Civilização maia: diferenças entre revisões

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{{Nota:|Se procura pelo livro de Eça de Queirós, consulte [[Os Maias]]; se pelos descendentes atuais desta civilização, [[Povos maias]]; para outros significados do termo, veja [[Maia (desambiguação)]].}}
{{candidato a destaque}}
{{Info/Estado extinto
|_noautocat = yes
|nome_completo = Maias
|nome_comum = Maias
|continente = [[MesoaméricaAmérica]]
|região = [[Mesoamérica]]
|país = [[México]], [[Belize]], [[Guatemala]] e [[Honduras]]
|era = [[Antiguidade]] e [[Era Moderna]]
|forma_de_governo = [[Cidades-Estado]]
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|imagem_escudo =
|mapa = Maya civilization (orthographic projection).svg
|legenda_mapa = Extensão máxima da civilização maia na [[Mesoamérica]].<br>[[
|imagem: = El Castillo Stitch 2008 Edit 1.jpg
|280px]]<br>legenda_imagem = O [[Templo de Kukulcán]], em [[Chichén Itzá]].
|capital =
|idioma = [[Línguas maias]]
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As cidades maias tendiam a se expandir aleatoriamente e o centro delas era ocupado por complexos administrativos e cerimoniais, cercados por uma expansão irregular de bairros residenciais. Diferentes partes de uma cidade eram frequentemente ligadas pelos [[sacbé]]s (ou "caminhos brancos"). A principal arquitetura da cidade consistia em palácios, [[Pirâmides mesoamericanas|templos-pirâmides]], quadras cerimoniais e estruturas alinhadas para observação astronômica. A elite maia era alfabetizada e desenvolveu um sistema complexo de escrita hieroglífica que era a mais avançada nas Américas pré-colombianas. Os maias registraram sua história e conhecimento ritual em livros de tela, dos quais apenas três exemplos incontestados permanecem, sendo que o restante foi destruído pelos espanhóis. Também existem muitos exemplos de texto maia encontrados em [[estela]]s e cerâmicas. Os maias desenvolveram uma série altamente complexa de calendários rituais interligados e empregaram matemática que incluía uma das primeiras instâncias do [[0 (número)|zero]] no mundo. Como parte de sua religião, os maias praticavam [[Sacrifício humano|sacrifícios humanos]].
 
==Etimologia==
"Maia" é um termo moderno usado para se referir coletivamente aos vários povos que habitavam esta área. Eles não se autodenominavam "Maia" e não tinham um senso de identidade comum ou unidade política.<ref>Restall and Asselbergs 2007, p. 4.</ref>
 
== Mesoamérica ==
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[[File:Ceren (8) sm (4290048784).jpg|thumb|Ruínas de [[Joya de Ceren]], um assentamento da era clássica em [[El Salvador]] enterrado sob cinzas vulcânicas por volta de {{DC|600|x}}. Sua preservação ajudou muito no estudo da vida cotidiana de uma comunidade agrícola maia.]]
 
A civilização maia se desenvolveu na [[região maia]], dentro da área cultural mesoamericana, que abrange uma região que se espalha do norte ao sul do México, na América Central.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=28}} A [[Mesoamérica]] foi um dos seis [[Berço da civilização|berços da civilização]] em todo o mundo.{{HarvRef|Rosenwig|2010|p=3}} A área mesoamericana foi palco de uma série de desenvolvimentos culturais que incluíam sociedades complexas, agricultura, cidades, arquitetura monumental, [[Sistemas de escrita mesoamericanos|escrita]] e sistemas de calendário.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=28–29}} O conjunto de traços compartilhados pelas culturas mesoamericanas também incluía conhecimento [[Astronomia|astronômico]], [[Sangria (medicina)|sangria]] e [[sacrifício humano]], além de uma [[cosmovisão]] de quatro divisões alinhadas com as [[Ponto cardeal|direções cardeais]], cada uma com atributos diferentes, e uma divisão tríplice do mundo: reino celestial, terrestre e submundo.{{HarvRef|Foster|2002|p=28}}
 
Em {{AC|6000|x}}, os primeiros habitantes da Mesoamérica estavam experimentando com a [[domesticação]] de plantas, um processo que acabou levando ao estabelecimento de [[Sociedade agrária|sociedades agrícolas]] [[Sedentarização|sedentárias]].{{HarvRef|Blanton|Kowalewski|Feinman|Finsten|1993|p=35}} O clima diversificado permitiu uma grande variação nas culturas disponíveis, mas todas as regiões da Mesoamérica cultivaram milho, feijão e abóboras.{{HarvRef|Adams|2005|p=17}} Todas as culturas mesoamericanas usavam aas [[Tecnologia pré-histórica|tecnologias pré-históricas]]; depois do ano 1000 o [[cobre]], a [[prata]] e o [[ouro]] forampassaram a ser trabalhados. A Mesoamérica carecia de [[Trabalho animal|animais de tração]], não usava a [[roda]] e possuía poucos [[animais domesticados]]; o principal meio de transporte era a pé ou de canoa.{{HarvRef|Adams|2005|p=18}} Os mesoamericanos viam o mundo como hostil e governado por divindades imprevisíveis. O [[Jogo de bola mesoamericano|ritual do jogo de bola mesoamericano]] era amplamente praticado.{{HarvRef|Adams|2005|p=19}} A região era linguisticamente diversa, sendo que a maioria dos [[Línguas mesoamericanas|idiomas]] pertencia a um pequeno número de [[Família linguística|famílias]] — as principais famílias são [[Línguas maias|maias]], [[Línguas mixe-zoqueanas|mixe-zoqueanas]], otomangues e [[Línguas uto-astecas|uto-astecas]]; também há várias famílias menores e [[Língua isolada|isoladas]]. A [[área linguística]] mesoamericana compartilha uma série de características importantes, incluindo [[Empréstimo (linguística)|empréstimos]] generalizados e uso de um [[sistema de numeração vigesimal]].{{HarvRef|Witschey|Brown|2012|p=183–84}}
 
