Complexo de vira-lata: diferenças entre revisões

Conteúdo apagado Conteúdo adicionado
m Foram revertidas as edições de 187.75.39.111 (usando Huggle) (3.1.22)
Inserindo Predefinição Portal3
 
(Há 48 revisões intermédias de 28 utilizadores que não estão a ser apresentadas)
Linha 1:
"'''Complexo de vira-lata'''" é uma [[Expressão idiomática|expressão]] criada peloe [[dramaturgoconceito]] criada pelo dramaturgo e [[escritor]] [[brasileiro]] [[Nelson Rodrigues]], a qual originalmente se referia ao [[Trauma psicológico|trauma]] sofrido pelos brasileiros em [[1950]], quando a [[Seleção Brasileira de Futebol|Seleção Brasileira]] foi derrotada pela [[Seleção Uruguaia de Futebol]] na final da [[Copa do Mundo de Futebol|Copa do Mundo]] em pleno [[Estádio Mário Filho|Maracanã]]. O [[Brasil]] só teria se recuperado do choque (ao menos no campo futebolístico) em [[1958]], quando ganhou a [[Copa do Mundo FIFA de 1958|Copa do Mundo]] pela primeira vez.<ref>[{{citar periódico |url=http://www.comciencia.br/comciencia/handler.php?section=8&edicao=16&id=152 |titulo=A pátria em chuteiras de Nélson Rodrigues] por|ultimo=Bandini |primeiro=Fernando Bandini.|periodico=ComCiência Em|issn=15197654 [http://www.comciencia.br/|publicado=Labjor-Unicamp Com|numero=79 Ciência|data=10 -de SBPC/Labjor].agosto Visitadode em2006 [[16|acessodata=8 de novembro]]março de [[2007]].2018}}</ref> O fenômeno também é referido como '''vira-latismo'''<ref>{{Citar web |url=http://www.releituras.com/nelsonr_viralatas.asp |titulo=Nelson Rodrigues - Complexo de Vira-Latas |ultimo=Rodrigues |primeiro=Nelson |acessodata=2016-08-198 de março de 2018 |obrapublicado=www.releituras.comReleituras}}</ref><ref>{{Citar web |ultimo=Gomes |primeiro=Julio |url=http://blogdojuliogomes.blogosfera.uol.com.br/2016/08/17/a-linha-tenue-entre-o-vira-latismo-e-o-reconhecimento/ |titulo=A linha tênue entre o vira-latismo e o reconhecimento |acessodatadata=17 de agosto de 2016-08-19 |acessodata=8 de março de 2018 |obra=Blog do Julio Gomes |publicado=UOL Esporte}}</ref><ref>{{Citar web |url=http://globoesporte.globo.com/rs/blogs/especial-blog/vida-real/post/sem-pachequismo-nem-vira-latismo.html |titulo=Sem pachequismo nem vira-latismo {{!}} |obra=Blog Vida Real |acessodataultimo=Saraiva |primeiro=Mauricio |data=27 de abril de 2016-08-19 |obrapublicado=globoesporteGloboesporte.com |acessodata=8 de março de 2018}}</ref> ou '''viralatismo'''.<ref>{{Citar web |ultimo=Rocha |primeiro=Bruno Lima |url=http://www.ihu.unisinos.br/noticias/557494-viralatismo-e-entreguismo-midiatico-e-as-tvs-internacionais |titulo=Viralatismo e entreguismo midiático e as TVs internacionais |acessodatadata=8 de julho de 2016-08-19|obra=www.ihu.unisinos.br}}</ref><ref>{{Citar web|urlacessodata=http://www.porbaixodaspernas.com.br/a-sindrome-do-viralatismo/|titulo=A8 síndromede domarço “viralatismo”de {{!}}2018 Por|publicado=Instituto BaixoHumanitas dasUnisinos Pernas|acessodata=2016-08-19|obra=www.porbaixodaspernas.com.br IHU}}</ref>.
 
