senadores, ao povo miúdo. Atentado de um pobre sapateiro a mando de um certo coronel Ornelas, amigo de José Bonifácio. Evaristo confessou suspeitar mais do Sr. [[Martim Francisco Ribeiro de Andrada|Martim Francisco]], "cuja alma rancorosa todos conhecem". O certo é que os jornais restauradores, particularmente o ''Caramuru'', tinham seu quinhão de culpa na formação do ambiente de ódios. Em 1833 recrudesceu a campanha da imprensa, empenhada nas eleições para a legislatura 1834-1837 pois a Câmara tinha poderes para realizar a reforma constitucional. Reapareceram jornais antigos como o ''Brasileiro'', e o ''Nacional'', surgiram novos como o ''Independente'', o ''Sete de Abril'', das simpatias de [[Bernardo Pereira de Vasconcelos]]. Mas os moderados já não tinham o prestígio anterior, a campanha ''caramuru'' causara impressão - exceto na zona rural. Eram os chamados ´eleitores do campo´.
 
Todo o ano 1833 se consumiu na expectativa do retorno do duqueDuque de Bragança... Evaristo, convencido de que a trama restauradora era sério perigo, combateu-a, usando a Defensora, e chefiou mesmo a campanha que impediu a volta de D. Pedro I, sob qualquer título, e clamava pela suspensão de José Bonifácio do lugar de tutor como ´centro e instrumento dos facciosos´. Com sua queda, passou o momento de maior tensão, tudo prometia melhorar.
 
A 14 de junho de 1833 entrou em discussão o projeto de reforma da Constituição. Discutiu-se inicialmente a quem competia, e a opinião de Evaristo - a competência era da Câmara - foi aprovada por enorme maioria. Depois de [[Bernardo Pereira de Vasconcelos]], seu autor, ninguém mais do que Evaristo estudou o projeto. Declarou inicialmente que, por seu voto, não se tocaria na Constituição - mas cedia à opinião geral, às aspirações autonomistas das províncias, sem esquecer os interesses superiores da unidade nacional. Foi voto vencido na questão da temporariedade da função de Regente pois a Câmara mostrou-se mais liberal que ele, Limpo de Abreu, Paula Araújo e [[Bernardo Pereira de Vasconcelos|Vasconcelos]] e quase estabeleceu no Brasil uma verdadeira república provisória.
 
A facilidade com que se votou a reforma tinha explicação no temor à volta de [[D. Pedro I]]. Quando o ex-imperador morreu em 24 de setembro (a notícia chegou ao Rio em dezembro de 1834), a desagregação dos moderados se processou com rapidez pois nunca houve coesão partidária. Evaristo o julgou com serenidade: "não foi um príncipePríncipe de ordinária medida, existia nele o germe de grandes qualidades, que defeitos lamentáveis e uma viciosa educação sufocaram em parte. (...) Se existimos como corpo de nação livre, se a nossa terra não foi retalhada em pequenas repúblicas inimigas, onde só dominasse a anarquia e o espírito militar, devemo-lo muito à resolução que tomou de ficar entre nós, de soltar o primeiro grito de nossa Independência."
 
A situação política do Brasil dava sinais de persistência de divisão e indisciplina. No [[Rio Grande do Sul]] começara a guerra que ia durar dez anos, havia relução no [[Pará]]. A grande questão era a escolha do Regente único, de acordo com o [[Ato Adicional]]. O candidato de Evaristo foi Feijó, pois dele não via os defeitos e o que temia era a desordem, a anarquia, que prometia a candidatura [[Holanda Cavalcanti]], tido como arrebatado e frenético. Fez a campanha com as mesmas agrúrias anteriores, destemido, sereno, até que a 7 de abril de 1835 votaram em todo o Brasil os eleitores, que eram seis mil, cada um com direito a sufragar dois nomes. Com as dificuldades de comunicação, os resultados chegaram morosamente - feita a apuração final a 9 de outubro, Feijó ficou em primeiro lugar (2.826 votos), Holanda Cavalcanti em segundo (2.251). Com maioria na Câmara, o «partido holandês» tentaria ainda fazer de D. [[Januária Maria de Bragança|Januária]] regente, mas nada conseguiu.