Spoiler, adesivos e acabamentos escurecidos. Nem sempre estes itens são capazes de levantar uma versão esportivada, como ficaram conhecidas as configurações com certo incremento estético, mas sem alterações mecânicas. O Nissan Versa SR, que estreou na linha 2025 por R$ 123.990, é um exemplo disso.
O sedã compacto produzido em Aguascalientes, no México, estreia recursos visuais simples para fazer a ponte entre as versões Advance (R$ 117.990) e Exclusive (R$ 132.190). Sabendo que só as "perfumarias" não convencem, a Nissan também instalou equipamentos da versão mais cara no Versa SR, como câmera 360°, alerta de tráfego cruzado e frenagem inteligente.
Vale lembrar que o Versa está para sair de linha nos Estados Unidos, mas isso não afeta sua produção no México ou as vendas no mercado brasileiro. Vamos conhecê-lo em detalhes:
Continua bonitão?
Começando pelo design, o que salta aos olhos é que a insígnia SR foi inserida na dianteira e na tampa do porta-malas (significa “Sport Rally”). Já a grade frontal recebeu um acabamento preto brilhante que caiu muito bem com a identidade visual do sedã. Luzes de condução diurna de LED ajudariam a fomentar sua marra, mas a Nissan optou por lâmpadas halógenas. Tudo pelo preço!
Rodas com design exclusivo também poderiam a destacar mais a versão. Isso a Nissan também ficou devendo, pois o conjunto de liga leve que equipa o Versa SR é o mesmo da versão Advance. Estas são de 16 polegadas e calçam pneus nas medidas 205/55. Por fim, na traseira, há um pequeno aerofólio na cor da carroceria, colado à tampa do porta-malas.
O Versa SR nem estreou tantas mudanças assim, o que considero um acerto da Nissan. Adesivos ou até saias laterais deixariam a versão exagerada. Posso até usar um exemplo negativo da própria marca japonesa, pois a antiga Frontier Attack parecia uma caminhonete de brinquedo de tão extravagante.
E o que mudou por dentro?
Partindo para a cabine, os bancos de tecido receberam detalhes alaranjados nas estampas e costuras. Essa mesma cor surge nas linhas do volante multifuncional, mas não parece encaixar na proposta. Toda a identidade externa do sedã é voltada a tonalidades escuras e vermelhas, o que torna a escolha do laranja um tanto quanto confusa. Em outras palavras, a cabine não conversa com o exterior.
O Versa SR tem revestimento de couro sintético em parte do painel, mas sua estrutura é totalmente feita de plástico duro. Não há o que falar da montagem, que inspira solidez como outros carros feitos em Aguascalientes. Porém, os plásticos não transmitem sensação de qualidade — é como se fossem ocos e simples. Variações de texturas também poderiam enriquecer a cabine, talvez até com uso de borracha em algumas peças de muito contato, como os botões do ar-condicionado.
Como se não bastasse, a central multimídia de sete polegadas parece superada em tudo: a tela é pequena, a resolução é ruim e os grafismos são genéricos. Ademais, este layout azul escuro é usado pela Nissan desde o March, que saiu de linha em 2021.
Os botões nas extremidades são desnecessários e roubam espaço do que poderia ser uma tela maior. Só dou os créditos à Nissan por manter os comandos giratórios para volume e controle do rádio. A Toyota optou por removê-los, o que é ruim.
Outro pecado que escancara a necessidade de uma evolução é que o Versa só permite o pareamento de celulares via Android Auto e Apple CarPlay com o uso de cabos. Nesta faixa de preço, é algo que deveria ser adicionado para melhorar a experiência do usuário.
Ao menos, a cabine é espaçosa. Em dimensões, o sedã mexicano tem 4,49 metros de comprimento, 1,74 m de largura, 1,47 m de altura e 2,62 m de distância entre-eixos. Quatro adultos viajam com conforto, mas um eventual quinto ocupante só ficaria confortável no banco traseiro se a carroceria fosse mais larga. Seu porta-malas com abertura de pescoço de ganso oferece bons 482 litros de capacidade. Está atrás do Fiat Cronos, o líder da categoria nesse tópico, com 525 litros.
Foco na economia de combustível
Até aqui, vários parágrafos mostraram itens que o Versa SR ficou devendo ou o que precisa melhorar. É impossível negar, porém, que o sedã compacto é um dos carros mais confortáveis do Brasil em sua faixa de preço. Inclusive, podemos considerar até carros de patamares superiores.