Para Rodrigues, o [[fenômeno]] não se limitava somente ao campo futebolístico. Segundo ele:<ref name="Mariotti">{{citar web|url=http://web.archive.org/web/20071225092632/http://www.revistabsp.com.br/0608/ensaio1.htm|título=O Complexo de Inferioridade do Brasileiro|autor=Humberto Mariotti|obra=Instituto de Pesquisa BSP|acessodata=04-01-2014}}</ref>
 
{{quote2|Por "complexo de vira-lata" entendo eu a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo. O brasileiro é um [[narciso]] às avessas, que cospe na própria imagem. Eis a verdade: não encontramos pretextos pessoais ou históricos para a autoestima.|Nelson Rodrigues}}
 
A expressão ''complexo de vira-lata'' ([[língua inglesa|traduzida]] para ''"the mongrel complex"'') foi recuperada em [[2004]] pelo [[jornalista]] [[Estados Unidos|estadunidense]] Larry Rohter, que em [[Matéria (jornalismo)|matéria]] para o ''[[The New York Times]]'' sobre o [[programa nuclear brasileiro]], escreveu:
 
{{cquote|''Escrevendo nos [[anos 1950]], o dramaturgo Nelson Rodrigues viu seus compatriotas afligidos por um senso de inferioridade, e cunhou a frase que os brasileiros hoje usam para descrevê-lo: "o complexo de vira-lata". O Brasil sempre aspirou a ser levado a sério como uma [[Grande potência|potência mundial]] pelos pesos-pesados, e portanto dói nos brasileiros que líderes mundiais possam confundir seu país com a [[Bolivia]], como [[Ronald Reagan]] fez uma vez, ou que desconsiderem uma nação tão grande - tem 180 milhões de pessoas - como "não sendo um país sério",''<ref>O diplomata [[brasileiro]] [[Carlos Alves de Souza Filho]] foi o verdadeiro autor da frase "O Brasil não é um país sério". Ele a teria pronunciado durante o episódio que envolveu Brasil e [[França]] conhecido como [[Guerra da Lagosta]]. Tal dito é incorretamente atribuído a [[Charles de Gaulle]].</ref>'' como Charles de Gaulle fez.''<ref>''Writing in the 1950's, the playwright Nelson Rodrigues saw his countrymen as afflicted with a sense of inferiority, and he coined a phrase that Brazilians now use to describe it: "the mongrel complex." Brazil has always aspired to be taken seriously as a world power by the heavyweights, and so it pains Brazilians that world leaders could confuse their country with Bolivia, as Ronald Reagan once did, or dismiss a nation so large - it has 180 million people - as "not a serious country," as Charles de Gaulle did.'' [[Larry Rohter|Rohter, Larry]] "[http://www.nytimes.com/2004/10/31/weekinreview/31roht.html?ex=1256965200&en=37262794038df2bd&ei=5088&partner=rssnyt If Brazil Wants to Scare the World, It's Succeeding]". ''[[The New York Times]]''. Visitado em 16-11-2007.</ref>}}
 
O Brasil estaria assim, desejoso de ser reconhecido como igual no concerto das nações, mas tropeçaria sucessivamente em sua baixa [[auto-estima]], reforçada pelos incidentes [[Folclore|folclóricos]] acima relatados e outros do mesmo gênero ("a [[capital]] do Brasil é [[Buenos Aires]]", "os brasileiros falam [[língua espanhola|espanhol]]" etc) sucessivamente cometidos pela [[mídia]] e autoridades estrangeiras.
 
== Origens ==
[[FicheiroImagem:Redenção.jpg|thumb|direita|Obra ''[[Redenção de Cam]]''<ref>{{pt}}[http://cienciahoje.uol.com.br/controlPanel/materia/view/2655 Ciência(1895), Hojede -[[Modesto LivroBrocos|Modesto explicaBrocos surgimentoy do ''Homo brasilis''Gomes]</ref> ([[1895]]). Avó [[Afro-brasileiros|negra]], filha [[Mulata (canção)Mulato|Mulatamulata]], genro e neto brancos: para o governo brasileiro da época, a cada geração o brasileiro ficaria mais [[Brasileiros brancos|branco]]. Quadro de [[Modesto Brocos|Modesto Brocos y Gomes]].]]
 