O território dos maias cobria um terço da Mesoamérica{{HarvRef|Foster|2002|p=5}} e os maias estavam engajados em um relacionamento dinâmico com culturas vizinhas, que incluíam os [[olmecas]], [[mixtecas]], [[teotihuacan]]os, [[Civilização asteca|astecas]] e outros.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=29}}{{HarvRef|Foster|2002|p=5}} Durante o início do período clássico, as cidades maias de Tikal e Kaminaljuyu forameram os principais focos maias em uma rede que se estendia além da área maia até as terras altas do centro do México.{{HarvRef|Marcus|2004b|p=342}} Por volta da mesma época, havia uma forte presença maia no complexo de Totitla em [[Teotihuacan]].{{HarvRef|Taube|2004|p=273}} Séculos depois, durante o {{+séc|IX}}, os murais de [[Cacaxtla]], outro local no planalto central do México, foram pintados em estilo maia.{{HarvRef|McVicker|1985|p=82}} Isso pode ter sido um esforço para se alinhar com a ainda poderosa área maia após o colapso de Teotihuacan e a subsequente fragmentação política nas terras altas do México{{HarvRef|Brittenham|2009|p=140}} ou uma tentativa de expressar uma origem maia distante dos habitantes.{{HarvRef|Berlo|1989|p=30}} A cidade maia de [[Chichén Itzá]] e a distante capital [[Toltecas|tolteca]] de [[Tula Xicocotitlan|Tula]] tinham um relacionamento especialmente próximo.{{HarvRef|Kristan-Graham|Kowalski|2007|p=13–14}}
 
== Geografia ==
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== História ==
{{Civilização maia}}
A história da civilização maia é dividida em três períodos principais: os períodos pré-clássico, clássico e pós-clássico.{{HarvRef|Estrada-Belli|2011|p=1-3}} Estes foram precedidos pelo Períodoperíodo Arcaicoarcaico, durante o qual surgiram as primeiras aldeias estabelecidas e os primeiros desenvolvimentos na agricultura.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=98}} Os estudiosos modernos consideram esses períodos como divisões arbitrárias da cronologia maia, ao invés de indicativos de evolução ou declínio cultural.{{HarvRef|Estrada-Belli|2011|p=1}} Sendo assim, as definições das datas de início e término dos períodos podem variar em até um século, dependendo do autor.{{HarvRef|Demarest|2004|p=17}}
{| class="wikitable" style="margin: 1em auto 1em auto" align="center"
|+ Cronologia maia{{HarvRef|Estrada-Belli|2011|p=3}}
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|-
| colspan="3" | Período de contato
| {{nwrap||1511|1697}}{{HarvRef|Masson|2012|p=18238}}{{HarvRef|Pugh|Cecil|2012|p=315}}
|}
 
=== Período pré-clássico {{-+nwrap||2000|250}} ===
Os maias desenvolveram sua primeira civilização no período pré-clássico.{{HarvRef|Estrada-Belli|2011|p=28}} Os estudiosos continuam a discutir quando esta era da civilização maia começou. A ocupação maia em [[Cuello]] (atual Belize) foi [[Datação por carbono|datada de carbono]] por volta de {{AC|2600|x}}{{HarvRef|Hammond|Pring|Berger|Switsur|Ward|1976|p=579–81}} Os assentamentos foram estabelecidos por volta de {{AC|1800|x}} na região de Soconusco, na costa do Pacífico, e os maias já estavam cultivando as principais culturas de milho, feijão, abóbora e pimenta.{{HarvRef|Drew|1999|p=6}} Este período foi caracterizado por comunidades [[Sedentarização|sedentárias]] e pela introdução de estatuetas de barro e cerâmica.{{HarvRef|Coe|1999|p=47}}
{{Multiple image| image1 = Kaminaljuyu 7.jpg| width1 = 200| image2 = El Mirador 5.jpg| width2 = 222| footer = [[Kaminaljuyu]], nas áreas mais elevadas, e [[El Mirador]], nas regiões mais baixas, eram importante cidades do final do período pré-clássico.}}
 
Uma pesquisa feita com [[LIDAR]] no local recém-descoberto de Aguada Fénix em Tabasco, no México, revelou grandes estruturas sugeridas comode um local cerimonial datado de {{AC|1000|x}} a {{AC|800|x}}. O relatório de 2020 da pesquisa, publicado na revista ''[[Nature]]'', sugere seu uso como uma observação cerimonial dos solstícios de inverno e verão, com festividades associadas e encontros sociais.{{HarvRef|Inomata|Vázquez López|p=530–533}}
 
