Resumo

A insuficiência cardíaca permanece como doença altamente prevalente e uma das principais causas de hospitalizações em todo o mundo. A despeito da gravidade e elevada mortalidade, o tratamento adequado da doença encontra-se ainda abaixo do considerado adequado, e bastante associado à baixa aderência dos pacientes. Estratégias para melhorar a aderência das diretrizes atuais têm demonstrado sucesso no manejo destes pacientes. Dentre elas, a promoção do autocuidado por envolver atividades e habilidades que um indivíduo deve aprender e usar para melhorar a sua qualidade de vida ao longo dos anos tais como adesão às recomendações farmacológicas, ao consumo de uma dieta saudável, cessação do tabagismo, consumo limitado de álcool, monitoração diária do peso e de sinais ou sintomas de descompensação. As tecnologias móveis têm sido apresentadas como abordagens inovadoras na autogestão da doença, mas as evidências relacionadas à eficácia e aceitabilidade ainda permanecem limitadas. A avaliação da eficácia, aceitabilidade e utilidade de aplicativos móveis para autogerenciamento da insuficiência cardíaca deve ser considerada para implementação na prática clínica. O projeto tem como objetivo avaliar a eficácia e a factibilidade a efetividade da promoção de autocuidado utilizando estratégia multifacetada para pacientes com insuficiência cardíaca. Para tanto, o projeto é um ensaio clínico de fase II, randomizado, multicêntrico, nacional, em pacientes com IC de qualquer etiologia e fração de ejeção intermediária e reduzida com alto risco de hospitalização. Estes pacientes serão alocados para um dos seguintes grupos: controle (cuidado ambulatorial usual) ou experimental (telemonitoramento, baseado em mensagens por “short message system” (SMS), lembretes sobre medicações, monitoramento de peso/sintomas de descompensação e conteúdos educativos sobre a doença). O seguimento dos pacientes será de no mínimo 180 dias após a inclusão no estudo. O estudo iniciou em agosto de 2018 e está em execução. Até janeiro de 2020, 26 centros foram aprovados nas quatro regiões, incluindo norte e nordeste do país e mais de 130 pacientes foram incluídos. Serão randomizados ao todo 700 pacientes e os resultados divulgados até o final de 2020. Espera-se contribuir para redução do número de internações hospitalares por descompensações e óbitos em pacientes com insuficiência cardíaca de qualquer etiologia por insuficiência cardíaca descompensada.  Além disto, espera-se que as ferramentas deste projeto possam ser replicadas de forma eficiente para a maioria dos pacientes ambulatoriais com insuficiência cardíaca atendidos pelo SUS.

Introdução

A insuficiência cardíaca é uma doença frequente e uma das principais causas de hospitalizações no mundo. A despeito da gravidade e elevada mortalidade, seu tratamento encontra-se abaixo do considerado adequado, e bastante associado à baixa aderência dos pacientes, como demonstrado pelo Registro Brasileiro de Insuficiência Cardíaca Aguda (BREATHE).  

As razões para a implementação sub ótima dos tratamentos incluem barreiras complexas e múltiplas nos níveis do sistema de saúde, médico e pacientes. O conceito de autocuidado está associado à autonomia, independência e responsabilidade para atividades necessárias no gerenciamento das condições de saúde. A promoção do autocuidado é essencial na insuficiência cardíaca por envolver atividades e habilidades a serem aprendidas e consideradas para melhorar a qualidade de vida.  

Diversas abordagens têm sido testadas no autocuidado que englobam enfermeiras gestoras do caso, lembretes para tomada de medicamentos e gestão de sintomas, educação ao paciente, abordagens de redes sociais e aplicativos, mas sem evidências consistentes na literatura. As tecnologias móveis têm sido apresentadas como abordagens inovadoras e de potencial larga escala para reduzir eventos de doenças cardiovasculares, mas as evidências relacionadas à eficácia e aceitabilidade ainda permanecem limitadas. Com este estudo espera-se, através da implementação de programa de novas tecnologias e autocuidado para pacientes ambulatoriais com estratégia multifacetada de cuidados, reduzir o número de internações hospitalares por descompensações e óbitos em pacientes com insuficiência cardíaca.  Espera-se que tecnologias e programa clínicos de atendimento, uma vez comprovados seus benefícios, possam ser replicados de forma eficiente para a maioria dos pacientes ambulatoriais com atendidos pelo SUS. Desenvolver e avaliar a factibilidade de uma estratégia de monitorização, educação e autocuidado para otimizar o manejo do paciente com insuficiência cardíaca pós-alta hospitalar.