A ideia de que o [[Brasileiros|povo brasileiro]] é inferior a outros ou "[[degeneração|degenerado]]" não é nova, e data pelo menos do [[século XIX]], (quando por aqui passou o [[conde]] [[França|francês]] [[Arthur de Gobineau]], quedesembarcou em [[1845]], ao desembarcar no [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]], e chamou os [[carioca]]s de ''"verdadeiros macacos''".<ref>[http://www.bvgf.fgf.org.br/portugues/critica/artigos_imprensa/desconforto.htm O desconforto de não ser branco] por Antonio Motta em [{{Wayback|url=http://www.bvgf.fgf.org.br/portugues/index.html Biblioteca Virtual Gilberto Freyre]. Visitado em [[16 de novembro]] de [[2007]].<critica/artigos_imprensa/ref>)desconforto.htm No [[século XX]], nas [[década]]s de [[década de 1920|20]]date=20060822225033 e}} [[décadapor deAntonio 1930|30]],Motta várias correntes de pensamento digladiavam-se quanto a origem desta suposta inferioridade. Alguns, comoem [[Nina Rodrigues]],<ref name="historia">{{citar web|url=http://www.historiaehistoriabvgf.comfgf.org.br/materiaportugues/index.cfm?tb=alunos&id=313|título=Racismohtml eBiblioteca teoriasVirtual raciaisGilberto no século XIX: Principais noções e balanço historiográfico|autor=Flávio Raimundo Giarola|obra=história e-história|data=24-08-2010|acessodata=02-01-2014}}</ref> [[Oliveira VianaFreyre]]<ref name="historia"/> e até mesmo [[Monteiro Lobato]], proclamavam que a [[miscigenação]] era a raiz de todos os males e que a [[Brancos|raça branca]] era superior às demais.<ref>{{citar webWayback|url=http://www.revistaemiliabvgf.comfgf.org.br/mostraportugues/index.php?id=277html |títulodate=Lobato20071208002317 e}}. oVisitado racismo|autor=Adilsonem Miguel|obra=Revista16 Emília|data=fevereirode novembro de 2013|acessodata=02-01-2014}}2007.</ref>
 
Nas décadas de 1920 e 1930, várias correntes de pensamento digladiavam-se quanto a origem desta suposta inferioridade. Alguns, como [[Nina Rodrigues]],<ref name="historia">{{citar web|url=http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=313|título=Racismo e teorias raciais no século XIX: Principais noções e balanço historiográfico|autor=Flávio Raimundo Giarola|obra=história e-história|data=24-08-2010|acessodata=02-01-2014|arquivourl=https://web.archive.org/web/20140103102633/http://www.historiaehistoria.com.br/materia.cfm?tb=alunos&id=313|arquivodata=2014-01-03|urlmorta=yes}}</ref> [[Oliveira Viana]]<ref name="historia"/> e [[Monteiro Lobato]] proclamavam que a [[miscigenação]] era a raiz de todos os males e que a [[Brancos|raça branca]] era superior às demais.<ref>{{citar web|url=http://www.revistaemilia.com.br/mostra.php?id=277|título=Lobato e o racismo|autor=Adilson Miguel|obra=Revista Emília|data=fevereiro de 2013|acessodata=02-01-2014|arquivourl=https://web.archive.org/web/20131114170533/http://www.revistaemilia.com.br/mostra.php?id=277|arquivodata=2013-11-14|urlmorta=yes}}</ref>
Outros, como [[Edgar Roquette-Pinto|Roquette-Pinto]], afirmavam que a inferioridade era um problema de [[ignorância]], não de miscigenação<ref>[http://www2.anhembi.br/publique/media/pensbra.doc Pensamento social brasileiro] por Lina Rodrigues de Faria em [http://www2.anhembi.br/ Universidade Anhembi Morumbi]. Visitado em 16 de novembro de 2007.</ref> ([[tese]] recuperada recentemente por [[Humberto Mariotti (escritor)|Humberto Mariotti]]). [[Manuel Bomfim]] também foi um notável contestador dessa tese em seu livro ''A América Latina: Males de Origem''.<ref>{{Citar web |url=http://historia.abril.com.br/cultura/males-origem-inferior-434349.shtml |título=Males de Origem: Inferior por quê? |autor=SILVA, Sérgio Amaral |publicado=Aventuras na História}}</ref>
 
Outros, como [[Edgar Roquette-Pinto|Roquette-Pinto]], afirmavam que a inferioridade era um problema de [[ignorância]], não de miscigenação<ref>[http://www2.anhembi.br/publique/media/pensbra.doc Pensamento social brasileiro] por Lina Rodrigues de Faria em [http://www2.anhembi.br/ Universidade Anhembi Morumbi]. Visitado em 16 de novembro de 2007.</ref> ([[tese]] recuperada recentemente por [[Humberto Mariotti (escritor)|Humberto Mariotti]]). [[Manuel Bomfim]] também foi um notável contestador dessa tese em seu livro ''A América Latina: Males de Origem''.<ref>{{Citar web |url=http://historia.abril.com.br/cultura/males-origem-inferior-434349.shtml |título=Males de Origem: Inferior por quê? |autor=SILVA, Sérgio Amaral |publicado=Aventuras na História }}{{Ligação inativa|1={{subst:DATA}} }}</ref>
Em [[1903]], Monteiro Lobato revela-se profundamente [[Pessimismo|pessimista]] com o potencial do [[Brasileiros|povo brasileiro]], por ele assim definido:
 