Durante o [[Cronologia da Mesoamérica|período pré-clássico médio]], pequenas aldeias começaram a crescer até formar cidades.{{HarvRef|Olmedo Vera|1997|p=26}} Nakbe, no departamento de Petén, na Guatemala, é a primeira cidade bem documentada nas planícies maias{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=214}} onde grandes estruturas foram datadas por volta de {{AC|750|x}}. As planícies do norte de Iucatã foram amplamente colonizadas pelodurante o pré-clássico médio.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=276}} Por volta de {{AC|400|x}}, os primeiros governantes maias começaram a levantar estelas.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=182, 197}} Uma escrita desenvolvida já estava sendo usada em Petén no {{-séc|III}}.{{HarvRef|Saturno|Stuart|Beltrán|2006|p=1281–83}} No período pré-clássico tardio, a enorme cidade de [[El Mirador]] cresceu até cobrir cerca de 16 quilômetros quadrados.{{HarvRef|Olmedo Vera|1997|p=28}} Embora não fosse tão grande, [[Tikal]] já era uma cidade significativa por volta de {{AC|350|x}}.{{HarvRef|Martin|Grub|2000|p=25–26}}
 
Nas terras altas, [[Kaminaljuyú]] emergiu como um centro urbano principal no final do pré-clássico tardio.{{HarvRef|Love|2007|p=293, 297}}{{HarvRef|Popenoe de Hatch|Schieber de Lavarreda|2001|p=991}} [[Takalik Abaj]] e [[Chocolá]] eram duas das cidades mais importantes da planície costeira do Pacífico{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=236}} e [[Komchen]] cresceu e se tornou um local importante no norte de Iucatã.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=275}} A florescência cultural pré-clássica tardia entrou em colapso no {{+séc|I}} e muitas das grandes cidades maias da época foram abandonadas; a causa desse colapso é desconhecida.{{HarvRef|Martin|Grub|2000|p=8}}
 
=== Período clássico {{nwrap||250|900}} ===
[[File:QuiriguaStela1.jpg|thumb|esquerda|upright|Estela D de [[Quiriguá]], representando o rei [[Kʼakʼ Tiliw Chan Yopaat]]{{HarvRef|Schele|Mathews|1999|p=179, 182–83}}]]
 
O período Clássicoclássico é amplamente definido como o período durante o qual os maias da planície levantaram monumentos datados usando o calendário de [[contagem longa]].{{HarvRef|Coe|1999|p=81}} Esse período marcou o pico da construção e do [[urbanismo]] em larga escala, e a gravação de inscrições monumentais, ealém demonstroude significativo desenvolvimento intelectual e artístico, particularmente nas regiões das terras baixas do sul. O cenário político maia do período clássico foi comparado ao da [[Renascença italiana|Itália renascentista]] ou da [[Grécia Clássica|da Grécia clássica]], com várias [[cidades-Estado]] envolvidas em uma complexa rede de alianças e inimizades.{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=21}} As maiores cidades tinham populações entre 50 mil e 120 mil habitantes e estavam ligadas a redes de locais subsidiários.{{HarvRef|Masson|2012|p=18237}}
 
Durante o início do período clássico, cidades em toda a região maia foram influenciadas pela grande metrópole de [[Teotihuacan]], no distante [[vale do México]].{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=9}} Em {{DC|378|x}}, Teotihuacan interveio decisivamente em Tikal e em outras cidades próximas, depôs seus governantes e instalou uma nova dinastia.{{HarvRef|Demarest|2004|p=218}}{{HarvRef|Estrada-Belli|2011|p=123–26}} Essa intervenção foi liderada por [[Siyaj Kʼak']] ("Nascido do Fogo"), que chegou a Tikal no início de 378. O rei de Tikal, [[Chak Tok Ichʼaak I]], morreu no mesmo dia, o que sugere que houve violência.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=322}}{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=29}} Um ano depois, Siyaj Kʼak' supervisionou a instalação de um novo rei, [[Yax Nuun Ahiin I]].{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=324}} A instalação da nova dinastia levou a um período de domínio político, quando Tikal se tornou a cidade mais poderosa das planícies centrais.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=324}}
 
A grande rival de Tikal era [[Calakmul]], outra cidade poderosa na bacia de Petén.{{HarvRef|Olmedo Vera|1997|p=36}} Tikal e Calakmul desenvolveram extensos sistemas de aliados e [[vassalos]]; as cidades menores que entraramentravam em uma dessas redes de influência ganhavam prestígio por sua associação com a cidade principal e mantinham relações pacíficas com outros membros da mesma rede.{{HarvRef|Foster|2002|p=133}} Tikal e Calakmul se engajaram na manobra de suas redes de alianças. Em vários pontos do período clássico, uma ou outra dessas duas potências obteria uma vitória estratégica sobre sua grande rival, resultando em períodos de florescência e declínio, respectivosrespectivamente.{{HarvRef|Demarest|2004|p=224–26}}
[[Ficheiro:Calakmul_-_Structure_I.jpg|miniaturadaimagem| [[Calakmul]] foi uma das cidades mais importantes do período clássico]]
 