Métodos

Trata-se de um ensaio clínico fase II randomizado, multicêntrico, nacional, com avaliação cega de desfechos que visa avaliar a efetividade da promoção de autocuidado utilizando estratégia multifacetada para pacientes com insuficiência cardíaca.  

Serão incluídos pacientes adultos (> 18 anos) com insuficiência cardíaca de qualquer causa, em seguimento ambulatorial no período vulnerável após episódio de descompensação aguda (no dia da alta ou em até um mês após alta hospitalar); com possibilidade de acesso à telefonia celular; fração de ejeção reduzida (FE<40%), avaliados por exames complementares de imagem até três meses antes da randomização.  

Os pacientes serão alocados para grupo experimental ou grupo controle: os pacientes do grupo intervenção receberam uma estratégia de incentivo ao autocuidado utilizando uma estratégia multifacetada com base em uso de um dispositivo de tele monitoramento, baseado em mensagens por “short message system” (SMS), associado a algoritmos de inteligência artificial, ferramentas de ensino do autocuidado, e profissional de saúde gestor de caso. O grupo controle manterá sua estratégia de cuidados normalmente.  

Desfechos primários e secundários de satisfação do paciente, adesão, qualidade de vida, avaliação de autocuidado, conhecimento e adesão ao tratamento de IC; mortalidade cardiovascular, internação hospitalar e visita ao departamento de emergência.

Resultados

O estudo IC coração bem cuidado foi um ensaio clínico de fase II randomizado, multicêntrico, nacional, que, de julho de 2019 a julho de 2022, incluiu em 699 pacientes adultos com insuficiência cardíaca com fração de ejeção do ventrículo esquerdo < 40% no dia da alta ou em até 1 mês após alta hospitalar e com acesso à telefonia celular.

Após randomização, 352 pacientes foram designados aleatoriamente para o grupo de telemonitoramento e 347 para o grupo de cuidados padrão.

O objetivo geral do estudo foi avaliar a factibilidade e o impacto de uma estratégia de monitorização, educação e autocuidado para otimizar o manejo do paciente com insuficiência cardíaca (IC) após alta hospitalar.

O desfecho primário definido como a razão da mudança nas médias geométricas do NT-proBNP do início até 180 dias, não foi significativamente diferente no grupo de telemonitoramento em comparação com o grupo de cuidados padrão: telemonitoramento: início, 2593 pg/mL [IC 95% , 2314- 2923 pg/mL], 180 dias, 1313 pg/mL [1117-1543 pg/mL]; cuidados padrão: início, 2396 pg/mL [2122-2721 pg/mL], 180 dias, 1319 [1114- 1564 pg/mL]; razão de mudança intervenção/controle 0,92 [IC 95%, 0,77 a 1,11], p = 0,39.

O desfecho secundário de mortalidade total ou hospitalização por IC ocorreu em 83 pacientes (23,6%) no grupo de telemonitoramento e em 87 pacientes (25,1%) no grupo de cuidados padrão (razão de risco, 0,94; IC 95%, 0,66 a 1,27; p = 0,67).

A satisfação com a estratégia de telemonitoramento avaliada pelo método NPS foi excelente. No final do acompanhamento, a pontuação final foi de 9,4 ± 1,2, correspondendo a 80,3% de promotores, 18,1% de assuntos passivos e apenas 1,7% de detratores. A adesão à estratégia MESSAGE-HF foi considerada excelente em 263 pacientes (74,7%), muito boa em 43 (12,2%), boa em 14 (4%) e ruim em 32 (9,1%). Publicação: https://jamanetwork.com/journals/jamacardiology/article-abstract/2812755   


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