Em [[1903]], Monteiro Lobato revela-se profundamente [[Pessimismo|pessimista]] com o potencial do [[Brasileiros|povo brasileiro]], por ele assim definido:
 
{{cquote|''O Brasil, filho de pais inferiores – destituídos desses caracteres fortíssimos que imprimem – um cunho inconfundível em certos indivíduos, como acontece com o alemão, com o inglês, cresceu tristemente – dando como resultado um tipo imprestável, incapaz de continuar a se desenvolver sem o concurso vivificador do sangue de alguma raça original.''<ref>[[Monteiro Lobato|LOBATO, Monteiro]]. ''A todo transe'' in "Literatura do Minarete". São Paulo: Brasiliense, 1959.</ref>}}
 
Além da origem [[mestiça]], os brasileiros sofreriam com o fato de viverem nos [[trópicos]], onde o [[clima]] quente e úmido predisporia os habitantes à [[preguiça]] e à [[luxúria]] (outra tese cara na época, o [[determinismo geográfico]], dizia que verdadeiras civilizações só podiam se desenvolver no [[clima temperado]]).
 
Todavia, quando Lobato publica ''[[Urupês (livro)|Urupês]]'' em [[1918]] (onde retrata o "[[Jeca Tatu]]"), a [[Elite (sociologia)|elite]] brasileira caminhava para nomear outra causa para o "atraso" do país. Com a divulgação de estudos de [[saúde pública]] encomendados por [[Osvaldo Cruz]], as más condições sanitárias vigentes no interior do país assumem a principal responsabilidade pela "falta de vigor" e pela "indolência" dos brasileiros. O [[Engenharia sanitária|sanitarismo]] entra na ordem do dia e o próprio Lobato se engaja no esforço de converter o Brasil num "grande hospital", (nas palavras do médico [[Miguel da Silva Pereira|Miguel Pereira]]). Esse engajamento atinge o ápice em 1924, quando Lobato publica a "história do Jecatatuzinho", utilizada como propaganda pelo [[Biotônico Fontoura]]. Nela, depois de curado "pela ciência", Jeca Tatu torna-se um [[cidadão]] exemplar e empreendedor, capaz até mesmo de desbancar a [[produção]] do próspero vizinho — um [[Imigração italiana no Brasil|imigrante]] [[Ítalo-brasileiro|imigrante italiano]].<ref>[http://www.brasilcultura.com.br/conteudo.php?menu=95&id=452&sub=490 Monteiro Lobato - Jeca Tatuzinho] {{Wayback|url=http://www.brasilcultura.com.br/conteudo.php?menu=95&id=452&sub=490 |date=20060523215643 }} em [http://www.brasilcultura.com.br/ Brasil Cultura]. Visitado em [[16 de novembro]] de [[2007]].</ref>
 
=== No campo científico ===
País conhecido por suas [[Invenção|criações inventivas]] (quecomo vão doo [[aeróstato]], àa [[máquina de escrever]], e doo [[avião]] aose os automóveis [[Total-flex|bicombustíveis]]), o [[Brasil]] jamais teve sua produção científica reconhecida através de um [[prêmio Nobel]] (embora alguns gostem de citar [[Peter Brian Medawar]], apenaspelo pela circunstânciafato dele ter nascido no [[Rio de Janeiro (estado)|Rio de Janeiro]]), enquanto outros países [[América do Sul|sul-americanos]] tais como [[Argentina]] e [[Venezuela]], já conquistaram o seu. Até mesmo um sério candidato como [[Carlos Chagas]] em [[1921]], foi vítima de tamanha campanha de descrédito movida por seus pares brasileiros, que naquele ano o [[Nobel de Fisiologia ou Medicina]] não foi entregue a ninguém.<ref>DIAS, João Carlos Pinto.[http://www.submarino.net/cchagas/artigos/art3.htm Carlos Chagas: Prêmio Nobel em 1921]</ref> Outro notável cientista brasileiro injustiçado foi [[César Lattes]], que embora tenha participado da descoberta do [[píon]] em 1947, não foi laureado com o premio [[Nobel de Física]], mas sim [[Cecil Powell]], que era seu chefe e não havia participado diretamente das pesquisas.<ref>{{citar web|url= https://super.abril.com.br/ciencia/premio-nobel-foi-quase/|título= Prêmio Nobel: Foi quase|publicado= ''Super Interessante|data= 31 de outubro de 2016|acessodata= 11 de outubro de 2018|wayb= 20161101120532}}</ref>
 