Em 629, [[Bʼalaj Chan Kʼawiil]], filho do então rei de Tikal, [[Kʼinich Muwaan Jol II]], foi enviado para fundar uma nova cidade em [[Dos Pilas]], na região de [[Laguna Petexbatún|Petexbatún]], aparentemente como um posto avançado para estender o poder de Tikal além do alcance de Calakmul.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=383, 387}} Nas duas décadas seguintes, ele lutou lealmente por seu irmão e senhor em Tikal. Em 648, o rei [[Yuknoom Chʼeen II]] de Calakmul capturou Balaj Chan Kʼawiil. Yuknoom Chʼeen II, em seguida, restabeleceu Balaj Chan Kʼawiil no trono de Dos &nbsp; Pilas como seu vassalo.{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=108}}{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=387}} Depois disso, ele serviu como um aliado leal de Calakmul.{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=54–55}}
 
No sudeste, [[Copán]] era a cidade mais importante.{{HarvRef|Olmedo Vera|1997|p=36}} Sua dinastia do período clássico foi fundada em 426 por [[Kʼinich Yax Kʼuk 'Mo']]. O novo rei tinha fortes laços com o centro de Petén e Teotihuacan.{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=192–93}}{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=342}} Copán alcançou o auge de seu desenvolvimento cultural e artístico durante o governo de [[Uaxaclajuun Ubʼaah Kʼawiil]], que governou de 695 a 738.{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=200, 203}} Seu reinado terminou catastroficamente quando ele foi capturado por seu vassalo, o rei [[Kʼak 'Tiliw Chan Yopaat]], de [[Quiriguá]].{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=203, 205}} O senhor capturado de Copán foi levado de volta a Quiriguá e decapitado em um ritual público.{{HarvRef|Miller|1999|p=134–35}}{{HarvRef|Looper|2003|p=76}} É provável que esse golpe tenha sido apoiado por Calakmul, a fim de enfraquecer um poderoso aliado de Tikal.{{HarvRef|Looper|1999|p=81, 271}} [[Palenque]] e [[Yaxchilan]] foram as cidades mais poderosas da região de [[Rio Usumacinta|Usumacinta]]. Nas terras altas, [[Kaminaljuyú]], no vale da Guatemala, já era uma cidade em expansão por volta do ano 300.{{HarvRef|Demarest|2004|p=75}} No norte da área maia, [[Cobá]] era a capital mais importante.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=554}}
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[[Ficheiro:Chichen_Itza_ruins_in_Mexico_--_by_John_Romkey.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|[[Chichén Itzá]] era a cidade mais importante da região maia do norte]]
 
Durante o {{+séc|IX}}, a região central dos maias sofreu um grande colapso político, marcado pelo abandono das cidades, o fim de dinastias e uma mudança de atividade para a parte norte da região.{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=9}} Nenhuma teoria aceita universalmente explica esse colapso, mas provavelmente tevehouve uma combinação de causas, como guerras endêmicas e superpopulação, o que resultou em grave [[degradação ambiental]] e [[seca]]s.{{HarvRef|Coe|1999|p=151–55}} Durante esse período, conhecido como clássico tardio, as cidades do norte, [[Chichén Itzá]] e [[Uxmal]], apresentaram um aumento de atividade. As principais cidades da península de Iucatã, no norte, continuaram a ser habitadas muito tempo depois que as cidades das planícies do sul deixaram de erguer monumentos.{{HarvRef|Becker|2004|p=134}}
 
A organização social clássica maia era baseada na autoridade ritual do governante e não no controle central do comércio e da distribuição de alimentos. Esse modelo de governo estava mal estruturado para responder às mudanças sociais e ecológicas, porque as ações do governante eram limitadas pela tradição a atividades como construção, ritual e guerra. Isso serviu apenas para exacerbar problemas sistêmicos.{{HarvRef|Demarest|2004|p=246}} Nos séculos IX e X, issoesse resultousistema node colapsogoverno desseentrou sistemaem de governocolapso. No norte de Iucatã, o domínio individual foi substituído por um conselho governante formado a partir de linhagens de elite. No sul de Iucatã e no centro de Petén, os reinos declinaram; no oeste de Petén e em algumas outras áreas, as mudanças foram catastróficas e resultaram no rápido despovoamento das cidades.{{HarvRef|Demarest|2004|p=248}} Dentro de algumas gerações, grandes áreas do centro da região maia foram praticamente abandonadas.{{HarvRef|Martin|Grube|2000|p=226}} As capitais e seussuas centroscidades secundáriossecundárias foram geralmenteabandonadas abandonados dentro deem um período de 50 a 100 anos.{{HarvRef|Masson|2012|p=18237}} Uma a uma, as cidades pararam de esculpir monumentos antigos; a última data de [[contagem longa]] foi inscrita em [[Toniná]] em 909. As estelas não eram mais criadas e os invasores se mudaram para os palácios reais abandonados. As rotas comerciais mesoamericanas também mudaram e passaram a contornar Petén.{{HarvRef|Foster|2002|p=60}}
 
=== Período pós-clássico {{nwrap||950|1539}} ===
[[Ficheiro:Zacuelu2.jpg|miniaturadaimagem| [[Zaculeu]] era a capital do reino pós-clássico [[Mames|Mame]] nas [[terras altas da Guatemala]]{{HarvRef|Sharer|2000|p=490}}]]
 