O Versa tem motor 1.6 aspirado de até 113 cv de potência e 15,3 kgfm de torque quando abastecido com etanol. O câmbio automático CVT (continuamente variável) simula seis marchas. Este é o mesmo conjunto mecânico usado pelo Kicks e pelo Versa anterior (chamado de V-Drive em seus últimos dias).
Em um segmento dominado por motores turbo de três cilindros, este conjunto aspirado de quatro bocas mostra suas limitações, apesar de o zero a 100 km/h oficial não ser ruim: 10,7 segundos. Seu torque cheio surge em 4.000 rpm e, por conta da caixa CVT, afeita a fazer o motor girar alto. A sensação é de um comportamento sempre arrastado.
Esta programação fica ainda mais evidente em subidas e ultrapassagens, tendo em vista que o Versa precisa persistir para encarar desafios que modelos turbo cumprem com facilidade. O próprio Virtus 1.0 TSI não chega a ter números tão superiores, com um zero a 100 km/h em 9,8 s, mas entrega seu torque de 16,8 kgfm logo a 1.750 rpm. No dia a dia, faz uma grande diferença.
O bom consumo de combustível é um alento para o Versa SR, pois o sedã pode marcar 7,9 km/l na cidade e 10,2 km/l na rodovia com etanol. Na gasolina, os números vão para 11,5 km/l e 14,7 km/l, respectivamente, segundo o Inmetro.
A unidade que testei por uma semana estava abastecida com etanol — por isso, posso afirmar: dá para superar os números do Inmetro. Na cidade, o melhor consumo que registrei foi de 8,5 km/l; uma vantagem de 7% sobre os dados do PBEV.
Vale destacar que a versão esportivada recebeu uma parte das assistências ativas do Versa Exclusive, como alerta de tráfego cruzado e frenagem autônoma emergencial. Não chega a ser um pacote ADAS robusto, com sensores de ponto cego ou assistente de permanência em faixa (estes aparecem apenas na versão Exclusive), mas gostei do fato de as babás não serem tão intervencionistas.
Suspensão é destaque
Durante o lançamento da geração atual, em 2020, conversei com Ricardo Abe, gerente de produtos da Nissan do Brasil. Ainda de máscara por causa do distanciamento, o executivo contou que unidades do Versa foram trazidas ao Brasil muito antes da confirmação das vendas. Quando o sedã enfim chegou às lojas, a equipe de desenvolvimento já havia rodado mais de 1 milhão de quilômetros em testes.
Este rigor se manifesta no excelente acerto de suspensão, muito agradável para rodar na cidade. As molas controlam bem o remelexo da carroceria, mesmo em asfalto ondulado. Já os impactos são suavizados pelos amortecedores, que também não deixam a dianteira raspar em desníveis. É quase como se o Versa "flutuasse" pela leveza.
Mas não se engane: o Versa ainda tem 4,49 m de comprimento e um balanço dianteiro generoso. Ou seja, raspadas em valetas, lombadas ou entradas de garagem são comuns.
Vale a pena?
Acessórios estéticos não me interessam, mas ainda pagaria R$ 123.900 pelo Versa SR. O nível de conforto a bordo, o bom consumo e os equipamentos de segurança que ele recebeu da configuração Exclusive fazem a compra valer a pena. Tanto que o sedã foi destaque no Qual Comprar 2024 da Autoesporte.
Só prepare o bolso: o Versa SR tem uma das cotações de seguro mais caras do segmento, na faixa de R$ 3.948 para homens e R$ 1.938 para mulheres. É bom fazer uma cotação para não torrar o dinheiro economizado no posto de gasolina em outras coisas…
Nissan Versa SR 2025
Motor: 1.6, 4 cil., aspirado, flex |
Potência: 113 cv a 5.000 rpm |
Torque: 15,3 kgfm a 4.000 rpm |
Câmbio: CVT, simulação de seis marchas |
Suspensão: McPherson (diant.), eixo rígido (tras.) |
Freios: discos ventilados (diant. e tras.) |
Consumo (gasolina): 7,9 km/l na cidade, 10,2 km/l na estrada |
Consumo (etanol): 11,5 km/l na cidade; 14,7 km/l na estrada |
Aceleração de 0 a 100 km/h: 10,7 segundos |
PROPORÇÕES |
Comprimento: 4,49 m |
Largura: 1,74 m |
Altura: 1,47 m |
Distância entre-eixos: 2,62 m |
Porta-malas: 482 litros |
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