O [[neurobiologia|neurobiólogo]] [[Sidarta Ribeiro]] lembra que somente em [[15 de novembro]] de [[2007]] um brasileiro, o [[neurociência|neurocientista]] [[Miguel Nicolelis]], deu uma [[palestra]] nos [[seminário]]sseminários organizados pela [[Fundação Nobel]]. Na abertura de sua apresentação, Nicolelis relembrou a final da [[Copa do Mundo de 1958]], quando o Brasil venceu a [[Suécia]] de goleada. Até então, o país sofria com o "complexo de vira-lata" provocado pela final de 1950. Da mesma forma, e embora reconhecendo que a [[Ciência e tecnologia do Brasil|produção científica brasileira]] sofre de "limitação de recursos e de ambição intelectual", Miguel ainda assim é [[Otimismo|otimista]] quanto ao futuro da pesquisa no país e conclui: "''é difícil prever quando um brasileiro ganhará o Nobel e que importância isso poderá ter para o país. Se redimir nosso complexo de vira-lata científico, terá inestimável valor''".<ref>RIBEIRO, Sidarta. (2008) ''À espera das uvas suecas''. Revista Mente & Cérebro. Janeiro de 2008. Pg. 25. ISSN 1807-1562</ref>
 
=== Análise de Humberto Mariotti ===
NaSob a análise efetuada pelo [[análiseescritor]] efetuadae por[[Ensaio (literatura)|ensaísta]] [[Humberto Mariotti]],<ref name="Mariotti"/> o brasileiro, por ainda não ter atingido o estágio de ''knowledge worker'' preconizado na [[década de 1950]] por [[Peter Drucker]] (no qual o trabalhador domina o [[conhecimento]] e se torna menos suscetível aos efeitos devastadores do [[desemprego]]), contenta-se com pouco e sente-se satisfeito quando recebe alguma atenção por parte das autoridades. Esta auto-desqualificaçãoautodesqualificação já teria atravessado o [[Oceano Atlântico|Atlântico]] e chegado a [[Portugal]], onde, segundo Mariotti, "''trabalhador brasileiro é sinônimo de [[garçom]] ou [[Pedreiro|peão]] de [[construção civil]]. Nossa única [[profissão]] exportável, mesmo assim não qualificada pela educação formal é, como todos sabem, a de futebolista''".
 
Para Mariotti, vencer este [[complexo de inferioridade]], reforçado pelos sucessivos [[escândalo]]sescândalos de [[corrupção]] nos quais o [[governo brasileiro]] esteve envolvido nas últimas décadas, só poderá ser satisfatoriamente resolvido através da [[educação]]. Todavia, contrariamente a outros, não encara a raiz do problema num alegado deslumbramento brasileiro perante a cultura estrangeira ([[França|francesa]] até as primeiras décadas do [[século XX]] e [[Estados Unidos|estadunidense]] daí em diante). Para Mariotti, a baixa [[auto-estimaautoestima]] nacional provocaria uma reação contrária, de supervalorização da cultura nacional, que se encapsularia em si mesma, e rejeitaria o que vem de fora: "''Nono Brasil, e não só aqui, o [[nacionalismo]] cultural inclui a aversão à leitura, e sobretudo àquilo que muitos consideram a mais execrável de todas as atividades: pensar, refletir e discutir ideias com outros também dispostos a fazer isso.''"<ref name="Mariotti"/>
 
Mariotti conclui afirmando: que "''Comocomo todo [[reducionismo]], esse também produz resultados [[Obscurantismo|obscurantistas]]. Essa limitação nos leva, por exemplo, a imitar o que a cultura americana tem de pior (a [[massificação]], a competição predatória, o imediatismo) e a não procurar aprender e praticar o que ela tem de melhor (a pontualidade, a [[objetividade]], a pouca [[burocracia]])''".
 