Embora muito reduzida, uma presença maia significativa permaneceu no período pós-clássico após o abandono das principais cidades do período clássico; a população estava particularmente concentrada perto de fontes de água permanentes.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=613, 616}} Ao contrário dos ciclos anteriores de contração na região maia, as terras abandonadas não foram rapidamente reassentadas no pós-clássico.{{HarvRef|Masson|2012|p=18237}} A atividade mudou para as planícies do norte e as terras altas dos maias; isso pode ter envolvido a migração das planícies do sul, porque muitos grupos maias pós-clássicos tinham mitos sobre a migração.{{HarvRef|Foias|2014|p=15}} Chichén Itzá e seus vizinhos da região de [[Puuc]] diminuíram drasticamente no {{séc|XI}} e isso pode representar o episódio final do colapso do período clássico. Após o declínio de Chichén Itzá, a região maia não possuía poder dominante até a ascensão da cidade de [[Mayapan]] no {{séc|XII}}. Novas cidades surgiram perto das costas do [[Caribe]] e do [[Golfo do México|Golfo]], e novas redes comerciais foram formadas.{{HarvRef|Masson|2012|p=18238}}
 
O período pós-clássico foi marcado por alterações em relação ao período clássico anterior.{{HarvRef|Arroyo|2001|p=38}} A outrora grande cidade de Kaminaljuyu, no vale da Guatemala, foi abandonada após uma ocupação contínua de quase dois mil anos.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=618}} Nas terras altas e na costa do Pacífico vizinha, as cidades ocupadas em locais expostos foram realocadas, aparentemente devido a uma proliferação de conflitos. As cidades passaram a ocupar locais de morros, mais fáceis de defender, cercados por ravinas profundas, com defesas de valas e muralhas às vezes complementando a proteção oferecida pelo terreno natural. Uma das cidades mais importantes das terras altas da Guatemala naquela época era [[Qʼumarkaj]], a capital do agressivo [[Gumarcaj|reino Quiché]]. O governo dos Estados maias, de Iucatã ao planalto guatemalteco, costumava ser organizado em conjunto por um conselho. No entanto, na prática, um membro do conselho poderia atuar como governante supremo, enquanto os outros membros o serviam como conselheiros.{{HarvRef|Foias|2014|p=100–02}}
[[Ficheiro:Mayapan_chac.JPG|miniaturadaimagem|[[Mayapan]] era uma importante cidade pós-clássica no norte da [[península de Iucatã]]]]
 
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=== Período de contato e conquista espanhola {{nwrap||1511|1697}} ===
{{Artigo principal|Conquista do Iucatã|Conquista do Império Asteca|Colonização espanhola da América|Império Espanhol}}
[[Ficheiro:Lienzo_de_Tlaxcala_Iximche.gif|esquerda|miniaturadaimagem|Página do ''Lienzo de Tlaxcala'' mostrando a conquista espanhola de [[Iximché|Iximche]], conhecida como Cuahtemallan na língua [[Língua náuatle|náuatle]] ]]
Em 1511, uma [[caravela]] espanhola foi destruída no Caribe e cerca de uma dúzia de sobreviventes chegaram à costa de Iucatã. Eles foram capturados por um senhor maia e a maioria foi sacrificada, embora dois tenham conseguido escapar. De 1517 a 1519, três expedições espanholas separadas exploraram a costa de Iucatã e se envolveram em várias batalhas com os habitantes maias.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=759–60}}
 
Depois que a capital asteca [[Tenochtitlán|Tenochtitlan]] caiu para os espanhóis em 1521, [[Hernán Cortés]] despachou [[Pedro de Alvarado]] para a Guatemala com 180 membros da cavalarias, 300 da infantaria, quatro canhões e milhares de guerreiros aliados do México central;{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=763}}{{HarvRef|Lovell|2005|p=58}}{{HarvRef|Matthew|2012|p=78–79}} eles chegaram a Soconusco em 1523.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=763}} A capital dos quichés, Qʼumarkaj, caiu para Alvarado em 1524.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=764–65}}{{HarvRef|Recinos|1986|p=68, 74}}
 
Logo depois, os espanhóis foram convidados como aliados para [[Iximché|Iximche]], a capital dos maias kaqchikel.{{HarvRef|Schele|Mathews|1999|p=297}}{{HarvRef|Guillemín|1965|p=9}} As boas relações não duraram, devido às excessivas demandas espanholas de ouro como tributo, e a cidade foi abandonada alguns meses depois.{{HarvRef|Schele|Mathews|1999|p=298}} Isso foi seguido pela queda de [[Zaculeu]], a capital dos maias [[mames]], em 1525.{{HarvRef|Recinos|1986|p=110}}{{HarvRef|del Águila Flores|2007|p=38}}
 
[[Francisco de Montejo]] e seu filho, Francisco de Montejo, o Jovem, lançaram uma longa série de campanhas contra os Estados da península de Iucatã em 1527 e finalmente completaram a conquista da porção norte da península em 1546.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=766–72}} Isso deixou apenas os reinos maias da bacia de Petén independentes.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=772–73}} Em 1697, Martín de Ursúa lançou um ataque à capital dos itzás, [[Tayasal]], e a última cidade maia independente caiu para o domínio espanhol.{{HarvRef|Jones|1998|p=19}}
 
=== Persistência da cultura maia ===
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[[Ficheiro:Castillo_Maler.jpg|esquerda|miniaturadaimagem|Fotografia de 1892, do [[Templo de Kukulcán|Castillo]] em [[Chichén Itzá]], por [[Teoberto Maler]]]]
 
Na década de 1960, o ilustre maiaista J. Eric S. Thompson promoveu as ideias de que as cidades maias eram essencialmente centros cerimoniais vagos, servindo uma população dispersa na floresta, e que a civilização maia era governada por sacerdtes astrônomos pacíficos.{{HarvRef|Demarest|2004|p=44}} Essas ideias começaram a entrar em colapso com grandes avanços na decifração da escrita maia no final do {{séc|XX}}, pioneiros em Heinrich Berlin, Tatiana Proskouriakoff e [[Yuri Knorozov]].{{HarvRef|Demarest|2004|p=45}} Com avanços na compreensão dos registros maias desde a década de 1950, os textos revelavam as atividades bélicas dos reis maias clássicos e a visão deles como pacíficos não podia mais ser sustentada.{{HarvRef|Foster|2002|p=8}}
 
A capital Sak Tz'i ' (um antigo reino maia) agora chamado Lacanja Tzeltal, foi revelada por pesquisadores liderados pelo professor de antropologia Charles Golden e pelo bioarqueólogo Andrew Scherer em [[Chiapas]], no quintal de um fazendeiro mexicano em 2020.<ref name=":0"/><ref>{{Citar web |último =Kettley |url=https://www.express.co.uk/news/science/1254403/Archaeology-news-Ancient-Maya-kingdom-discovery-Mexico-cattle-ranch |titulo=Archaeology breakthrough: Ancient Maya kingdom discovered in... a rancher's backyard |obra=Express.co.uk |lingua=en |acessodata=16 de janeiro de 2021}}</ref>
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[[Imagem:Tikal_St04.jpg|thumb|upright|Estela 26 em [[Tikal]], representando o rei [[Yax Nuun Ahiin I]]]]
 
Ao contrário dos [[Civilização asteca|astecas]] e dos [[Império Inca|incas]], o sistema político maia nunca integrou toda a área cultural maia em um único Estado ou império. Em vez disso, ao longo de sua história, a área maia continha uma mistura variável de complexidade política, que incluía [[Estado]]s e [[chefatura]]s. Essas políticas flutuavam bastante em seus relacionamentos e estavam envolvidas em uma complexa rede de rivalidades, períodos de domínio ou submissão, [[vassalagem]] e alianças. Às vezes, entidades políticas diferentes alcançavam domínio regional, como Calakmul, [[El Caracol|Caracol]], Mayapan e Tikal., Assendo primeirasque políticasas de evidênciaprimeiras confiávelse formadasformaram nas planícies maias no {{-séc|IX}}{{HarvRef|Cioffi-Revilla|Landman|1999|p=563}}
 
Durante o período pré-clássico, o sistema político maia se fundiu em uma forma [[Teocracia|teopolítica]], onde a ideologia da elite justificava a autoridade do governante e era reforçada pelaatravés de exibição pública, rituais e religião.{{HarvRef|Oakley|Rubin|2012|p=81}} O rei divino era o centro do poder político, exercendo controle final sobre as funções administrativas, econômicas, judiciais e militares da sociedade. A autoridade divina investida no governo era tal que o rei era capaz de mobilizar tanto a aristocracia quanto os plebeus na execução de grandes projetos de infraestrutura, aparentemente sem força policialmilitar ou exército permanente.{{HarvRef|Oakley|Rubin|2012|p=82}} Algumas instituições políticas se engajaram em uma estratégia de aumentar a administração e preencher cargos administrativos com apoiadores leais ao invés de parentes de sangue.{{HarvRef|Foias|2014|p=162}} Dentro da política, os centros populacionais de classificação média teriam desempenhado um papel fundamental no gerenciamento de recursos e conflitos internos.{{HarvRef|Foias|2014|p=60}}
 
O cenário político maia era altamente complexo e as elites maias se envolviam em intrigas políticas para obter vantagem econômica e social sobre os vizinhos.{{HarvRef|Chase|Chase|2012|p=265}} No final do clássico, algumas cidades estabeleceram um longo período de domínio sobre outras grandes cidades, como o domínio de Caracol sobre Naranjo por meio século. Em outros casos, fracas redes de aliança eram formadas em torno de uma cidade dominante.{{HarvRef|Chase|Chase|2012|p=264}} Os assentamentos fronteiriços, geralmente localizados a meio caminho entre as capitais vizinhas, frequentemente mudavam de lealdade ao longo de sua história e, às vezes, agiam de forma independente.{{HarvRef|Foias|2014|p=64}} As capitais dominantes exigiam tributo na forma de itens de luxo de centros populacionais subjugados.{{HarvRef|Foias|2014|p=161}} O poder político era reforçado pelo poder militar, sendo que a captura e a humilhação dos guerreiros inimigos tinham um papel importante na cultura de elite. Um sentimento dominante de orgulho e honra entre a aristocracia guerreira poderia levar a disputas e vinganças prolongadas, o que causava instabilidade e fragmentação política.{{HarvRef|Foias|2014|p=167}}
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| align = left
| image1 = Maya standing male warrior, Jaina, c. 550-950 C.E., long-term loan to the Dayton Art Institute.JPG
| width1 = 144110
| alt1 =
| caption1 = Estatueta da [[Ilha de Jaina]], representando um guerreiro do período clássico
| image2 = Takalik Abaj obsidian spearpoints.jpg
| width2 = 200150
| alt2 =
| caption2 = Pontas de lança de [[obsidiana]] com um [[Talha lítica|núcleo lítico]], [[Takalik Abaj]]
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}}
 