=== Análise de Vicente Palermo ===
== Reproduções extemporâneas ==
Em seu livro ''La alegría y la pasión: Relatos brasileños y argentinos en perspectiva comparada'' (2015), o [[Ciência política|cientista político]] e [[Ensaio (literatura)|ensaista]] argentino [[Vicente Palermo]] afirma que existe, de certo modo, uma ambiguidade entre o complexo de inferioridade do povo brasileiro em geral, e a visão otimista dos governantes e classes mais abastadas.{{sfn|Palermo|2005|p=38}} Citando o [[Sociologia|sociólogo]] [[Florestan Fernandes]] em sua análise, o ensaísta afirma que o ''complexo de vira-lata'' vem se desfazendo, como resultado da pluralidade social e a gradual diminuição do [[preconceito]] velado que sempre existiu na sociedade brasileira.{{sfn|Palermo|2005|p=39}} Cita ainda o [[Antropologia|antropólogo]] e [[escritor]] [[Darcy Ribeiro]], que atribuía à sociedade brasileira "um [[Sincretismo|sincretismo cultural]] que valoriza a origem mestiça".{{sfn|Palermo|2005|p=39}} Palermo, por fim, cita o [[jornalista]] e [[Diretor de cinema|cineasta]] [[Arnaldo Jabor]]:{{sfn|Palermo|2005|p=39}}
[[Debate]]s atuais apontam que mídias, setores educacionais e até empresariais ao reproduzirem determinadas ações estão contribuindo para o complexo de vira-lata. Por exemplo, palavras de efeito em treinamentos cujos autores são todos de culturas estrangeiras; por esses debates passa-se a [[ideologia]] que não há [[Academia|pensadores]] com nomes peculiares às culturas locais. O que contribui para a "colonização" ideológica.
 
{{cquote|''Fisiológicos seculares, patrimonialistas, teimosos, arrogantes, malandros, ignorantes, prepotentes, apenas nos resta pensar: o que nos falta desaprender para chegar a um ideal de país? Como faremos para chegar ao futuro de uma desilusão? Quantas décadas levaremos para desaprender toda a estupidez que cultivamos durante 400 anos?''<ref>Arnaldo Jabor, ''[[O Globo]]'', 20 de janeiro de 2001</ref>}}
 
== Reproduções extemporâneas ==
O ex-ministro das Relações Exteriores, [[Celso Amorim]], reafirmou repetidas vezes, com foco na Política Externa, que um setor da população brasileira mantém ainda o traço psicológico do complexo de vira-lata.<ref>{{Citar web |url=http://www.cartacapital.com.br/politica/a-obsessao-e-o-complexo-de-vira-lata |título=O complexo de vira-lata |autor=AMORIM, Celso |publicado=Carta Capital}}</ref>
 
A expressão ''complexo de vira-lata'' ([[língua inglesa|traduzida]] para ''"the mongrel complex"'') foi recuperada em [[2004]] pelo [[jornalista]] [[Estados Unidos|estadunidense]] Larry Rohter, que em [[Matéria (jornalismo)|matéria]] para o ''[[The New York Times]]'' sobre o [[programa nuclear brasileiro]], escreveu:
 