[[Sílex|Flint]], [[Cherte|chert]] e obsidian serviram a propósitos utilitários na cultura maia, mas muitas peças foram elaboradas com formas que nunca pretendiam ser usadas como ferramentas.{{HarvRef|Miller|1999|p=83}} Pederneiras excêntricas estão entre os melhores artefatos líticos produzidos pelos antigos maias.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=45}} Eles eram tecnicamente muito desafiadores para produzir, exigindo considerável habilidade por parte do artesão. Grandes excêntricos de obsidiana podem medir mais de 30 cm de comprimento. Sua forma real varia consideravelmente, mas geralmente representam formas humanas, animais e geométricas associadas à religião maia.{{HarvRef|SFU Museum of Archaeology and Ethnology}} Pederneiras excêntricas mostram uma grande variedade de formas, como crescentes, cruzes, cobras e escorpiões.{{HarvRef|Thompson|1990|p=147}} Os exemplos maiores e mais elaborados exibem várias cabeças humanas, com cabeças menores algumas vezes se ramificando de cabeças maiores.{{HarvRef|Miller|1999|p=228}}
 
Os têxteis maias estão muito pouco representados no registro arqueológico, embora, em comparação com outras culturas pré-colombianas, como os astecas e a [[Civilizações andinas|região andina]], é provável que fossem itens de alto valor.{{HarvRef|Miller|1999|p=86-87}} Alguns restos de tecido foram recuperados por arqueólogos, mas a melhor evidência para a arte têxtil é onde elas são representadas em outras mídias, como em murais pintados ou em cerâmica. Tais representações secundárias mostram a elite da corte maia adornada com tecidos suntuoos, geralmente estes seriam de algodão, mas também são mostradas peles de [[Panthera onca|onça]] e couro de [[veado]].{{HarvRef|Miller|1999|p=87}}
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| ''kʼatun''
| 20 x 18 x 20
| 7. 200 dias
| 20 anos
|-
| ''Bak'tun''
| 20 x 18 x 20 x 20
| 144. 000 dias
| 394 anos
|-
| ''piktun''
| 20 x 18 x 20 x 20 x 20
| 2. 880. 000 dias
| 7. 885 anos
|-
| ''Kalabtun''
| 20 x 18 x 20 x 20 x 20 x 20
| 57. 600. 000 dias
| 157. 700 anos
|-
| ''Kinchiltun''
| 20 x 18 x 20 x 20 x 20 x 20 x 20
| 1. 152. 000. 000 dias
| 3. 154. 004 anos
|-
| ''Alawtun''
| 20 x 18 x 20 x 20 x 20 x 20 x 20 x 20
| {{Fmtn|23. 040. 000. 000}} dias
| {{Fmtn|63. 080. 082}} anos
|}
O ''tzolkʼin de'' 260 dias fornecia o ciclo básico da cerimônia maia e os fundamentos da profecia maia. Nenhuma base astronômica para esta contagem foi provada e pode ser que a contagem de 260 dias seja baseada no [[Gravidez|período de gestação humana]]. Isso é reforçado pelo uso do ''tzolkʼin'' para registrar datas de nascimento e fornecer a profecia correspondente. O ciclo de 260 dias repetiu uma série de nomes de 20 dias, com um número de 1 a 13 prefixado para indicar onde no ciclo um determinado dia ocorreu.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=104}}
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O ''haab de'' 365 dias era produzido por um ciclo de dezoito denominados ''winals'' de 20 dias, completado pela adição de um período de 5 dias denominado ''wayeb,'' que era considerado um momento perigoso, pois seria quando as barreiras entre os reinos mortal e sobrenatural eram quebradas, permitindo que divindades malignas cruzassem e interferissem nos assuntos humanos.{{HarvRef|Foster|2002|p=253}} De forma semelhante ao ''tzʼolkin'', o ''winal'' seria prefixado por um número (de 0 a 19), no caso do período ''wayeb'' mais curto, os números do prefixo iam de 0 a 4. Visto que cada dia no ''tzʼolkin'' tinha um nome e número (por exemplo, 8 Ajaw), isso se interligaria com o ''haab'', produzindo um número e nome adicionais, para dar a qualquer dia uma designação mais completa, por exemplo 8 Ajaw 13 Keh. Esse nome de dia só poderia ocorrer uma vez a cada 52 anos e esse período é conhecido pelos maias como ciclo do calendário. Na maioria das culturas mesoamericanas, o ciclo era a maior unidade para medir o tempo.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=107}}
 