{{cquote|''Escrevendo nos [[anos 1950]], o dramaturgo Nelson Rodrigues viu seus compatriotas afligidos por um senso de inferioridade, e cunhou a frase que os brasileiros hoje usam para descrevê-lo: "o complexo de vira-lata". O Brasil sempre aspirou a ser levado a sério como uma [[Grande potência|potência mundial]] pelos pesos-pesados, e portanto dói nos brasileiros que líderes mundiais possam confundir seu país com a [[Bolivia]], como [[Ronald Reagan]] fez uma vez, ou que desconsiderem uma nação tão grande - tem 180 milhões de pessoas - como "[[O Brasil não sendoé um país sério",''<ref>O|não diplomatasendo [[brasileiro]]um [[Carlospaís Alves de Souza Filhosério]] foi o verdadeiro autor da frase "O, Brasilcomo nãoCharles éde umGaulle país sério"fez.<ref>{{citar Eleweb a|ultimo=Rohter teria|primeiro=Larry pronunciado|autor-link=Larry duranteRohter o|titulo=If episódioBrazil queWants envolveuto BrasilScare ethe [[França]]World, conhecidoIt's como [[Guerra daSucceeding Lagosta]]|url=http://www.nytimes.com/2004/10/31/weekinreview/31roht.html?ex=1256965200&en=37262794038df2bd&ei=5088&partner=rssnyt Tal|publicado=The ditoNew éYork incorretamenteTimes atribuído|data=31 ade [[Charlesoutubro de Gaulle]].</ref>''2004 como|acessodata=16 Charlesde novembro de Gaulle2007 fez.''<ref>''|citacao=Writing in the 1950's, the playwright Nelson Rodrigues saw his countrymen as afflicted with a sense of inferiority, and he coined a phrase that Brazilians now use to describe it: "the mongrel complex." Brazil has always aspired to be taken seriously as a world power by the heavyweights, and so it pains Brazilians that world leaders could confuse their country with Bolivia, as Ronald Reagan once did, or dismiss a nation so large - it has 180 million people - as "not a serious country," as Charles de Gaulle did.''}}</ref>{{Nota de rodapé|O diplomata brasileiro [[LarryCarlos Rohter|Rohter,Alves Larryde Souza Filho]] "[http://www.nytimes.com/2004/10/31/weekinreview/31roht.html?ex=1256965200&en=37262794038df2bd&ei=5088&partner=rssnytfoi Ifo Brazilverdadeiro Wantsautor toda Scarefrase the"O World,Brasil It'snão Succeeding]é um país sério". ''Ele a teria pronunciado durante o episódio que envolveu Brasil e [[TheFrança]] Newconhecido Yorkcomo Times[[Guerra da Lagosta]]''. VisitadoTal emdito 16-11-2007é incorretamente atribuído a [[Charles de Gaulle]].</ref>}}}}
 
O Brasil estaria assim, desejoso de ser reconhecido como igual no concerto das nações, mas tropeçaria sucessivamente em sua baixa [[auto-estima]]autoestima, reforçada pelos incidentes [[Folclore|folclóricos]] acima relatados e outros do mesmo gênero ("a [[capital]] do Brasil é [[Buenos Aires]]", "os brasileiros falam [[língua espanhola|espanhol]]", etcentre outros) sucessivamente cometidos pela [[mídia]] e autoridades estrangeiras.
 
== Ver também ==
Linha 52 ⟶ 57:
* [[Racialismo]]
* [[Nacionalismo brasileiro]]
*[[Malinchismo]]
 
{{Notas}}
{{referênciasReferências|col=2}}
 
== Bibliografia ==
{{referências|col=2}}
* {{citar livro |título=La alegría y la pasión: Relatos brasileños y argentinos en perspectiva comparada|primeiro=Vicente |ultimo=Palermo |url=https://books.google.com.br/books?id=fUv_CgAAQBAJ&pg=PA39&lpg=PA39&dq=%22Darcy+Ribeiro%22;+%22Complexo+de+vira-lata%22&source=bl&ots=CJisz-jZlm&sig=OQLEjjytbFzqy9uPCUBB-glXPOM&hl=pt-BR&sa=X&ved=0ahUKEwiikff00NbZAhWIW5AKHWwgDLY4ChDoAQg5MAQ#v=onepage&q=%22Darcy%20Ribeiro%22%3B%20%22Complexo%20de%20vira-lata%22&f=false|ano=2015 |publicado=Katz Editores|língua= es |isbn=9789874001009}}
 
== Ligações externas ==
* [http://www.ebc.com.br/esportes/copa/2014/06/complexo-de-vira-latas-sentimento-de-inferioridade-comecou-no-periodo-de Complexo de Vira-Latas: sentimento de inferioridade começou no período de colonização]. Portal EBC. 6 de junho de 2014. Documentário sobre o Complexo Vira-Latas. (Acesso em 8 de março de 2018)
* [http://jornal.usp.br/ciencias/colunista-comenta-a-sindrome-do-complexo-de-vira-lata-do-brasileiro/ Colunista comenta a síndrome do complexo de vira-lata do brasileiro]. Jornal da USP. 15 de julho de 2016. (Acesso em 8 de março de 2018)
* {{citar web|url=http://www1.folha.uol.com.br/fsp/opiniao/fz2710200509.htm|título=Liberdade, equidade e fraternidade|autor=Edmar Prado Lopes|obra=[[Folha de S. Paulo]]|data=27-10-2005|acessodata=09-01-2014}}
 
{{Teorias da personalidade}}
{{Portal3|Brasil|Psicologia|Sociedade}}
 
[[Categoria:Convenções culturais do Brasil]]
[[Categoria:Nelson Rodrigues]]