Como acontece com qualquer calendário não repetitivo, os maias mediam o tempo a partir de um ponto inicial fixo. Os maias definiram o início de seu calendário como o fim de um ciclo anterior de ''bakʼtuns'', equivalente a um dia no ano {{AC|3114|x}}. Os maias acreditavam que esse era o dia da criação do mundo em sua forma atual. Os maias usavam o calendário de [[contagem longa]] para fixar qualquer dia do ciclo em seu grande ciclo p''iktun'' atual, que consistia em 20 ''bakʼtuns''. Havia alguma variação no calendário, especificamente textos em [[Palenque]] demonstram que o ciclo do ''piktun'' que terminou em {{AC|3114|x}} tinha apenas 13 ''bakʼtuns'', mas outros usavam um ciclo de 13 + 20 ''bakʼtuns'' no ''piktun'' atual.{{nota de rodapé|"Uma única passagem em um painel hieroglífico do clássico tardio em Palenque esclarece dois outros pontos; primeiro, que a contagem de bakʼtuns acumulará até 19, como antes da era atual, antes que o número na casa dos piktuns mude; e segundo, que esse número mudará para 1, não para 14, assim como os bakʼtuns fizeram em {{AC|2720|x}}. Em outras palavras, todos os piktuns, exceto o atual, continham 20 bakʼtuns, mas o atual contém 33; todos os kalabtuns anteriores, o próximo lugar acima, continham 20 piktuns, mas o kalabtun atual contém 33 deles. Presumivelmente, o mesmo padrão se aplica ao restante dos lugares mais elevados. Essa redefinição escalonada dos ciclos de ordem superior, tão inesperadamente inesperada de uma perspectiva ocidental contemporânea, sugere uma atitude em relação ao tempo mais numerológica do que matemática. Afinal de contas, 13 e 20 são os números-chave do tzolkʼin, então é apropriado que eles sejam incorporados à Contagem Longa em enormes escalas temporais."{{HarvRef|Carter|2014}}}}
 
Uma data de contagem longa completa consistia em um glifo introdutório seguido por cinco glifos contando o número de ''bakʼtuns'', ''katʼuns'', ''tuns'', ''winals'' e ''kʼins'' desde o início da criação atual. Isso seria seguido pela porção ''tzʼolkin'' da data do ciclo do calendário e, depois de vários glifos intermediários, a data da contagem longa terminaria com a porção ''haab'' da data do ciclo.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=110}}
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== Astronomia ==
{{quote|O famoso astrólogo [[John Dee]] usou um [[Espelhos nas culturas mesoamericanas#Astecas|espelho de [[obsidiana]] [[asteca]] para ver o futuro. Podemos desprezar suas ideias, mas podemos ter certeza de que, em perspectiva, ele estava muito mais próximo de um astrônomo sacerdote maia do que um astrônomo de nosso século.|''[[Philosophical Transactions of the Royal Society]]'', 1974{{HarvRef|Thompson|1974|p=88}}}}
[[Ficheiro:Madrid_Codex_astronomer.png|esquerda|miniaturadaimagem| Representação de um astrônomo, no ''Códice de Madrid''{{HarvRef|Milbrath|1999|p=252–53}}]]
 
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=== Sacrifício humano ===
[[Ficheiro:Ballgame_sacrifice_relief,_Chichen_Itza.jpg|esquerda|upright|miniaturadaimagem|Escultura em relevo de um [[Jogo de bola mesoamericano|jogador]] decapitado, adornando a [[Chichén Itzá|Grande Quadra]] de [[Chichén Itzá]] ]]
O [[sangue]] era visto como uma potente fonte de nutrição para as divindades maias e o sacrifício de uma criatura viva era uma poderosa oferenda. Por extensão, o [[Sacrifício humano|sacrifício de uma vida humana]] era a oferta definitiva aos deuses, sendo que os rituais maias mais importantes culminavam em sacrifícios humanos. Geralmente, apenas prisioneiros de guerra de alto status eram sacrificados, enquanto que os cativos de status inferior eram usados para o trabalho.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=751}}
 
Rituais importantes, como a dedicação de grandes projetos de construção ou a entronização de um novo governante, exigiam uma oferenda humana. O sacrifício de um rei inimigo era o mais valorizado e envolvia a decapitação do governante cativo em uma reconstituição ritual da decapitação do deus maia do milho pelos deuses da morte.{{HarvRef|Sharer|Traxler|2006|p=751}} No ano {{DC|738|x}}, o rei vassalo Kʼakʼ Tiliw Chan Yopaat de Quiriguá capturou seu soberano Uaxaclajuun Ubʼaah Kʼawiil de Copán e poucos dias depois o decapitou ritualmente.{{HarvRef|Miller|1999|p=134–35}}{{HarvRef|Looper|2003|p=76}} O sacrifício por decapitação é descrito na arte maia do período clássico e às vezes acontecia depois que a vítima era torturada, sendo espancada, [[Escalpelamento|escalpelada]], queimada ou estripada de várias maneiras.{{HarvRef|Miller|Taube|1993|p=96}} Outro mito associado à decapitação era o dos gêmeos heróis contado no ''[[Popol Vuh]]'': jogando uma partida de bola contra os deuses do submundo, os heróis alcançaram a vitória, mas um membro de cada par de gêmeos foi decapitado por seus oponentes.{{HarvRef|Gillespie|1991|p=322–23}}
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{{Pre-colombiano}}
{{Portal3|História|México|Honduras|Guatemala|El Salvadorda América}}
{{controle de autoridade}}
{{Portal3|História|Maias|México|Honduras|Guatemala|El Salvador}}
{{artigo destacado}}
 
[[Categoria:Maias| ]]